Cultura Pop
Hüsker Dü lança Zen Arcade em Nova Jersey, em 1984

Tem uma enorme preciosidade no YouTube para os fãs do Hüsker Dü. Alguém jogou, na íntegra, um piratão de um dos shows que a banda de Bob Mould (voz, guitarra), Grant Hart (bateria) e Greg Norton (voz, baixo) fez para divulgar o segundo disco, Zen arcade, de 1984. Foi em 25 de março daquele ano, no City Gardens, em Trenton, Nova Jersey.
Nome definitivo para se entender o rock norte-americano (e o punk norte-americano, em especial) após os anos 1980, o Hüsker Dü dava um passo além com o segundo álbum, duplo e “conceitual”. Zen arcade contava a história de um garoto que fugia de sua família abusiva e enfrentava “monstros” como o exército, a religião e as desilusões amorosas.
Se o primeiro disco, Everything falls apart (1983), tinha menos de vinte minutos e era cheio de músicas curtíssimas e berradas, no melhor estilo do hardcore, Zen arcade passava por estilos como folk e psicodelia. E fechava com os treze minutos de Reoccurring dreams. Com um álbum, dois EPs e alguns singles na discografia, o HD também insistiu com sua gravadora, o selo indie SST, para que nenhum single fosse retirado do disco. Só Masochism world foi incluída no lado B (e ao vivo!) da versão deles para Eight miles high, dos Byrds.
No livro See a little light: The trail of rage and melody, o próprio Bob Mould dá a entender que Zen arcade foi feito numa pressão tão grande por compor e correr atrás de shows (a banda cuidava de sua própria carreira, sem intermediários, e as tensões entre ele e Grant Hart eram enormes), que ele mal tem recordações de como o disco foi feito. Sequer imaginavam que estavam fazendo um grande disco. “Reoccurring dreams foi um golpe de sorte, a gente estava só fazendo uma jam e improvisando”, conta. “Zen arcade é um bom disco, mas ele significou mais para outras pessoas do que para mim”, escreveu.
Mould, que não faz exatamente o tipo do cara junkie, abusava de álcool, anfetaminas e fast food (!) durante a gravação. Sem grana para a gravação (a SST vivia no vermelho), a banda e Spot, co-produtor do disco, tiveram que improvisar: encaixaram uma fita de 16 canais numa máquina de 24, o que comia horas e horas de gambiarras antes que as gravações começassem. A banda também reaproveitou fita: o tape de Zen arcade tinha sido usado anteriormente para gravar o áudio de um especial de TV dos Bee Gees (!) e teve que ser apagado.
O HD, por sinal, marcou época por ser um estranho no ninho do punk local. Vindos de Minneapolis, começaram fazendo um som ligado ao hardcore, bastante abrasivo. Mas em vez de músicas de protesto ou temas políticos, como mandava o figurino, Grant, Bob e Greg focavam basicamente em temas como amor e desilusão. E eram fãs de psicodelia e da cultura pop dos anos 1960 e 1970.
Olha aí a versão hardcore deles para Sunshine Superman, de Donovan, lançada no primeiro álbum.
Isso aí são eles tocando a já citada versão de Eight miles high, dos Byrds, ao vivo. Sim: sem Hüsker Dü, você não teria R.E.M., nem Green Day, nem Nirvana, nem nada do rock feito nos EUA nos anos 1990.
Aliás, o Hüsker Dü era “diferenciado” o suficiente para gravar até mesmo uma versão de Love is all around, tema da série Mary Tyler Moore.
Zen arcade acabou alargando as fronteiras do Hüsker Dü, que passou a privilegiar material mais melódico nos dois últimos discos que lançou pela SST, New day rising e Flip your wig, ambos de 1985. A sonoridade que acabou angariando mais fãs foi a dos discos subsequentes, gravados pela Warner. Tanto Zen arcade quanto Warehouse: songs and stories, último disco do Hüsker (1987), também duplo, ajudaram a dar a cara definitiva para estilos como pós-hardcore e hardcore melódico.
Aproveita e pega aí o clipe de Could you be the one, um dos principais hits de Warehouse.
Mais Hüsker Dü no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
Mais Pop Fantasma Documento aqui.
Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
Mais Pop Fantasma Documento aqui.
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?







































