Crítica
Ouvimos: Japandroids, “Fate & alcohol”

- Fate & alcohol é o quarto e último disco de estúdio do grupo canadense Japandroids, formado por Brian King (guitarra, voz) e David Prowse (bateria, voz). “É realmente nosso último álbum. Não é algum tipo de golpe de marketing elaborado. É nosso último álbum”, deixou claro Prowse num papo com a NPR.
- “Acho que Brian e eu moramos em dois lugares diferentes geograficamente, e acho que estamos em lugares meio diferentes em nossas vidas. Começamos como amigos muito próximos, e meio que nos distanciamos de muitas maneiras diferentes, e esse parecia um momento natural para terminar”, tenta explicar Prowse sobre o fim do grupo.
- O disco foi produzido pela dupla ao lado de David Gander.
Precisamos falar sobre os Japandroids, uma banda que passou vários anos unindo consistência punk-garage, temáticas “pessoais” na onda de Bruce Springsteen, e o carnaval roqueiro que rondava grupos como Slade e Thin Lizzy. Ou seja: aquele clima de festa bêbada, de comemoração, de gente batendo canecos. Um clima que se mexer um pouco daqui e dali, surge como próximo do punk-pop de Blink 182, do punk-grito-de-torcida típico da Califórnia e até do emo, o que deve valer umas caras feias por aí quando o nome deles surge no papo.
Vale citar que os canadenses Brian King e David Prowse, únicos integrantes da banda, têm influências bacanas: Replacements e Hüsker Dü surgem citados aqui e ali, e em alguns momentos, o som deles têm lá seus cruzamentos de bigode até com o de bandas nacionais de punk-rock, como Dead Fish. A ideia da dupla, de colocar as caras deles em todas as capas de discos, às vezes até na mesma posição, é definitivamente simpática, e dá um ar de “recado pessoal e intransferível” que mostra o passar dos tempos nas vidas dos dois.
Dito isso, o fim está próximo: Fate & alcohol é supostamente o último disco da banda. O fim foi causado, provavelmente, pela nova situação de King, hoje sóbrio e pai novamente. As caras dos integrantes na capa sugerem maturidade e algo próximo da fadiga. O punk emocional e contemplativo de Eye contact high, o quase country-punk de Alice, e o desencontro de Chicago chamam bastante a atenção, mas sugerem que os Japandroids resolveram raspar o tacho de vez – ainda mais pelas referências intermináveis a bebedeiras e perdeção de linha nas letras. Upon sober reflection (“após reflexão sóbria”), um punk emotivo com certa cara reggae, parece uma carta da esposa de King para ele: “vou repetir cada uma das minhas palavras/então não se engane com o que digo/não quero saber se me ama/se não vai fazer nada a respeito disso”.
No término da audição, fica uma certa sensação de que os Japandroids precisavam mesmo, senão de um fim, pelo menos de um hiato para repensar, amadurecer e verificar a quais zonas de conforto a banda corria o risco de sucumbir. Em discos anteriores, a banda era salva do desgaste musical e comportamental pelo barulho – no disco novo, isso acontece só em alguns momentos.
Nota: 6
Gravadora: Anti
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Crítica
Ouvimos: Babymetal – “Metal forth”

RESENHA: Em Metal forth, o Babymetal mistura peso e pop: nu-metal, j-pop, rap e até soul, provando maturidade após 15 anos de carreira.
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Babymetal é heavy metal para não-metaleiros, você poderia dizer. Nem tanto, né? É um banda que vem da cultura asiática de criação de ídolos, é formada por meninas (que já são mulheres) e gerenciada por uma agência poderosa – a Amuse, que tem até escola de música. Mas dá pra dizer, sem medo de errar, que muita gente foi apresentada ao universo do som pesado por causa delas. Até porque o Babymetal é esperto o suficiente para agregar mumunhas pop, e estilos como r&b e rap, a um universo conhecido pelo radicalismo.
Você piscou o olho e o Babymetal já tem quinze anos, várias turnês e, curiosamente, um número de discos bem pequeno. Metal forth é o quarto álbum e funciona bem para metaleiros de ouvidos abertos e sem preconceitos. Dando um passeio pelas faixas: Ratatata tem ar de j-pop e k-pop, e une som pesado, rap e dance music. Song 3 é uma porrada que une vocais guturais (da parte dos convidados do Slaughter To Prevail) e vozes meio Alvin e os Esquilos. From me to you, na abertura, herda sonoridades do metal alternativo e da música pop – é som rápido, pesado, eletronificado.
Entre as surpresas de Metal forth, tem Sunset kiss, que deixa o Babymetal com uma cara de Spice Girls trabalhadas no couro e no preto. E My kiss, um nu-metal cuja introdução ameça uma chupada em Ratamahatta (hit do Sepultura com participação de Carlinhos Brown). Tom Morello põe energia em Metal!!!, que também traz emanações de Sepultura, mas une som pesado e soul. Já White flame, no final, aponta para vários lados: j-pop, emo, punk… encerrando com um solo de guitarra final que lembra Queen.
Quem ouvir Metal forth de mente aberta, vai descobrir que, com o tempo, o Babymetal foi se tornando um projeto bastante equilibrado – as integrantes cresceram e o mundo ao redor delas mudou bastante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Capitol
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Deb and The Mentals – “Old news” (EP)

RESENHA: Deb and The Mentals volta às raízes em Old news: punk, grunge e new wave com peso, energia e nostalgia.
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Com uma formação nova que traz Fi (NX Zero), na guitarra, Deb and The Mentals decidiu voltar ao começo num EP de nome sintomático, Old news. Deb Babilônia adota novamente as letras em inglês nas cinco faixas do disco – e a banda corresponde com um som voltado para uma confluência entre punk, grunge e new wave. A faixa de abertura Together again une anos 1980 e 1990, soando como Ramones na fase Mondo bizarro (1992). Suck me in, com um pouco mais de peso, tem muito de bandas como Generation X. A noventista To erase vai para a pequena área do punk + metal, com peso e intensidade.
O “lado B” de Old news tem um hardcore rápido, cavalar e acelerado, Burn it down, fechado com microfonias. Tem também a música mais bonita do disco, Runaway, união de punk e rock britânico oitentista, chegando a lembrar Smiths. Dying spark, por sua vez, chama atenção pela boa marcação de baixo e bateria, e pela linha do tempo sonora que vai dos anos 1970 aos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Algohits
Lançamento: 13 de agosto de 2025
- Ouvimos: Paira – EP01 (EP)
- Ouvimos: A Terra Vai Se Tornar Um Planeta Inabitável – Ident II dades (EP)
- Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
Crítica
Ouvimos: Klisman – “CHTC”

RESENHA: Em CHTC, Klisman transforma o Centro Histórico de Salvador em rap visceral, misturando trap, afropop e relatos de vida dura.
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CHTC, título do disco de estreia do rapper baiano Klisman, é uma sigla para “Centro Histórico tá como?” – e uma lembrança do coração de Salvador, um conjunto de pontos turísticos que explicam a história da capital baiana (Pelourinho, Elevador Lacerda, Mercado Modelo), além de um entorno de dez bairros. Klisman cresceu por lá e levou tudo para seu som, que une mumunhas do trap, e um certo elemento de perigo vindo do rap, além de erros e acertos pessoais. O som une beats de trap, afropop e vibes latinas.
Klisman fala da vida como ela se apresentou não apenas para ele, mas para vários amigos seus. Reparação histórica entra na mente dos que são tidos como vilões, em versos como “se eu roubo esse gringo é reparação histórica / visão de cria não pega na ótica” e “poucos sabem o dilema que eu vivo / do tipo: como vender drogas e ser um bom filho? / como tirar vidas e criar meu filho?”. Caminho certo cria imagens musicais para retratar um dia a dia que exige posicionamento rápido (“são escolhas que mudam o caminho de casa”), o mesmo rolando na ameaça sonora de 25kg e na sagacidade de Proibido branco. O próximo é rap lento e climático que une ódio e tiração de onda.
Para quem for ouvir CHTC, o conselho é tentar entender tudo como um filme e não sair julgando: Klisman entrega todas as contradições de quem cresceu numa realidade bem distante do que a classe média enxerga como normal – e o normal ali são leis bem estranhas. Em Praia da Preguiça, aberta com sample de violão e flautas, e Pixadão de guerra, sonhos misturam-se com alfinetadas em trappers famosos e realidades de trincheira (“a emoção de ver o alemão sangrar / é a mesma de ver o irmão prosperar”). Ainda sou o mesmo vai para vários lados da violência urbana: “quantas mãe vai ter que chorar? / ele poderia ter um Grammy / mas ele tá na boca portando uma Glock”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nadamal
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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