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Cultura Pop

Pixies no Coachella em 2004: inesquecível

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Pixies no Coachella em 2004: inesquecível

Pixies no Coachella, lembra? Bom, vamos por partes.

Depois de 2004, ficou claro que o festival em que qualquer banda precisava tocar era o Coachella. O evento já chamava bastante atenção antes disso. O primeiro ano, em 1999, ainda fornecia certa boa-vida ao público, típica de eventos que estão no começo: uma garrafa de água gratuita na entrada, estacionamento gratuito etc. Mas já havia grandes atrações, entre elas Tool, Morrissey, Jurassic 5 e Morrissey.

Nessa primeira tentativa, o festival já chamou a atenção por manter um clima bem diferente do que aconteceu naquele mesmo ano no Woodstock 1999. Isso porque o convescote criado para comemorar os 30 anos dos “três dias de música e paz” foi marcado por desorganizações logísticas, preços altíssimos, excesso de pagantes (deu 400 mil pessoas), violência (roubos, estupros) e focos de incêndio.

Já o Coachella, realizado pela firma de entretenimento Goldenvoice no Empire Polo Club, em Indio, California (e cujas origens remontavam a um show do Pearl Jam produzido em 1993 pela empresa no mesmo local) foi teoricamente criado para proporcionar (aí sim) paz, música e conforto aos espectadores.

Deu certo em parte: a Goldenvoice amargou um prejuízo de 850 mil dólares e teve que negociar bastante com os contratados, ou a falência seria a próxima etapa. Mas de 1999 até o fim da primeira metade da década seguinte, muita água rolou. A empresa foi deixando de perder grana e os investimentos no evento passaram a valer cada vez mais a pena.

E TEVE PIXIES LÁ

Apesar de 2003 já ter sido um ano bacana pro evento, o Coachella de 2004 foi bastante especial. Após sua realização – e quem relembra é o Los Angeles Times – ficou ruim para vários outros festivais. A Rolling Stone, por exemplo, chamou o evento de “melhor festival das Américas”.

Paul Tolett, criador do evento, já vendera sua empresa Goldenvoice para a gigante dos eventos Anschutz Entertainment Group em 2001, visando perder menos grana. Mas a produção caprichou, marcando uma edição com mais de 80 shows, além de apresentações inesquecíveis: Radiohead (bandaça da época), Flaming Lips (estreando o “passeio de bolha” do vocalista Wayne Coyne), The Cure e nada menos que os Pixies, de volta após quase dez anos sumidos, em show marcado para o dia 1º de maio de 2004.

Os Pixies retornavam ainda com a formação de discos como Doolittle (1989) e Bossanova (1990), com Kim Deal no baixo (e mais Black Francis, David Lovering e Joey Santiago). Sua presença no evento deu aquela balançada no núcleo de artistas. Tanto que integrantes do Belle & Sebastian circulavam pela coletiva de imprensa, que rolou duas horas antes do show. Thom Yorke, do Radiohead, também estava animado com a presença dos Pixies.

A Folha cobriu a coletiva e anotou que Black Francis passou o tempo todo calado e só falou que “finalmente vou tocar no Brasil!” – já que a banda viria para cá como parte da turnê. Deixou as honras da casa para Kim Deal, que falou bastante (já era ela quem mais se comunicava com o público nos shows). A baixista deu uma de blasé ao falar sobre a vinda ao Brasil para shows em Curitiba – onde ela já havia tocado com as Breeders em 2003. “Não tenho nada a ver com a ideia de tocar no Brasil. Não sabia de nada até terem marcado. Será ótimo, porque nunca estivemos juntos na América do Sul. Esse é o motivo de estarmos indo”, despistou.

MAINSTREAM? QUE MAINSTREAM?

Até o Coachella, se bobear, nem os Pixies tinham noção do peso do próprio nome. O grupo não era exatamente um grande hit do mainstream durante os anos 1980 e 1990, em parte pelo fato de parecerem inovadores demais para a época, em parte pelo gênio meio complicado de seu próprio líder, Black Francis.

Aliás, em parte também porque os shows do grupo sempre foram pra lá de controversos. Apesar de terem discos bem elaborados e grandes músicas, o fator “toca bonito!” foi esquecido pelo grupo várias vezes, com performances abaixo do normal e shows evidentemente mal ensaiados (vários piratas lançados naquele período comprovam isso). Na época em que abriram para o U2, no finzinho da primeira fase, a sensação poderia ser a de tirar um bilhete premiado na loteria. Nem tanto: alguns integrantes da banda detestaram ser apenas o ato compulsório de abertura.

E AÍ QUE…

Passaram-se alguns anos desde o show do Coachella e finalmente os fãs da banda podem ouvir a apresentação nas plataformas digitais. A banda acaba de lançar a performance na íntegra. Por acaso, não faz muito tempo, saiu o documentário Coachella: 20 years in the desert.

NÃO TEVE MÚSICA NOVA

Na época em que rolou o show do Coachella, a banda já tinha uma música nova gravada, Bam thwok, feita originalmente para o filme Shrek 2, mas sacada da trilha. A primeira gravação da banda desde o disco Trompe le monde (1991) era uma composição de Kim Deal, cantada pela baixista, com Black Francis nos backing vocals.

Bam thwok não rolou no show do Coachella, fez algum sucesso mas acabou esquecida, até porque Kim Deal saiu da banda e muita coisa mudou em torno dos Pixies depois disso. Já o Coachella, dentro de pouco tempo, se tornaria um festival mainstreamzaço a ponto de servir de diversão para influencers ao redor do mundo.

Ah sim, os Pixies voltariam ao Coachella em 2014.

Mais Pixies no POP FANTASMA aqui.

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Crítica

Ouvimos: Sweet, “Full circle”

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Ouvimos: Sweet, "Full circle"

“Peraí, esse Sweet é aquele?”, muita gente deve estar se perguntando ao ler esse título e o começo deste texto.

Depende do seu ponto de vista. A formação clássica da banda de glam rock  e hard rock já se foi quase toda para aquela grande gig no céu – sobrou apenas o vocalista e guitarrista Andy Scott, que desde 1985 leva adiante uma versão pessoal do grupo, que é a desse álbum. Isso porque houve também um Steve Priest’s Sweet, comandado pelo baixista morto em 2020, e houve também um New Sweet – batizado assim por recomendações jurídicas – criado pelo ex cantor Brian Connolly, também já falecido.

O Sweet que parece ser considerado o oficial é esse mesmo, de Andy, que vem gravando desde 1992 (e por acaso, fez shows no Brasil em 2007). Scott é o dono da bola, mas o frontman é Paul Manzi, um londrino de 61 anos que já fez shows com artistas como Ian Paice e foi integrante do grupo neo-prog Arena até 2020. O aquele do começo do texto vai sumindo aos poucos quando Full circle começa a rodar, e o Sweet que emerge das caixas de som (ou dos fones de ouvido) é uma banda de hard rock-heavy metal bem formulaica, nada a ver com o poderoso grupo de glam rock que barbarizava ao vivo e soltava hits como Ballroom blitz e épicos como Sweet Fanny Adams.

Da seleção de Full circle dá para destacar sons como Don’t bring me water, com refrão levanta-estádios, a cavalar Changes (que rouba a frase “i’m going through changes” do hit homônimo do Black Sabbath, e dá uma lembrada básica na introdução de voz de Whiskey in the jar, hit do Thin Lizzy), o metal cromado de Destination Hannover, e o belo hard rock balada da faixa-título. Mas é basicamente uma outra banda, que insiste em lembrar as fases mais recentes do Kiss ou do Whitesnake, por exemplo. Vale pelo (indiscutível) valor histórico e pela sobrevivência de um monolito do rock setentista.

Nota: 6,5
Gravadora: Sony Music.

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Cinema

Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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Crítica

Ouvimos: Coldplay, “Moon music”

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Ouvimos: Coldplay, "Moon music"

Aparentemente, o Coldplay está vivendo um dilema que muitos artistas de porte enorme (não existe nada deles que não seja mega, está no DNA da banda) passam a viver assim que olham para o lado e enxergam a cordilheira de fãs que já conseguiram conquistar: como permanecer fazendo coisas diferentes, e ao mesmo tempo, fazendo música para todo mundo ouvir? Ainda mais levando-se em conta que o Coldplay sempre teve um público extremamente ecumênico?

Bom, por ecumênico, entenda-se: existem fãs de sertanejo, de gospel, de MPB e gente que nem tem o hábito de ouvir música (!) que ama Coldplay, e já esteve na plateia de pelo menos um show deles no Brasil. O mesmo, vale dizer, acontecia com o R.E.M – números dos anos 1990 mostraram para a Warner, gravadora deles, que o álbum Out of time, megasucesso de 1991, foi comprado por gente que nem sequer costumava comprar discos. Muita gente deve ter comprado um toca-discos pela primeira vez para ouvir o álbum de Shiny happy people, e muita gente deve ter ido a um show “de rock” pela primeira vez porque precisava assistir ao Coldplay e se envolver com a música e com o espetáculo visual do grupo.

Explicar o papel e definir a postura de cada um desses nomes (R.E.M. e Coldplay) diante desse frege todo do mercado, parece fácil. Difícil é entender, hoje em dia, para que lado vai, musicalmente falando, a banda de discos excelentes como a estreia Parachutes (2000). Autodefinido como uma banda que fala de “maravilhamento” (o cantor Chris Martin já mandou essa numa entrevista), o Coldplay parece entregue em Moon music, o novo álbum, à vontade de investir de vez no segmento de trilhas para time-lapse de construção de shopping center, e vídeo motivacional pra empresas.

Isso faz de Moon music um disco ruim? Não, pode crer que tem coisas legais ali, além de algumas ideias boas que se perdem em finalizações meia-boca. Destaco o clima ABBA + ELO de iAAM, quase uma sobra do primeiro disco da banda; o house bacaninha de Aeterna (que mesmo assim encerra num clima de música de louvor) e a baladinha de piano All my love. Além da abertura “espacial” com Moon music, que tem participação do produtor de música eletrônica Jon Hopkins. Vale citar as mensagens de autoaceitação e autoestima da banda – sim, isso faz diferença, ainda que em termos de política, as letras do Coldplay sejam mais rasas do que piscina infantil.

  • Temos episódio do nosso podcast sobre o começo do Coldplay
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Por outro lado, Jupiter é um folk pop bacaninha, mas do tipo que você vê artistas em todo canto fazendo igual. A faixa 6, cujo título é identificado com um arco-íris, é parece feita de encomenda para os tais vídeos motivacionais. We pray é cheia de truques batidos da união de pop, gospel e hip hop. Em vários momentos, o Coldplay parece estar mirando, mercadologicamente, no que parece mais rentável para a banda: na trilha sonora dos seus shows, e não especialmente em discos que mudem a história do grupo. Não dá para culpá-los, mas ao fim do disco novo, a sensação é a de ter escutado um EP esticado ao máximo.

Moon music soa como música ambient produzida não por Brian Eno, mas por um produtor ou diretor de TV, ou um desses diretores criativos que surgiram na onda dos influenciadores digitais. O Coldplay de Music of the spheres (2022) parecia bem menos estandardizado e bem mais ousado. Mas foi rebate falso.

Nota: 5,5
Gravadora: Universal Music

 

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