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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

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Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

Butch Vig, que produziu dois discos dos Smashing Pumkins (Gish, de 1991, e Siamese dream, de 1993), costumava dizer que Billy Corgan, vocalista, guitarrista e compositor dos Smashing Pumpkins, era “um pentelho no estúdio”. E isso porque o produtor de Nevermind, clássico do Nirvana (1991), nem trabalhou com a banda no CD duplo (e LP triplo) Mellon Collie and the infinite sadness (1995).

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

Nesse disco, chegou no auge a obsessão de Corgan por experimentações de estúdio, por gravar e regravar diversas partes, e por investir numa sonoridade “bolo de noiva”, incomum a bandas indies. Todavia, Mellon Collie costuma ser definido pelos outros integrantes da banda (D’Arcy Wretzky no baixo, James Iha na guitarra e Jimmy Chamberlin na bateria) como tendo sido um álbum de elaboração mais tranquila que os antecessores. Afinal, no novo disco, pelo menos Corgan não resolvera morar no estúdio. Ou pressionar seus companheiros até causar estresses graves (e problemas de relacionamento mais graves ainda). Principalmente, não resolveu regravar todas as partes de guitarra e baixo porque não gostou das colaborações dos coleguinhas (isso aconteceu em Gish).

SEMIACÚSTICO

Diz a lenda que Corgan não curtiu o som de seus pedais quando Siamese dream foi levado para os palcos. Daí o objetivo principal do cantor, compositor e déspota dos Smashing Pumpkins era fazer com que o disco tivesse o poder da banda ao vivo. Sobretudo, com tons alternando momentos acústicos e elétricos, na mesma dualidade calma-e-pesada dos shows da banda.

Outra vontade do compositor era, finalmente, pôr no disco uma série de pensamentos que rondavam sua cabeça desde que era bem novinho – Mellon Collie era basicamente um tratado sobre amadurecimento, autoestima e raiva adolescente. Da mesma forma, era igualmente importante continuar na dianteira do “rock alternativo” (muito entre aspas, porque entre 1995 e 1998 houve pouca coisa tão mainstream no estilo do que os Pumpkins). E permanecer sendo o porta-voz de uma juventude oprimida e indefesa. Conseguiu: Mellon Collie and the infinite sadness vendeu a rodo, estourou hits como 1979 e Tonight, tonight. E, enfim, se tornou “aquela obra” que resume todo o trabalho de um artista.

FESTA DA MELANCOLIA

O clássico Mellon Collie completou 25 anos agora mesmo, dia 24 de outubro. A ideia da banda era comemorar o niver com shows, mas a pandemia do coronavírus impediu, e tudo ficou adiado para 2021. Por fim, vem mais aí: a banda vai lançar uma continuação do disco, no segundo semestre do ano que vem, com mais 33 (!) canções.

Entramos na comemoração e segue aí nosso relatório sobre o disco. Leia ouvindo. Ouça lendo.

DILEMA. Sujeitinho problemático por natureza, Corgan dava voltinhas na sala na época de Mellon Collie and The Infinite Sadness. O sucesso de Siamese dream tinha feito com que tanto a crítica, quanto a própria gravadora (Virgin), não deixassem de achar que havia algo meio estranho naquela banda de aparência e musicalidade incomuns. Isso mexia com demônios (muito) internos do cantor.

COMO ASSIM? O próprio Corgan te explica. “Fui criado em uma casa onde nada nunca era bom o suficiente e, quando cheguei ao topo, esperava que finalmente fosse tipo, ‘OK, Billy, você está no clube’. Mas não funciona assim. Uma crítica muito comum para Mellon Collie era: ‘O astro do rock mais improvável. Como esse cara chegou aqui?’. Era como estar em um livro de Kafka. Eu ficava pensando: ‘Quando vai ficar bom o suficiente?’ Psicologicamente, foi devastador”, desabafou.

TINHA CONCEITO EM ‘MELLON COLLIE’? Bom, tinha e não tinha. Corgan pessoalmente não gostava do termo “disco conceitual” e dizia que o novo álbum era bem mais “vago” que os anteriores. Mas dividiu os dois CDs de Mellon Collie em “dia” (ou “dawn to dusk”) e “noite” (ou “twilight to starlight”). Em entrevistas, dizia que basicamente pensava em expressar tudo o que se passa na cabeça de um garoto de 14 anos. “Estou dando tchau para mim no espelho retrovisor, dando um nó na minha juventude e colocando-a debaixo da cama”, afirmou. Além disso, afirmou que Mellon Collie é um disco baseado na “condição humana da tristeza mortal”.

ALIÁS E A PROPÓSITO, nas primeiras entrevistas que Billy deu para explicar qual era a do disco, ele costumava chamar Mellon Colllie de “The wall da geração X”, numa referência à ópera-rock do Pink Floyd (1979).

IDADE DE OURO. Em entrevistas, Billy Corgan revelava que sua adolescência tinha sido mais próxima possível do que se entende como “normal”. Mas que não se identificava com grupo nenhum. Ele chegou a fazer esportes, mas não andava com os esportistas. Ouvia rock e tocava guitarra, mas não era amigo dos doidões da turma. “Não conseguia me adaptar de forma alguma. Se você é jovem e é assim, vira o oponente. Então eu era o anti-qualquer coisa, foda-se”, revelou.

ZERO. Se você era fã de rock nos anos 1990 e consumia revistas de música, deve ter visto milhares de vezes a icônica foto de Billy Corgan com uma camisa preta onde se lia a palavra “zero” em letras prateadas. Era o nome da primeira música a ser gravada para o disco, que também ganhou single e clipe. A camisa era um modelo fora de linha de uma empresa de skate chamada Zero Skateboards. E virou o uniforme de Corgan, usada por ele em shows, em clipes (o de Bullet with butterfly wings) e numa foto do encarte de Mellon Collie.

O POVO QUER SABER. Entrevistado para a Spin em junho de 1996 – quando Mellon Collie já era um best seller – Corgan ouviu do repórter Craig Marks a pergunta que não queria calar: quantas camisas “zero” ele tinha? “Bom, mais de uma, obviamente. O super-herói precisa de um uniforme”, disse.

“ZERÓIS” DO ROCK. A mesma Spin revelava que os fãs tinham se identificado bastante com o “zero”. Tanto que num show que os Pumpkins haviam feito no Japão, em fevereiro de 1996, camisas com a palavra eram vendidas por 3.500 yens. Aliás, vale dizer que o fato de a camisa estar fora de linha fez uma turma enorme começar a piratear a peça.

PRODUTORES QUERIDOS. Para “sair da zona de conforto”, Corgan decidira em Mellon Collie não repetir a dobradinha com Butch Vig – que, de todo jeito, já estava ocupado demais tramando o lançamento de sua banda, Garbage. Mark “Flood” Ellis, que trabalhara com U2, Depeche Mode e PJ Harvey, e Alan Moulder (que mixou Siamese dream) foram os escolhidos para orientar a banda numa jornada de trabalho que durou dez meses, com 12 a 16 horas de trabalho por dia (!). Corgan dividiu os trabalhos com a dupla.

ALIÁS E A PRÓPÓSITO, nos últimos dias de Mellon Collie, dizem testemunhas, a banda mal dormia, ocupando o estúdio por vinte horas (!).

MUDOU TUDO. Lá para abril de 1995, a banda começou a gravar Mellon Collie, só que num método de trabalho completamente diferente. Em vez de um estúdio convencional, ocuparam seu espaço de ensaio em Chicago, a Pumpkinland. A ideia inicial – soprada no ouvido da banda por Flood – era que os músicos produzissem demos, mas o material acabou servindo de base para tudo que se ouve no disco. Flood também incentivou a banda a dedicar tempo a jams e composições novas.

VOZ DA EXPERIÊNCIA. O rodado Flood também foi fundamental numa séria mudança de paradigma dos Smashing Pumpkins. A banda se sentiu compelida a perder os próprios preconceitos em relação a certos estilos musicais.

ROLOU MARLEY. “Ele te ensinaria a enfrentar seus próprios medos, que te impedem de entrar em algo”, contou Corgan. A dada altura, Flood sugeriu à banda tentar até uma levada de reggae (estilo que, de fato, nada tem a ver com os SP) numa faixa. “Flood faria você enfrentar esses preconceitos internos, do que é legal e do que não é”.

DUPLA. O fato de terem dois produtores para gravar o disco fez com que a banda mudasse algumas técnicas comuns de gravação. Antes, ainda que Billy Corgan adorasse gravar 200 partes de guitarra e vocais, a banda usava apenas uma sala para tudo, deixando músicos ociosos e estressando o processo. Quem precisasse gravar, que ficasse esperando. Dessa vez, a banda usou duas salas de gravação: Flood ia para a sala A com Corgan, e Moulder para a sala B com Iha e D’Arcy. Isso foi fundamental para que o clima melhorasse e as tendências tirânicas de Corgan fossem reduzidas. Em seguida, a turma se mudou para o Chicago Recording Company.

DIGITAL E ANALÓGICO. A mistura dos dois processos deu samba. Ou melhor: deu grunge progressivo com músicas de dez minutos. Flood gravava Corgan numa placa MCI e Moulder cuidava do ex-casal D’Arcy e Iha à base de gravadores de fita digital Tascam e Pro-Tools.

CORTA E COLA. Por causa disso, alguns milagres foram conseguidos com rapidez, como a combinação das setenta (!) partes de guitarra de Thru the eyes of Ruby. E a união das seis partes diferentes (gravadas com instrumentos e microfones igualmente diferentes) da quilométrica Porcelina of the vast oceans.

DÁ PRA FALAR MAIS ALTO? Corgan recorda-se de que, para garantir que Mellon Collie soaria como nos palcos, as gravações transcorriam em volumes ensurdecedores no estúdio. “Era fisicamente desconfortável. Seus ouvidos, sua resistência emocional, se desgastariam”, admitiu o músico. Por outro lado, Flood (aproveitando-se da experiência adquirida com o U2) descobriu que Corgan se soltava como cantor quando não usava fone de ouvido. Pôs caixas na frente dele e um microfone em sua mão.

BATERA. Além disso, Jimmy Chamberlin, baterista com treinamento em big bands, entrou na neura de Corgan por microfonações diferentes, e passou a alternar microfones para gravar músicas. Isso, na medida em que queria que os tambores e pratos soassem com mais ataque ou “como uma seção rítmica”.

ALIAS E A PROPÓSITO, os drum rolls de Tonight tonight, a segunda faixa do disco, foram feitos numa caixa Ludwig Supra-Phonic de 5 1/2 x 14 polegadas, do próprio Jimmy. Que por sinal pode ser sua pela bagatela de R$ 1.654,59. Afinal, o músico pôs várias peças clássicas de sua coleção à venda há alguns anos.

GRANDE COMPOSITOR. Corgan compôs praticamente tudo em Mellon Collie, menos as quietas Take me down e Farewell and goodnight, de Iha. O guitarrista assinava alguns lados B da banda e era tido como uma arma secreta dentro do grupo, mas Corgan o deixava de fora de quase todo o processo criativo. “Eu gosto dele, mas muitas vezes as composições de Iha não se encaixam no conceito do disco. Em outras ocasiões, elas são ruins”, chegou a dizer Corgan à Rolling Stone.

CONFESSIONAL. O tom pessoal das letras de Mellon Collie acabou arrebanhando mais fãs para o grupo, sobretudo pelo aspecto impenetrável de algumas músicas. Num texto, o site Genius chama a atenção para o fato de que há várias especulações sobre o nome da acústica Stumbleine – Billy Corgan diz que é um nome de mulher, e vários fãs creem ser uma referência a Thumbelina, conto de Hans Christian Andersen. A pesada X.Y.U., definida por James Iha como “perturbadora”, teria este título porque para o narrador, tudo termina com o “você” (you, ou a letra U, substituindo Z, última letra do alfabeto). Enquanto a Porcelina de Porcelina of the vast oceans é uma “amante esquiva” que balança o sistema de crenças de seu amado, e o leva até onde ela quiser.

CAPA. O rico material que você vê no trabalho gráfico de Mellon Collie partiu de colagens feitas por um artista de Pittsburgh, John Craig. A banda chegou até ele por sugestão do diretor de arte do disco, Frank Olinski. Inicialmente, ele faria apenas as ilustrações internas, mas a banda curtiu seu trabalho e ele acabou fazendo tudo.

COMO FOI FEITO. Corgan mandava esboços e anotações por fax, e Craig tentava trazer aquilo à vida, seja por intermédio de colagens ou de ilustrações. Para unir tudo, Craig usou uma fotocopiadora colorida. “É o CSI das capas dos álbuns”, disse Craig. “Em qualquer colagem, estou sempre testando todas as possibilidades”.

GAROTA DA CAPA. Aquela moça sonhadora do invólucro de Mellon Collie também é uma das colagens de Craig, por sinal. O rosto dela veio de uma pintura intitulada The souvenir (Fidelity), do francês Jean-Baptiste Greuze (1725-1805). Já o corpo veio do retrato de Santa Catarina de Alexandria pintado pelo renascentista Rafael (1483-1520).

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

PERGUNTAS. O site Illustration Chronicles entrevistou Craig, fez um belo texto e encerrou com ideias interessantes sobre porque a capa de Mellon Collie é tão atraente. “As ilustrações são misteriosas. Eles sugerem histórias e narrativas e o convidam a encontrar suas próprias interpretações. Quem sabe para onde está indo a garota da capa? Quem pode dizer por que ela está triste? E quem pode dizer aonde essa melancolia a levará? Por essas razões, as ilustrações de Craig funcionam. E é por causa disso que a garota se tornou um ícone indelével na história da música e da ilustração”, escreveram lá.

SAIU! Mellon Collie and the infinite sadness chegou às lojas no dia 24 de outubro de 1995. Embora houvesse muita melancolia no disco, era hora de festa. A banda deu um show no Riviera Theatre e fez uma transmissão de rádio na noite anterior, para celebrar o lançamento. O álbum chegou ao número 1 da Billboard na semana seguinte. E por fim, juntou-se ao seleto grupo (The wall, Thriller, Rumours) de clássicos agraciados com um disco de diamante (mais de 10 milhões de cópias vendidas). Ou seja: aquele disco que dá a impressão que “todo mundo tem” em casa, e que quase todos os fãs de rock já viram a capa ou conhecem pelo menos uma música. E que, por fim, de vez em quando vira viral.

O VINIL QUE SUMIU. Como era comum nos anos 1990, Mellon Collie ganhou uma versão em vinil (triplo!), que não ficou muito tempo nas lojas e teve apenas três mil cópias prensadas. O disco já ganhou alguns relançamentos. Entre eles um box que está hoje nas plataformas digitais, com quase seis horas de duração (!) e boa parte do material que a banda gravou nas sessões.

CLIPES. Cada single de Mellon Collie ganhou um clipe: Bullet with butterfly wings, 1979, Tonight tonight, Zero e Thirty three. O de 1979 marcou época por trazer adolescentes vida loka se divertindo num Dodge Charger, zoando numa festa e arrumando encrenca na rua. Todos os integrantes fazem pontas (Corgan aparece o tempo todo no banco de trás de um automóvel). E a banda toca numa cena de festa. Aliás, o vocalista declarou que, na concepção original dele, o clipe seria bem mais destrutivo. “A loja de conveniência terminaria destruída, por exemplo”, conta.

MAS COMO VOCÊ DEVE SABER, o clipe de 1979 quase não sai porque a equipe esqueceu as fitas com as imagens em cima de um carro. O material sumiu quando o motorista arrancou com o automóvel. A banda já estava em Nova York para um show e precisou voltar para Chicago para refazer a cena da festa.

ALIÁS E A PROPÓSITO, no meio da turnê de Mellon Collie, Corgan tomaria uma decisão da qual se arrependeria amargamente. Continuou com o giro mesmo após o tecladista de turnê, Jonathan Melvoin, morrer de overdose em 11 de julho de 1996, enquanto tomava heroína com Jimmy Chamberlin.

MAS O QUE HOUVE? Desacordados, os dois tomaram injeção de adrenalina no coração (que nem na famosa cena de Pulp fiction, de Quentin Tarantino) mas o tecladista não resistiu. O batera foi preso por posse de heroína e expulso. Mas ficou na turnê até o fim, “senão quem fica na roubada somos nós”, decretou Corgan.

POR SINAL, Melvoin (34 anos em 1996) já era mais velho e bem mais experiente que os patrões. Iniciara a carreira como baterista de bandas punk, como The Dickies. Depois que se profissionalizou, integrou o The Family, um dos projetos de Prince, que fez a primeira versão de Nothing compares 2 U, aquela mesma que Sinéad O’Connor transformaria em hit em 1990. Suas irmãs, as gêmeas Susannah e Wendy Melvoin, integravam uma das bandas do cantor, The Revolution. E o próprio Prince homenageou Melvoin com a canção The love we make.

MAS Chamberlin acabou fazendo falta ao grupo, como o próprio Corgan admitiu. Lá por 1998, gravando Adore, a banda recorreu a um pequeno rodízio de bateras. Em seguida, os Smashing Pumpkins, já com Jimmy de volta, gravariam Machina/The machines of God em 2000, seguido de Machina II/The friends & enemies of modern music, do mesmo ano – este último, dado de graça para fãs baixarem na internet.

ADOLESCÊNCIA FELIZ. Aproveitando o hit 1979, a Spin perguntou a Corgan, Iha e D’Arcy… como era a vida deles em 1979. Iha morava no subúrbio de Chicago e passava o dia, principalmente, indo às casas de amigos e “rindo dos clipes de Prince e Bruce Springsteen na MTV, que nem Beavis & Butthead. Não era uma existência ruim, mas esteticamente falando, não era dos melhores lugares para se estar”. D’Arcy tocava oboé e violino, fazia atletismo e, certa vez, foi tirada da escola pelos pais para viajar pelo México, Texas e Arizona. Corgan, aos 12, era um garoto grandão (maior que seus colegas de classe) que jogava baseball. Aos 14, já estava tocando guitarra.

E já que você chegou até aqui, talvez curta relembrar que uma banda brasileira de Goiânia, Réu e Condenado, parodiou o trabalho gráfico de Mellon collie no disco Um compêndio lírico de escárnio e dor, de 2005.

ALIÁS pega também os Smashing Pumpkins lançando Mellon Collie… no palco do festival Hollywood Rock, no Rio, em janeiro de 1996. Pois é: para o público brasileiro, o duplão dos SP teve uma vantagem em relação a The wall, Rumours e outros best sellers de diamante. Os fãs puderam ver o material do disco ao vivo e a cores por aqui imediatamente (eu tava lá).

Com informações de Music Radar, Uncut, Stack e Spin.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince). E a Paranoid (Black Sabbath). E a Tango in the night (Fleetwood Mac).
– Além disso, demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Smashing Pumpkins no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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