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Filme com Holger Czukay é relançado numa caixa do músico

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Filme com Holger Czukay é relançado numa caixa do músico

Em 19 de abril de 1988, a estação de TV alemã ZDF exibiu um telefilme chamado Krieg dër tone (“guerra dos sons”), de Michael Meert. O filme fala de uma garota chamada Ina (Angela Smecca), obrigadíssima pela mãe a fazer aulas de piano. Chegando na aula, encontra um professor malucão chamado Starring (ninguém menos que o ex-Can Holger Czukay), sempre envolvido com experimentações musicais. O mestre acaba abrindo a cabeça da garota para novas aventuras na música e ela acaba indo viver com ele, o que causa um belo escândalo.

Nessa cena aí, dois simpáticos meganhas invadem a casa do mestre com a mãe da garota.

https://www.youtube.com/watch?v=ZnOHntCuSsI

A novidade é que Krieg dër tone é um dos mimos que vêm no pacote Cinema, que relembra a carreira solo do ex-baixista do Can, morto em setembro passado. A caixa sai um dia depois do seu aniversário de 80 anos, 23 de março. Tem cinco LPs com músicas inéditas e as colaborações de Czukay com Brian Eno, Jah Wobble e muitos outros artistas.

Cinema também inclui o DVD do tal telefilme, um booklet com fotos inéditas, uma biografia de Czukay feita pelo escritor Ian Harrison e um single de 7 polegadas de, digamos, vídeo vinil – feito a partir de um sistema que permite armazenar imagens de vídeo em vinil. O tal single tem um vídeo inédito de Czukay, e o clipe da música Cool in the pool, de seu disco Movies, de 1979.

Olha a caixa aí.

Filme com Holger Czukay é relançado numa caixa do músico

Aliás, 2018 também é o ano em que o Can completa 50 anos. E ano passado saiu uma caixa de singles deles.

Entrevista

Entrevista: Les Rita Pavone fala sobre disco de estreia, cena musical paraense, viver ou não de música

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Les Rita Pavone (Foto: Safo / Divulgação)

Em 2025, a banda paraense Les Rita Pavone fez 12 anos de existência – entre shows, alguns hiatos, alguns singles e várias mudanças de formação. O grupo hoje é um quinteto formado por Gabriel Gaya (voz e composição), Arthur da Silva (violão, voz, teclado, cavaquinho e produção), Helênio Cézar (baixo), Jimmy Góes (guitarra) e Luiz Otávio de Moraes (bateria) e em maio, eles lançaram o ótimo primeiro álbum, ¡El baile rock!, cuja repercussão chegou à lista dos 50 melhores disco do primeiro semestre de 2025 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Quando resenhei o disco, achei que a banda estava sendo irônica com a limitação de vários segmentos do público roquista ao incluir em sua estreia sons latinos, revoluções sonoras a la The Clash e Mano Negra, e sambas com cavaco e guitarra. Nada disso: no papo abaixo, Gaya, Arthur e Jimmy contam como o rock, no caso deles, inclui vários estilos e perspectivas.

(se você quer saber se rolam confusões nas plataformas de música entre o nome da banda e o da veterana cantora italiana Rita Pavone, eles já falaram sobre isso com a gente)

Texto e entrevista: Ricardo Schott – Foto: Safo / Divulgação

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Quando fiz a resenha do ¡El baile rock!, imaginei (e disse isso no texto) que havia uma certa ironia no título do disco, já que se trata de um álbum musicalmente bastante diversificado. Aí vocês me falaram por DM que não se tratava de nenhuma ironia. Expliquem isso aí.

Gaya: Eu entendo o rock como um ritmo modular, que por isso teve tantas transformações e ramificações com o passar do tempo. Ao entrar em contato com alguns discos do rock latino, e com bandas brasileiras influenciadas por esse tipo de rock, como Acabou La Tequila e Pato Fu, vi que a diversidade de ritmos é meio que o padrão. E o que credencia esses discos como discos de rock é justamente as escolhas de timbragem e o trabalho conceitual. O disco tenta achar esse ponto de intersecção entre a música brasileira, psicodelia, rock, latinidade e a experiência de viver em uma cidade da Amazônia urbana.

Jimmy: O rock permeia todas as faixas de alguma forma, no sentido do ritmo musical, na influência que cada um tem desse estilo, e no sentido da palavra, que em Belém é algo referente a uma “festa”. Mas interpretar o título do álbum como tendo essa certa ironia não tá errado. Faz parte do que a banda propõe essa “confusão” de significados.

Arthur: O nome denota exatamente o que o disco se propõe a ser, mostrar uma outra perspectiva de rock, mais dançante, gingada (daí o “baile”) e voltado às nossas influências amazônicas e latinas, uma forma de interpretar o artigo em espanhol “El”.

Vocês estão ficando felizes com a receptividade do disco? Dá para perceber que o Les Rita vem progredindo bastante no número de fãs e menções na mídia, certo?

Gaya: Fico feliz sim com a receptividade, a entrada na lista da APCA… Mas sempre confiei muito nesse repertório e no conceito criado. Queremos nacionalizar a banda. Mas pra ter realmente um público mais substancial, do tipo que paga suas contas, ainda precisamos saber trabalhar melhor com as possibilidades da internet.

Jimmy: Quis gravar com a intenção de fazer um registro das músicas e só. Não esperava que houvesse uma receptividade como está tendo. As pessoas curtem os shows, mas geralmente a gravação não fica com a mesma energia de um show. Mas tá sendo interessante perceber que, mesmo assim, as músicas tem alcançado as pessoas. Nunca imaginei que o solo todo torto que eu fiz na última música fosse fazer parte de um disco que ficaria na lista da APCA.

Arthur: Isso é muito engraçado, porque há relativamente pouco tempo atrás, tinha gente que pensava que a banda sequer existia mais. Nossos lançamentos em forma de single foram uma boa estratégia porque pavimentaram o ambiente para o lançamento do álbum e construíram a receptividade por parte do público.

Quanto tempo vocês demoraram gravando o disco?

Gaya: Pra mim o disco começou a ser gravado em 2021 quando começamos a gravação de Eva. Aí firmamos a parceria com o Studio Z do querido amigo Thiago Albuquerque, e um certo padrão de produção foi estabelecido.

O disco foi quase todo feito nas minhas folgas do trabalho alinhadas com o tempo livre de cada integrante da banda e participantes em geral – se eu deixei de estar em duas sessões, foi muito. Depois de tudo, ainda passamos um pente fino pra definir a mixagem e dar uma certa concisão no disco todo. Porém, só foi feito um ajuste fino de volume.

Arthur: A primeira tentativa de gravação dessas músicas já tinha rolado antes de eu entrar na banda, mas voltamos em 2022. Já estava mais do que na hora de registrar esses sons e lançá-los.

O disco, como vocês falaram no texto de lançamento, resgata a memória afetiva da banda – tem faixas feitas há tanto tempo que são assinadas por ex-integrantes, etc. Como foi mexer nesse baú do grupo?

Gaya: Ainda nem mexemos no baú! Nós apenas registramos as músicas que já eram tocadas em shows antes da saída deles e continuaram sendo tocadas. E muitas delas foram feitas a seis mãos, como Pira de pajé, Fui cumê e Café Havana – em que eu tive um papel muito ativo na composição.

Arthur: Essas músicas são tocadas desde quando os ex-integrantes ainda eram da banda, e permaneceram no repertório mesmo após a saída deles. O Les Rita é uma família musical, vários compositores passaram pela banda e foram deixando suas contribuições.

Jimmy: São músicas que fazem parte do repertório de um jeito “vivo”. Elas meio que são parte da identidade da banda.

Gaya: Mesmo composições como Radio AM – em que eu não assino a autoria – encontraram suas versões definitivas a partir de proposições feitas por essa “nova formação”, que na verdade já tem seis anos. Teve, por exemplo, a inserção do dial da Rádio Clube, uma rádio paraense histórica do AM. Isso foi uma sacada do Arthur, e deixou a música ainda mais linda.

O baú da banda de fato são as canções que eu, Rafael e Mateus escrevemos – algumas em parceria – nos nossos anos formativos como compositores. Nessa gaveta não estão apenas canções mas também uma série de conceitos pra discos em que elas foram agrupadas a época. Quero mexer nesse material após o lançamento do segundo disco.

Aliás vocês têm dois ex-integrantes que são bem próximos do grupo: gravaram vocais, assinam faixas, um deles carrega “Pavone” no sobrenome artístico… Como é essa relação com eles, ao mesmo tempo tão perto e tão longe?

Gaya: Vou deixar primeiramente um comentário sobre o nome “Rafael Pavone”. Em 2012 quando a gente lançou o primeiro single no Soundcloud, que foi a marcha rancho Sentimento do mundo, a banda na verdade era um trio de compositores. Não havia uma formação do tipo guitarra, baixo, bateria – até por isso eu conto os anos da banda a partir do primeiro show em novembro de 2013. Quando mandamos o release pra rádio assinamos como: Gabriel Pavone, Mateus Pavone e Rafael Pavone. Mas só o Rafael prosseguiu usando o nome, acabou virando o nome artístico dele.

A ideia inicial quando decidimos fazer o disco era que ele seria produzido a seis mãos por mim, pelo Mateus e Rafael. Mas por vários motivos isso acabou não acontecendo e quem assumiu a produção fomos de fato eu e o Arthur, em todas as faixas – com exceção de Fui cumê, que o Mateus co-produziu com a gente. A participação deles no disco foi meio natural, até porque grande parte do repertório nós construímos juntos e acredito que essa vai ser uma constante na discografia da banda; já tem canções listadas de ambos pra entrar no segundo disco…

Jimmy: O Mateus e o Rafael moram em Belém. O Rafael tá no grupo da banda (no Whatsapp). Tudo que a gente conversa no grupo ele fica ciente, ele dá a posição dele quando acha que deve, enfim. Tem até uma piada interna em que a gente fala que o “Mais Querido” (apelido do Rafael) está sempre presente em nossos corações. Isso surgiu numa época em que ele ainda cantava nos shows, mas dificilmente ia pros ensaios por conta da vida.

O Mateus lançou um trabalho musical recente também, A imitação do vento (assinando com seu nome verdadeiro, Mateus Moura). Ele é um artista que produz muito, então frequentemente a gente se encontra pelos espaços, troca ideia e tal. Ninguém tá nem tão perto e nem tão longe. Acho que isso se encaixaria mais pro Mael, que é quem assina Chinatown. Atualmente ele mora na Alemanha e já faz tempo que ele fez parte da banda. Então é o que tá perto, no sentido de que a música dele tá no disco, mas longe no tempo e no espaço.

Aliás, qual foi o motivo que mais fez gente sair do Les Rita Pavone?

Gaya: Acredito que fechamento de ciclo, surgimento de outras prioridades, cansaço – e algumas fricções, sim. Eu mesmo de vez em quando dou uns hiatos da banda. No ano de 2024 fizemos pouquíssima coisa juntos porque após o show de dez anos da banda, em novembro de 2023, e após a finalização do disco, eu me senti meio exaurido. Além disso ainda teve a morte do pai do Jimmy, que deixou todos da banda de luto.

Eu acho importante dar esses respiros – principalmente em um projeto que ainda não é fonte de renda pra ninguém. Então, quando voltamos, estamos com a energia renovada pra trabalhar.

Como vai a cena musical de Belém? Atualmente quais são os maiores desafios e as maiores vitórias de quem vive aí e trabalha com música?

Gaya: Um dos movimentos mais importantes em termos de “cena paraense” ultimamente tem sido a página/grupo de whatsapp Ouça Rock Paraense (@oucarockparaenese) que tem movimentado eventos de música autoral na cidade e dando destaque pra lançamento de singles e discos das bandas daqui do Estado.

Outra iniciativa importantíssima aqui em Belém é o trabalho desenvolvido pelo músico e produtor Renato Torres, que inclusive produziu nosso primeiro EP Voltar a viver. É o Roda Cancioneira, que acontece na loja Na Figueiredo, em que ele chama um elenco base de compositores tem a oportunidade de mostrar suas músicas para um público que vai lá para ouvi-las. Depois tem microfone aberto.

Acho que o maior desafio pra qualquer empreitada aqui em Belém é a formação de plateia. Isso passa por estabelecer parceria com produtoras e outras bandas e pensar em estratégias pra chegar no público. Ultimamente temos feito muitos esforços nesse sentido e nossa parceira mais regular tem sido a produtora Perau, que presta assessoria pra artistas e bandas aqui em Belém.

Já as vitórias têm sido as pequenas: lançar nossos trabalhos, manter uma certa regularidade de shows… Neste ano pela primeira vez conseguimos ser aprovados em um edital.

Como vocês veem o fato do rock brasileiro aparentemente “não fazer parte” (muito entre aspas) do rock latino-americano?

Gaya: Engraçado você perguntar isso porque o documentário Rompan todo, que foi feito sobre o rock na américa latina, exclui o Brasil dessa história. E olha que Roberto Carlos, Rita Lee e Secos e Molhados fizeram muito sucesso na América Latina, teve todo o esforço por parte dos Paralamas em se inserir dentro desse contexto do rock latino… As conexões são enormes, mas muitas vezes esquecidas e até mesmo intencionalmente apagadas.

Jimmy: Existe uma barreira que é a língua. Se no Brasil houvesse uma política de se priorizar aprender a língua espanhola, talvez a gente conseguisse se integrar mais com os povos dos países vizinhos em termos de cultura.

Arthur: Tem que pensar até no que é “rock” e no que é considerado “brasileiro”. O que ficou conhecido enquanto “Rock Nacional”, as bandas do Sudeste/Sul, de fato não se comunicou com grande afinco à vizinhança latina. Teve a exceção dos Paralamas. Porém, na música amazônica – pensando Amazônia como território que transcende o Brasil – a injeção da guitarra psicodélica na tradicional música peruana foi decisiva para influenciar a guitarrada no Pará e o beiradão no Amazonas. E eles também se fundiram com a musicalidade caribenha não só espanhola, mas também dos países francófonos.

Esse, pra mim, é o grande ponto do debate: quais partes do Brasil não se comunicaram com as infusões que o rock trouxe para a América Latina? Porque enquanto o Sudeste já chegou a fazer até marcha contra a guitarra elétrica, a Amazônia pegou a guitarra elétrica e deu a ela um sotaque próprio e único.

Vocês têm fãs em outros países de língua latina? Ou até em outros países falantes de português, por que não?

Arthur: Tenho um trabalho solo e um contato de fã na Colômbia – é a única pessoa estrangeira que eu conheço. Quero apresentar o Les Rita a ela, tenho certeza que ela vai curtir.

Jimmy: Tem uma amiga chilena que conheceu nosso trabalho. Talvez ela conte como uma fã de outro país.

Gaya: Surgiu até uma proposta da gente fazer uma turnê na Argentina, mas infelizmente era golpe. Na real era um cara tentando vender um pacote de turismo em um esquema “pay to play” dizendo que a gente ia ter a honra de tocar no mesmo estúdio que o Ceratti, do Soda Stereo, tocou. Com todo respeito ao Ceratti e ao Soda Stereo… achei tudo isso um engodo. Apesar das estatísticas do Spotify for Artists apontarem que temos ouvintes fora do país, ainda não rolou algo realmente palpável nesse sentido. Eu particularmente adoraria tocar em festivais da América Latina ou mesmo em Portugal e Angola e acho que isso de fato ajudaria a aumentar nosso público nesses lugares.

Passamos por desgovernos, mortes, pandemia, etc. Qual a visão que vocês têm de futuro atualmente e o quanto isso impacta o som de vocês?

Jimmy: Eu penso que a gente não passa de 2050, mas, sinceramente, isso não impacta muito o meu trabalho, pessoalmente falando. Quanto o som da banda, talvez a gente faça uma música sobre isso tudo pro próximo disco. Bora ver.

Arthur: Tenho tentado não ser pessimista em relação ao futuro, já que o pessimismo também é uma ferramenta política. Gosto muito de pensar no que o Antônio Abujamra falou sobre o artista do teatro, e que adaptei à arte de um modo geral: “Tem que ser torcedor do América”. Sofredor, mas nunca deixar de acreditar até o fim, manter a esperança no intangível.

O Gabriel é um exemplo disso. Ele pretende seguir com o Les Rita até o fim, ou do mundo, ou o dele próprio. É o cara mais apaixonado pela música que eu conheço. Nosso som tem tudo a ver com a nossa realidade, e isso vai permanecer. Que o Les Rita Pavone seja uma das trilhas sonoras pra adiar o fim do mundo!

Gaya: Depois de sobreviver à pandemia, veio a consciência do quão essencial pra nossa existência é a realização de projetos. O lançamento desse disco pra mim é a materialização de um sonho. Engraçado vocês (Arthur e Jimmy) falarem de fim do mundo porque isso vem sendo um tema recorrente em vários trabalhos que entrei em contato: Pic Nic, com o ótimo single Aniquilação, Luedji Luna, Menores Atos… vários artistas vêm falando disso. Uma das muitas coisas que eu gosto de fazer no meu parco tempo livre é assistir vídeos de biologia na internet e neles uma constante é que as “grandes extinções” tendem a demorar milhares de anos. Então, provavelmente – e apesar dessa “coisa no ar”- ou estamos muito longe do fim, ou azarentos o suficiente pra estar bem no ponto X.

Vocês já conseguem viver de música? O que cada um faz da vida?

Gaya: Eu não vivo de música, mas sem música também não vivo. Já ganhei um dinheirinho discotecando ou fazendo seleção de músicas pra ambientes. Mas meu ganha-pão mesmo vem da profissão que comecei há 12 anos que é o trabalho de garçom e que, modéstia às favas, eu sou bom pra caralho! Tenho um trampo fixo que é o Bar do Parque, o bar mais antigo do Brasil em funcionamento atualmente, e trabalho em mais uns dois bares como extra. Quero fazer Enem esse ano pra música ou jornalismo, mas sempre tenho aquele fio de esperança da banda se tornar viável comercialmente.

Arthur: Somos artistas proletários. Além de nós, Cézar é professor de Inglês e também estudante e Luiz Otávio trampa com cozinha. Por enquanto eu trabalho 100% com música. Tenho dois EPs lançados, Acenei e Tese brega-soul, participei de projetos de outros amigos como músico, vou lançar trampo novo com a Velhos Cabanos, outra banda daqui… Mas dou aula de violão, produzo em estúdio, faço gigs em bares. A gente se desenrola em mil corres pra segurar o sonho. “No mais, vida de artista”, dizia Itamar Assumpção.

Jimmy: Eu sempre vivi de música, de um jeito ou de outro. Meu pai é considerado um dos maiores compositores do Brasil. Ele é conhecido como Tonny Brasil, pai do tecnobrega. Com o trabalho dele foi possível construir a casa onde eu vivo hoje, entre outras coisas. Mas eu mesmo não consigo me sustentar com o meu próprio trabalho com música. Estou terminando uma graduação em Letras, vou me tornar professor de português e pretendo prestar concurso pra conseguir me estabilizar.

Nos últimos anos vocês lançaram EP, single, o álbum… e imagino que vocês sejam o tipo de banda que mal lançou alguma coisa, já pensa num próximo lançamento. Já têm algo em mente?

Gaya: Na real, o EP Voltar a viver foi um relançamento via Maxilar de um trabalho que já tinha sido lançado em 2017, mas só estava no Soundcloud e YouTube. Mas sim o conceito do segundo disco já está definido e com repertório pré-selecionado, e terá o nome de A arte da fulerage. Como meu planejamento com a banda é a longuíssimo prazo, após esse disco um dos caminhos possíveis é retomar as canções que foram feitas antes desse dois discos – o real baú da banda. O ideal seria lançar um disco por ano, o que é difícil pra realidade independente. Mas com esse material daria pra lançar uns cinco discos e ainda sobraria música pro meu disco solo.

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Lançamentos

Radar: Lorena Moura, Supercombo, Pra Gira Girar, Máquina Voadora, Jáder, Ra7ael, Camapu

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Lorena Moura (foto: Malu França)

O Radar nacional de hoje tá a cara da diversidade sonora, abrindo com a MPB pop de Lorena Moura, e seguindo com rock introspectivo (Supercombo), raízes afro-brasileiras (Pra Gira Girar), instrumental com cara jazzística (Máquina Voadora) e sons variados e eletrônicos (Jader e Ra7ael). Ouça e repasse!

Texto: Ricardo Schott – Foto (Lorena Moura): Malu França/Divulgação

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LORENA MOURA, “QUIS”. Lorena já apareceu aqui no Radar com o belo single Carinho – e agora volta com seu primeiro clipe, Quis. Uma música delicada e tranquila, numa onda que lembra Rita Lee e João Donato (imagine uma música composta e arranjada pelos dois!), cuja letra põe o amor-próprio na mesa de debates: Lorena encontra-se com ela própria numa mesa de bar e fala dos altos e baixos de um pós-relacionamento que já foi um triângulo amoroso, e virou uma divisão de bens. A direção é do irmão de Lorena, Lorenço Moura.

A cantora compôs a faixa a partir de uma prosa poética que Maria Santos enviou para ela. Luca Fustagno, parceiro de Lorena, entrou depois e fez a segunda parte da canção. E Quis acabou se tornando tão importante que Mata-leão, disco de Lorena que está para sair, foi “promovido” de EP a álbum cheio. O material sai pelo selo paulistano Cavaca Records.

SUPERCOMBO, “TESTA”. E lá vem o segundo clipe do disco Caranguejo do Supercombo. Dessa vez, em Testa, a banda traz o caranguejo que apareceu no clipe de Piseiro Black Sabbath, só que num clima bem mais introspectivo – até porque se trata de uma música sobre perdas, saudades e coisas mais sensíveis. Tanto que até o caranguejinho mostra seu lado triste, que não se adapta ao mundo. “Tentamos retratar esse sentimento da música, da gente sentir falta de alguma coisa do passado, mas não conseguir se reconectar”, comentou o baterista André Dea.

O filme (sim, é um filme!) foi feito em película, com direção de Renato Peres e Luke Martins. “A gente ensaiava antes porque tínhamos poucos minutos de gravação. Nesse formato acho que você se entrega mais na hora do “rec” porque tem que fazer valendo, não pode errar”, conta o batera.

PRA GIRA GIRAR, “ATABAQUE CHORA”. É muita, mas muita emoção. O projeto carioca Pra Gira Girar, que celebra a obra dos Tincoãs, recorda a faixa de abertura do disco epônimo de 1977 do grupo vocal, formado na maior parte do tempo por Mateus Aleluia, Dadinho e Heraldo. O single sai pelo selo Amor in Sound, encabeçado pelo produtor Mario Caldato Jr (que faz também a mixagem) e pela diretora artística Samantha Caldato.

Formado por Alvaro Lancellotti, Michele Leal e Alan de Deus nas vozes, Pedro Costa na guitarra, Kassin no baixo, Zé Manoel no piano e vozes, Zero Telles (in memorian) e Anna Magalhães nas percussões, e Diogo Gomes no trompete, o Pra Gira Girar surgiu de uma ideia de Alvaro, de criar um show com a obra do grupo. Show esse que fez bastante sucesso e ainda não saiu de cartaz – em novembro, no Rio, rolam apresentações no MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (dia 1º), no Manouche (dia 21) e na Praia de Itaipu, em Niterói (dia 22). Um álbum está vindo aí, ainda sem data de lançamento.

MÁQUINA VOADORA, “TRIANON”. MPB, jazz, rock, climas nordestinos que lembram Hermeto Pascoal, e tons progressivos que chegam perto de bandas como Soft Machine. E, ah, história e literatura paulistanas. Junte tudo isso e você vai sacar o que é o som do Máquina Voadora, duo de música instrumental formado por Marcelo Garcia (guitarra, baixo e programações) e Enrico Bagnato (bateria e percussão acústica e eletrônica). Os dois preparam o disco A grande boca de mil dentes para lançamento ainda neste ano, com todas as faixas inspiradas no livro Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade.

“Cada faixa é uma conversa livre com o genial autor paulistano, uma reação aos versos do livro e sua transposição para a vida contemporânea na capital”, dizem Marcelo e Enrico, que se inspiraram no verso que fala em “bofetadas líricas no Trianon” para compor a bela e intrincada Trianon, o novo single.

JÁDER, “XÊRO”. No Nordeste, dar um “xêro” em alguém significa dar carinho e querer mais proximidade. O recifense Jáder decidiu falar sobre o início de uma paixão em sua nova música, feita ao lado de Barro e Guilherme Assis durante um retiro de composição em Sernambi (PE) e partiu justamente dessa palavra, que já estava bem forte em sua mente, para iniciar a canção, trilhada no corredor do brega-funk e do piseiro.

“A letra foi se desenhando até se tornar um retrato sincero do enamoramento: aquele momento em que o carinho cresce e a vontade de estar junto se revela”, conta ele. O clipe de Xêro, dirigido por Tiago V Lima e com direção de arte de Igor Soares, trata de levar essa vibe de enamoramento para a telinha. A ideia do vídeo, conta Jáder, é mostrar “um universo de sonho, onde o amor é retratado de forma leve, gentil e carinhosa, um reflexo da própria canção”.

RA7AEL, “CANIVETE”. A pronúncia do nome Ra7ael é Rah-Seven-A-el. Nascido na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e atualmente morando em Los Angeles, ele acaba de lançar o corajoso single Canivete. Uma música entre o eletrônico e o hip hop, cuja letra fala sobre táticas de defesa usadas pela comunidade trans – e que recorda uma época em que Ra7ael andava com um canivete na bolsa para se defender, após vários episódios de violência e discriminação. Arte pop queer pesada, bandida e que revira antigos traumas.

“Essa música representa como devemos rebater ignorância – não se rebaixando ao mesmo nível, mas mantendo a razão e rebatendo com arte, atitude e um pouco de ironia”, conta Ra7ael.

CAMAPU, “GUABIRU”. Uma música de três capitais: Tui Linhares, guitarrista do Camapu – uma banda de Curitiba, PR – compôs a faixa Guabiru quando morava em Fortaleza, CE. E tem Recife (PE) na história, já que Guabiru faz homenagem à música Da lama ao caos, de Chico Science e Nação Zumbi. A música sai agora como primeiro single do grupo – é a “primeira de 12 faixas que sairão ao longo dos próximos meses”, como afirma a banda.

A letra de Guabiru surgiu inspirada num meme sobre caranguejos terem de sair do Parque do Cocó para o Viaduto do Papicu, em Fortaleza, devido à especulação imobiliária (“esse humor se reflete na música”, diz o grupo). E a melodia tem ainda referências a Nearly lost you, sucesso da banda norte-americana Screaming Trees. Isso aí é grunge + manguebit + metal unidos.

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Lançamentos

Radar: Eleon, Communist Sex Magic, Acme, Zen Smith – e mais sons do Groover

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Eleon, na foto

O Pop Fantasma tá na Groover! Por lá, artistas independentes mandam seus sons pra uma rede de curadores – e a gente faz parte desse time. Fizemos hoje uma relação do que tem chegado de legal até a gente por lá – começando com a eletrônica pós-punk do Eleon.

O que tem chegado até nós? De tudo um pouco, mas, curiosamente (ou nem tanto), uma leva forte de bandas e projetos mergulhados no pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e afins.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Eleon):Divulgação

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ELEON, “SCREENS”. Com referências em grupos como Muse, Editors e Nothing But Thieves, esse grupo da Suíça faz o que chamam de “fusão sombria e cinematográfica de rock eletrônico e energia pós-punk”. Os solos de guitarra e os vocais têm também uma onda ligada ao metal e a hard rock – algo que surge, por exemplo, nesse single recente, Screens. O Eleon já tem um álbum, Terra incognita (2024), definido por eles como “uma jornada profunda rumo ao desconhecido”.

COMMUNIST SEX MAGIC, “ANOTHER MESS I HAVE SWALLOWED”. “Nosso som é para aqueles que se sentem deslocados, politicamente sem-teto, artisticamente esgotados — mas ainda seguem teimosamente aqui”, diz essa banda de Liverpool que fala sobre escalada do fascismo na Inglaterra, caos urbano e zoeira geral no sistema. O som, por sua vez, tem a ver com Slowdive, com os B-sides do Radiohead e com bandas recentes como Fontaines DC, unindo mumunhas do shoegaze, do grunge e de várias vertentes do rock ruidoso. Another mess…, single novo, volta o foco para o inferno pessoal de cada um, “aquele ciclo muito familiar de caos autoinfligido, aqueles momentos em que você percebe que é você quem continua criando sua própria bagunça”.

ACME, “MIDNIGHT CRISIS”. Essa banda pop-punk chilena existiu lá pelos anos 2000 e retorna quase duas décadas depois com um EP que está para sair. Midnight crisis, single que serve de batedor para o disco, fala sobre aquelas decisões que você tem o dia inteiro para tomar, mas só toma lá pela meia-noite, quando deveria estar dormindo ou indo dormir – ou aqueles decisões que você igualmente evita tomar.

A banda avisa que não se trata de uma reunião que vai durar pouco. “Estamos trabalhando em um novo material, explorando as temáticas de ficar adulto, os passos do tempo e as cicatrizes deixadas pela juventude”, contam.

ZEN SMITH, “YES YES YES”. Esse músico canadense produz todo seu material em casa, da execução à mixagem – e ainda faz clipes surrealistas para as músicas, como este de Yes yes yes, que usa “um bowl daqueles de leite com tinta e óleos”. O som, por sua vez, é psicodelia + pós-punk, uma curiosa mistura de Psychedelic Furs, Pink Floyd e – pode acreditar – Pixies. Zen se define como um “exército de um homem só de som e visão” e é por aí que ele equilibra sua carreira musical.

HIGHLAND, “BITS AND PIECES”. Uma espécie de bedroom synthpop, gravado de forma totalmente caseira, com clima confessional e influências de The Killers e Jeff Buckley. Elliot Alexander Lomas, o criador do Highland, diz fazer todas as músicas “à mão”, da composição à masterização, o que torna a aventura bastante experimental e diferente – rola um pouco de som ambiente em alguns momentos, como se tudo tivesse sido feito de maneira bem casual.

GLASS COFFIN CLUB, “WILLOW”. Esse grupo de darkwave do Kentucky tem influências bem clássicas: The Chameleons, Gun Club e Christian Death estão entre as referências de Willow, música que parece ter sido gravada nos anos 1980 num clube escuro e esfumaçado – não apenas pela instrumentação de época, mas pela qualidade de gravação que lembra as bandas do período. Música curtinha (menos de um minuto), gutural e sombria.

THE CAPTAINS SYNDROME, “TRAPPED”. Essa banda da Suécia faz punk como antigamente, com direito a lembranças de Iggy Pop nas letras, nas melodias e em especial, nos vocais. Trapped, single novo, fala de um tema que todo mundo já viveu: “Ela é inspirada nos desafios mentais e emocionais que enfrentei após perder meu emprego. Por meio de imagens vívidas e irônicas, ela captura a sensação de estar deslocado, mas ainda assim seguir em frente”.

ORPHAN PRODIGY, “TRAITOR”. Projeto criado pelos músicos Ian Keller e Danielle Hope (que são casados), o Orphan Prodigy une música eletrônica e punk pop – e pelo visto, tenta não soar parecido com a turma do nu-metal. Tanto que seu novo single, Traitor, traz uma mescla de teclados de house music, beats vindos do pós-punk e clima musical que alude tanto a Offspring quanto a Radiohead, No mínimo, inusitado – e pesado.

DREAM BODIES, “DEAD AIR” / “LIMERENCE”. Esse projeto musical de Los Angeles lança muita coisa – este ano já saíram alguns singles. O som é quase sempre entre o darkwave e o synthpop, com um clima desértico nas letras. Dead air, um dos singles mais recentes, tem esse clima esparso em letra, melodia e solos de guitarra. Limerence, outro single, une elementos de New Order e The Cure para falar de um relacionamento romântico mal-sucedido – e de todo o clima de pé na bunda que se segue depois, além das tentativas de superação.

PANKOW__77c, “MAD RAW MAX (CYBERPUNK INSANE FURY) V 1.1”. Esse projeto italiano costuma lançar temas ruidosos, na onda cyberpunk, acompanhado de clipes que mais parecem remixes de vídeo – mais até do que remixes de áudio. Dessa vez, a fúria cyber deles mexe com a franquia Mad Max e com sons pesados e eletrônicos, cheios de glitch.

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