Crítica
Ouvimos: Duquesa – “Six.”

RESENHA: Duquesa lança Six., disco curto com faixas afiadas: rap incisivo, versos contra racismo e patriarcado, ostentação e coragem em cada rima.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Boogie Naipe
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Lançado pela rapper baiana Duquesa como um álbum – apesar das sete faixas e da duração de quinze minutos – Six. soa mais como uma mixtape recheada de bons momentos e bons versos, até pela presença de um remix da faixa de abertura, Fuso, feito por TZ da Coronel e colocado no disco como a segunda faixa, logo após a original.
Se fosse um álbum lançado de forma tradicional, talvez representasse uma baita quebra de sequência. No universo de Duquesa, significa de tudo um pouco – pode significar até que a rapper quer ter certeza de que a letra, uma confissão sobre sucesso, viagens de avião, shows lotados e haters brotando de onde nem se imagina, foi muito bem compreendida. Isso porque Six. talvez seja o disco de rap brasileiro recente mais compromissado em espalhar brasa e mandar mensagens certeiras.
- Ouvimos: Stefanie – Bunmi
No espaço exíguo de Six., Duquesa briga com o patriarcado, esfrega a cara de racistas no chão, enfrenta um odiador gordofóbico com classe de vencedora (“um hater me falou que eu tava grande / eu disse: engoli a cena”). O som dela é majoritariamente formado de pau nos inimigos, um cala-boca para as recalcadas e foco na prosperidade, com células de desenvolvimento pessoal na sombria Number one (“não fico confortável nem depois do pódio / não viro inimiga do meu inimigo / não arrisco, só fecho negócio”), na mescla de ostentação e vida bandida de No meu club e até no romantismo de Tão quente.
O fim do disco tem duas boas surpresas: a primeira é o rap punk de Toda garota como eu, gravada ao lado da banda emo Iorigun, com Duquesa encaixando seu flow no ritmo do grupo. A outra é a porrada séria de Quantas coisas cabem na minha bag?, dance music com ótimos versos, incluindo pancadas desferidas em figuras nada carimbadas do mundo da música (“quantos racistas cabem em um hotel chique? / o mesmo que cabem em um voo pro sul / o mesmo que cabem num backstage / eles ditando quem é a número 1”) e frases para anotar e lembrar (“é revolucionário saber falar de sentimento / falar o que te incomoda”).
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Crítica
Ouvimos: Obongjayar – “Paradise now”

RESENHA: Obongjayar mistura afrobeats, soul, reggae e som etéreo em Paradise now, disco diverso e luminoso que opera em nome do chamber pop.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: September
Lançamento: 30 de maio de 2025
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Alguns atrasos para ouvir certos discos são compreensíveis, outros são imperdoáveis. Steven Umoh, o popular Obongjayar, é um cantor nigeriano cujo som pode ser definido basicamente como pop de câmara, recheado com referências de reggae, r&b, afrobeats e climas etéreos. Seu trabalho inicial era lançado no Soundcloud, até que Richard Russell, dono da XL Records, o convocou para seu projeto Everything Is Recorded. Isso chamou a atenção para seu trabalho e abriu caminho para seus primeiros EPs, além do álbum de estreia Some nights I dream of doors (2022).
Paradise now, seu segundo álbum, insere mais e mais positividade na música e no ideário de Obongjayar, por intermédio de faixas como o soul alternativo de It’s time, com clima operístico e letra falando em começos e recomeços (“chega de desculpas / eu sei que consigo fazer isso”). Life ahead tem beat dado por batidas na porta, e embica num pop experimental, basicamente afrochamberpop. Peace in your heart tem ar etéreo garantido até pela percussão, além dos vocais. Holy mountain, com percussão e violão arpejado, ameaça um high life folk, enquanto Jellyfish envereda pelo reggaeton pesado.
Isso é só o começo de Paradise now, disco cuja variedade inclui o hip hop rápido e texturizado de Talking olympics (com Little Simz), os climas gospel de Prayer, Born in this body e Happy head, e também a vibe meio Lou Reed meio metal de Instant animal (quase um momento de afropsicodelia no disco), o afropoppunk de Not in surrender, a alegria de Sweet danger, que lembra um samba de Jorge Ben transformado em algo proximo do afropop. Entre um extremo e outro, há faixas como o soul erudito Moon eyes, lembrando uma música antiga de cinema, além do clima disco e minimalista de Just cool. Um “agora” que se transforma rapidamente num paraíso sonoro.
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Crítica
Ouvimos: Memórias de Ontem – “Translúcido”

RESENHA: Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Identificados com o chamado “rock triste” – ou com uma cena que costuma ser chamada de “emo caipira”, feito em cidades fora do eixo Rio-SP ou longe das capitais – a banda mineira Memórias de Ontem estreia impressionando. Translúcido vai na mesma onda dos conterrâneos Lupe de Lupe e adiciona camadas diferentes a canções com elementos proeminentes de shoegaze e emo.
A abertura, com Pra gente se beijar e esquecer a dor tem guitarras emparedadas, vibração power pop e algo de bossa nova não só nos vocais como também no relacionamento dele com a guitarra. A voz de Gabriel Campos (voz, guitarra), que divide a banda com as irmãs gêmeas Alice Eskinazi (bateria) e Camila Nolasco (baixo), parece pairar acima do arranjo talvez como estratégia para não ficar soterrada em meio às guitarras, como rola costumeiramente no shoegaze. Já Cortando mato inverte as polaridades, com bateria e guitarra bem pesadas e na frente, e um clima que chega a lembrar o pós-hardcore, com quebras rítmicas. Há guitarras mais ruidosas e atmosféricas, mas elas não chegam a colocar a música no corredor do noise rock.
Aliás, Translúcido, antes de tudo, é um disco mais contemplativo do que propriamente ruidoso. As nuvens de ruídos guitarrísticos dividem espaço com um certo olhar no horizonte, combustível de músicas como a balada Impulso pra tentar, a delicada Quase lá (que lembra bandas recentes como The Beths), a sonhadora faixa-título e a balada acústica Memória ruim – esta, com lembranças do drama grunge e parecendo combinar o senso melódico de Lô Borges ao de bandas como Red Hot Chili Peppers e Nirvana. Aroma, por sua vez, tem elementos de Pixies e guitarras fortes e altas.
Com participações de Marília Jonas (Jonabug), João Carvalho (El Toro Fuerte), Clara Bicho (irmã gêmea de Gabriel) e Clara Borges (Paira), Translúcido encerra com a tristeza alegre do dream pop Cores pelo ar – música de arranjo “cheio” e espaços muito bem ocupados – e Pela primeira vez, com lembranças do rock britânico dos anos 1980. Um disco com melancolia e luminosidade lado a lado.
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Crítica
Ouvimos: Vivendo do Ócio – “Hasta la Bahia”

RESENHA: Vivendo do Ócio evolui no quinto álbum, Hasta la Bahia, misturando pós-punk, afropop, new wave e bossa em só 28 minutos de som vibrante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Portal
Lançamento: 19 de setembro de 2025
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Muita gente não percebeu, mas o Vivendo do Ócio é uma das bandas brasileiras que mais evoluíram nos últimos anos – as mudanças no som deles são tão evidentes que é até bem curioso comparar a estreia juvenil e garageira do grupo (Nem sempre tão normal, 2009) com os álbuns mais recentes. De lá pra cá, ficou a vontade de reaproveitar os valores do revival pós-punk dos anos 2000 sob uma ótica brasileira – mas sem deixar de ser rock e pós-punk.
Hasta la Bahia, quinto disco do grupo baiano, só tem um defeito: Jajá Cardoso (voz e guitarra), Luca Bori (baixo e voz), Davide Bori (guitarra) e Gabriel Burgos (bateria) vêm aderindo à mania do álbum curto desde o disco epônimo de 2020 – e dessa vez são só oito músicas em 28 minutos, quase um EP esticado. Não que isso torne menos curtíveis músicas como Baila comigo, música influenciada por Tim Maia e Chaka Khan (segundo a banda) e que, tendo Paulo Miklos nos vocais, também tem a maior cara de Titãs. Ou mesmo o pós-punk estradeiro da faixa-título, que soa como o diário de alguém que está deixando um lugar e partindo para outra vida – sem falar na participação luminosa de Jadsa em Não tem nenhum segredo, que parece tema de novela.
No restante do disco, o Vivendo do Ócio joga o som de bandas como Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Duran Duran e Talking Heads num caldeirão afropop (em Onda do Nepal e Se me deixar eu vou lá), fazem new wave brasileira dos anos 1980 (a animada Eu ainda, que lembra 14 Bis e A Cor do Som) e também se arriscam num som mais gótico, com baixo à frente e guitarra com efeitos – em O lobo da estepe, feita ao lado de Martin Mendonça (Pitty). O final, com a bossa acústica e orquestrada Vai voar, é bastante venturoso. Só faltavam mais umas três músicas.
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