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Crítica

Ouvimos: Desu Taem, “Used meat 4 sale”

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Ouvimos: Desu Taem, "Used meat 4 sale"

O Desu Taem, que chegou até a gente através do Groover, é uma banda das mais loucas, tanto no conceito quanto na incontinência criativa (o duo, formado por pai e filho músicos, grava e lança álbuns compulsivamente). Mas há algumas surpresas neste disco novo, Used meat 4 sale. Para começar, uma voz feminina não creditada surge em boa parte das faixas – seria a matriarca da família, ou uma irmã? Outro detalhe é que o som do grupo está mais próximo do hard rock do que do punk, equilibrando zoeiras com faixas que, aqui e ali, sugerem uma certa seriedade.

Used meat 4 sale abre em clima de metal gritalhão dos anos 1990, com Path to wrath. Depois migra para o metal sombrio dos anos 1980 em Endless rain (que soa como as milhares de bandas que já imitaram o Black Sabbath). E, em nome do ecletismo, promove uma improvável união de B-52s e Backyards Babies em So cool it hurts, zoação com alguma subcelebridade (“sou tão cool que dói/às vezes penso se isso vale a pena/as pessoas me param na rua/tirando milhares de fotos minhas todo o dia/tirando fotos até quando estou deitado”). Debates mais espinhosos, ainda que embalados na galhofa, aparecem nas faixas-irmãs nas faixas-irmãs Misogynistic goldfish e Misogynistic possum – a primeira, um rockão na cola do Aerosmith; e a segunda, um boogie encorpado, com pegada.

O Desu Taem entrega um blues-rock elegante em Bayou true e um respiro atmosférico na vinheta de piano Haunted echoes, além do tributo metálico de Flotsam & Jetsam – o nome da faixa, claro, remete à banda que revelou Jason Newsted antes de sua entrada no Metallica. O tom irreverente se mantém em faixas como Who left the toilet plugged?, um hard rock funkeado cuja letra fala sobre um tsunami no banheiro, e The beach sucks, rock latino safado que transforma os perrengues da praia em hino debochado: “tenho areia na minha bunda/e queimaduras de sol no traseiro”. E, para quem gosta de humor nonsense sem filtro, há o popozão em chamas do blues Hemorrhoids and straight jackets (“hemorroidas e camisas de força” – o título dispensa maiores comentários). Já adotou essa banda?

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

Curto, tranquilo e girando em torno de variações do alt-country, Automatic, o novo disco do duo norte-americano The Lumineers (Jeremiah Fraites e Wesley Schultz são os integrantes), é um álbum carregado na ironia fina – e ela suplanta, muitas vezes, a própria nova seleção de melodias da dupla, que nem sempre acerta no alvo.

No álbum, dá para destacar a abertura com Same old song, country com referências de punk e até de emo, fala sobre insucessos, canções tristes e lança mão de versos como “ei, mamãe, você pagaria meu aluguel? / você me deixaria ficar no seu porão? / porque qualquer um de nós poderia fazer sucesso ou poderia acabar morto na calçada”. A auto-explicativa Asshole é marcada por um piano nostálgico e alguma grandiloquência, com letra falando de um desencontro bem estranho: “a primeira vez que nos encontramos / você me achou um babaca / provavelmente está certa”.

O lado melódico-ao-extremo do pós-britpop bate ponto na faixa-título e em You’re all I got, e também no piano “voador” de Sunflowers, cujo arranjo impressiona pela beleza. So long tem um clima mais classic rock e estradeiro que o resto do disco, com um arranjo que cresce e vai ganhando outros elementos. A doçura do grupo dá aquela enjoadinha básica no country-gospel de Plasticine e patina de vez nas acústicas e chatinhas Ativan e Keys on the table – para recuperar tudo na mistura de despojamento e rigor pianístico quase clássico de Better day, um anti-hino ao vazio que rege a vida de muitas pessoas (“sonhando com dias melhores / assistindo pornô e programa de imóveis na TV”).

Nota: 7
Gravadora: Dualtone
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

A estreia solo do mineiro Tátio, produzida por Chico Neves, é um disco curto, direto, que poderia ter sido lançado pela antiga CBS em 1979 ou 1980 – ou seja: quando revelações da MPB eram lançadas a todo momento e encontravam espaço no rádio e nas trilhas de novela. Contrabandeado é um disco de afirmação, que fala sobre progresso sem regalias, amores fluidos e liberdade (sexual, inclusive) nas grandes cidades.

O tom quase mangue-bit de Radar é emoldurado por versos que dizem “vai ser difícil de controlar/tudo o que vive debaixo do sol”. A democracia e a fartura aparecem no samba-reggae-forró Será que eu sou louco. A MPB mineira clássica é evocada em Seres distantes e na meditativa Anhangabaú. A psicodelia surge no tom mutante do blues Sonho antigo e no ambient brasileiro da faixa-título.

A voz impressionante de Tátio ganha destaque em faixas como a balada do ex bem resolvido Longe de mim (com Zeca Baleiro como convidado) e o forrock apocalíptico de Reza milagreira, que ganha uma excelente participação de Juliana Linhares, e um arranjo em que o uso de eco faz parte do cenário. Contrabandeado é uma renovação da MPB da era da abertura, e um disco que funciona como vingança do oprimido.

Nota: 9
Gravadora: Estúdio 304
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

Banda psicodélica de Novo Hamburgo (RS), o Pedra Lunar é um quarteto formado por Gabrieli Kruger (voz e percussão), Bruno A. Henneman (guitarra e backing vocal), Leonardo Winck (baixo e backing vocal) e Felipe Frodo (bateria, percussão e backing vocal). O caminho rumo ao infinito, primeiro álbum do grupo, revela uma sonoridade que quase sempre está mais para 1966 do que para 1968. Algo entre o mod e o psicodélico em faixas como Tudo está no lugar, a quase-faixa título Caminhando rumo ao infinito (esta, com vocais bastante criativos), Livres por aí e Eterna juventude – essa última, com piano lembrando Nicky Hopkins (Rolling Stones) e clima herdado não só de Kinks como do começo do glam rock (David Bowie, T Rex).

Aumentando a variedade do som, o Pedra Lunar ganha tons progressivos em Chuva passageira, clima estradeiro e rock-barroco em Toda essa confusão, vibe entre o power pop e o country rock em Dias de inverno e um som entre Bob Dylan e Raul Seixas em Eu também quero voar. O saldo do disco do Pedra Lunar é bem positivo e promissor, e pega direto na veia de quem curte rock brasileiro setentista, por causa das letras e da argamassa vintage.

Nota: 7,5
Gravadora: Áudio Garagem
Lançamento: 14 de dezembro de 2024.

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