Crítica
Ouvimos: Ringo Starr, “Rewind forward”

- Lançado em formatos como vinil, cassete e CD, Rewind forward é o quarto EP de Ringo Starr e o quarto lançamento do beatle desde 2021. O nome do disco veio de uma brincadeira do baterista sobre voltar ao passado. “Às vezes é bom voltar e avançar de onde você parou. Você não precisa viver no passado, mas é bom verificá-lo ocasionalmente”, diz.
- O disco foi produzido pelo próprio Ringo (que fez vocais e tocou bateria nas bases) e foi gravado em seu estúdio. Uma das faixas, Feeling the sunlight, foi escrita por Paul McCartney e veio de um papo entre ele e Ringo via facetime.
- Ringo vem preferindo lançar EPs nos últimos tempos: diz que já gostava do formato nos anos 1960. “Vi que os garotos andam lançando EPs e pensei: ‘isso é legal'”, conta.
Rewind forward, novo EP de Ringo Starr, serve como um bom complemento para a febre de Beatles que está rolando e ainda vai rolar por causa do single “novo” do grupo, Now and then. Para muita gente, um complemento melhor ainda, já que se trata de um trabalho inédito do beatle mais velho (83 anos) e mais produtivo – já que não para de lançar discos há um bom tempo e vem conseguindo manter uma média bem interessante de lançamentos legais e descompromissados.
O EP novo de Ringo tem uma música exclusiva feita por Paul McCartney, a sessntista Feeling the sunlight, além de colaborações de integrantes do Toto (Steve Lukather e Joe Williams) que tocam com Ringo na All Starr Band – foram eles que fizeram a faixa Shadows on the wall, uma faixa que lembra bastante um desvio mais clássico do R.E.M. As duas faixas de encerramento, Rewind forward (de Ringo com seu colaborador habitual Bruce Sugar) e Miss Jean (parceria de Mike Campbell e Benmont Tench, ambos ex-músicos de Tom Petty & The Heartbreakers) são duas curiosidades, que caberiam até mesmo num suposto disco atual de George Harrison.
Abençoado em vários momentos de sua carreira pela falta de expectativas (ao contrário do que acontecia com os outros dois), Ringo virou um lançador regular de discos e, mesmo não tendo a genialidade de Paul McCartney, traz paz e boas recordações a fãs dos Beatles.
Nota: 7
Gravadora: Universal
Foto: Reprodução da capa do EP.
Crítica
Ouvimos: Japanese Breakfast, “For melancholy brunettes (& sad women)”

Michelle Zauner, a cabeça por trás do Japanese Breakfast, declarou que o novo disco da banda, inicialmente, seria “mais assustador e guiado pela guitarra”. Não é bem assim: For melancholy brunettes (& sad women) não mete medo, e é guiado: 1) pela ambientação acústica das faixas; 2) pelo excelente uso de violões e bandolins; 3) pelo aproveitamento de teclados e (enfim) guitarras, quando isso tudo serve à sonoridade quase barroca do grupo.
For melancholy brunettes tem bem mais a ver com os dois primeiros álbuns do grupo do que com Jubilee, disco de 2021 que arrebanhou fãs para o Japanese Breakfast. A “melancolia” do nome do disco não é apenas figurada: é um lugar que Michelle habita e que serve como uma espécie de viagem no tempo. Inclusive porque entre as inspirações do ábum estão textos do poeta renascentista Matteo Maria Boiardo e o quilométrico romance A montanha mágica, de Thomas Mann – que Zauner encarou e que serviu de inspiração para Magic mountain, um folk introspectivo que soa como tentar olhar além das paisagens. Ou como ficar “brincando de rei, desacelerando o tempo” (trecho da letra).
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Justamente por essa opção pela introversão ampla, total e irrestrita, o novo disco do Japanese Breakfast, mesmo durando pouco mais de meia hora, é uma experiência lenta – beeem leeenta às vezes, necessitando certo fôlego. Here is someone abre o disco levando o ouvinte para longe e inserido o clima contemplativo de Orlando in love, a segunda faixa. Entre os poucos momentos de explosão do disco está o single Mega circuit, uma canção dos Beach Boys em que a tempestade substitui a praia – e cuja letra zoa homens mimados, misóginos e dependentes.
Uma outra nessa mesma base, é o pós-punk analógico e country Picture window, lembrando o clima sexy de bandas como The Cardigans, e a vibe misteriosa do Psychedelic Furs. Mas o disco é verdadeiramente representado por canções bem mais delicadas, como o pós-punk de câmara Honey water, o folk pastoril e grego de Leda (inspirada justamente no conto mitológico de Leda e o cisne) e o bittersweet celestial de Winter in LA, que faz lembrar o tom brilhoso dos High Llamas.
Por outro lado, um futuro cada vez mais próximo do country surge também em For melancholy brunettes, com Men in bars, canção com slide guitar, piano e a participação vocal de ninguém menos que o ator e cantor Jeff Bridges. Mas… seja lá o que vier por aí depois disso, Michelle Zauner não parece querer deixar pistas 100% claras.
Nota: 8,5
Gravadora: Dead Oceans
Lançamento: 21 de março de 2025.
Crítica
Ouvimos: Swave, “Foi o que deu pra fazer”

O Swave é um supergrupo do rock brasileiro atual, reunindo músicos de bandas como Far From Alaska, Violet Soda, Supercombo e Sugar Kane – além da vocalista Aline Mendes, cantora solo com o codinome Alinbloom. Foi o que deu pra fazer, estreia da banda, não faz jus ao título: é um disco de rock despojado e repleto de uniões sonoras que, no fim das contas, apontam para o punk rock, em seu formato mais cantarolável e grudento.
Esse é o som que o Swave apresenta em faixas como Te assustar, Sirene, Já foi (com cara de anos 1990) e a ágil Despertador, com vibração mais pós-punk. Mesmo investindo em um punk mais acessível, eles também chegam perto dos Pixies em músicas como Mais uma vez (aberta com riff sombrio de guitarra, depois ganhando clima próximo do grunge), Vai cair (com abertura imediata e guitarras explosivas alternadas) e Longe do fim. Nada de extremamente inovador, mas o básico que gruda na mente e rende canções legais.
As letras de Foi o que deu pra fazer alternam temas como ansiedades, cobranças e autodescobertas – além do “estado constante de alerta” de Como eu vou?, lembrando discretamente bandas como Concrete Blonde. Na parte final do disco, faixas como DGE e Egotrip promovem uniões bem claras entre punk, grunge e até rap.
Nota: 8
Gravadora: Deck
Lançamento: 20 de março de 2025
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Crítica
Ouvimos: Jethro Tull, “Curious ruminant”

Tem certas bandas que, se resolverem modernizar seu som nem que seja um pouquinho, podem acabar fazendo besteira. Até que não é o caso do Jethro Tull, que quando se meteu a chegar perto até do synthpop, fez um disco bem interessante – Under wraps, de 1984, mas acho que sou um dos raros fãs do JT que realmente gostam desse álbum.
Dito isso, Curious ruminant, 24º álbum do Jethro, traz certo alívio para fãs antigos da banda: mesmo estando distante de obras como Aqualung (1971), traz Ian Anderson e seus chapas mergulhando em sua musicalidade clássica sem nem pensar duas vezes. Dos álbuns que o grupo lançou depois que o nome “Jethro Tull” foi retomado, é o mais progressivo, e o que faz o melhor retorno a um velho hábito do grupo: criar parábolas na hora de falar sobre a passagem do tempo, a loucura nossa de cada dia, e até mesmo fatos políticos e atuais – quase sempre enxergando tudo como um imenso jogo de xadrez.
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É o que a banda faz, dando voz às dúvidas existenciais da faixa-título, comentando as guerras no Oriente Médio em Over Jerusalem. Ou metendo o pau na irracionalidade do mundo em Puppet and puppet maaster e na quilométrica Drink from the same well (nesta faixa, são dezessete minutos de viagem musical, sendo que a voz de Ian só surge lá pela metade). Ou inserindo um pouco de espiritualidade na história, na relaxante e quase declamada Interim sleep, que encerra o álbum.
Musicalmente, o Jethro Tull volta combinando o fôlego eterno de Ian como cantor e flautista, a instrumentos como bandolim, piano, violão tenor, acordeon e cajón – dando uma impressão, quase sempre, de música construída na madeira e no vento. Puppet and puppet master e a faixa-título são abertas por solos de piano (no caso da segunda, ameaça rolar algo na linha do Supertramp, impressão esta que se desfaz quanto entra a flauta de Ian). O estranhamento disso tudo é que Drink from the same well, com seus quase vinte minutos, acaba meio de repente – como uma história boa que tem um final meio decepcionante.
O disco vai seguindo com temas quase gregos (Stygian hand, uma história cotada com percussões, violão e flauta) e com um blues-folk sombrio (Savannah of Paddingon Green). Já The tipu house faz lembrar um pouco a parte mais agitada do hit Aqualung, Stugian hand tem clima grego, enquanto Dunsinane Hill, aberta com flauta e acordeon, é perfeita para observar planícies e montanhas em volta – ou imaginar tudo isso, como muitas vezes pede o som do Jethro Tull.
Nota: 8,5
Gravadora: InsideOutMusic
Lançamento: 7 de março de 2025.
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