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Cinema

Adam West e seu carinho pelos videogames, num artigo de 1983

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Adam West e seu carinho pelos videogames, num artigo de 1983

Como você já deve saber, Adam West, o eterno Batman da série de TV, saiu de cena nesta sexta (09) aos 88 anos, após uma longa batalha contra a leucemia. O ator nascido em Walla Walla, Washington, em 19 de setembro de 1928 (seu nome verdadeiro era William West Anderson) participou de um monte de seriados, fez filmes e muitas dublagens – mais recentemente, passou por animações como Padrinhos Mágicos e Uma Família da Pesada. Mas o Homem-Morcego, que encarnou entre 1966 a 1968, acabou virando sua principal atuação – no Brasil, a série foi reprisada várias vezes.

Dos anos 1990 para cá, West também foi descoberto pelo mundo dos videogames. Em 1996, fez atuações no jogo de simulação Golden Nuggett, do PlayStation. Sua voz apareceu também em games como XIII, Scooby Doo! Unmasked e Champions Online. Em 2014, interpretou ele mesmo, e também a versão anos 1960 do seriado Batman, no game Lego Batman 3: Beyond Gotham.

E pra quem não sabe, o universo dos videogames tem uma dívida de gratidão com Adam West. O ator norte-americano gostava bastante de games e em julho de 1983 – ano de lançamento, pela Nintendo, do hoje clássico Mario Bros. – expressou seu entusiasmo por eles, num artigo para a revista Videogaming and Computergaming Illustrated. O texto figurava na seção de editorialistas convidados, ao lado de um artigo escrito pelo intérprete do herói mascarado Cavaleiro Solitário, Clayton Moore. Se você ama e valoriza verdadeiramente videogames, prepare-se para levar um susto: o eterno Batman previu que em algum tempo eles seriam mais do que apenas diversão.

Adam West e seu carinho pelos videogames, num artigo de 1983“Mexo em computadores já há muito tempo. Tive computadores de mesa em Robinson Crusoé Em Marte, e aprendi num episódio da série de TV A Quinta Dimensão que você não consegue sobreviver no Planeta Vermelho sem eles. Também tive computadores no meu capuz de Batman, na série de TV. Tivemos um Batsorter Digital, Um Decrifrador de Escrita Secreto químico e elétrico, um gravador intergalático e outros implementos bem avançados.

Em 1966, quando Batman estava em sua terceira temporada, isso tudo era ficção científica. Computadores eram brinquedos de pesquisadores do MIT, satélites eram apenas para que houvesse comunicação com pioneiros da Apollo ou da Gemini. O único “cabo” no qual eu conseguia pensar era o que carregava os impulsos telefônicos direto da Europa, ou para ela (e agora isso foi substituído por um esquema eficiente de satélites).

Videogames? Nos anos 1960, isso era compreendido como To Tell The Truth ou What’s My Line? (jogos televisivos clássicos norte-americanos, no modelo do que é feito até hoje por Silvio Santos).

Hoje em dia, muito do aparato que tínhamos em Batman – só que com nomes menos imponentes – é fato. E somos sortudos por causa disso.

Minha fascinação atual por videogames não deriva da afeição pessoal. Prefiro fazer exercícios e esquiar do que jogar videogames. Mas é uma preferência pessoal, não um juízo de valor. Costumo pensar que videogames são uma maneira ideal de expandir as fronteiras da imaginação dos jovens.

Tome como exemplo o Batman. Nosso programa sempre dá boa audiência toda vez que é exibido, e fico feliz de vez que as audiências relativamente sofisticadas de hoje apreciam a união particular de humor e ação que colocamos em cada episódio. E ainda assim, eu gostaria de ver um videogame que mostrasse Batman como ele foi concebido em 1939: uma criatura sombria da noite.

Mais uma vez digo que eu, pessoalmente, gostaria mais de fazer o personagem do que de jogar o videogame. Mas para todas as outras pessoas que não têm essa opção, videogames são uma excelente maneira de experimentar a emoção e o desafio de ser uma extraordinária figura como essa.

Desnecessário dizer que personagens de aventura deveriam ser apenas uma das facetas dos videogames. Da mesma forma que uma pintura nos permite olhar as faces e as almas das pessoas de outras eras, ou um livro permite que nos demoremos nos pensamentos de pessoas da História ou da ficção, videogames podem expandir nossa consciência de como o mundo é, ou de como ele poderia ser.

É um meio que ainda está em sua infância, mas leia isso de novo em alguns anos e veja se essa previsão não virou verdade: à medida que os videogames forem amadurecendo, nós iremos amadurecer”.

Você lê a edição da revista inteira nesse arquivo de PDF aqui (obrigado, Internet). Uma usuária do Twitter fez uma print do texto de West e postou – confira abaixo.

Cinema

Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

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Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Cinema

Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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