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Cultura Pop

Neil Young e o Hambúrguer de Ouro

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Neil Young e o Hambúrguer de Ouro

Neil Young detesta comercializar suas músicas e já criticou publicamente colegas seus que topam aparecer em comerciais de TV ou vender sua arte – falamos até disso, por acaso, na segunda-feira. Certa vez, Neil colocou e tirou suas canções das plataformas digitais, reclamando que não precisa que sua música “seja desvalorizada pela pior qualidade da história da radiodifusão ou de qualquer outra forma de distribuição”. Nessa mesma época, anunciou seu próprio player, o Pono, que não foi para a frente.

A aversão de Neil a esse tipo de comercialização virou assunto durante a semana, justamente porque o cantor vendeu metade dos direitos de seu catálogo de canções para a Hipgnosis Songs Funds, uma empresa britânica que trabalha com investimento em catálogo de músicas, e que busca trabalhar “os royalties musicais como uma classe de ativos, não muito diferente do ouro ou da prata”, como diz uma matéria do site Complex.

QUAL É A DA HIPGNOSIS?

A empresa foi fundada por um executivo canadense da indústria do disco, Merck Mercuriadis, que é tratado de gênio para cima por artistas como Kanye West. Ao contrário de qualquer outra agência comum do mercado, a Hipgnosis não foca na produção de música e prefere apostar alto na administração de catálogos consagrados.

“Música é melhor do que ouro e petróleo, porque quando algo maluco acontece no mercado – ou Donald Trump faz algo estúpido ou Boris Johnson faz algo estúpido –  o preço do ouro e do petróleo são afetados. Mas grandes músicas estão sempre sendo consumidas”, afirma Mercuriadis na tal matéria do Complex, dando uma ideia do que move a empresa.

Sabemos o que você está pensando aí: o executivo não levou em conta os cancelamentos da música pop. De qualquer jeito, Merck vem se mexendo para atacar por todos os lados. Comprou a Big Deal Music, editora musical que representa nomes como St. Vincent e My Morning Jacket. Catálogos de ouro como o do ex-Fleetwood Mac Lindsey Buckingham e do superprodutor Jimmy Iovine já fazem parte do acervo da Hipgnosis.

OLHA LÁ, HEIN?

Parte da receita crescente da Hipgnosis vem do uso de seu catálogo de canções no cinema e na televisão, bem como na publicidade. Mas as noias de Neil Young com relação a, de repente, ver sua música numa propaganda de perfume ou de cerveja, aparentemente serão respeitadas por Mercuriadis, que se diz fã do cantor canadense. O executivo já foi perguntado sobre o assunto (lógico) e mandou essa: “Temos uma integridade, ethos e paixão comuns, tudo nascido da crença na música e nessas canções importantes. Nunca haverá um ‘Hambúrguer de Ouro’, mas trabalharemos juntos para garantir que todos possam ouvir as canções como Neil quer”, afirmou.

HAMBÚRGUER DO NEIL YOUNG

E aí que a história do Burger Of Gold (“hambúrguer de ouro”, enfim) voltou de uma hora pra outra aos sites gringos e até aos jornalões brasileiros. E ela é uma recordação de uma época em que Young havia virado um improvável popstar após o sucesso do LP Harvest, de 1973. O disco representou a descoberta comercial do cantor e fez com que seu fio de voz e suas letras meio desesperadas – verdadeiros chamamentos à turma hippie perdida pelo mundo – chegassem finalmente às paradas.

E ainda teve a turnê de lançamento, que recentemente foi relembrada na série de lançamentos ao vivo que Neil vem fazendo, explorando seu próprio catálogo. Tuscaloosa, lançado em 2019 (com os Stray Gators acompanhando Neil), é um disco duplo que documenta um dos shows da tour, dado em 5 de fevereiro de 1973 em Tuscaloosa, Alabama. Lá pelas tantas, no disco, Neil apresenta Heart of gold e faz uma brincadeira com a plateia, dizendo que recebeu uma proposta para fazer um anúncio de rádio com a canção – e recusou, porque teria que mudar o nome da música para Burger of gold (a tal história, enfim).

Era só brincadeira, já que o próprio Neil pede para a plateia nem aplaudir porque “metade da história não é verdade”. Mas tá aí a origem do lance.

 

VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:

– Quando Neil Young dirigiu um filme e convidou o Devo para atuar
– Neil Young ensinando seus fãs a fazer comida usando maconha

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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