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Cultura Pop

On Strike: o pirata “imaginário” do Echo & The Bunnymen

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On Strike: o pirata "imaginário" do Echo & The Bunnymen

O número da Bizz de dezembro de 1986 fez vários fãs do Echo & The Bunnymen ficarem sem dormir. Tudo por causa de um texto escrito por Pepe Escobar que, bem à sua maneira (enfim, no estilo, digamos, característico do jornalista), destrinchava um LP pirata do grupo britânico.

On Strike: o pirata "imaginário" do Echo & The Bunnymen

On strike (ou Songs the lord taught us) saiu por um selo chamado Psychedelic Moose e, diz a contracapa, foi gravado em “qualquer cidade, qualquer lugar, qualquer tempo”. Quem leu o texto de Pepe deparou com uma descrição que se assemelhava quase a um orgasmo auditivo. Pepe não chegou a informar onde o disco foi gravado. Mas enfim, conseguir esse tipo de informação era complicado.

PIRATA DO ANO

O título do texto era “Saiu o pirata do ano! Ache quem puder!”. E o “quem puder” era tarefa para gente com grana ou bons contatos, como o texto deixava claro. “Está decretado: este é o melhor já aparecido na Inglaterra, pelo menos nessa década. Onde achá-lo? Não tem. Se tiver, vai custar o preço de uma discoteca. Possibilidade de encontrar: o mercadinho de sábado da Portobello Road, Londres, na pracinha debaixo do viaduto. Lá – e pelas redondezas – estão entre cinco e seis banquinhas especializadas em pirataria”, informava/não informava o texto.

“Esse pirata do Echo foi comprado de um hippie remanescente, em cuja banquinha havia pelo menos vinte edições diferentes do Cure, adarkalhações mirabolantes do Sisters of Mercy, uns cinquenta Bruce Springsteen, um duplo dos Cramps de abrir tumba na Transilvânia e uma fartíssima seção heavy. O Echo era o último – e, segundo o hippie, quase inincontrolável. Seu preço no mercado logo passaria para 50 libras, cerca de 80 dolares”, diz o texto, que você pode ler inteiro aqui.

O repertório do disco era mesmo um sonho para qualquer fã do Echo, talvez a banda dos anos 1980 que mais sacou a mensagem musical dos anos 1960. O quarteto vinha na turnê do disco Ocean rain, de 1984. Mas Ian McCulloch (voz), Will Sargeant (guitarra), Les Pattinson (baixo) e Pete de Freitas (bateria) apareciam nele tocando covers de suas bandas preferidas. Tinha The Doors (Soul kitchen), Rolling Stones (Paint it black), Modern Lovers (She cracked), Velvet Underground (Run, run, run e There she goes again), Television (Friction) e outras.

Mas quem ficou a fim de escutar isso, ficou na vontade: o LP de On strike é considerado raridade até hoje. E a única chance era ter a sorte de alguém conseguir a cópia da cópia da fita.

IMAGINANDO O SOM

“Interessante: as pessoas eram fãs de determinado artista e não conseguiam ter acesso ao som dele?”, você pode estar se perguntando. Bom, no caso, era um LP pirata, difícil de achar até mesmo para quem tinha uma condição financeira bacana. Mas vamos combinar que se você precisava ir à loja comprar discos e não tinha nem internet nem Spotify, o tempo de duração entre ouvir falar de um álbum e conseguir chegar perto dele era realmente mais demorado.

Restava muitas vezes a você tentar imaginar mais ou menos como era o som de determinada banda, ficar maluco para escutar logo, ir à loja pedir para ouvir o disco e comprar ou não. Só que muitas vezes você já estava tão apaixonado pelo som daquela banda sem nunca ter nem sequer ouvido (sim, acontecia muito!), que comprava o disco mesmo não achando que aquilo era tão bom assim. E de tanto ouvir (porque afinal você já tinha até decorado trechos do texto que falava do disco), você passava a gostar. 🙂

Não entendeu nada? Bom, é difícil mesmo. Mas acontecia muito. No caso do On strike, quem foi ao show do Echo & The Bunnymen no Canecão em 11 de maio de 1987, conseguiu ter um gostinho do disco, já que a banda tocou três covers que estavam no disco: In the midnight hour (Wilson Pickett), Soul kitchen (Doors) e Paint it black (Rolling Stones).

E ESSE PIRATA É BOM MESMO?

Sim, On strike é tudo aquilo que o tal texto da Bizz falou. Aliás, hoje em dia, com as facilidades do YouTube, você nem sequer precisa imaginar nada. Pega aí o disco.

Por sinal, On strike está cadastrado no Discogs, que avisa que um exemplar troca de mãos pela quantia módica de R$ 1.307,25. Ou seja: ainda hoje é complicado achar um disquinho por aí.

ATÉ NO SPOTIFAI?

O repertório de On strike surgiu – um site chamado Mofo já falou disso – quando o Echo & The Bunnymen ficou um tempo sem gravar. Mas decidiu incrementar seus shows em países como a Dinamarca e a Suécia fazendo apresentações com dois sets, sendo um deles só de covers.

O bootleg foi feito na Suécia porque (seguindo uma moda que se tornou comum até no Brasil), uma rádio espertinha de lá gravou essas apresentações e passou a exibir o set de covers direto. As apostas de fãs e sites de música é a de que essa apresentação do disco foi gravada em 29 de abril de 1985 no teatro Göta Lejon, em Estocolmo, Suécia.

Pelo menos duas músicas de On strike estão – olha só que sonho – nas plataformas digitais. Isso porque em 2017 saiu o disco It’s all live now, com parte do repertório de covers que o Echo tocava na época, acrescido de três canções autorais. She cracked e It’s all over now, baby blue (Bob Dylan) estão lá como na versão do pirata, e o créditos de It’s all live now (que saiu em LP) explicam que as músicas foram “gravadas ao vivo na Suécia” e “foram originalmente incluídas no disco não-autorizado da Psychedelic Moose”. Pega aí mais esse disco.

Mais Echo & The Bunnymen no POP FANTASMA aqui.

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Crítica

Ouvimos: Sweet, “Full circle”

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Ouvimos: Sweet, "Full circle"

“Peraí, esse Sweet é aquele?”, muita gente deve estar se perguntando ao ler esse título e o começo deste texto.

Depende do seu ponto de vista. A formação clássica da banda de glam rock  e hard rock já se foi quase toda para aquela grande gig no céu – sobrou apenas o vocalista e guitarrista Andy Scott, que desde 1985 leva adiante uma versão pessoal do grupo, que é a desse álbum. Isso porque houve também um Steve Priest’s Sweet, comandado pelo baixista morto em 2020, e houve também um New Sweet – batizado assim por recomendações jurídicas – criado pelo ex cantor Brian Connolly, também já falecido.

O Sweet que parece ser considerado o oficial é esse mesmo, de Andy, que vem gravando desde 1992 (e por acaso, fez shows no Brasil em 2007). Scott é o dono da bola, mas o frontman é Paul Manzi, um londrino de 61 anos que já fez shows com artistas como Ian Paice e foi integrante do grupo neo-prog Arena até 2020. O aquele do começo do texto vai sumindo aos poucos quando Full circle começa a rodar, e o Sweet que emerge das caixas de som (ou dos fones de ouvido) é uma banda de hard rock-heavy metal bem formulaica, nada a ver com o poderoso grupo de glam rock que barbarizava ao vivo e soltava hits como Ballroom blitz e épicos como Sweet Fanny Adams.

Da seleção de Full circle dá para destacar sons como Don’t bring me water, com refrão levanta-estádios, a cavalar Changes (que rouba a frase “i’m going through changes” do hit homônimo do Black Sabbath, e dá uma lembrada básica na introdução de voz de Whiskey in the jar, hit do Thin Lizzy), o metal cromado de Destination Hannover, e o belo hard rock balada da faixa-título. Mas é basicamente uma outra banda, que insiste em lembrar as fases mais recentes do Kiss ou do Whitesnake, por exemplo. Vale pelo (indiscutível) valor histórico e pela sobrevivência de um monolito do rock setentista.

Nota: 6,5
Gravadora: Sony Music.

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Cinema

Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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Crítica

Ouvimos: Coldplay, “Moon music”

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Ouvimos: Coldplay, "Moon music"

Aparentemente, o Coldplay está vivendo um dilema que muitos artistas de porte enorme (não existe nada deles que não seja mega, está no DNA da banda) passam a viver assim que olham para o lado e enxergam a cordilheira de fãs que já conseguiram conquistar: como permanecer fazendo coisas diferentes, e ao mesmo tempo, fazendo música para todo mundo ouvir? Ainda mais levando-se em conta que o Coldplay sempre teve um público extremamente ecumênico?

Bom, por ecumênico, entenda-se: existem fãs de sertanejo, de gospel, de MPB e gente que nem tem o hábito de ouvir música (!) que ama Coldplay, e já esteve na plateia de pelo menos um show deles no Brasil. O mesmo, vale dizer, acontecia com o R.E.M – números dos anos 1990 mostraram para a Warner, gravadora deles, que o álbum Out of time, megasucesso de 1991, foi comprado por gente que nem sequer costumava comprar discos. Muita gente deve ter comprado um toca-discos pela primeira vez para ouvir o álbum de Shiny happy people, e muita gente deve ter ido a um show “de rock” pela primeira vez porque precisava assistir ao Coldplay e se envolver com a música e com o espetáculo visual do grupo.

Explicar o papel e definir a postura de cada um desses nomes (R.E.M. e Coldplay) diante desse frege todo do mercado, parece fácil. Difícil é entender, hoje em dia, para que lado vai, musicalmente falando, a banda de discos excelentes como a estreia Parachutes (2000). Autodefinido como uma banda que fala de “maravilhamento” (o cantor Chris Martin já mandou essa numa entrevista), o Coldplay parece entregue em Moon music, o novo álbum, à vontade de investir de vez no segmento de trilhas para time-lapse de construção de shopping center, e vídeo motivacional pra empresas.

Isso faz de Moon music um disco ruim? Não, pode crer que tem coisas legais ali, além de algumas ideias boas que se perdem em finalizações meia-boca. Destaco o clima ABBA + ELO de iAAM, quase uma sobra do primeiro disco da banda; o house bacaninha de Aeterna (que mesmo assim encerra num clima de música de louvor) e a baladinha de piano All my love. Além da abertura “espacial” com Moon music, que tem participação do produtor de música eletrônica Jon Hopkins. Vale citar as mensagens de autoaceitação e autoestima da banda – sim, isso faz diferença, ainda que em termos de política, as letras do Coldplay sejam mais rasas do que piscina infantil.

  • Temos episódio do nosso podcast sobre o começo do Coldplay
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Por outro lado, Jupiter é um folk pop bacaninha, mas do tipo que você vê artistas em todo canto fazendo igual. A faixa 6, cujo título é identificado com um arco-íris, é parece feita de encomenda para os tais vídeos motivacionais. We pray é cheia de truques batidos da união de pop, gospel e hip hop. Em vários momentos, o Coldplay parece estar mirando, mercadologicamente, no que parece mais rentável para a banda: na trilha sonora dos seus shows, e não especialmente em discos que mudem a história do grupo. Não dá para culpá-los, mas ao fim do disco novo, a sensação é a de ter escutado um EP esticado ao máximo.

Moon music soa como música ambient produzida não por Brian Eno, mas por um produtor ou diretor de TV, ou um desses diretores criativos que surgiram na onda dos influenciadores digitais. O Coldplay de Music of the spheres (2022) parecia bem menos estandardizado e bem mais ousado. Mas foi rebate falso.

Nota: 5,5
Gravadora: Universal Music

 

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