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Cultura Pop

Patty Pravo: “a” David Bowie da Itália

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Patty Pravo: "a" David Bowie da Itália

Tem muita gente que afirma isso: a cantora italiana Patty Pravo tem tudo para ser considerada uma espécie de versão feminina italiana de David Bowie. Especialmente por causa da atitude camaleônica, e pelo fato de ter se aproximado da estética glam (mais até do que do som). Há algumas semanas, quem acompanha o POP FANTASMA viu um vídeo que encontramos do Stryx, um inusitado programa de variedades satanistas da Itália (!), no qual Patty aparecia cantando Bello, versão de Love goes to building on fire, dos Talking Heads.

A releitura saiu no disco Miss Italia, de 1978, uma espécie de incursão da cantora pelo pós-punk, com direito a algumas pós-progressivices (nos sintetizadores e nos climas de algumas faixas). Mas até chegar la, a cantora já havia passado por fases diferentes.

Patty, cujo nome verdadeiro é Nicoletta Strambelli, havia herdado o nome artístico de uma passagem da primeira parte da Divina comédia de Dante Alighieri (o Inferno tinha uma parte que falava em “pravas almas”). Logo no comecinho da carreira, se tornou conhecida como “a garota do Piper”, por causa de seus repetidos shows no Piper Club, um dos mais conhecidos de Roma. O Piper era pop o suficiente para ter em sua agenda apresentações até mesmo de um iniciante Pink Floyd, em 1968.

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Os vocais de Patty, em boa parte dos seus discos, mantêm aquela tradição meio, digamos, exuberante da canção italiana. Mas desde o comecinho, ela foi dando mostras de que queria mais. Em 1968, como musa da jovem guarda local, gravou o single Doll, que vendeu nove milhões de cópias. Mas ela particularmente não curtia a música, que falava de uma garota dependente do namorado.

Contudo, Patty resolveu ousar em 1969 gravando um disco orquestral, Concerto per Patty, que trazia uma releitura da releitura de Joe Cocker de With a little help from my friends, dos Beatles. Só que a versão era instrumental, com Patty ao piano, acompanhada por uma banda britânica radicada na Itália, The Primitives.

As coisas mudaram a partir de 1970, após Patty participar do Festival de San Remo (opa, o mesmo que mudou a carreira de Roberto Carlos). Ela adotou uma postura mais “madura” e dramática, gravou Ne me quitte pas, de Jacques Brel, em italiano. Aliás, chegou a fazer dueto com Vinicius de Moraes numa gravação de Samba em prelúdio. Nesse período, teve muita gente boa considerando Patty uma espécie de Edith Piaf de seu país (e ela chegou a fazer sucesso na França).

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Só que em 1973 Patty troca a Philips, sua gravadora no começo dos anos 1970, pelo mesmo selo de David Bowie e Lou Reed, a RCA. Nessa fase pop adulta, Patty tem sucessos como Pazza idea e I giardini de Kensington, que é nada menos que Walk on the wild side, de Lou Reed, em italiano. Em 1976 rola até um namoro com o metal progressivo (!) no disco Patty Pravo, com La mela in tasca.

Um detalhe: Patty Pravo esteve com David Bowie duas vezes. A primeira foi quando ele esteve na Itália gravando uma versão de Space oddity. Essa versão foi lançada com o curioso nome de Ragazzo solo, ragazza sola. “Ele ainda não era muito famoso, mas já estava anos-luz à frente dos outros. Nos encontramos novamente muitos anos depois, durante um jantar em um restaurante japonês em Los Angeles, no Sunset Boulevard. Ele me reconheceu imediatamente”, lembrou aqui.

Com o passar dos anos, Patty foi abarcando estilos como funk, new wave e sons eletrônicos. Em 2019, no disco Red, fez até dueto com o cantor pop italiano Briga (em Un po’ come la vita). Os dois participaram de festivais juntos e até hoje Patty, com 72 anos, é chamada de “a garota do Piper”.

Crítica

Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”

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Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
  • How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
  • Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.

Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.

No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).

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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).

Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.

Nota: 7,5
Gravadora: BMG

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Crítica

Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”

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Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”
  • 10 remixes traz (como diz o próprio título) dez canções dos Paralamas do Sucesso remixadas. O trabalho foi orquestrado pelo DJ Marcelinho da Lua, que escolheu DJs de diferentes gerações. O trio e o empresário José Fortes também já tinham uma lista com alguns nomes.
  • “Tudo começou quando eu estava num show do Paul McCartney em 2013, quando prestei atenção nas inúmeras releituras de músicas dos Beatles feitas por DJs que tocavam antes do Paul subir ao palco. Fiquei pensando como seria legal se fizessem o mesmo com o repertório dos Paralamas”, contou João Barone, baterista da banda, em seu Instagram.

Lançar um álbum de remixes dos Paralamas do Sucesso é uma ideia tão boa que não dá pra entender como ninguém pensou nisso antes. Discos de remixes de um mesmo artista, aliás, costumam sair bem irregulares, além de cometerem verdadeiras atrocidades. Felizmente, 10 remixes saiu legal, e quase tudo pode ser dançado na pista e ouvido em casa sem (muitos) atropelos.

Em Lanterna dos afogados, Mahmundi deu um ar dançante e viajante à música, e inseriu sua voz como parte das novidades da canção – soou tão bem que ela deveria pensar em fazer outras visitas à obra da banda. Ska, com DJ Marky, virou um cruzamento de ska, reggae e drum’n bass. O beco ganhou remix conceitualmente correto (e bom) do Tropkillaz, em clima funk-reggae, com os vocais de Herbert Vianna filtrados e à frente. Selvagem, nas mãos de Daniel Ganjaman, virou reggae-dub.

No 10 remixes, vale também citar o samba-funk-reggae que surge de O amor não sabe esperar (com Paralamas e Marisa Monte), capitaneado por Pretinho da Serrinha e Bossacucanova. Além do synthpop simultaneamente experimental e cheio de balanço de Mulú em Aonde quer que eu vá, e do redesenho drum’n bossa de Marcelinho da Lua em Mensagem de amor.

Por outro lado, Lourinha bombril rendeu menos do que poderia ter rendido nas mãos do Àttooxxá. Ela disse adeus, com Papatinho, virou um batidão funk pequenininho (com pelo menos um minuto a menos que o original) e sem muitos atrativos. E não sei até que ponto a balada stoniana Saber amar tinha que ganhar um remix techno de botar fogo na pista, que foi para as mãos de Ké Fernandes (Groove Delight).

Nota: 8
Gravadora: Universal

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Crítica

Ouvimos: New Order, “Brotherhood (Definitive edition)”

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Ouvimos: New Order, “Brotherhood (Definitive edition)”

Pode ser algum problema de atenção ou de audição, mas não percebi nenhuma diferença no som dessa edição definitiva de Brotherhood em relação à remasterização “de colecionador” do disco, lançada em 2008 (e vale lembrar que o quarto álbum do New Order, de 1986, já teve seus bastidores recordados aqui mesmo no Pop Fantasma). Dois anos antes do quadragésimo aniversário do Sgt Pepper’s às avessas do grupo, no entanto, a definitive edition lançada pela Rhino é a melhor forma de comemoração, por reunir num só lançamento o antes, durante e depois do álbum.

Resumindo a história em poucas linhas: Brotherhood saiu numa época de transição para o New Order, uma banda cujas vendas ajudavam a dar sustentação ao selo indie britânico Factory, mas que não vivia uma vida de grupo do primeiro time – com direito a shows nos cafundós, camarins zoados e uma certa sombra de desprestígio. O álbum era dividido entre um lado A mais roqueiro e um lado B mais eletrônico. As duas faces eram balizadas por uma espécie de pós-punk-country (Paradise, com letra inspirada nas “canções de partida” do estilo musical) e um futuro clássico dance-pop (Bizarre love triangle).

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  • Mais New Order no Pop Fantasma aqui.
  • Episódio do nosso podcast sobre eles aqui.

Mas ainda havia no álbum rocks de pista (Broken promise, Way of life), outro pós-punk dançante (Weirdo, com abertura “falsa”), uma canção acústica pop e quase sixties (As it is when it was), dance music ambient (All day long), dance music sombria e lisérgica (Angel dust) e o encerramento com Every little counts, cantada por Bernard Sumner aos risos (ele chega a interromper a música para rir) e fechada com alguns minutos de psicodelia e ruídos.

A nova edição dá som a histórias sempre contadas a respeito do grupo, trazendo por exemplo, as músicas da demo gravada por eles no Japão em 1985, em meio a uma turnê por lá. A versão de State of the nation não é exatamente imperdível, mas a de As it is when it was vale a audição: vem mais tecnopop, sem violão, sustentada pelo baixo agudo de Peter Hook, e com certa cara de The Cure.

Evil dust, que já havia sido lançada na edição de colecionador de 2008, retorna – é uma versão “maligna” de Angel dust, com mais espaço para os vocais da cantora libanesa Dusya Yusin, sampleados de duas músicas de Brian Eno e David Byrne, The carrier e Regiment (ambas do disco My life in the bush of ghosts, de 1981). O material composto pelo New Order para o filme Salvation! (1987), de Beth B, aparece na íntegra, dos temas instrumentais (como as quase progressivas Salvation theme e Sputnik) ao single bem sucedido Touched by the hand of god.

Das inéditas lançadas na nova edição de Brotherhood, tem uma para escutar no último volume: Every little counts aparece em sua lendária versão completa, com alguns minutos a mais de psicodelia ruidosa e assustadora no final, um segundinho de silêncio e… o ruído de toca-discos pulando. Era para ser mais parecido ainda com A day in the life, fechamento do Sgt Peppers, dos Beatles, e era para dar mais sensação ainda de desnorteio. Brotherhood é uma ousadia que ainda permanece atual.

Nota: 9
Gravadora: Rhino

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