Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre Argybargy, do Squeeze

Você possivelmente conhece uma ou duas canções do Squeeze. A banda londrina, formada em 1974 e liderada até hoje pela dupla de cantores e compositores Glenn Tillbrook e Chris Difford, teve hits como Cool for cats, Up the junction, Tempted (a mais ouvida nas plataformas digitais até hoje) e Pulling mussels (From the shell). Na Inglaterra, a dupla Tillbrook & Difford tem fama de John Lennon & Paul McCartney da new wave. Aliás, o Squeeze é também a banda da qual saiu o hoje apresentador de TV Jools Holland, que foi tecladista do grupo até seu terceiro disco, Argybargy (1980).
No Brasil, infelizmente, o Squeeze sempre foi uma banda que você tem que informar às pessoas que ela existe, ainda que o grupo tenha uma carreira de mais de 40 anos. Poucos discos deles foram lançados aqui – entre eles, Babylon and on, de 1987. Mesmo Argybargy, o LP deste texto, chegou às quatro décadas em fevereiro de 2020 como novidade para muita gente.
CONTADORES DE HISTÓRIAS
Maldade, já que Argybargy mostra o refinamento de uma banda (Glenn na guitarra solo e voz, Chris na guitarra base e voz, Jools nos teclados e voz, John Bentley no baixo e Gilson Lavis na bateria) pródiga em contar histórias nas músicas. O Squeeze foi bem popular no auge da new wave investindo em melodias bem criativas (quase sempre de autoria de Glenn) e letras (quase sempre escritas por Chris) que fariam qualquer pessoa grudar o ouvido no rádio até saber como terminavam as desventuras do personagem.
Em Argybargy, o grupo fala, em tom de sitcom, sobre diversão juvenil à moda dos Kinks (em Pulling mussels, maior hit do disco), amores que acabam abruptamente (Another nail in my heart), emoções dúbias (If I didn’t love you). Separate beds, espécie de suíte de bolso sobre o início de um amor jovem (e não-aprovado pelas famílias do casal), lembra Kinks e Beach Boys.
Argybargy ganhou uma edição luxuosa em 2008 com vários bônus e até com comerciais de rádio – e que hoje pode ser escutada nas plataformas digitais. O álbum chega a quatro décadas em relativo low profile. Mas a banda vem voltando aos shows aos poucos. No dia 5 de dezembro, o Squeeze, hoje ainda liderado pela dupla Difford & Tilbrook, faz “o primeiro show com distanciamento social” da 02 Arena de Londres. Boa chance para os fãs londrinos matarem as saudades da banda e de alguns hits do disco.
E tá aí nosso relatório sobre Argybargy. Leia ouvindo o disco.
MAS O QUE É ARGYBARGY?
BOM, “argy bargy” (com um espaço entre as duas palavras) significa algo como “bate-boca”. Tinha tudo a ver com um disco que falava (ainda que por um viés bem humorado) de situações meio dramáticas, erros em relacionamentos e histórias que começaram super bem mas saíram do controle.
ALIÁS E A PROPÓSITO, aparentemente ia tudo bem com o Squeeze e a banda não tinha nenhuma discussão interna séria que poderia ser escutada pelos vizinhos dos músicos. O quinteto basicamente desfrutava do sucesso dos primeiros discos, Squeeze (1978) e Cool for cats (1979), fazia turnê, trabalhava nas músicas do terceiro álbum e tentava atender às reais expectativas da gravadora A&M por um novo disco.
DEU CERTO. Cool for cats, o segundo LP, estourara quatro hits (pela ordem: Goodbye girl, Cool for cats, Up the junction e Slap and tickle). E, dois anos antes da MTV iniciar atividades, pusera nas telinhas um clipe da faixa-título. O vídeo promocional (o termo “clipe”, vale lembrar, nem existia) ajudou a solidificar a imagem descontraída e um tanto saudosista do Squeeze. E a associar mais ainda o grupo com o conceito multiuso da new wave, que substituíra rapidamente o punk nos corações dos executivos de gravadoras e editores de jornais e colunas de música.
ONDA NOVA
PARA ENTENDER a que veio uma banda como o Squeeze, só dando uma repassada no estilo musical ao qual ela é associada. A new wave não é um estilo molezinha de se definir. Ela é entendida como uma vertente mais acessível, romântica e colorida (e menos blasé e nariz erguido) do pós-punk. E geralmente era feita por bandas que não tinham atitudes iconoclastas em relação ao rock dos anos 1960 e do primeiros 1970.
ISSO (hum) explica o fato de bandas como Pretenders ou The Cars, por exemplo, serem arejadas o suficiente para estarem na gavetinha da new wave. E não serem consideradas “cerebrais”, engajadas e cabeçudas o suficiente para se misturarem com a turma do pós-punk (coisa de bandas como Television, Talking Heads, Gang of Four, etc). A verdade é que a new wave já era um pós-punk. Mas, em alguns casos – e num entendimento mais vazado que defesa de time de várzea – qualquer coisa que tivesse um ar pós-punk (enfim, um rock simplificado mas sem as limitações do punk) já era atirada sem dó nem piedade na vala new wave.
TECLADOS. Se a música fosse dançante e tivesse sintetizadores, era meio caminho andado para que vários jornalistas e até várias bandas já classificassem a música como “new wave”. Caso fosse uma imitação do Blondie, do Devo ou do B-52’s, nomes muito bem sucedidos e costumeiramente associados ao estilo, mais ainda.
ALIÁS E A PROPÓSITO, num entendimento bem machista (do tipo que costuma classificar estilos musicais como “de menininha”), bandas com mulheres na formação já eram automaticamente classificadas como new wave e não como punk. E isso, ainda que um grupo feminino como as Go-Go’s, por exemplo, tivesse raízes fincadas no diversificado e miscigenado punk californiano (você já leu sobre isso no POP FANTASMA).
QUANDO TUDO ERA MATO
O SQUEEZE surgiu bem antes até do punk, em 1974, no Sul de Londres. Quem deu início aos trabalhos foi Difford, que aos 18 anos roubou 50 centavos da bolsa da mãe para colocar um anúncio numa confeitaria (oi?) recrutando músicos para sua banda. Tillbrook respondeu o anúncio. Mas chegou lá e descobriu que não havia banda nenhuma, só o futuro parceiro de composições. Difford diz que não foi só ele que apareceu. “Teve um outro sujeito com quem eu realmente não concordava e ele era bastante dominador, e eu não precisava disso naquele momento”, contou.
DUPLA. Os dois começaram a compor juntos e logo foram entrando os outros colegas (Jools entre eles). Glenn, autor de boa parte das melodias, era fã de jazz e de artistas como Jimi Hendrix, Elvis Presley e Amon Düul, e tinha fama de bom guitarrista. Chris, fã de David Bowie, MC5 e Stooges, era craque em inserir referências literárias de todas as categorias em suas letras, ou nomes de antigas atrações de TV (o Cool for cats do primeiro hit deles era o nome de uma atração televisiva de rock dos anos 1950). Ambos adoravam bandas de “grandes canções”, como Beatles e Kinks.
VELVET
HOJE É DIFÍCIL IMAGINAR, mas o Squeeze fazia parte da mesma cena musical do Dire Straits. Ainda que os resultados sonoros fossem bem diferentes, tanto uma quanto a outra eram bandas de Deptford, no sudoeste de Londres, e dividiram vários palcos. Os primeiros shows da banda de Mark Knopfler, em 1977, foram dados ao lado do Squeeze, num festival local. Outra banda da mesma galera, mas que não se tornou tão ilustre, era o Alternative TV, que unia punk e reggae.
SIM, o nome Squeeze foi mesmo tirado do disco Squeeze, do Velvet Underground (do qual falamos aqui). Embora nem Chris nem Glenn sejam muito fãs do álbum. A banda lembra que colocaram vários nomes num chapéu, sacudiram e escolheram o que saiu.
POR SINAL, John Cale, co-fundador do Velvet acabou produzindo o primeiro EP (Packet of three, de 1977) e o primeiro LP (epônimo, 1978) da banda. Todavia, a A&M, que contratara a banda, não deixou o ex-Velvet nem chegar perto das faixas de trabalho do LP, porque tinha achado as produções de Cale muito anti-comerciais. O próprio grupo, num rasgo de confiança do selo, produziu as canções.
ALIÁS E A PROPÓSITO, o primeiro disco tinha boa parte de seu repertório formado pelas primeiras canções da dupla, feitas quatro meses após os dois se conhecerem.
O EMPRESÁRIO
MILES COPELAND tinha pego o Squeeze para empresariar ainda em 1976. Em seguida, contratou a banda para o seu selo BTM Records. A gravadora teve vida curta. Mas ele acabou lançando os primeiros singles e o primeiro EP da banda por outro selinho próprio, o Deptford Fun City, só para lançar bandas locais.
NÃO PODE. “Squeeze” era um nome relativamente comum para bandas nos anos 1970. Não apenas por aludir a Squeeze box, hit do The Who de 1975, como também (e em primeiro lugar) por ser uma alusão cara-de-pau à masturbação masculina. Não custa lembrar que na capa do primeiro álbum do Squeeze havia um sujeito fortão divertindo-se solitariamente. Existia uma banda pouquíssimo conhecida chamada Squeezer, em Albuquerque, Novo México, nos EUA. E tinha também outra banda americana chamada Tight Squeeze. Na Austrália, havia um xará também. Por causa disso, o grupo de Chris e Glenn ficou conhecido como UK Squeeze por um bom tempo nos EUA, Austrália e Canadá.
ARGYBARGY, ENFIM
ESTÚDIO, PRODUTOR… A banda gravou Argybargy no célebre Olympic Studios, de Londres, com o experiente John Wood (Pink Floyd, Fairport Convention, Cat Stevens) dividindo os trabalhos de produção com a banda. O Squeeze tinha àquela altura na formação Chris, Glenn, Jools, Gilson Lavis (bateria) e John Bentley (baixo). Bentley substituíra Harry Kakoulli, que gravou os baixos dos dois primeiros discos. O novo integrante entrou para banda de maneira inusitada: o grupo já escolhera o novo baixista mas ele, atrasado para a audição, fincou pé e insistiu em tocar. Pegou a vaga. Em meio às gravações, a turma se divertia indo a bares e zoando. Especialmente Glenn e Jools, os mais exibidos da galera.
TECLADISTA FANFARRÃO. Jools Holland não era um compositor muito prolífico em sua própria banda (bom, em Argybargy, assinava Wrong side of the moon com Chris Difford). Mas era um músico com carisma e brilho próprio. Era também o integrante que mais falava no palco e tinha uma atitude brincalhona nos shows. Por causa disso, foi incentivado pelo empresário Miles a fazer as apresentações dos músicos, que Glenn e Chris sempre esqueciam de fazer. Acabou virando porta-voz da banda no palco.
PARTE 2.
CHRIS. Difford considerava Argybargy uma espécie de “disco 2” de Cool for cats, gravado quase com a mesma equipe e contando com a mesma disposição da dupla de compositores para contar histórias. As letras surgiram da vida nova de Chris, que mudara-se para Nova York com a mulher, grávida. A gravadora ficou contente com o desempenho dos dois primeiros singles, Another nail in my heart (janeiro de 1980) e If I didn’t love you (março).
ALIÁS E A PROPÓSITO. If I didn’t love you era a letra preferida de Difford, por causa do verso “compactos me lembram de beijos/álbuns me lembram de planos”, que faziam com que o compositor lembrasse da época em que levava namoradas para conhecer a coleção de discos dele.
ESCRITOR SAFADO. Já o single seguinte, Pulling mussels (From the shell), trazia reminiscências da época em que Chris e um amigo dirigiam até um caravan park para ver shows de bandas como Small Faces em um clube local. “Tentei imaginar como Ray Davies (Kinks) escreveria sobre esse fim de semana inglês típico”, contou Chris, que ainda incluiu na letra uma referência ao escritor americano Harold Robbins, autor de romances safadinhos como Os insaciáveis e Os pervertidos.
CAPA
MONTE DE CORES. O visual de Argybargy foi todo bolado por Mike Ross, um diretor de cinema que passou a colaborar com gravadoras e fotografou Paul McCartney, Beach Boys, Elton John, Chris de Burgh e vários outros. Ross também havia trabalhado nas capas dos discos anteriores da banda, já que era designer da A&M naquele momento. Mike Laye, o autor da coloridíssima foto da capa, trabalhou para revistas como The Face e igualmente já havia feito as imagens de Cool for cats.
JÁ NA CONTRACAPA, a banda preferiu umas imagens em preto e branco, feitas pelos próprios integrantes usando uma câmera automática.
CADÊ O EMPRESÁRIO?
MILES A MILHAS (AI) DE DISTÂNCIA. Miles Copeland, empresário do Squeeze, estava começando a ficar cada vez mais animadinho com outra banda da qual cuidava na época. Nada menos que The Police, o power trio new wave do qual fazia parte seu irmão, o superbaterista Stewart Copeland. O Squeeze ficou meio enciumado, até porque Miles, segundo eles, deu uma sumida do dia a dia deles e passou a colocar o Police nos mesmos esquemas deles. Enfim, contrato com a A&M, turnê pelos EUA e hits nas rádios. Em pleno envolvimento com o Police, Miles enviou o Squeeze para uma turnê pela Austrália, aquele país em que – você leu lá atrás – eles precisavam meter um “UK” no nome.
ALIÁS E A PROPÓSITO, Difford diz que assistiu a uma suposta audição que Sting teria feito em busca de uma vaguinha de cantor no The Police. “Ele apareceu lá e eu disse a todo mundo: ‘Esse cara não canta nada!’. Obviamente eu estava errado”, contou. Mais obviamente ainda, a maioria das biografias do Police conta uma história bem diferente da do vocalista do Squeeze, já que Stewart e Sting tinham projetos juntos antes do grupo, e quem entrou depois foi o guitarrista Andy Summers.
EMPRESÁRIO NOVO
NO MEIO DA turnê de Argybargy, a banda voltou para a Inglaterra. Logo que chegaram, descobriram que estavam próximo a Malvern, onde rolaria um show de Elvis Costello e sua banda The Atrtractions (da qual fazia parte um velho amigo, o tecladista Steve Nieve). Foram lá bater um papo com Nieve e Elvis (uma grande influência do Squeeze, por sinal) e… Acabaram conversando um bom tempo com Jake Riviera, empresário de Elvis.
TCHAU QUERIDO. O papo foi tão bom que os cinco desistiram de Miles na mesma hora e correram para o escritório de Jake. O manager impressionou a banda com vários papos sobre sua coleção de discos. Também veio com conversas como “por que vocês não fazem mais por vocês mesmos?”.
MILES ficou puto e avisou que a A&M iria encarar a desistência como desfeita. De qualquer jeito, a banda ainda continuou lá por um bom tempo e ainda gravou na empresa outro disco fundamental em 1983, East side story. Aliás, muita gente considera esse álbum até melhor que Argybagy, mas aí é outra história. É o disco que tem o hit Tempted, que hoje, em tempos de plataformas digitais, é a música mais popular da banda.
NA TELINHA. Em 1º de agosto de 1981, surgiu a MTV. Em seguida, as bandas britânicas que invadiram as paradas americanas com hits-de-sintetizador e canções mais associadas à new wave, passaram a ser consideradas como parte de uma “segunda invasão britânica”. O Squeeze estava nessa, ao lado de nomes como Duran Duran, Pretenders, Dire Straits, Buggles e outros.
VALEU, JOOLS
APÓS Argybargy, um integrante perderia totalmente o interesse pela banda. Jools Holland, que já se sentia sem espaço criativo dentro do grupo, convocou os colegas para um café da manhã e avisou que deixaria o Squeeze. Também disse que seguria com Miles Copeland como empresário. O músico, que já tinha gravado um EP solo em 1978, virou apresentador do popular The Tube ao lado de Paula Yates. Em seguida, passou a alternar trabalhos na TV com gravações e shows. Hoje, impossível não saber, apresenta o Later… with Jools Holland na BBC.
CHRIS, particulamente, ficou devastado com a saída de Jools, afirmando que para ele, era como “perder um dedo”. Considerava o amigo parte importante no clima de gangue de roqueiros que o Squeeze tinha. “Era algo inspirado pelos Small Faces e pelo The Who”, como disse.
FORMAÇÃO VARIÁVEL. O posto de tecladista do Squeeze ficou variando nos dois discos subsequentes. East side story (1981) trouxe o ex-Roxy Music John Carrack nos teclados. O músico ainda soltou a voz solo em Tempted, maior hit do grupo. Sweets from a stranger (1982) tinha o multi-instrumentista Don Snow nos teclados. Descontente, a banda encerrou atividades no fim da turnê desse disco. E em 1984 aconteceu o que todo mundo já esperava: a dupla Chris Difford e Glenn Tillbrook lançou um disco “solo em dupla”, Difford & Tilbrook. Mas o disco costuma ser incluído em discografias do Squeeze e os singles aparecem até em coletâneas da banda.
JOOLS VOLTOU
EM 1985, o Squeeze de Argybargy se reuniu por um motivo que tinha tudo a ver com aquele ano de Live Aid: toparam fazer um show de caridade. O show foi tão bom que a banda resolveu voltar a gravar e excursionar. Cosi fan tutti frutti, o sexto disco, lançado naquele ano, trazia Difford, Tilbrook, Holland, Lavis e o baixista do disco Difford & Tilbrook, Keith Wilkinson. Jools levou seu irmão adolescente, Christopher, para tocar teclados na turnê, mas ele durou pouco na turma.
EM 1987, ano de outro sucesso do Squeeze (o disco Babylon and on, dos hits 853-5937 e Hourglass) o tecladista montou a Jools Holland Big Band. A formação do grupo fixa trazia ele e um colega de Squeeze, o baterista Gilson Lavis. O excesso de compromissos tirou novamente Holland da banda em 1990. A partir daí, o Squeeze passou a girar em torno da dupla de compositores, com músicos entrando e saindo. Eventualmente, rolavam retornos de ex-colegas – Paul Carrack, por exemplo, voltou em 1993.
E DEPOIS?
O SQUEEZE entrou em declínio, saiu da A&M, foi para a I.R.S. (gravadora do ex-empresário Miles Copeland), para a Reprise e voltou para a A&M para lançar um de seus discos mais bem sucedidos dos anos 1990, Some fantastic place (1993), com Paul Carrack de volta. Encerrou atividades por alguns anos a partir de 1999. Chris e Glenn se distanciaram, pelo menos profissionalmente (os dois dizem que a amizade permaneceu), para cuidarem de carreiras solo. Em 2007, a banda retornou aos palcos para celebrar o relançamento de seu catálogo – a Universal, que controla a A&M, entrara na onda das edições “deluxe”, com vários bônus, e repôs discos de várias bandas de seu acervo.
APÓS VÁRIAS MUDANÇAS DE FORMAÇÃO, o Squeeze é um septeto. Incluindo Chris, Glenn (ambos voz e guitarra), Melvin Duffy (guitarra), Simon Hanson (bateria), Yolanda Charles (baixo), Stephen Large (teclados) e Steve Smith (percussão). O último lançamento dessa formação foi o disco The knowledge, lançado em 2017. Olha aí um dos shows dessa turnê.
E já que você chegou até aqui, conheça o canal de um sujeito chamado Steve Bertram, que é fanático pelo Squeeze e disponibiliza tudo quanto é tipo de raridade da banda em vídeo. Inclusive esse show de abril de 1980, em plena turnê de Argybargy. Tem vários documentários e entrevistas lá – infelizmente tudo sem legenda.
Com informações daqui, daqui, daqui e do livro Some fantastic place: My life in and out of Squeeze, de Chris Difford.
VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience), a Pleased to meet me (Replacements), a Dirty mind (Prince), a Paranoid (Black Sabbath), a Tango in the night (Fleetwood Mac) e a Mellon Collie and the infinite sadness (Smashing Pumpkins). E a The man who sold the world (David Bowie).
– Além disso, demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Smashing Pumpkins no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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