Lançamentos
A Última Gangue: supergrupo carioca lança EP ao vivo exclusivo no Bandcamp

Quem está de volta é o pessoal do super grupo carioca A Última Gangue. Após lançar quatro singles, o grupo solta um EP ao vivo, lançado apenas no Bandcamp, com três faixas. Todas foram gravadas no estúdio-casa de shows carioca Audio Rebel por Gustavo Lobo em agosto de 2023. Lobo solitário e A cidade e as flores são inéditas, enquanto Triste domingo já havia sido lançada anteriormente em sua versão de estúdio.
O grupo circula hoje em dia com uma formação que inclui Greco Blue (Os Azuis) na voz, Luiz Gustavo (Lâmmia) no baixo e vocais, kaducarloX (Second Come) na bateria e Xande Farias (Nebulosa) na guitarra. No EP, a formação ainda inclui o ex-guitarrista Bernar Gomma (Beach Combers) na guitarra e vocais.
Lançamentos
Radar: cinco sons que chegaram até a gente pelo Groover (#8)

O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais cinco nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça (na foto, o Nuunns).
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NUUNNS, “SELF ESTEEM”. Essa banda novíssima de Los Angeles faz uma improvável mistura de rock de garagem, pós-punk e sons góticos, com direito a músicos mascarados no clipe da faixa Self esteem, a mais recente deles. No vídeo, uma partida de xadrez bem esquisita leva à exploração de estados psicológicos bem estranhos – a música abre com o verso “por que minha imperfeição me põe para baixo?”. Barra pesada, numa canção boa de pista.
ANDREA PIZZO & THE PURPLE MICE, “HIDDEN FIGURES”. Tem saído muita coisa legal da Itália nos últimos tempos, musicalmente falando. Esse grupo, inspiradíssimo pelo papel das mulheres na exploração do espaço sideral (e pelo apagamento de determinadas figuras importantes das viagens espaciais em todo o mundo) faz uma espécie de dream-pop com tinturas progressivas: o som tem climas folk e 60’s, mas tem a mesma vibe imersiva da turma que trabalha com ambient music.
OLIE BECKETT, “WHIPLASH”. Esse garoto norte-americano de 14 anos faz um pop grudento-ààààà-beça, do tipo que, depois que você ouve, é difícil de esquecer – o som lembra Ariana Grande e Sabrina Carpenter com uma estranha pegada indie-pop nos teclados e nos arranjos.
DYSLEXICON, “THE LIARS FLED…”. Essa banda é o “projeto musical emocional, de busca da alma, do cantor, compositor e multi-instrumentista Dan Hart”. O objetivo é explorar nas músicas temas como traumas pessoais, esqueletos do armário, coisas que ficaram esquecidas ao longo do tempo. A banda-de-uma-pessoa-só apareceu na pandemia, quando Dan era baterista de uma banda punk e começou a fazer suas próprias demos. Unindo pop, metal experimental e pós-hardcore, o Dyslexicon já lançou o segundo álbum, Dracula at sea.
GIPSY TEARS, “CARCARÁ”. Essa banda mineira, que canta em português e inglês, leva a mitologia interiorana de Minas Gerais para o universo do rock. Partindo para o blues-rock e para heavy metal tradicional (nada a ver com Sepultura) eles soltam o single Carcará, que fala de uma lenda da região mineira da Canastra. “A lenda afirma que o carcará, uma ave de rapina da região, bica a nuca de pessoas mentirosas e fofoqueiras. Essas pessoas só temem ao carcará, que aparece sempre para bicar a nuca delas”, contam. Ganhando o ouvinte pelo peso e pelas letras diretas e sinceras, lançaram recentemente o álbum Blue bird.
Crítica
Ouvimos: The Weeknd, “Hurry up tomorrow”

- Hurry up tomorrow é o sexto álbum de estúdio de The Weeknd, codinome do cantor e compositor Abel Tesfaye. O disco encerra uma trilogia em que os discos anteriores seriam a chegada ao inferno e ao purgatório – e este representaria o paraíso.
- O álbum representa seu suposto ato final como The Weeknd, personagem considerado autodestrutivo. Não está certo ainda se ele vai usar o nome verdadeiro daqui para a frente. “Quando é o momento certo para sair, se não no seu auge? Quando você entender demais quem eu sou, então é hora de mudar”, afirmou à Variety.
- Além do álbum, Hurry up vai gerar um filme, previsto para maio, com o próprio The Weeknd no elenco, além de atores como Jenna Ortega e Barry Keoghan
Muita gente torce o nariz para as pessoas que assistem a filmes extensos como se fossem séries. Você sabe como é: a pessoa senta na frente da TV (ou do computador) para conferir produções de três horas, como Oppenheimer e O irlandês – mas volta e meia aperta a tecla pause e vai lavar louça, atender o telefone, ver mensagens no WhatsApp, ou simplesmente interrompe o filme depois de 60 minutos e deixa o restante para os próximos dias. Em tempos de excesso de oferta no streaming, prender a atenção do público tornou-se um desafio constante – e não apenas no cinema.
Por acaso, Hurry up tomorrow, disco novo de Abel Tesfaye, cantor e compositor conhecido como The Weeknd, tem a duração de um filme. 84 minutos (tempo que Hurry up exige dos ouvintes) é pouco tempo para um longa-metragem, mas é um tempo consideravelmente grande para um álbum. Ainda mais para um álbum em que o cantor impõe poucos momentos de respiro a seus fãs. É uma duração bem menor que a de Mellon Collie and the Infinite Sadness, dos Smashing Pumpkins, disco que muita gente também considera um abuso da atenção dos fãs.
Por outro lado, vale informar que o novo de The Weeknd tem mais cara de filme ou série. Um filme ou uma série autoficcionais, em que o personagem principal flerta com o sofrimento e com a autodestruição, e em que The Weeknd recorre a samples e efeitos de som para sonorizar a morbidez, o sentimento de finitude e a procura da espiritualidade como substitutos para um amor que se mandou. Numa análise mais aprofundada, Hurry up tomorrow dá um bom protesto contra o star system e as exigências do universo pop. Boa parte do disco surgiu após a noite em que o estresse e a tensão fizeram com que ele perdesse a voz em pleno show (foi em 3 de setembro de 2022), e ele já havia anunciado que pretendia matar o nome artístico.
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Talvez nem seja por acaso que o álbum comece com uma referência a uma das mais ilustres vítimas do showbusiness: Wake me up é popzão no estilo de Thriller, de Michael Jackson, pegando até um pouco das referências sinistras do original. É seguida pelo pop industrial de Cry for me, que depois se torna um r&b com batidão de baile funk, emoldurando uma letra sobre pé na bunda, desprezo, ghosting e finitude. E não é coincidência que depois surja uma vinheta autoexplicativa, I can’t fucking sing (“não consigo cantar porra nenhuma”), referência à noite em que The Weeknd ficou mudo no palco. A capa do álbum, por sua vez, dá margem para dúvidas: The Weeknd pode estar suando em bicas no palco, ou no meio de uma crise de ansiedade.
Mesmo com os evidentes excessos (talvez você se pegue ouvindo em capítulos) e com a ingenuidade de alguns versos, Hurry up tomorrow é um álbum ambicioso, cinematográfico e cheio de reviravoltas. The Weeknd usa samplers das trilhas de Eraserhead (feita pelo próprio diretor David Lynch) a Scarface (de Giorgio Moroder) e, só na primeira parte do álbum, já atravessa o funk carioca na razoável São Paulo (com Anitta), flerta com o tecnopop na boa Open hearts e mergulha no pop adulto dos anos 1980 na ótima Opening night.
Um momento impactante surge no soul melancólico e gelado de Baptized in fear, onde The Weeknd narra, na primeira pessoa, um ataque de pânico seguido de morte acidental numa banheira, e insere notas de redenção pessoal (“tentando lembrar tudo que meu pastor disse/tentando consertar meus erros, meus arrependimentos preenchendo minha cabeça/todas as vezes que eu escapei da morte/não pode ser assim que termina, não”). Given up to me é uma baladinha r&b voadora, com teclados que vão içando a sonoridade. Big sleep, com os tais samples de Giorgio Moroder, é tecno oitentista.
Entre as surpresas do disco, tem a gospel Give me mercy, que antes de se tornar um synth pop modernizado, abre com um riff de teclado estranhamente progressivo. Take me back to LA é um curioso yacht rock, ou pelo menos um som nostálgico, vindo direto da mesma confluência pop + rock + synths que gerou Valerie, hit oitentista de Stevie Winwood. Já The abyss, com uma apagadinha Lana del Rey, abre no mesmo clima nostálgico e dramático-à-beça das canções dela, e ganha vários segmentos diferentes, para contar a história do abismo pessoal no qual The Weeknd se meteu após o fim de um amor, com versos que dizem tudo: “Deixe-me fechar meus olhos com dignidade/vamos acabar com tudo, o mundo não está muito atrás/então, qual o sentido de ficar?”.
Já o fim do disco traz a faixa-título, uma balada bacaninha lembrando Prince, com um réquiem pra lá de estranho na letra (“estou preparado para o fim/queime-me com sua luz/não me restam mais lutas para vencer”). O tema dos “dilemas da fama” – a solidão sob os holofotes, a ilusão do dinheiro e do sucesso, o peso de ser visto, mas não enxergado – funciona bem quando há um público verdadeiramente envolvido com a jornada emocional do artista. E The Weeknd tem essa base fiel. Hurry up tomorrow entrega tudo o que esses fãs esperam: excessos, confissões e um mergulho profundo nas sombras do artista. Ainda assim, mesmo os mais devotos vão estranhar (e muito) o tom mórbido que permeia o disco. E provavelmente muitos vão se sentir duelando com o lado cansativo de um álbum audacioso.
Nota: 7,5
Gravadora: XO Music/Republic
Lançamento: 31 de janeiro de 2025
Crítica
Ouvimos: Ela Minus, “DÍA”

- DÍA é o segundo álbum do Ela Minus, projeto da artista colombiana Gabriela Jimeno. O release do disco conta que DÍA é um álbum sobre “se tornar”, com canções que perguntam “para onde iremos a partir daqui, muito depois de termos sido traumatizados, mas muito antes de nos acharmos traumatizados para sempre”.
- O álbum foi feito após uma jornada que incluiu passagens por vários lugares – incluindo uma série de apartamentos alugados e quartos de hotel pela América do Norte e Europa.
- Jimeno contou ao New Musical Express que ao escutar as primeiras gravações que fez para o disco, descartou muita coisa, “porque eu ouvia todas essas coisas nas faixas: barulho, inseguranças e tentando obter aprovação”. Procurou fazer uma espécie de acerto de contas pessoal, em que percebeu que tinha dado pouca atenção às letras em seu primeiro álbum.
Gabriela Jimeno, a mente criativa por trás do projeto Ela Minus, vai bem além do synth pop. Formada na prestigiada Berklee, ela não apenas domina os sintetizadores, mas entende a fundo as técnicas por trás da construção de melodias e atmosferas sonoras. E não para por aí: seu talento a levou a trabalhar diretamente na fabricação de synths — chegando até a montar um especialmente para Jack White.
Se você achava possível esperar facilidades musicais da parte dela, se enganou, claro. Gabriela é mestra em contar histórias a partir do design musical, e seu repertório é repleto de partes 2, 3 e 4. Quase todas as faixas de DÍA, seu segundo álbum, ameaçam alguma coisa no começo, até que vão ganhando outras caras musicais. Abrir monte, a faixa que (por acaso) abre o álbum, inicia com barulhos que lembram o som de um LP cheio de estática. Passam-se alguns minutos e o teclado sinistro da abertura descamba num synth-blues experimental, que depois ganha uma cara quase drum’n bass.
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Uma tendência de DÍA é guiar o timão para o synth pop mágico – ou abrir com ele, para só então chegar a outros lugares musicais. Broken, por exemplo, vai desenvolvendo-se como uma house celestial. QQQQ tem começo ambient, ganhando aparência dançante logo depois. Já Onwards abre como um drum’n bass e torna-se uma house music selvagem e rápida, e distorcida – os sons finais têm uma cara de videogame que também surge no riff de teclado do synth pop pesado Upwards. Por sua vez, I want to be better mergulha em uma sonoridade etérea, com teclados gélidos e uma voz envolta em eco, criando uma atmosfera de puro dream pop. A faixa soa como um hino de amadurecimento, em versos sinceros como: “eu quero ser melhor/eu pensei que era melhor/mas parece que continuo agindo como uma criança”.
Por sinal, as letras em tom íntimo e pessoal, repletas de mensagens e questionamentos pessoais, são outra inclinação séria do álbum. Como em Broken, em que ela fala sobre crescimento e vulnerabilidade: “Mãe, eu fui uma tola/eu os deixei entrar/mesmo quando você disse para não ouvir/fui até o inferno e voltei rindo o caminho todo/agora estou quebrada”. O synth pop pesado de Upwards traz a frase “minha mente continua mentindo para mim” repetida várias vezes. Tudo isso reflete o processo de criação do disco, marcado por momentos de profunda reflexão durante viagens a lugares como o deserto de Mojave, na Califórnia.
Na reta final do álbum, a surpresa: Combat (“combate”) surge como um inesperado respiro, trazendo um clima leve, orientalista e quase meditativo, que em outros tempos poderia até ser classificado como new age. E assim, com suavidade e contemplação, chegam ao fim tanto o disco quanto a jornada sonora e pessoal que o inspirou.
Nota: 8,5
Gravadora: Domino Recordings
Lançamento: 17 de janeiro de 2025.
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