Cultura Pop
XTC: Making Plans for Nigel vai fazer 40 anos em 2019!

O vídeo abaixo representa uma virada de mesa na história da banda britânica XTC. Trata-se da aparição do grupo no programa Top of the pops, da BBC, em 4 de outubro de 1979, mostrando seu novo single, Making plans for Nigel, lançado em setembro daquele ano.
FAMA: Making plans for Nigel tornou, finalmente, o XTC uma banda conhecida, após dois discos em que a banda tateava. O êxito significava que as portas da BBC (TV e rádio) estavam abertas para o grupo. Que as turnês-de-pouco-público dos primeiros anos estariam (pelo menos naquele momento) para trás. E que o XTC começaria a desfrutar do sucesso e prestígio que lhe rendem adoradores até hoje. Não é pouca gente que fala que o grupo é a melhor coisa surgida no Reino Unido desde os Beatles.

PRODUÇA: Para produzir Drums and wires, terceiro álbum – que trazia a canção – a banda convocou Steve Lillywhite, que depois se tornaria um dos principais artífices do som do U2. Foram gravar no mitológico estúdio Townhouse, em Londres, e passaram um bom tempo realizando experimentações, errando e acertando em estúdio.
LÓGICA INVERTIDA: Em Making plans, a criatividade da banda e do produtor Steve levou Terry Chambers, baterista do grupo, a inverter toda a ordem das peças de seu instrumentos, e tocá-las de maneira completamente inusitada. Daí saíram os tontons malucos da abertura da canção, e o padrão quase cíclico das batidas, que deram o modelo para todos os outros instrumentos. O baixo de Colin Moulding foi gravado quase “no chão”, em tom baixíssimo. Na guitarra, Dave Gregory usou uma Fender Stratocaster, fazendo efeito de tremolo no amplificador Tremolux.
INSPIRAÇÃO: Ao que consta, a grande inspiração da banda foi a batida insana do Devo na cover de Satisfaction, dos Rolling Stones.
ARMA SECRETA: A nova canção do XTC acabou mostrando à banda e à gravadora Virgin uma realidade. Ainda que Andy Partridge fosse o líder do grupo, e o chefe de composição do XTC, Colin Moulding, baixista e autor de Making plans, e que sempre assinava uma ou duas músicas nos álbuns do grupo, era o elemento-surpresa.
ALIÁS E A PROPÓSITO: Antes mesmo de Nigel, Moulding já tinha escrito um single para o XTC, Life begins at the hop. Saiu em abril de 1979. Em LP, foi incluída só na versão americana de Drums and wires.
TEVE CLIPE: A Virgin gostou tanto da historinha de Nigel, que contratou o diretor australiano Russel Mulcahy para fazer o clipe oficial. No vídeo, o personagem Nigel é um interno de hospício, que está sob o comando de um sujeito amalucado, que mais parece o Coringa do Batman. No final, é enfiado num terno e mandado para o trabalho, carregando uma mala 007. Se nunca viu, olha aí.
DEU CERTO POR UNS TEMPOS: Na gravadora, muita gente passou a crer que Moulding era o integrante que iria fazer do XTC uma banda que vendia discos. Tanto que no disco posterior, Black sea (1980), o primeiro single também era dele, Generals and majors. Moulding continou compondo com regularidade para o grupo. Ele e Partridge se mantiveram firmes na banda até o fim, em 2007.
ALIÁS E A PROPÓSITO: Partridge chegou a admitir que ficou bastante puto no estúdio, quando reparou que Nigel estava tomando quase todo o tempo da gravação de Drums and wires, e suas músicas estavam sendo deixadas de lado pelo produtor. No entanto ele foi o principal compositor do XTC até o fim.
AO LONGO DA MÚSICA: Nigel tem aquele vocal “beee-yoo-o” que dura a música quase toda, e deixa certa dúvida na cabeça do ouvinte: esse vocal é irritante pra caralho ou é legal pra caralho? O autor do vocal foi o próprio Andy Partridge, inspirado nos falsetes de músicas dos Beach Boys. “Assim que surgiu a ideia do vocal, foi algo como: ‘Jesus, como isso é chato! Mas pode dar em alguma coisa boa, se as pessoas acharem tão irritante quanto eu!'”, contou, num arroubo de sinceridade.
VOCÊ FOI MEU HERÓI, MEU BANDIDO: Colin admite que Making plans for Nigel é em parte uma música autobiográfica. A letra fala de um garoto cujos pais querem planejar toda sua vida, e desejam para ele um excelente futuro na British Steel (siderúrgica britânica). “Meu pai me inspirou. Ele queria que eu fizesse faculdade e estava fazendo de tudo pra me convencer a cortar o cabelo e ficar na escola. Numa época, ele estava quase me puxando pelo cabelo e me levando pro barbeiro à força”, contou o autor da canção.
AÇO NA CRISE: O ano de Making plans for Nigel, não por acaso, foi repleto de apertos para a indústria do aço na Inglaterra. Em 1979, Margaret Thatcher cortou gastos e decidiu que a British Steel teria que fazer dinheiro para compensar as perdas. O emprego total na indústria quase reduziu a metade entre 1979 e 1981, passando de 156.600 para 88.200. Em 1980, greve geral da classe – a primeira em mais de cinco décadas. Não haveria “futuro brilhante” algum para Nigel na estatal britânica, aparentemente.

BULLYING: Apesar de Moulding ter, digamos, infantilizado um pouco o tema, ele faz questão de falar em algumas entrevistas que o tema da música é mesmo “dominação parental”, coberto por um belo glacê de bullying. “Nunca sofri bullying na escola mas tinha empatia natural pelos que sofriam. Acredito que seja uma música para os que passam por isso”, contou, lembrando também que nunca estudou com nenhum “Nigel” na escola.
NO COMEÇO FOI DURO: Ainda que a Virgin apostasse em Making plans, Drums and wires não chegou chegando. Com o LP nas lojas, a banda viu-se às voltas com uma turnê de poucas datas, tendo que ocupar plateias no Reino Unido na base do pinga-pinga. O jogo virou quando a música passou a tocar na BBC. Ainda assim, quando tudo pode dar errado, dá: um erro de computador quase fez com que Nigel estacionasse nos lugares mais baixos das paradas.
LIMPANDO A BARRA: Making plans fez sucesso. Tanto sucesso que (você duvidava?) a British Steel teria ficado meio xarope com o fato da letra citá-la de modo depreciativo. “A empresa encontrou alguns Nigels nas fábricas. Os entrevistaram e claro que todos disseram que seus empregos eram fantásticos”, disse Andy. As tais entrevistas teriam saído num house organ da estatal chamado Steel news.
Via Songfacts, The Guardian e Chalkhills (aqui e aqui)
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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