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Cultura Pop

O rolê da cadeira de vime nas capas de discos

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Entra ano, sai ano, entra década, sai década, uma coisa é certa: algum artista, seja lá qual for o gênero musical dele, vai lançar um disco em que, na capa, aparece sentado numa cadeira enorme de vime. Sim, aquela cadeira que é larga o suficiente para acomodar pelo menos uma pessoa, mas que parece que vai desmoronar a qualquer momento. E que geralmente tem palha (ou alguma imitação) no encosto.

Em 2014, o rapper Drake lançou o disco More life, em cuja capa tem uma cadeira dessas (ok, é o pai do Drake na capa, não o artista), mas bem antes disso, teve mais. O Heaven 17 ocupou uma cadeira dessas na capa do single Penthouse and pavement. O countryman Larry Gatlin encarou a câmera sentado numa dessas na capa de Straight ahead (1979). Al Green ocupou uma cadeira branca (todo vestido de branco, por sinal), na capa do clássico I’m still in love with you (1972). A modelo e cantora neerlandesa Vanessa posou numa dessas na capa do single In the heat of the night, de 1981. Só para ficar em alguns exemplos.

“E no Brasil, teve?”, você pode estar se perguntando. Bom, o exemplo que me vem à mente é o disco A bad Donato, de João Donato (gravado fora do Brasil, por sinal, em 1970). Na comunidade Brazil By Music, no Facebook, tem um monte de gente super campeã (e com boa memória visual) que já deve ter achado várias capas de LPs nacionais em que algum cantor ou alguma cantora ocupa um assento desses – vale ir lá fuçar as fotos.

UPDATE: Nos lembraram também que o sambista Roberto Ribeiro lançou em 1983 um disco em que aparecia sentado numa cadeira dessa, na capa (olha aí) e que Elza Soarea lançou um álbum epônimo em 1974 também com essa cadeira na capa (olha aí). Agradecemos aos leitores Malcom Fernandes e Jean Mafra pela lembrança.

O fato é que a Vox, num dos maravilhosos vídeos que o canal lança, decidiu tentar entender porque é que essa cadeirinha de vime (um item de decoração que foi se tornando meio cafona, com o passar dos tempos) aparecia tanto em capas de discos. Vale lembrar que o assento virou quase uma mania de fotógrafos de modo geral – era possível ver gente sentada num monstrengo desses até mesmo em capas de revista e ensaios de moda.

O canal foi lá para trás, achou uma foto de ninguém menos que Charles Darwin sentado numa cadeira dessas em 1880, e descobriu que o assento de vime era um item de decoração cool, bacana e descolado no começo do século 20. Por sinal, o consenso geral nessa época era que esse tipo de mobília tinha a cara do verão. Afnal, era levinha, prática, não esquentava muito a bunda de ninguém, ajudava a manter mais arejados os ambientes, e dava ar campestre a qualquer casa.

“Mas o que as fotos têm a ver com isso? E as capas de discos?”. Bom, veja aí o vídeo (que tem legendas em inglês e português, automáticas) para responder às suas perguntas. Mas basta dizer que fotógrafos amaram as cadeiras de vime porque não esquentavam as bundas dos fotografados após várias horas de spots em cima deles. E que havia um modelo de vime chamado posing chair, que era bem próprio para fotos. Só que a tal cadeira que ocupa as capas de vários LPs, e que viraria a sensação dos cadernos de “casa & decoração” tem nome e se chama peacock chair (cadeira pavão).

Pega aí.

UPDATE 2: E o Painho, personagem de Chico Anysio, também aderiu a cadeira de vime, claro. Agradecemos aos leitores Aline Haluch e Giuliano Cabral pela lembrança.

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Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

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Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

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  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

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