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Cultura Pop

Smiths instrumental (sei lá, vai que você odeia o Morrissey…)

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Um papo com Tony Fletcher, biógrafo dos Smiths

Em 28 de janeiro de 1985, os Smiths lançavam aquele que se tornaria um dos maiores hits da banda, apesar de ser também a canção mais experimental do grupo (e igualmente a maior canção do quarteto). How soon is now  – até hoje a terceira canção mais ouvida dos Smiths na plataforma Spotify – tinha mais de seis minutos, e foi escrita na mesma leva de outras duas canções da banda, William, it was really nothing e Please, please, please, let me get what I want, em junho de 1984, quando Johnny Marr estava dando um tempo em Earl’s Court, distrito no Oeste de Londres.

A ideia de Marr, quando começou a trabalhar na melodia, foi tentar compor uma música inteira em cima de um só acorde. A canção começou a ser gravada em julho, já em Londres, só pelo trio Marr, Andy Rourke (baixo) e Mike Joyce (bateria), com o produtor John Porter. Inicialmente a canção, ainda sem letra, se chamava Swamp (“pântano”).

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O trio fumou maconha o tempo, todo, encheu o estúdio de lâmpadas vermelhas (para dar um ar meio “psicodélico” à sessão), Porter encheu o estúdio de microfones para captar a banda em diferentes lugares, e para criar um clima meio parecido com as melodias-de-um-acorde-só de Bo Diddley, rolou um efeito de tremolo na guitarra. Criado, por sinal, com a execução da guitarra por intermédio da mesa do estúdio, em três amplificadores Fender Twin Reverb separados. Deu trabalho: quando o tremolo falhava e as velocidades mudavam, a fita tinha que ser rebobinada e começar tudo de novo. Marr e Porter mexiam em cada amplificador manualmente.

Segundo a biografia A light that never goes out, de Tony Fletcher – da qual pegamos infos para esse texto – existem quatro canções na raiz de How soon is now. Uma delas é o peso-pesado Disco stomp, de Hamilton Bohannon.

A banda chegou a fazer uma jam com That’s all right, de Elvis Presley. Foi durante a jam que a progressão de acordes de How soon is now (Swamp, ainda) surgiu.

A terceira canção é I want more, da banda alemã Can. Olha as guitarras da introdução.

Incrivelmente, tem um rap na gênese de How soon is now, que é You’ve gotta believe, de Love Bug Starski, lançada em 1985. Marr ouviu a frase de sintetizador que aparece lá pelos 40 segundos, imitando um vibrafone, e decidiu usar o mesmo recurso ao longo de How soon is now.

A trabalheira brutal em How soon is now incluiu ainda o uso de um noise gate, de uma bateria eletrônica e mais funções para que as batidas não saíssem do controle e parecessem algo circular. Morrissey só chegou no final: recebeu um rough mix da música já quase toda pronta, criou a letra e pôs vocais na manhã seguinte. Fechou How soon is now e tá aí a música.

Teve radio edit e edição pra clipe.

Mas essa longa introdução era só para falar do lado B da versão de doze polegadas do single, Oscillate widly, uma rara canção instrumental dos Smiths, da qual muita gente mal se lembra (mas que saiu na coletânea Louder than bombs, lançada em março de 1987). A outra canção do single era Well I wonder.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Essa capa de disco dos Smiths tá meio estranha

Já que Morrissey veio conquistando não-fãs por causa de umas babaquices que ele andava falando por aí (peraí, Your arsenal é um puta disco mesmo assim, não enche!), Oscillate pode bem ser uma opção para quem ama Smiths e já está de saco cheio do cantor e letrista. Num papo com o jornal Houston Chronicle, certa vez, Johnny Marr foi relembrado desse tema instrumental e foi perguntado sobre se a canção não tinha letra “porque Morrissey estava ocupado demais ou não tinha se sentido capaz de escrever nada para a música”. Não foi bem isso, segundo o guitarrista.

“Para ser honesto, a canção era basicamente Morrissey me encorajando a escrever um tema instrumental para o lado B. Ela sempre foi pensada como instrumental. Aconteceu dessa forma: fui para uma casa com piano, e acabou sendo a primeira melodia que toquei nesse piano. Sempre gostei dessa música. Era bastante ‘emocional’ e acho que soa bem ainda”, recordou.

**Tem outra canção instrumental dos Smiths que é The draize train (o amigo João Pequeno lembrou a gente). Mas isso fica pra outro texto 🙂

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Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

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Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

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  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

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