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Crítica

Ouvimos: Memórias de Ontem – “Translúcido”

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Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.

RESENHA: Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025

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Identificados com o chamado “rock triste” – ou com uma cena que costuma ser chamada de “emo caipira”, feito em cidades fora do eixo Rio-SP ou longe das capitais – a banda mineira Memórias de Ontem estreia impressionando. Translúcido vai na mesma onda dos conterrâneos Lupe de Lupe e adiciona camadas diferentes a canções com elementos proeminentes de shoegaze e emo.

A abertura, com Pra gente se beijar e esquecer a dor tem guitarras emparedadas, vibração power pop e algo de bossa nova não só nos vocais como também no relacionamento dele com a guitarra. A voz de Gabriel Campos (voz, guitarra), que divide a banda com as irmãs gêmeas Alice Eskinazi (bateria) e Camila Nolasco (baixo), parece pairar acima do arranjo talvez como estratégia para não ficar soterrada em meio às guitarras, como rola costumeiramente no shoegaze. Já Cortando mato inverte as polaridades, com bateria e guitarra bem pesadas e na frente, e um clima que chega a lembrar o pós-hardcore, com quebras rítmicas. Há guitarras mais ruidosas e atmosféricas, mas elas não chegam a colocar a música no corredor do noise rock.

Aliás, Translúcido, antes de tudo, é um disco mais contemplativo do que propriamente ruidoso. As nuvens de ruídos guitarrísticos dividem espaço com um certo olhar no horizonte, combustível de músicas como a balada Impulso pra tentar, a delicada Quase lá (que lembra bandas recentes como The Beths), a sonhadora faixa-título e a balada acústica Memória ruim – esta, com lembranças do drama grunge e parecendo combinar o senso melódico de Lô Borges ao de bandas como Red Hot Chili Peppers e Nirvana. Aroma, por sua vez, tem elementos de Pixies e guitarras fortes e altas.

Com participações de Marília Jonas (Jonabug), João Carvalho (El Toro Fuerte), Clara Bicho (irmã gêmea de Gabriel) e Clara Borges (Paira), Translúcido encerra com a tristeza alegre do dream pop Cores pelo ar – música de arranjo “cheio” e espaços muito bem ocupados – e Pela primeira vez, com lembranças do rock britânico dos anos 1980. Um disco com melancolia e luminosidade lado a lado.

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Crítica

Ouvimos: Julian Lennon – “Because…” (EP)

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Julian Lennon revisita fitas antigas, ecoa o pai John em clima de reclusão e entrega um EP que soa como uma epifania para beatlemaníacos.

RESENHA: Julian Lennon revisita fitas antigas, ecoa o pai John em clima de reclusão e entrega um EP que soa como uma epifania para beatlemaníacos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Music From Another Room
Lançamento: 22 de agosto de 2025

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“Quanto mais velho fico, mais me inspiro no meu pai”, disse recentemente à Rolling Stone ninguém menos que Julian Lennon, filho do beatle John, morto há 45 anos. Um pai que ele conheceu mais pela distância do que pela proximidade – quando Lennon casou-se com Yoko Ono, a vida do cantor passou ser outra, e aos 62 anos, Julian “conviveu” mais com seu pai morto do que vivo (ele tinha 17 anos naquele dezembro de 1980). Mas que, de qualquer jeito, é uma fonte de inspiração sólida pelos valores preconizados nas letras e entrevistas, pelo humor ácido, e pela musicalidade igualmente ácida.

Daí que este EP Because… pegou Julian num momento de reclusão, quase como os que seu pai costumava viver em Nova York na segunda metade dos anos 1970. Julian viu seu disco Jude (2022) ganhar uma recepção bem fria, e tinha decidido focar em trabalhos como fotógrafo e escritor. O EP surgiu de várias fitas antigas (algumas dos anos 1980) encontradas no porão do escritório de seu ex-empresário. Julian decidiu mexer em três delas, optou por deixar os vocais como estavam e gravou apenas algumas novas trilhas de instrumentos. I won’t give up, a quarta faixa, foi feita há dez anos com a colaboração do então iniciante Andrew Watt.

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Because… é praticamente uma epifania: se John Lennon estivesse vivo e decidisse gravar apenas EPs, como Ringo fez há poucos anos, talvez soasse dessa forma. Com uma voz idêntica à do pai, Julian une a vibe de John e guitarra-bateria a la The Police na faixa-título (que inclui até um “o karma vai te pegar!”), chupa detahes de I am the walrus em I hope, canta com vocais reverberando (como o pai) em Keep on searching, e faz lembrar tanto o piano de Imagine quanto o dedilhado de Dear Prudence em I won’t give up.

O EP de Julian vale uma nota para beatlemaníacos e do antigo trabalho do cantor (como o disco Valotte, de 1984). Vale dizer que, se John transformou letras enigmáticas como Strawberry Fields forever em “obras abertas”, você pode extrair de um tudo das letras de Because…: será que o rancor da faixa-título é dedicado a Yoko, com quem ele diz não se encontrar desde 2016? Ou às situações que viveu/não-viveu ao lado do pai? Já I won’t give up pode ser mesmo uma vontade de não desistir da música – embora ela tenha dito que a música é sobre não desistir do amor.

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Crítica

Ouvimos: Harmada – “Os fugitivos”

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Harmada retorna após 14 anos com Os fugitivos, um disco maduro, noventista e denso, explorando fugas existenciais em faixas que vão do pós-punk ao rock britânico.

RESENHA: Harmada retorna após 14 anos com Os fugitivos, um disco maduro, noventista e denso, explorando fugas existenciais em faixas que vão do pós-punk ao rock britânico.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: 8-bics
Lançamento: 21 de outubro de 2025

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O Harmada, uma banda carioca, marcou época quando lançou o primeiro álbum, Música vulgar para corações surdos (2011), um disco bastante ouvido pela crítica, e que acabou dando também um público fiel para o grupo. De lá para cá, rolou um jejum de novos álbuns, embora a banda nunca houvesse acabado de verdade – chegaram a rolar alguns shows e participações em tributos. Mas como fazer música no Brasil nunca foi moleza, cada integrante precisou tratar da própria vida profissional.

  • Ouvimos: Canacut – À mercê do tempo (EP)

Com Manoel Magalhães (guitarra e voz), Brynner Buçard (guitarra), Bernardo Corrêa (baixo), Rodrigo Garcia (bateria) e Pedro Henrique Lacerda (guitarra) na formação, o grupo retorna 14 anos depois com Os fugitivos, um disco – prometido já há alguns anos – mais tranquilo que a estreia, e com uma cara bem mais anos 1990 do que a vibe indie-rock anos 2000 de Música vulgar. Evocações do rock britânico de há 30/20 anos surgem em faixas como a balada blues Quando você chegar, a densa Destino, a balada ruidosa Iluminar e o guitar rock Piscina de crianças universais.

Nas letras de Os fugitivos, o grupo se inspira no livro Os prisioneiros, de Rubem Fonseca, para falar de fugas existenciais modernas. Por acaso, o Harmada volta investindo numa sonoridade bem mais moderna e eterna do que no primeiro álbum – tangenciando também um clima de balada MPBística em Em fuga e chegando perto da desolação pós-punk na explosiva Prisioneiro e na introspectiva A estrada, além do ambient ruidoso de Sonhar.

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Crítica

Ouvimos: 5 Seconds Of Summer – “Everyone’s a star”

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Em Everyone's a star, 5 Seconds Of Summer larga a indecisão e transforma o "em cima do muro" de discos passados em algo variado e interessante.

RESENHA: Em Everyone’s a star, 5 Seconds Of Summer larga a indecisão e transforma o “em cima do muro” de discos passados em algo variado e interessante.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Republic
Lançamento: 14 de novembro de 2025.

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Nunca fui um grande fã dessa banda australiana que passou voando como o vento em seus 14 anos de carreira – na verdade, como um vento daqueles que levam bolas de feno de um lugar pro outro, até porque o que o 5 Seconds Of Summer mais fez foi variar a posição. Do punk-pop noventista ao emo, passando pela música eletrônica, pelo metal alternativo e pela pose de boy band, os discos dessa turma atiravam para todos os lados. Só que tudo parecia acontecer mais por indecisão do que por variações estéticas.

E aí sai Everyone’s a star, disco em que essa tal indecisão começa a ser revertida em prol de algo realmente mais variado – e bom de ouvir, vale dizer. Mas olha… Até que o disco tome jeito, o/a ouvinte precisa encarar um insatisfatório nu-metal (a faixa-título, cuja letra traz comentários sobre essa era de influencers e seres instagramáveis que todo mundo parece conhecer, menos você) e algo que lembra um Maroon 5 emo (a bisonha Not OK).

  • Ouvimos: Yellowcard – Better days

Daí pra frente, o 5SOC se transforma num Big Special amigável em Telephone busy, tira uma onda do lado “boy band esquisitona” deles (em Boyband, que soa como um Information Society com peso) e une emo glam rock em No 1 obsession, com batida lembrando Rock’n roll (part 2), de Gary Glitter. A faceta do grupo que mais aparece no disco é o lado emo, que surge na contemplativa I’m scared I’ll never sleep again, na new wave oitentista Istillfeelthesame (a melhor do disco, dando a entender que bandas como Turnstile estão na playlist de trabalho deles) e até em duas tentativas de soar parecido com Strokes (a mais ou menos The rocks e a boa Sick of myself).

Everyone’s a star tem também um britpop brega (a chatinha Ghost, com virada de bateria copiada de Don’t look back in anger, do Oasis), uma espécie de shoegaze-emo (a legalzinha Jawbreaker, que fecha o álbum) e, que surpresa, uma ótima adesão à onda indie sleaze, do jeito deles (Evolve). Parece que se tinha alguém apertando os botões e manipulando a banda, ou mudou o manipulador, ou ele se mandou.

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