Crítica
Ouvimos: Hard Life – “Onion”

RESENHA: Com novo nome, o Hard Life lança Onion, disco que mistura rap, indie pop e folk pra falar de dor, crise e relações tortas.
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Mistura interessantíssima de indie pop, hip hop e rock (formando um subgênero geralmente conhecido como r&b alternativo), o Hard Life se chamava Easy Life e deu uma balançada certeira no mundo da música com a estreia Life’s a beach (2021). O único problema foi que o conglomerado britânico easyGroup não gostou daquilo e a banda, não muito gentilmente, foi obrigada a mudar de nome.
Hard Life, de certa forma, é mais adequado a esse momento de bizarrice pelo qual o grupo passou. E Onion, terceiro disco, traz a banda assumindo essa loucura, em letras e música. O rap lo-fi Tears, que abre o álbum, manda bala na mudança de foco: “nos tempos difíceis, tive sorte de ter amigos em quem confio / era fácil nos meus vinte anos, agora eu tenho um advogado (…) / tenho amigos em casa que ainda conseguem agir como se fossem à prova de armas nucleares / agora eles só me veem no YouTube”.
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Yellow bike, folk com onda hip hop que lembra Beck e Red Hot Chili Peppers em doses quase iguais, fala sobre excessos e brilhos nos olhos que vão se perdendo. O indie pop-folk Ogre fala sobre relacionamentos abusivos. Crickets!!! é uma música bossa-pop que basicamente fala sobre um relacionamento que encerra com uma das partes ignorando completamente a outra. O quase trap Jane é até uma música romântica, mas que fala mais de desencontro do que de encontro. O folk r&b Othello, música boa de refrão, põe insegurança amorosa e tragédia na história.
Vai por aí, porque Onion – seguindo talvez aquela imagem da “vida em camadas”, como uma cebola (onion, em inglês) – é basicamente um muro das lamentações em clima rock-rap, com letras pra lá de estranhas e oblíquas. Para entrar no mundo do grupo, você vai ter que se acostumar com um universo em que as pessoas não falam as coisas diretamente, e as maiores merdas acontecem quando você estava olhando pra morte da bezerra.
Uma das músicas de Onion é uma vinheta chamada Are you still watching?? – que é tanto uma quebração de quarta parede quanto um papo telefônico pra lá de bizarro entre o vocalista Murray Matravers e o produtor Taka Perry. End credits, rap rock do final, traz Murray dizendo que cada palavra de Onion dói – e que ele daria tudo para que nada do que ele canta no disco fosse real: “Todas as minhas curvas de aprendizado acontecem na sua frente / mas onde está o que eu mereço?”. É duro.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Island
Lançamento: 18 de julho de 2025
Crítica
Ouvimos: Cicero – “Uma onda em pedaços”

RESENHA: Cícero retorna com Uma onda em pedaços, indie pop brasileiro que mistura acolhimento, introspecção e arranjos inventivos.
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O novo disco de Cicero tem várias origens: a pandemia, a desfragmentação que abateu todo mundo com ela, a passagem do tempo (desde 2020 ele não lançava um novo álbum de inéditas – por sinal, Cosmo, lançado naquele ano, foi seguido pelo isolamento pandêmico). Uma onda em pedaços, de certa forma, é um retrato do tempo desfragmentado, em que muita coisa acontece e cabe a todo mundo fazer a coleta dos sentimentos, do que ficou, do que trouxe vitórias, do que trouxe dificuldades.
Boa parte do material do disco remete a esse tipo de experiência, abrindo com Cícero se apresentando aos antigos fãs e a quem ainda não o conhece (Pássaro nave), dando espaço à busca por acolhimento (Mente voa) e falando sobre a difícil tarefa de dominar os pensamentos ruins (Tranquilo). Muitas letras de Uma onda em pedaços soam como frases que dizemos para nós mesmos quando precisamos ficar mais calmos, criando imagens que trazem paz.
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Musicalmente, Cicero, auxiliado pelos arranjos de cordas, parece buscar fazer um indie pop brasileiro com pegada. Em faixas como Pássaro nave, as cordas têm funcionamento rítmico – algo que remete a Lincoln Olivetti, por exemplo, mas sem o clima disco dos arranjos desse último. Mente voa literamente voa, com clima lo-fi, som de música gravada no quarto, e um rap na letra. Sem dormir, gravada ao lado de Duda Beat (e feita para ela cantar) une nordeste e synthpop. Ela disse chega a lembrar Abilio Manoel, pela união de folk e brasilidade, e pelo clima visionário da letra – tudo acrescido de sopros, e de micropontos de jazz.
Cícero adota também um clima de pop adulto, ainda que mais experimental e minimalista, em Dia vai – que chega a lembrar Paralamas do Sucesso – e no clima bossa-pop de Ausência e Lucille. Já Meu amigo Harvey, inspirada no filme de mesmo nome (Henry Koster, 1950) e em histórias sobre desconexão total provocada pelo excesso de tecnologias, tem algo de rock psicodélico atual, com melodia circular e batida dançante. Uma onda em pedaços é marcado pelo tom introvertido de Cícero, mas busca novas criações de design musical.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: The Dirty Nil – “The lash”

RESENHA: Punk + metal afiado, o novo The Dirty Nil equilibra energia e surpresas melódicas, com letras diretas e sem meias-palavras.
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A capa do disco novo do The Dirty Nil é daquelas que você gosta de cara: parece uma demo velha em K7, com tudo feito à mão. Nem sempre, vale dizer, o som dessa banda canadense é uma grande surpresa: a proporção é de três, quatro músicas ótimas e várias apenas razoáveis, nos discos anteriores deles. The lash, quinto disco, organiza e equilibra um pouco a balança.
Apostando num punk + metal que nem sempre prima pela originalidade, eles enchem de garra canções como Gallop of the hounds, a sombria Fail in time e a galopada Do you want me?, além de They wont beat us, punk melódico com narrativa heróica. O que vale a pena no Dirty Nil são as surpresas que volta e meia aparecem, como a melódica That don’t mean it won’t sting e a nostálgica e 60’s Spider dream.
Também merece destaque o fato do grupo não ficar em cima do muro, nem em atitude, nem em letras. I was a henchman aponta para falsos deuses. A ótima Rock and roll band avisa sobre as trapaças do mercado da música e sobre a pobreza generalizada do circuito roqueiro: “quer estar numa banda de rock / com sua foto no Instagram? (…) / tem alguém ficando rico / e não é você”. This is me warning ya, só com voz, guitarra e cordas, fala sobre depressão. Um punk rock fiel a si próprio e que sente a passagem do tempo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Dine Alone Records
Lançamento: 25 de julho de 2025
Crítica
Ouvimos: Cesar Roversi – “Re verso”

RESENHA: Cesar Roversi mistura jazz e MPB em Re verso, com samba, valsa, soul e frevo-jazz em arranjos orgânicos.
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Acompanhado por músicos como André Marques no piano, Rodrigo Digão Braz (bateria); Alberto Luccas (baixo), Carolina Cohen (congas), o saxofonista Cesar Roversi exibe sua visão da mistura entre jazz e MPB no disco Re verso, formado por temas extensos – alguns deles já gravados por ele em outros lançamentos.
Cesar trabalhou em projetos como Hermeto Pascoal Big Band, Banda Mantiqueira e Nelson Ayres Big Band, e seu currículo inclui trabalhos com Leny Andrade, Toninho Horta, Leila Pinheiro, Francis Hime, e outros. O repertório viaja entre samba, jazz e valsa em Quarteto ternário, e os voos instrumentais põem as melodias para correr em faixas como Lá na gafieira e o samba-forró-jazz Jabutunga. Portal do Sabiá tem ares de soul e samba, e No fio da navalha guia a sonoridade para o frevo-jazz. Um disco sem truques de produção, em que a música orgânica é que manda.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 18 de julho de 2025.
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