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Cultura Pop

The Damned: discografia básica – descubra!

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The Damned: discografia básica - descubra!

Diz o velho ditado que malandro de perna curta sai de casa mais cedo. Lançadores daquele que é considerado o primeiro compacto do punk, “New rose” (saiu em 22 de outubro de 1976), os ingleses do The Damned surfaram a onda do estilo pouco antes dos Sex Pistols e do Clash chegarem lá. Também foram a primeira banda punk britânica a fazer uma turnê pelos EUA. E o primeiro grupo do gênero a fumar o cachimbo da paz com a turma do rock progressivo. O segundo disco, “Music for pleasure” (1977), foi produzido pelo baterista do Pink Floyd, Nick Mason. E isso após a banda tentar de todo jeito que o sumido ex-líder da banda, Syd Barrett, os produzisse.

O pioneirismo acabou não ajudando muito o grupo. É impressionante que o Damned, com uma formação bastante desfigurada, exista até hoje e esteja em turnê. O que a banda mais fez durante 41 anos foi brigar. Por todos os motivos imagináveis: conceitos de discos, empresários alegadamente incompetentes, grana de shows, direitos autorais. Músicos saíram e voltaram, o grupo encerrou atividades várias vezes e hoje estão aí comemorando os 40 anos da estreia, “Damned, Damned, Damned” (1977).

O debute do The Damned chegou a ser relançado há dez anos numa edição ultra-uber-maxi-turbinadíssima. Teve todo o seu repertório composto por um de seus fundadores, o guitarrista Brian James. E foi o começo das confusões na história do grupo. Dois anos depois desse álbum, Brian não estaria mais na banda. O Damned terminou, voltou e passou a compor todas as músicas coletivamente.

Nesse sábado, vou (eu, Ricardo Schott, que estou escrevendo esse texto) fazer um especial com o The Damned no meu programa de rádio, o ACORDE, na Rádio Roquette-Pinto (o especial já rolou, confira aqui como foi), às 16h. Se você não conhece nada do grupo, vai ser uma excelente oportunidade para conhecer uma das melhores bandas de rock da segunda metade dos anos 1970. Indo muito além do punk, eles caíram dentro do gótico, tangenciaram o rock clássico, o progressivo, a psicodelia. E juntaram isso tudo em discos essenciais. E vão aí umas palavrinhas sobre a parte que interessa da discografia da banda. Leia e ouça – e te espero no ACORDE.

“DAMNED, DAMNED, DAMNED” (1977, Stiff). Cheio de tiro, porrada e bomba nas letras, o Damned estreava com um disco pesado e urgente, que trazia a modernidade do punk sem deixar de olhar para trás – “Help”, dos Beatles, e “1970”, dos Stooges (creditada como “I feel alright”) estavam no repertório, ao lado de porradas como “New rose”, “Neat, neat, neat” e “Stab your back”, que poderia estar num LP dos Ramones. A capa traz a icônica foto dos integrantes com as caras sujas de bolo. E na contracapa, um baita mico. Nas primeiras edições, a Stiff confundiu o Damned com outra banda do começo do punk, Eddie & The Hot Rods, e colocou lá uma foto destes últimos, junto com um adesivo de “errata”. Formação: Dave Vanian (vocais), Brian James (voz, guitarra), Captain Sensible (voz, baixo), Rat Scabies (voz, bateria).

“MUSIC FOR PLEASURE” (1977, Stiff). Um baita fracasso, o segundo disco do Damned não conquistou nem público nem crítica. O baterista do Pink Floyd, Nick Mason, produziu o LP e contou que a banda gravava rápido demais para os padrões dele. No espaço de tempo em que o Floyd passaria testando microfones e passando o som da bateria, o Damned já estava pronto para gravar as primeiras músicas. O resultado do flop foi a expulsão de Brian James, a saída de Captain Sensible (que fez sua primeira tentativa de carreira solo) e um hiato de meses. Formação: Dave Vanian (vocais), Brian James (voz, guitarra), Captain Sensible (voz, baixo), Lu Edmonds (guitarra base), Rat Scabies (bateria).

“MACHINE GUN ETIQUETTE” (1979, Chiswick). Sob nova direção e administração (agora todo mundo compunha) o Damned arrumava um jeito de enfiar em seu som psicodelia, voos instrumentais e toques góticos (o vampirão Dave Vanian não estava ali à toa). Nas letras, papos sobre política e injustiça (“I just can’t be happy today”, cujo final foi ligeiramente chupado de “Remember a day”, do Pink Floyd), amor em tons góticos (“Plan 9, channel 7”) e berraria contra hippies e engravatados (“Smash it up parts 1 & 2”, música que acabou banida da BBC). Na faixa-título, Paul Simonon e Joe Strummer, do Clash, que gravavam no estúdio ao lado, batem palmas para acompanhar. Formação: Dave Vanian (vocais), Captain Sensible (guitarra, voz, teclados), Rat Scabies (bateria, voz) e Algy Ward (baixo, voz e guitarra em algumas músicas).

“BLACK ALBUM” (1980, Chiswick). Disco duplo caótico, mergulhadíssimo na união de crueza e psicodelia, que poderia ter feito do Damned o The Who do punk, por causa de canções como “Wait for the blackout”, “Drinking about my baby” e a belíssima “Dr. Jekyll & Mr. Hyde”. A linda “History of the world part 1” aproximava o grupo da new wave e (vá lá) do progressivo de FM. E ainda tinha a ópera punk “Curtain call”, de dezessete minutos. E a noia do grupo com o Pink Floyd persistia: lado 4 inteirinho gravado ao vivo, lembrando o que o Floyd havia feito no disco 2 de “Ummagumma” (1969). Formação: Dave Vanian (vocais), Captain Sensible (guitarra, voz, teclados), Rat Scabies (bateria, voz) e Paul Gray (baixo e voz).

“STRAWBERRY” (1982, Bronze). O grupo estreava numa gravadora melhorzinha (o selo Bronze havia lançado bandas como Uriah Heep e Motörhead) mas ainda se ressentia de tocar, tocar, tocar e o público só querer ouvir “New rose”. A sensação de que jogavam “morangos para porcos” gerou o título e a capa do disco, bem interessante e bem mais acessível que os anteriores. Na mesma época do álbum (que estourou “Dozen girls” e “Generals”) um acontecimento tumultou mais ainda a vida já naturalmente tumultuada do Damned. Captain Sensible retomou a carreira solo, assinou com a grandalhona A&M e virou popstar com uma releitura de “Happy talk”, do compositor de musicais Oscar Hammerstein II. Formação: a mesma, com acréscimo do produtor Roman Jugg nos teclados.

“PHANTASMAGORIA” (1985, MCA). Após um hiato, o Damned assinou com uma gravadora bacana (esse disco saiu até em vinil no Brasil, na época) e parecia que ia estourar, voltando com embalagem gótico-psicodélica e boas canções como “Grimly fiendish” (que lembrava uma atualização do som de Kinks e The Doors) e “Edward the bear”. Deu certo: a banda chegou ao 11º lugar nas paradas e fez muita TV para divulgar o álbum. Uma curiosidade é a presença de Susie Bick, futura mulher do rockstar Nick Cave, como garota da capa. Formação: Dave Vanian (vocais), Rat Scabies (bateria, voz), Roman Jugg (teclados, guitarra) e Bryn Merrick (baixo e voz).

“ANYTHING” (1986, MCA). Malhando enquanto o ferro estava quente, o Damned soltava mais um disco e partia para um som mais clássico e menos gótico – a ponto de um dos hits ser uma releitura de “Alone again or”, do Love. Com poucas músicas, uma delas instrumental, soava inacabado. A banda havia tido um grande hit com um compacto chamado “Eloise”, mas nem eles nem a MCA animaram-se de incluí-lo no disco. “Tem coisas nesse disco que não deveriam ter virado nem lados-C”, esbravejou Roman Jugg, culpando a pressão da gravadora para que saísse logo mais um disco. Formação: incrivelmente, pela primeira vez em dez anos, a mesma do disco anterior.

Existem ainda singles importantíssimos do Damned, como a versão deles para “White rabbit”, do Jefferson Airplane, “There ain’t no sanity clause”, “Lovely money”, “Fun factory” (gravado em 1983 e lançado em 1991, com participação de Robert Fripp, do King Crimson, na guitarra). Depois de 1986, saíram discos ao vivo e a banda voltou com a formação original (sim, até Brian James voltou). E o grupo, entre idas e vindas, lançou mais três discos de estúdio: “Not of this Earth” (1995), “Grave disorder” (2001) e “So, who’s paranoid” (2008).

A formação do Damned que circula por aí tem Vanian (voz), Sensible (guitarra), Monty Oxymoron (teclados), Pinch (bateria) e Stu West (baixo). No ano passado, o diretor Wes Orchoski lançou um documentário sobre a banda, “Don’t you wish that we’re dead” (o título foi tirado de um dos versos iniciais de “Machine gun etiquette”), que passou no Brasil no festival In-Edit. Olha o trailer aí.

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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