Cultura Pop
E os 33 anos de Songs For Drella, de Lou Reed e John Cale?

Quando Songs for Drella começou a ser bolado, Lou Reed avisou, no estilo irônico dele, que estava fazendo algumas músicas com o ex-colega de Velvet Underground John Cale em homenagem ao ex-mentor Andy Warhol. E que o amigo tocaria de tudo um pouco (violino, piano) e ele, Lou, tocaria “a única coisa que eu sei tocar, minha guitarra elétrica”. O próprio nome do disco, que completou 33 anos no dia 11 de abril, já tem ironia aos montes: Warhol não gostava de ser chamado de Drella (uma mistura de Drácula e Cinderela) e o apelido, dado pelo ator Robert Olivo, foi resgatado por Lou por “trazer os dois lados de Andy” – e já havia surgido num livro do próprio esteta pop, a, A novel (1968), cheio de transcrições de conversas telefônicas entre ele e Olivo.
O disco surgiu de um reencontro constrangedor entre Lou e John em 1987, justamente no dia do funeral de Andy. Bem antes disso, Cale havia sido expulso por Reed do Velvet Underground na base do “ou ele ou eu”, os dois brigaram e ficaram quase duas décadas sem se falar. Songs for Drella era uma homenagem a Warhol mas havia várias frustrações e coisas não realizadas na argamassa: a descontinuidade da formação original da banda e da parceria com Andy, o pouco contato entre os integrantes mesmo quando a banda ainda existia, a lembrança do insucesso do Velvet, os primeiros (duros) anos das carreiras solo de Lou e John. O disco gerou mais frustrações ainda, já que a dupla detestou trabalhar junta novamente. Mas daqui a pouco falamos diss0.
Songs for Drella foi feito quando Cale retornava às grandes gravadoras com Words for the dying (1989), lançado pelo selo independente Opal em parceria com a Warner. E Lou prosseguia com um álbum acessível e redefinidor, mas zoado por parte da crítica – muita gente não engoliu aquela historia de New York (1989) ser um disco para ser “ouvido de uma vez só, como um livro” (mais fácil seria se fosse o contrário) e “um disco maduro, para adultos”.
No início de 1989 o que estava pronto de Songs for Drella foi apresentado ao vivo, e as próximas etapas incluíram a gravação do material na Brooklyn Academy of Music, em 4 e 5 de dezembro de 1989, para lançamento em VHS – é o filme acima, dirigido por Ed Lachman para o Channel 4. Ed chegou a afirmar (aqui) que sentiu, ao fazer o filme, que estava documentando algo único.
“Eles estão envoltos em suas próprias confissões, isolados na escuridão despojada do palco. Você é o único a vê-los. Não é como se você estivesse na plateia de um show. A câmera é tanto um participante quanto um observador, e eu esperava que toda vez que alguém visse isso, eles se sentissem como se ninguém mais estivesse presente”, contou. Hoje o filme pode ser visto até na plataforma Mubi, após anos de indisponibilidade (e, epa, o Scream & Yell falou com Lachman).
Filme e show aconteceram antes da gravação do álbum, que rolou entre dezembro de 1989 e janeiro de 1990. O material que ia surgindo servia como um diário, quase sempre escrito em primeira pessoa, e sempre bastante descritivo, das histórias e das ideias de Andy Warhol. Tudo quase sempre em ordem cronológica, como se fosse a trilha de um filme, ou de musical.
O conto do garoto desajustado e bullyinizado por causa de seus interesses e sua aparência frágil surge logo na faixa de abertura, Smalltown. O dia a dia entre festas e trabalho surge em Open house. Questões pessoais de Lou com Warhol surgem na ácida e rancorosa Work. “Não importa o que eu fizesse, nunca parecia o suficiente/Ele disse que eu era preguiçoso, eu disse que era jovem”. Images trazia, com a devida distância, fragmentos de como Andy pensava, trabalhava, e fazia tudo isso junto. No fim, Andy despede-se da vida em Forever changed, e Cale e Reed despedem-se do ex-amigo em Hello it’s me.
Quando Songs for Drella saiu, a antiga dupla já não existia mais. Logo no início do trabalho, a animação se foi. Reed, que chegava no estúdio com listas de coisas pra fazer (preparadas por sua então esposa Sylvia), reclamava do jeito dispersivo de Cale, que lia jornais, dava telefonemas e fazia mil coisas antes de começar a escrever. No fim, reclamou que o parceiro não lhe dava atenção e ambos disseram que seus trabalhos não foram apreciados devidamente um pelo outro.
Uma turnê, que aconteceria em seguida, foi descartada. Mas em 15 de junho de 1990, rolou um show com o repertório do disco durante uma exposição Velvet Underground/Andy Warhol na Fundação Cartier, em Paris. E, opa: Sterling Morrison e Maureen Tucker subiram ao palco com a dupla para tocar uma versão de Heroin, na ocasião. Faltou só Nico, morta em 1988. A reunião rápida lançou bases para um CD ao vivo, Live MCMXCIII, de 1993. Cale reclamou da mixagem do álbum, ele e Reed juraram nunca mais fazerem nada juntos – enfim, a velha normalidade. Mas descubra Songs for Drella hoje mesmo.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
Mais Pop Fantasma Documento aqui.
Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
Mais Pop Fantasma Documento aqui.
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?







































