Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre Substance, do New Order

E o mundo descobriu o New Order. Sucesso mundial e presença marcante nas paradas de sucesso no fim dos anos 1980, a coletânea dupla de singles de 12 polegadas Substance (1987) fez os EUA se apaixonarem de vez pelo quarteto de Manchester, deu a cara indie-dance-house definitiva para o grupo, abriu portas para a banda na América do Sul (viriam ao Brasil em 1989) e vendeu horrores. E, ah, fez a Factory, gravadora do grupo, sair um tempinho das dívidas e do atoleiro, já que era justamente a banda de Bernard Sumner (voz, guitarra), Gillian Gilbert (teclados), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) que sustentava os negócios mal-sucedidos do selo.
A novidade para os fãs do grupo é que Substance (ou Substance 1987, seu nome completo) salta do posto de “figurinha difícil” do álbum da banda para o de disco disponível para qualquer ouvido nas plataformas digitais. Ele agora pode ser escutado na íntegra no Spotify e no Deezer. Pelo menos por enquanto, já que ele já esteve no Spotify por uns tempos e foi tirado de lá, faz uns anos.
E isso aí é o nosso, er, relatório sobre Substance. Leia ouvindo o disco.
ACIDINHO. Substance jamais teria acontecido sem o início da cena de acid house, subgênero da house music surgido (diz a história) nos clubes de Chicago, a partir da união de baterias eletrônicas bem marcadas e do baixo do sintetizador-sequenciador eletrônico Roland TB-303. Isso tudo rolou na segunda metade dos anos 1980.
MAS… Bernard Sumner, vocalista do New Order, põe em xeque o local de origem da acid house: no livro Chapter and verse – New Order, Joy Division and me, ele diz que o nascimento da cena rolou lá por 1987 nos clubes da Inglaterra, mais aproximadamente Manchester e Londres. E também em casas noturnas de Glasgow, na Escócia.
“CASA ÁCIDA”. No Brasil, lá por 1988, 1989, havia grande expectativa pelas próximas descobertas no território da acid house. O estilo aparecia bastante na Bizz (que em novembro de 1989 deu capa ao Bomb The Bass, projeto eletrônico do DJ Tim Simenon), uma pacoteira de LPs lançada pelo selo modernex Stiletto foi amplamente festejada pela imprensa. E, nos grandes centros, pipocavam clubes vendendo “noites de acid house” em que o prato principal eram músicas de ítalo-dance e sons dançantes que passavam longe da proposta do estilo.
ALIÁS E A PROPÓSITO. Até mesmo a Som Livre resolveu, em 1989, faturar em cima da onda, com a coletânea Acid house. Que vá lá, caprichava com músicas de Yazz, S’Express, Coldcut e Jack The Tab – mas entortava a cabeça dos ouvintes incluindo hits pop de Rick Astley e Milli Vanilli.
ECSTASYZINHO. O nome era “acid”, mas a turma preferia outras drogas, ainda segundo Sumner. O cantor do New Order diz não saber direito porque é que a acid house ganhou esse nome, mas desconfia que o crescimento da onda do ecstasy, novo petisco ilícito querido dos frequentadores da cena clubber, ajudou bastante a dar ares psicodélicos aos batidões. “Os sons abafados de baixo, que eram a marca registrada do estilo, soavam fantásticos com uma dose de E, acho”, recordou.
HAÇIENDA. Paralelamente a isso, havia o Haçienda, clube de propriedade de Tony Wilson, criador da Factory, gravadora do New Order – e que era basicamente sustentado pelas vendas enormes dos discos da banda. Wilson dividia a casa com seus sócios na gravadora, Alan Erasmus, Rob Gretton (empresário do NO), além da própria banda. O Haçienda ferveu na era da acid house, era considerada o clube noturno de Manchester ao qual ninguém deveria deixar de ir, e tinha uma noite “de Ibiza” especializada no estilo. Além de uma turma de frequentadores que pegava bastante pesado no ecstasy – tão pesado que a morte, em 1989, de uma adolescente nas dependências do clube, imediatamente relacionada ao uso da droga, desencadeou uma onda de repressão policial na cidade.
VELHOS AMIGOS. Por sinal, o New Order tinha gravado em 1983 uma canção chamada Ecstasy, um instrumental que saiu no disco Power, corruption and lies. Não apenas a música não tinha nada a ver com o assunto “drogas”, como o New Order nem sabia o que era ecstasy. Nessa época, o grupo foi fazer um show em Dallas e foi relaxar num clube, quando soube pelos promotores do show que uma turma da série de TV Dallas também estava indo com a turma para descolar ecstasy na casa noturna. “Ecstasy? O que é isso?”, perguntou o quarteto.
TAVA UMA M… Pouco antes de Substance, a banda encarava a turnê de um de seus discos mais bem sucedidos, Brotherhood (1986), com direito a uma escala na Espanha em que sobraram tretas com o promotor local. Um dos shows foi dado num campo de touradas, e o camarim da banda ficava colado ao imundíssimo camarim do touro. Bernard Sumner riu, Peter Hook não achou a menor graça.
NÃO SÓ ISSO. Em Mollerussa, município espanhol que atualmente tem 14.683 habitantes, tiveram uma dificuldade monstra para achar o pavilhão do show. Chegando lá, descobriram que o camarim não tinha teto e que a segurança, arrumada às pressas, seria garantida por dois times de rúgbi da Catalunha – que eram rivais e passavam boa parte do tempo brigando em pleno trabalho. A situação não andava tão sorridente para o New Order, vamos dizer. E a banda precisava conquistar a América para conseguir sucesso verdadeiro.
E AÍ VEIO… Substance, o disco, lançado em agosto de 1987 pela Factory. A premissa do disco era simples: 1) aproveitar os lados pós-punk e dance do New Order da melhor forma; 2) compilar músicas da banda em versões de singles de 12 polegadas (maiores que os originais e versões comuns); 3) regravar canções antigas da banda (Confusion e Temptation, no caso refeitas para o disco). E, enfim, apresentar o repertório do New Order em definitivo para o público dos clubes, depois do grande hit Bizarre love triangle, de Brotherhood.
DEU CERTO. O grupo platinou nos EUA, Canadá e Reino Unido e conseguiu disco de ouro até no Brasil. O CD, campeão, veio com todo o conteúdo num CD só, mais um disco extra trazendo os lados-B dos mesmos singles compilados no LP original.
NO CARRÃO. Substance veio de um fator meio maluco. Tony Wilson, dono da Factory, queria comprar um carro fantástico, e pediu conselho a Peter Hook sobre que automóvel deveria comprar. O baixista sugeriu um reluzente Jaguar XJ, que vinha com um CD player. Tony, animado com a nova aquisição, informou à banda que gostaria de ter todos os singles do grupo compilados num disco só, para poder ouvir no aparelho. Daí sugeriu ao empresário do quarteto, Rob Gretton, que lançassem canções como Blue monday (single de 12 polegadas mais vendido de todos os tempos), Everything’s gonna green e outras, num só disco (e o NO, só para tornar tudo mais complicado, não tinha lançado vários de seus singles mais bem sucedidos em LP).
NA LONA. Ainda havia outro fator nada amigável: a Factory não andava nada bem das pernas. Tony Wilson, gastando grana com carros do ano, viagens internacionais e outros luxos, era perdulário demais para ser o dono de uma gravadora deficitária. O New Order praticamente sustentava o selo e bancava lançamentos bem menos populares, como o indie insociável do Durutti Column e o jazz-bossa do Kalima. O próprio grupo não andava ganhando tanta grana assim com seus discos e a Factory devia-lhes uma boa soma. Substance ajudaria a equilibrar as contas.
AJUDOU? Não muito, porque a Factory devia realmente muita grana. Para pagar o New Order, a Factory convenceu a banda a assinar um inacreditável acordo dando à gravadora 75% dos direitos do disco (segundo Peter Hook), para que ela pudesse saldar as dívidas com a própria banda. Isso porque Substance foi um sucesso enorme que fez com que, entre 1988 e 1990, New Order virasse mania no mundo todo. E nesse momento, o New Order virou quase sócio do próprio disco, sem saber se ia ter a grana recuperada ou não.
BOTANDO FÉ. O New Order caprichou para que Substance virasse um puta sucesso. Se trancaram até num estúdio com um dos produtores daquele momento, Stephen Hague (OMD, Pet Shop Boys) para fazer uma das melhores faixas da banda, True faith, incluída no disco. O roteiro todo de gravação da música – sucesso de pista até hoje – você acha aqui (em inglês). Mas basta dizer que a banda usou os instrumentos que costumava levar para o palco, e mandou bala em duas joias dos estúdios na época: o sequenciador Yamaha QX1 e o sampler Akai S900.
BOTANDO FÉ NA TOUR. True faith virou o single mais vendido do New Order e pedia uma tour própria, pelos Estados Unidos, na qual a banda dividiria o palco com o Echo & The Bunnymen e com um grupo de abertura, o Gene Loves Jezebel. A atitude rocknroller do GLZ chocou os grupos britânicos, que não eram santos mas achavam aquilo tudo uma cafonice. Peter Hook, em particular, se assustou com a quantidade de garotas no backstage deles, e com o montante de maquiagem e roupas que a banda usava. “Parecia que nós éramos os principiantes”, contou.
EM NEGATIVO. Em 1989, Substance ganhou uma edição especial em vinil duplo na Argentina, Substance II, com capa “em negativo”: fundo preto, letras brancas. O conteúdo era o do CD 2 de Substance, só os B sides.
E O JOY DIVISION? A história com Substance deu tão certo que animou a Factory a produzir uma coletânea similar com o Joy Division, banda da qual o New Order nasceu. A Substance do Joy Division trazia os singles da banda que não saíram nos dois álbuns: Transmission, Komakino, Love will tear us apart e Atmosphere. E também tinha músicas que saíram em EPs e coletâneas da gravadora. Além de uma versão diferente de She’s lost control, do disco Unknown pleasures (1979). O LP era simples, mas como acontecia com o disco do NO, o CD era duplo, com mais músicas.
E DEPOIS? Entre 1987 e 1989, muita coisa mudou na vida do New Order. Com grana no bolso e disposição para experimentar coisas novas, a banda passou a frequentar a cena eletrônica de Ibiza. Descobriu um estúdio (Mediterranean) com bar e piscina, noitadas intermináveis (de 48 horas, mais do que as 24 horas de gandaia de Manchester) e o balearic beat, vertente eletrônica psicodélica e ultrapop das Ilhas Baleares, onde se localizava Ibiza. Viria aí um novo disco, Technique, lançado no comecinho de 1989. Mas aí é outra história.
Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, e a London calling (Clash). E a Fun house (Stooges). E a New York (Lou Reed).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais New Order no POP FANTASMA aqui.
– E mais Joy Division no POP FANTASMA aqui.
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
Ver essa foto no Instagram
O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?






































