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Cultura Pop

Um papo com Daniel Couri, do blog Porcos, Elefantes e Doninhas

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Um papo com Daniel Couri, do blog Porcos, Elefantes e Doninhas
Um papo com Daniel Couri, do blog Porcos, Elefantes e Doninhas

O POP FANTASMA, como você já viu outras vezes, anda investigando o que é que essa turma aí que curte cultura pop e adora escrever anda fazendo, planejando e pensando.

Não dá para dizer que somos uma espécie de Projeto Draft dos sites de cultura pop porque, ora bolas, a gente sabe que o cenário é bem complicado. Trabalha-se por prazer, com pouca grana, e com a maior vontade de produzir aquilo que a gente mesmo gostaria de ler. Nem sempre é fácil, mas sempre é recompensador.

Logo assim que eu tive a ideia de fazer esse tipo de matéria, uma das primeiras coisas que eu quis fazer foi bater um papo com o Daniel Couri. Nascido em Muriaé (MG), ele mora em Brasília desde 2000, já escreveu dois livros sobre sua banda preferida, o Abba (o mais recente é Mamma Mia!, de 2008). Seu blog, o Porcos, Elefantes e Doninhas, é – sem sacanagem – um dos inspiradores do POP FANTASMA.

Primeiro porque o cara é um dos raros exemplos de site no estilo “curadoria de material” que vive basicamente de material inédito e exclusivo. Volta e meia rolam entrevistas, e muita coisa que vem de coisas guardadas por ele há vários anos (revistas, jornais, etc). Daniel é fã de filmes de televisão, de antigas edições de filmes que saíram apenas em VHS e ninguém lembra mais, e volta e meia dá para achar lá a primeira vez em que determinado filme foi exibido na televisão brasileira.

Também dá para achar lá curiosidades bem malucas como o post cheio de informações (e bem fornido de fotos) sobre Vamos cantar disco baby, filme que trazia o trio infantil As Melindrosas e Gretchen num enredo sequelado envolvendo um orfanato, espíritos da floresta e uma velhinha assustadora que dá o dom do sucesso às protagonistas.

Um papo com Daniel Couri, do blog Porcos, Elefantes e Doninhas

Tem muita coisa sobre novela no blog. Um dos posts mais memoráveis, vindo de uma noite de muita observação e ginástica no controle remoto, observa que um disco ao vivo do Village People apareceu em várias ocasiões diferentes na novela Baila comigo, reprisada no Canal Viva. Essa pesquisa “por acaso” do Daniel rendeu três posts (uma das imagens buscadas por Daniel tá na foto láááá de cima).

Aqui você confere uma das obsessões do blog: novelas obscuras. No caso, esse post é sobre tramas dos anos 1990.

Vale muito passar algumas horas por dia dando uma viajada nas descobertas do Porcos, Elefantes e Doninhas, que é bem eficiente em descobrir coisas que ninguém imaginava que existiam. Mas antes, segue aí o papo com Daniel.

O maior combustível do POP FANTASMA é a ideia de que existe uma espécie de cultura pop outsider, nem sempre reportada. Vale épocas pouco enfocadas de artistas conhecidos, gente não tão conhecida, filmes e séries ignorados, etc. Qual você acha que é o combustível de seu blog?
DANIEL COURI: Você já deu a resposta: “Épocas pouco enfocadas de artistas conhecidos, gente não tão conhecida, filmes e séries ignorados. Um pouco de tudo isso. Algumas vezes, até coisas conhecidas, mas que andam esquecidas há tempos. E principalmente obscuridades. Coisas que fazem parte do meu dia a dia, mas que pouca gente conhece, curte ou se lembra. Não existe um ‘critério’. Ou talvez o critério seja meu gosto pessoal mesmo.

Você visualiza algum tipo de público pra ele? Geralmente quem comenta ou me manda mensagens são saudosistas ou nerds. Tem gente acima dos 50 que se empolga com as coisas que desenterro, ficam felizes ao relembrar. E tem também a turma mais jovem, entre 25 e 35, que curte aquelas coisas, mas que não chegou a viver grande parte delas. Gente que ficou conhecendo determinado filme ou disco, por exemplo, por meio do blog, e que se identificou. Mas nunca planejei nada. Tanto que nos primeiros anos do blog, as postagens eram bem primárias. Eu não sabia sobre o quê queria escrever. Apenas colocava ou reproduzia coisas que me atraíam. Com o passar dos anos, fui moldando o blog, criando certa regularidade, inter-relacionando um assunto a outro. Passei a enxergar que eu gostava de coisas de um universo específico e meio obscuro, mas nem por isso menos interessante ou curioso.

O quanto seu blog deve à existência dos telefilmes? É um tipo de produção pelo qual você se diria apaixonado? Sim, sou um apaixonado por telefilmes. Principalmente os das décadas de 1970 e 1980. Como falei antes, não houve um planejamento. Só comecei a visualizar esse meu gosto com mais clareza depois dos primeiros anos do blog. Pensei: “Já que eu gosto tanto de telefilmes, por que não escrevo sobre eles com mais frequência?” E foi assim, por hobby mesmo. Tanto que às vezes fico meio sumido, depois me empolgo com as postagens, depois sumo de novo. Gostaria muito de fazer isso profissionalmente. Manter uma regularidade certa, fazer disso o meu dia a dia, o ganha-pão (ou pelo menos algo perto disso).

O quanto a Sessão da Tarde foi marcante no seu interesse pela cultura pop? Muito marcante. Cresci em frente à TV. Desde novinho assistia aos filmes da Sessão da Tarde (e outros também, claro). E nos anos 1980, quando comecei a assistir, ainda exibiam muitos filmes antigos, dos anos 1960, por exemplo. Clássicos da Disney, telefilmes datados etc. Comecei a gostar de diretores, atores e atrizes de “antigamente”, das trilhas sonoras, de músicas antigas etc. E no meio disso tinha minhas obscuridades também. Aqueles filmes que eram muito reprisados e que depois desapareceram, por exemplo.

Você sempre fala dos recortes de jornal que guardava desde criança. Alguns rendem posts bem legais. Consegue lembrar o que se passava na sua cabeça quando recortava e guardava essas coisas? Só sei dizer que me sentia compelido a guardá-los. Eu não tinha consciência do motivo. Não sabia o que faria com eles, mas sabia que ‘precisava’ mantê-los. Me dava prazer. Eu olhava, lia, relia… Isso começou quando eu estava com uns 10 ou 11 anos. Gostava de fantasiar que eu era arqueólogo e que aqueles recortes tão banais eram pequenos tesouros. Um dia eu faria alguma coisa com eles, embora não soubesse o quê. Muitos eu guardo até hoje. Outros tantos se perderam, infelizmente.

Você é um colecionador ou acumulador de alguma coisa? Tenho essa tendência muito forte em mim. Hoje me forço a não guardar mais, não comprar. Com o tempo, a gente começa a exercitar o tal do desapego. Me desfiz de muitos CDs, fitas, discos, livros, revistas… Junto tralha DEMAIS. O apartamento onde eu morava, em Brasília, era minúsculo. Mas pela quantidade de coisas que saíram lá de dentro (livros, revistas, jornais, LPs, CDs, DVDs, fitas de vídeo, pastas, papéis) parecia que eu morava em um imenso sebo. Fora as coleções de caixinhas de fósforo, marcadores de livros, postais antigos… Mas fui me desfazendo aos poucos. Acho que esse processo vai durar a vida toda. Como sou muito organizado, me incomoda ver as coisas bagunçadas. Gosto das minhas tralhas muito bem guardadas e organizadas. Consigo achá-las até no escuro.

O blog tem posts memoráveis, como a história do disco do Village People que você viu em diversas situações na novela Baila Comigo. Como reparou nisso? Boa pergunta! Sempre fui observador e detalhista para coisas sem importância. Cenários de novelas ou filmes, roupas dos personagens, cabelos, música de fundo… Acho que eu já tenho um ‘radar’ pra essas coisas. Não é algo que me exija esforço. O disco do Village, por exemplo, eu já conhecia de longa data e também o tinha na estante do apartamento onde morava. Gosto muito dessas novelas do final dos anos 1970 e começo dos 1980, sou apaixonado por tudo daquela época: o som, a estética, as roupas, os modismos etc. Fico sempre atento às estantes dos cenários de novelas antigas. Eu fazia isso em Água Viva também, mas nunca tinha pensado em fazer um post. Quando comecei a notar com muita frequência o LP do Village em Baila comigo, pensei: “Agora não dá mais pra ficar quieto. Vou ter que escrever!” (E ainda devo fazer outro post, pois o tal do disco continua rodando por todos os cenários da novela hahaha).

Que post do seu blog você acha que é o melhor? Sinceramente não sei dizer. Mas gostei muito de escrever os posts sobre trilhas sonoras não oficiais de novelas e também de posts sobre alguns filmes pelos quais sou apaixonado, tipo Saturday night fever, Festim diabólico, Uma jovem tão bela como eu… Também gosto bastante de posts com listas de filmes, ou sobre filmes obscuros, como o das Melindrosas. Esses me divertiram bastante enquanto eu pesquisava/escrevia.

Textos sobre novelas e trilhas dão muita visualização? São os que mais dão visualização. Tanto de pessoas mais velhas quanto de jovens. Porque novela e trilha de novela têm um público muito amplo. E hoje, com o canal Viva e a internet, muita gente consegue acompanhar as novelas antigas, baixar ou comprar as trilhas.

Você já fez entrevistas com alguns atores e até com o neto da Gracinda Freire, que atuou em Dancin’ Days. Como se sentiu podendo dar voz para esse pessoal, que muitas vezes não é lembrado? Achei um barato! Porque eu sabia que eram pessoas que dificilmente seriam entrevistadas por outros blogs ou sites. No caso do neto da Gracinda, foi a primeira vez (e única, creio). E acho bacana que tenham sido entrevistas “exclusivas” do blog, porque são a cara do blog.

Pensa em alguma novidade para o blog em 2019? Muita gente cobra novas atualizações? Gosto muito do lance dos telefilmes. Queria fazer uma postagem semanal sobre telefilmes. Mas ainda nao tenho regularidade. Como falei antes, tem épocas em que me empolgo, depois esfrio. E como não são assuntos que despertam o interesse de um público grande, quem cobra novas atualizações são os leitores cativos, aqueles que são bem fiéis ao blog e que o acompanham apesar dos hiatos que eu deixo.

Além do blog, onde mais as pessoas podem ler você? Na internet, pelo blog. Mas também estou no twitter, facebook, instagram (embora não seja propriamente de escrever muito nas redes sociais). Ou então nos meus livros… Tem também matérias de jornal soltas, de freelas que fiz, perdidas pela internet.

Fala um pouco do seus livros sobre o Abba e de como surgiu a banda na sua vida. Tentarei resumir. Conheci o ABBA aos 13 anos, quando vi o comercial do LP ABBA gold na TV e fiquei fascinado. Imediatamente pedi o disco de presente naquele Natal (1993). Era um LP duplo e caro na época. (O CD ainda não havia se tornado tão popular, estava bem no começo). Não parei mais de ouvir. Era ABBA dia e noite lá em casa, meus pais e meu irmão ficaram doidos, hahaha.

Nos encartes do álbum vinha a biografia do grupo, em inglês. Fiquei desesperado para saber a história. Naquela época, não havia absolutamente NADA sobre o ABBA em português (a não ser notinhas curtas e cheias de erros, naquelas revistinhas antigas de cifras de violão ou outras revistas que eu garimpava em sebos). Eu ia de porta em porta nas casas, perguntando se tinham disco do ABBA, ia às rádios, fuçava nos arquivos, era obcecado mesmo. Até que resolvi entrar num curso de inglês porque precisava ler a história do ABBA. Fiquei craque no inglês e comecei a traduzir os encartes. Depois a internet veio surgindo ainda timidamente e eu devorava tudo que aparecia sobre o ABBA. Pesquisava, fazia contato com fãs estrangeiros, mandava cartas para fã-clubes na Europa, Austrália etc. Publicava anúncios em revistas, pedindo para me comunicar com outros fãs do ABBA.

Na época era o único jeito. ABBA era execrado e eu não conhecia ninguém que se interessasse. Depois de alguns anos juntando uma coisinha aqui e outra ali, traduzindo encartes e textos da internet, pesquisando e trocando cartas com alguns fãs, consegui reunir uma quantidade considerável de informações, que eu ia reescrevendo em português, adicionando informações, curiosidades etc. E o texto (que eu escrevia por hobby) foi crescendo cada vez mais. Até que pensei: “Puxa, isso até que poderia virar um livro”. Ao final de dez anos, comecei a escrever para editoras, falando da minha ideia de uma biografia do ABBA em português.

Na época (2004 ou 2005), ninguém deu a menor bola. ABBA não despertava interesse no Brasil. Até que o Sandro, um editor de Curitiba, independente, resolveu apostar na ideia. Não teríamos lucro algum, mas pelo menos meu projeto ia virar realidade. E em 2008 o primeiro livro, Made in Suécia – O paraíso pop do ABBA, foi publicado pela Página Nova Editorial. Foi algo totalmente despretensioso. Eu e Sandro fizemos a divulgação sozinhos. Mas foi o primeiro livro em português sobre o ABBA. Até então não havia biografia do grupo publicada no Brasil. O livro não chegou a vender muito, mas agradou bastante aos fãs. Muitos fãs europeus compraram, por se tratar de “collector’s item”. A revista Rolling Stone fez uma crítica positiva, o que me deixou bem contente. Na época as redes sociais e a facilidade de acesso à internet não eram tão corriqueiras como hoje.

Em 2010, o Marcelo Duarte, da Panda Books, me procurou e pediu que eu escrevesse um outro livro, uma versão ‘melhorada’ e mais ajustada do primeiro. Ele queria aproveitar a estreia da montagem brasileira do musical Mamma mia! em São Paulo. (Daí o título ter sido também Mamma mia!”). Àquela altura, depois do sucesso de Mamma mia! No cinema, gostar do ABBA já era bem mais aceito mundialmente, inclusive aqui no Brasil. E foi assim que os dois livros foram publicados. Depois outros livros sobre o ABBA foram traduzidos para o português e lançados aqui no Brasil. Fiquei feliz por ter aberto o caminho.

Crítica

Ouvimos: Sweet, “Full circle”

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Ouvimos: Sweet, "Full circle"

“Peraí, esse Sweet é aquele?”, muita gente deve estar se perguntando ao ler esse título e o começo deste texto.

Depende do seu ponto de vista. A formação clássica da banda de glam rock  e hard rock já se foi quase toda para aquela grande gig no céu – sobrou apenas o vocalista e guitarrista Andy Scott, que desde 1985 leva adiante uma versão pessoal do grupo, que é a desse álbum. Isso porque houve também um Steve Priest’s Sweet, comandado pelo baixista morto em 2020, e houve também um New Sweet – batizado assim por recomendações jurídicas – criado pelo ex cantor Brian Connolly, também já falecido.

O Sweet que parece ser considerado o oficial é esse mesmo, de Andy, que vem gravando desde 1992 (e por acaso, fez shows no Brasil em 2007). Scott é o dono da bola, mas o frontman é Paul Manzi, um londrino de 61 anos que já fez shows com artistas como Ian Paice e foi integrante do grupo neo-prog Arena até 2020. O aquele do começo do texto vai sumindo aos poucos quando Full circle começa a rodar, e o Sweet que emerge das caixas de som (ou dos fones de ouvido) é uma banda de hard rock-heavy metal bem formulaica, nada a ver com o poderoso grupo de glam rock que barbarizava ao vivo e soltava hits como Ballroom blitz e épicos como Sweet Fanny Adams.

Da seleção de Full circle dá para destacar sons como Don’t bring me water, com refrão levanta-estádios, a cavalar Changes (que rouba a frase “i’m going through changes” do hit homônimo do Black Sabbath, e dá uma lembrada básica na introdução de voz de Whiskey in the jar, hit do Thin Lizzy), o metal cromado de Destination Hannover, e o belo hard rock balada da faixa-título. Mas é basicamente uma outra banda, que insiste em lembrar as fases mais recentes do Kiss ou do Whitesnake, por exemplo. Vale pelo (indiscutível) valor histórico e pela sobrevivência de um monolito do rock setentista.

Nota: 6,5
Gravadora: Sony Music.

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Cinema

Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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Crítica

Ouvimos: Coldplay, “Moon music”

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Ouvimos: Coldplay, "Moon music"

Aparentemente, o Coldplay está vivendo um dilema que muitos artistas de porte enorme (não existe nada deles que não seja mega, está no DNA da banda) passam a viver assim que olham para o lado e enxergam a cordilheira de fãs que já conseguiram conquistar: como permanecer fazendo coisas diferentes, e ao mesmo tempo, fazendo música para todo mundo ouvir? Ainda mais levando-se em conta que o Coldplay sempre teve um público extremamente ecumênico?

Bom, por ecumênico, entenda-se: existem fãs de sertanejo, de gospel, de MPB e gente que nem tem o hábito de ouvir música (!) que ama Coldplay, e já esteve na plateia de pelo menos um show deles no Brasil. O mesmo, vale dizer, acontecia com o R.E.M – números dos anos 1990 mostraram para a Warner, gravadora deles, que o álbum Out of time, megasucesso de 1991, foi comprado por gente que nem sequer costumava comprar discos. Muita gente deve ter comprado um toca-discos pela primeira vez para ouvir o álbum de Shiny happy people, e muita gente deve ter ido a um show “de rock” pela primeira vez porque precisava assistir ao Coldplay e se envolver com a música e com o espetáculo visual do grupo.

Explicar o papel e definir a postura de cada um desses nomes (R.E.M. e Coldplay) diante desse frege todo do mercado, parece fácil. Difícil é entender, hoje em dia, para que lado vai, musicalmente falando, a banda de discos excelentes como a estreia Parachutes (2000). Autodefinido como uma banda que fala de “maravilhamento” (o cantor Chris Martin já mandou essa numa entrevista), o Coldplay parece entregue em Moon music, o novo álbum, à vontade de investir de vez no segmento de trilhas para time-lapse de construção de shopping center, e vídeo motivacional pra empresas.

Isso faz de Moon music um disco ruim? Não, pode crer que tem coisas legais ali, além de algumas ideias boas que se perdem em finalizações meia-boca. Destaco o clima ABBA + ELO de iAAM, quase uma sobra do primeiro disco da banda; o house bacaninha de Aeterna (que mesmo assim encerra num clima de música de louvor) e a baladinha de piano All my love. Além da abertura “espacial” com Moon music, que tem participação do produtor de música eletrônica Jon Hopkins. Vale citar as mensagens de autoaceitação e autoestima da banda – sim, isso faz diferença, ainda que em termos de política, as letras do Coldplay sejam mais rasas do que piscina infantil.

  • Temos episódio do nosso podcast sobre o começo do Coldplay
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Por outro lado, Jupiter é um folk pop bacaninha, mas do tipo que você vê artistas em todo canto fazendo igual. A faixa 6, cujo título é identificado com um arco-íris, é parece feita de encomenda para os tais vídeos motivacionais. We pray é cheia de truques batidos da união de pop, gospel e hip hop. Em vários momentos, o Coldplay parece estar mirando, mercadologicamente, no que parece mais rentável para a banda: na trilha sonora dos seus shows, e não especialmente em discos que mudem a história do grupo. Não dá para culpá-los, mas ao fim do disco novo, a sensação é a de ter escutado um EP esticado ao máximo.

Moon music soa como música ambient produzida não por Brian Eno, mas por um produtor ou diretor de TV, ou um desses diretores criativos que surgiram na onda dos influenciadores digitais. O Coldplay de Music of the spheres (2022) parecia bem menos estandardizado e bem mais ousado. Mas foi rebate falso.

Nota: 5,5
Gravadora: Universal Music

 

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