Cultura Pop
Death Piggy: hardcore bizarro que deu origem ao metal-comédia do GWAR

Talvez nem todo mundo que curtia som pesado nos anos 1990 deva lembrar do Death Piggy. Mas muita gente deve lembrar do GWAR. Era uma banda formada em torno de uma narrativa em que seus integrantes eram invasores interplanetários bárbaros, com todos os discos girando em torno dessa história (incluindo nisso MUITO humor escatológico, a ponto de espirrar sangue – de mentira – na plateia em alguns shows do grupo).
O vocalista/guitarrista/baixista do GWAR, Dave Brockie, era seu único integrante fixo. Dave usava o codinome de Oderus Urungus e só subia no palco usando uma fantasia que o deixava parecido com uma mistura do monstrengo Cthulhu com Gene Simmons, do Kiss. Não por acaso, volta e meia a música do GWAR dava uma chupada nos temas do escritor de contos de terror H. P. Lovecraft, criador do tal monstro. Toques de mitologia nórdica apareciam em músicas e shows do grupo, também.
As piadas do GWAR volta e meia botavam a banda em apuros e, hoje em dia, dariam muita merda, já que imitadores de celebridades eram decapitados ou mutilados a cada show do grupo. Lady Gaga, Marilyn Manson, Osama Bin Laden, Papa João Paulo II e todos os presidentes dos Estados Unidos após Ronald Reagan já “saíram” severamente machucados dos shows do grupo.
Brockie morreu de overdose de heroína em 2014 e, de lá para cá, a banda prossegue sem nenhum integrante da formação original. Aliás, apesar de ainda hoje haver músicos na banda que estão lá desde 1988 ou 1989 (o grupo começou em 1984), o GWAR nunca teve de fato uma “formação”. Tinha era um rodízio de músicos que ia se alternando no palco.
Se você nunca viu um show deless, tá aí um homevideo gravado em 1989. Dá para sentir a balbúrdia que era uma apresentação deles. O começo do filme é com uma historinha que traz a banda num cenário parecido com o do game Prince of Persia.
https://www.youtube.com/watch?v=EzUpJoUP2y8
E se você acha o GWAR muito underground para o seu pobre coraçãozinho, ainda tem a banda de hardcore que deu origem a eles, o Death Piggy. Fuçando no YouTube, você acha com facilidade a compilação Smile or die!, com todos os EPs que o grupo gravou.
O Death Piggy foi formado em 1983 em Richmond, Virginia, e apesar de fazer um som bem mais rápido e ágil que o do GWAR, já mantinha algumas características que Dave levaria para seu futuro grupo. Uma delas era o humor corrosivo (era cool nos anos 1980 e 1990), que aparecia em canções como Nympho, Bathtub in space e Eat the people. Antes do Death Piggy, Dave tocara em bandas com nomes como Nuclear Dog Shit (“merda nuclear de cachorro”), Yams on Wheels (“inhames sobre todas”), Rock and Roll Priest (“padre rock’n roll”).
O Death Piggy também ainda não era uma banda que desenvolvesse personagens no palco. Mas o trio (Dave na noz e no baixo, Russ Bahorsky na guitarra e vocais e Sean Sumner na bateria) já tinha o hábito de usar adereços nos shows, ou de fazer bizarrices como tocar de costas para a plateia.
Russ, o guitarrista (e hoje único integrante vivo da formação original do DP, já que Sean morreu em 1994), se recordou nesse papo aqui que, ao tocarem uma música chamada Wino the clown, que tinha o edificante verso “rimos quando ele vomita sangue”, ele teve a ideia de passar a canção inteira com uma mistura de xarope de glicose e corante vermelho na boca, com a intenção de fingir que vomitava sangue no fim da canção. Não deu muito certo, já que ele engoliu metade do líquido. Ainda assim, o músico lembra que a banda conseguiu certo prestígio underground a ponto de ser apontada por Jello Biafra (Dead Kennedys) como uma das melhores coisas de 1984.
Naquele mesmo ano, Dave tomou contato com um coletivo chamado Slave Pit Inc, criado por dois caras que pretendiam fazer um filme chamado Scumdogs of the universe. Essa turma começou a fazer adereços de palco para o Death Piggy. Dave teve a ideia de incrementar os shows de sua própria banda com um número de abertura bizarro em que os integrantes apareciam tocando o zaralho no palco, fantasiados. Surgia o GWAR.
Olha aí um trecho daquilo que é tido como o primeiro show do GWAR.
A história contada por aí é que o GWAR, ou Gwaaarrrgghhlllgh (que era como o projeto de abertura se chamava no começo) fazia tanto sucesso que o Death Piggy ficou engavetado. Russ diz que na real, o que prejudicou o Death Piggy foi que Sean foi encarcerado após tentar matar um cara. “E depois ele ainda violou a liberdade condicional e teve que deixar o estado”, contou. Por causa disso, Russ, que ainda chegou a tocar guitarra nos primeiros shows do GWAR, foi fazer outras coisas. Dave foi desenvolver sua banda. Sean depois seria solto e voltaria a tocar com Dave.
Se você imagina encontrar vários shows do Death Piggy no YouTube, não rola: Russ contou que sabe existem vídeos piratas da banda, mas ele nem sabe direito quem tem esse material em casa. Nem ele nem Dave tinham material do grupo além do que foi lançado em disco. O grupo ainda faria shows até 1994, pouco antes de Sean morrer, com Steve Douglas substituindo Russ.
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Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
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