Crítica
Ouvimos: Circa Waves, “Death & love, pt.1”

- Death & love, pt.1 é o sexto álbum da banda britânica Circa Waves. O grupo é formado por Kieran Shudall (voz e guitarra), Joe Falconer (guitarra solo, piano, backings), Sam Rourke (baixo, teclados, backing vocals) e Colin Jones (bateria).
- “Os problemas que eu tinha com meu coração mudaram completamente minha perspectiva de vida… abalou meu mundo e o mundo da minha família, é claro. Eu fui de pensar merda, vou morrer, para encontrar o que eu descreveria como uma nova chance de vida. Eu ainda não consigo superar o quão sortudo eu sou de ainda estar aqui”, disse Kieran ao site Boot Music.
Poderia ter sido o melhor disco do Circa Waves, mas a banda não colaborou lá muito. Marcado pelos problemas pessoais do vocalista Kieran Shudall – que fez uma operação cardíaca em 2023 e ficou entre a vida e a morte – Death & love pt. 1 é aquele típico disco legalzinho, que não compromete tanto, mas que poderia ter saído bem melhor. O Circa Waves volta “lembrando” uma série de grupos, mas sem conseguir usar uma cola própria para unir tantas referências e “recados” que pulam de uma faixa para a outra.
Vá lá que o disco abre com uma faixa boa: American dream abre em clima Pixies, com base seca de guitarra, e vai ganhando uma base mais próxima do indie rock dos anos 2000 – já a letra, feita provavelmente bem antes dos Estados Unidos embarcarem sem disfarce na escrotidão política, reflete a chegada de um jovem inglês a Nova York, com versos como “então eu caminho pelo Central Park/tentando encontrar meus pés, mas a rua ficou escura/e eu vi coisas que você nunca viu/oh, eu sou um garoto inglês com um sonho americano”, sem sombra de ironia. Like you did before traz Kieran botando em melodia os pensamentos da internação (“neste quarto escuro, estou subjugado/estou confuso, clamando por ajuda”) numa música que parece uma mescla de Harry Styles e Strokes – mas parece com canções pouco inspiradas de ambos, vale dizer.
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We made it caminha por um terreno perigoso: soa como uma mescla do indie rock norte-americano dos anos 2000 com a época em que bandas como Snow Patrol e Coldplay eram boas. Um certo tom dramático no estilo das bandas emo chega perto do grupo em Le Bateau, e um clima meio batido de rock de pista toma conta de Everything changed, cuja letra é relato bem fiel das mudanças na vida do vocalista (“eu sei que você queria que as coisas permanecessem as mesmas/bem, querida, tudo mudou, tudo mudou”). A bacaninha Hold it steady reza na cartilha do pop adulto oitentista.
No entanto, é no final do disco que se encontra uma faixa que deveria servir de modelo para o Circa Waves: Bad guys always wins tem lá seus cruzamentos com o som do The Jam, com um tom bittersweet no fim. A letra mistura dores de corno e recomeços (“e às vezes é difícil quando você se sente excluído/e você acha que pode ser deixado para trás/apenas prenda a respiração e vá devagar/linha por linha”). Vale louvar a capacidade do Circa Waves de explorar coisas diferentes, mas é para aguardar a parte 2 desse disco (sim, tem uma parte 2) na esperança de inspirações melhores.
Nota: 6,5
Gravadora: Lower Third/PIAS
Lançamento: 31 de janeiro de 2025
Crítica
Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.
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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).
Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.
Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1
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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).
Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.
A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.
Leia também:
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- Ouvimos: Negro Leo, Rela
- Ouvimos: Residents, Doctor Dark
- Relembrando: The Residents, Meet The Residents (1974)
Crítica
Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.
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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.
A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.
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