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Cultura Pop

Shangri-Las: descubra agora!

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Shangri-Las: show no CBGB's e grupo "falso"

Sempre acontece: de uma forma ou de outra, o nome das Shangri-Las costumeiramente retorna pro universo da música pop – e sempre paira como uma espécie de lenda, de grupo de garotas adolescentes faca-na-bota que acabou inspirando o pré-punk e o punk. Se em 2021, o assunto foi o sucesso repentino no Tik Tok de um hit delas de 1964, Remember (Walkin’ in the sand) – aquele do “oh, no! oh, no!”, lembra?” – agora, infelizmente o que rola é a constatação de que sobrou apenas uma integrante viva do grupo, Betty Weiss, atualmente aposentada.

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Formado originalmente por dois “casais” de irmãs, o quarteto original perdeu no dia 19 de janeiro Mary Weiss, aos 75 anos, de causas não informadas. As outras irmãs, que por acaso eram gêmeas idênticas, eram Marguerite “Marge” Ganser, morta em 1996 de câncer de mama aos 48, e Mary Ann Ganser, a primeira a sair de cena, em 1970, aos 22 anos, de overdose. As quatro vieram da região rueira do Queens, em Nova York, mesmo lugar em que os Ramones se criariam. Foram lançadas por um sujeitinho bem excêntrico, o produtor George “Shadow” Morton. E quando comparadas a outros grupos femininos pop, ficava nítido que as Shangri-Las pareciam mais “duronas” e vividas do que as adolescentes e jovens dos vários outros grupos da época.

Quase sempre usando vistosas botas de couro, Beth, Mary, Mary Ann e Marge cantavam músicas sobre morte (Leader of the pack é uma história de playboy motoqueiro acidentado e falecido), namoros que deram errado, autoestima baixa, dramas da adolescência e temas sombrios em geral. Remember, com seus sons de gaivotas e lembranças de passeios à beira da praia, é quase terror psicológico, a “sofrência” em seu estado mais puro. Anos depois, bandas como Ramones, Sonic Youth, Blondie e New York Dolls (produzidos por Shadow em seu segundo disco, Too much too soon, de 1974) pagariam tributo a elas.

Mesmo com o sucesso, as Shangri-Las não duraram muito e o futuro delas na música não foi dos mais sorridentes – embora os hits continuassem sendo relançados e muitos artistas continuassem se referindo a elas. Seguem aí seis momentos da história delas para lembrar.

O COMEÇO. Originalmente suburbanas, donas de um sotaque totalmente novaiorquino (o chamado cawfee accent, que dá um clima bem informal às palavras), as quatro Shangri-Las se juntaram em 1963, quando eram bem novas e se apresentavam basicamente em festas de rua e shows de escola. George “Shadow” Morton, produtor, ex-cantor de doo wop, ainda era um autor inédito e topetudo quando escreveu Remember apenas para mostrar ao compositor Jeff Barry que sabia escrever canções.

Como já conhecia as Shangri-Las (inicialmente lançadas por um selo chamado Kama Sutra), Morton decidiu levá-las a um estúdio para gravar uma demo da faixa. Deu liga a ponto das adolescentes serem contratadas por um selo promissor chamado Red Bird Records. Com efeitos especiais para dar a imagem sonora do “passeio na praia” da música, Remember acabou sendo lançada, chegou ao quinto lugar da Billboard Hot 100 e marcou época. “As produções de Morton não eram produções musicais, somente. Eram teatro, eram como mini-peças”, diz o livro Golden hits of the Shangri-las, de Ada Wolin. O produtor, por sua vez, já disse que exigia que elas fossem atrizes cantando, e não apenas cantoras.

RED BIRD. A gravadora que lançou as Shangri-Las não era bem um tubarão do mercado. Era na verdade a segunda tentativa dos compositores pop Jerry Leiber e Mike Stoller, autores de vários clássicos gravados por Elvis Presley (Hound dog, Jailhouse rock), de montarem um selo. Só que dessa vez tendo o executivo do meio fonográfico George Goldner como sócio.

A Red Bird deu certo por algum tempo: o casal de compositores Ellie Greenwich e Jeff Barry, que trabalhou para Phil Spector, começou a compor canções para o selo. E os dois acabaram se responsabilizando por uma boa parte dos hits das Shangri-Las, como Leader of the pack e Heaven only knows. Mas o fim estava próximo: Goldner estava atolado em dívidas de jogo e o selo acabou sendo absorvido pela máfia, o que dá uma excelente ideia de o que aconteceria com as finanças do quarteto no futuro.

TRAGÉDIA ADOLESCENTE. Entre os anos 1950 e 1960 fez barulho nas paradas uma estética de composição de música pop chamada teenage tragedy, ou “disco da morte”. Eram canções de amor adolescente que invariavelmente acabavam em tragédia, quase sempre com uma das personagens morta. Eram canções como Last kiss, gravada em 1961 por Wayne Cochran (e vários anos depois pelo Pearl Jam) e A young man is gone, canção de Bobby Troup regravada pelos Beach Boys para homenagear o ator James Dean (1931-1955).

As Shangri-Las foram vistas imediatamente como pontas de lança dessa “onda”, já que eram as cantoras de tragédias como Leader of the pack I can never go home anymore (essa, considerada por Amy Winehouse como “a música mais triste do mundo”), de dores de cornx como Remember e Give him a great big kiss, e de paradas bem mais sinistras e abusivas, como em Past, present and future (“não tente me tocar/isso nunca vai acontecer de novo”, diz a letra). A estileira trágica foi se tornando menos comum conforme o rock foi sendo invadido pelas bandas inglesas dos anos 1960, mas vale lembrar que as Shangri-Las chegaram a abrir shows para os Beatles e os Rolling Stones, bem no comecinho.

MUDANÇAS E SUCESSO. As Shangri-Las conseguiram sucesso comprovado: singles, coletâneas, turnês, comerciais (elas foram os rostos da marca de beleza feminina Revlon por uns tempos). Nas internas, as coisas nunca foram muito estáveis: Mary Weiss costumava andar armada (resolveu comprar uma pistola porque o grupo mal tinha segurança nas turnês e era ela quem guardava o dinheiro dos shows), a Red Bird enfrentava problemas financeiros, e o quarteto se tornou trio algumas vezes: Betty engravidou e saiu por uns tempos (voltou depois), e houve uma época em que Marge e Mary Ann se alternavam.

Em 1966 saiu Long live our love, mais um single “trágico”. Só que dessa vez o tema era bastante complexo: a letra, cantada por Mary, homenageava um namorado convocado para lutar na Guerra do Vietnã. “Existe algo entre nós e não é outra garota/outras pessoas precisam de você/há problemas no mundo”, ela canta. “Lançar uma canção patriótica e ostensivamente pró-guerra era uma ideia questionável em 1966. Tanto o movimento anti-guerra quanto a contracultura floresciam em 1966”, escreveu o jornalista Alexis Petridis no obituário de Mary publicado pelo The Guardian. Seja como for, alguns outros hits viriam e a carreira delas durou até 1968.

NAUFRÁGIO. Um detalhe a respeito das Shangri-Las é que ninguém (aparentemente nem Morton) lembrou-se de registrar o nome do grupo. Isso causaria muitas dores de cabeça para elas ao longo do tempo, mas lá por 1967 havia outros tipos de problemas: a Red Bird naufragou, Morton largou mão delas e foi produzir outros artistas, e as Shangri-Las acabaram sendo contratadas pela Mercury – que lançou bem pouca coisa do grupo e logo se desinteressou. Em 1968, o grupo encerrou atividades, todas elas bem chateadas por terem recebido pouco dinheiro por gravações e shows. Nessa época, Mary Ann já estava bastante viciada em drogas pesadas, o que causaria sua morte em 1970.

RETORNOS E NÃO-RETORNOS. Marge, Mary e Betty largaram a música e migraram para outras carreiras. No início dos anos 1970 saíram relançamentos dos singles delas e, em 1976, houve interesse da gravadora Sire Records por um novo álbum – uma vez que artistas do novo rock novaiorquino, como New York Dolls, Ramones e Blondie, adoravam as Shangri-Las. Rolou um show histórico na meca punk de Nova York CBGB’s naquele ano, a Sire bancou sessões com Andy Paley na produção, mas nada aconteceu.

Shangri-Las no CBGB's

Shangri-Las no CBGB’s (Reprodução da internet)

Mary disse que, no papo com as gravadoras, percebeu que elas queriam transformá-las num grupo disco, que era o som da moda. E a história do “retorno” parou por aí. O que ninguém esperava era que uma nova versão das Shangri-Las, que não tinha nenhuma das integrantes originais na formação, começasse a se apresentar nas casas de shows dos EUA nos anos 1980.

Olha aí o espanto delas ao dar de cara com a novidade, em 1989, no Entertainment Tonight. As Shangri-Las vivas foram à justiça brigar pelos seus direitos, já que como se não bastasse haver um cover não-autorizado, as “novas” Shangri-Las comportavam-se no palco como se fossem as irmãs da formação original (dizendo coisas como “um dos nossos sucessos”, etc). Depois disso, vácuo quase total de novidades sobre elas. Mas em compensação Mary Weiss lançaria um disco solo em 2007, Dangerous game, ao lado da banda The Reigning Sound – e se tornaria a única integrante da banda a ter uma carreira própria, ainda que fosse de curta duração.

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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Cultura Pop

Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

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Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação

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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.

No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.

Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.

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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.

O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.

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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.

“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela

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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.

“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.

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