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Terno Rei: um papo sobre disco novo, turnês, roubadas e Lollapalooza

O Terno Rei vai tocar no Lollapalooza neste sábado (na abertura do Palco 1, às 13h). Aproveitamos para falar disso logo no começo da entrevista que fizemos com eles (aliás, para ver a banda, chegue cedo!), mas o nosso foco era pegar uma das bandas mais interessantes da recente safra do rock brasileiro em um momento bem legal de sua carreira.
O grupo paulistano evoluiu bastante após a turnê do terceiro disco, Violeta (2019), participou de um encontro musical com ninguém menos que Samuel Rosa, do Skank (em live do programa Conexão Balaclava, produzido pela gravadora da banda, Balaclava Records), ganhou bastante experiência no palco e na estrada após as turnês mais recentes. E colhe os frutos no lançamento de seu quarto disco, o recém-lançado Gêmeos, que exigiu bastante dedicação de Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria).
O Pop Fantasma bateu um papo com o quarteto por zoom e conversou bastante com eles sobre o atual momento da banda. Pega aí!
Quais são as expectativas de vocês pro Lollapalooza?
Bruno Paschoal: Bom, estamos ensaiando bastante e a expectativa é fazer um show massa para a galera. Vai ser o show de despedida do Violeta (disco anterior da banda). E é um festival grande, acho que vai ser o primeiro festival em que vamos tocar depois da pandemia… Bom, nem depois da pandemia, depois de toda essa loucura.
Greg Maya: Na verdade tocamos em Floripa também (em janeiro, no festival Saravá, com Céu, Juçara Marçal e outros nomes).
Bruno Paschoal: Isso, verdade!
Luis Cardoso: Estamos empolgados e ansiosos, ensaiando para fazer o último show do Violeta. Mas vamos tocar as músicas novas também, os singles que a gente já soltou. Mas vai ser um show mais do disco anterior. Vamos ter um tempo bom de line check, passagem de som.
Como é estar fazendo uma agenda que é do disco anterior, já que o novo álbum já está rolando? Vão ter músicas novas, imagino que seja um set bem misturado…
Luis Cardoso: O show vai ser uma despedida do disco anterior, com oito músicas dele e mais quatro novas. Depois a coisa se inverte e aí é que vamos trampar mais o disco novo. Mas dos outros discos vão rolar músicas. Os dois discos juntos dá uma hora e pouco. Dá pra tocar os dois na íntegra e fazer um cover se quiser.
Escutando o disco novo e comparando com os anteriores, dá para perceber que ele tem algo de muito especial na discografia de vocês. Como analisam hoje a entrega que tiveram nesse disco?
Ale Sater: Colocamos muito mais energia nesse disco. Até porque depois do sucesso que o Violeta fez – ele foi um disco que mudou muito nossa história como banda – a gente não podia fazer um negócio sem vontade e sem apreço. No final, esse disco é muito mais cheio. Mesmo o Violeta, que a gente ama, você o ouve e depois ouve o Gêmeos… Ele é todo mais produzido. Quase todas as músicas têm alguma coisa interessante rolando, alguma instrumentação, algum arranjo e tal. E acho que isso é fruto do trampo, esse disco foi o mais trabalhoso de todos. Se juntar os três, dá o mesmo trabalho que deu só esse, sozinho. A gente penou pra fazer (risos).
A trabalheira foi em tudo, então? Composição, arranjo, produção… Em algum desses processos vocês perceberam que estavam suando mais, trabalhando mais?
Ale Sater: Sim, sim, foi em composição, produção, pós-produção, mixagem, masterização e até em como definir coisas de divulgação, como soltar o clipe… Tudo foi mais sério, envolveu mais gente, mais cabeças.
Greg Maya: A gente tinha mais tempo também. E por ter mais tempo pra fazer tudo, a gente acabou tendo mais preciosismo. Em algum momento a gente acabou se enrolando mais também, mas faz parte do processo.
A primeira coisa que me veio à cabeça é que é um disco bom pra tocar no rádio. Tudo bem que rádio hoje em dia não é mais a mesma coisa, mas foi algo que vocês pensaram? Houve uma rádio imaginária nesse processo?
Ale Sater: Ah, não tinha, mas as coisas que a gente estava ouvindo na época eram bem nesse estilo. O exemplo perfeito é o Semisonic (do antigo hit Closing time), não sei se você se lembra…
Sim, lembro.
Ale Sater: Era super boa, super indie, mas bem pop, bem radiofônica, e estávamos ouvindo bastante.
Luis Cardoso: A gente não fez com isso em mente, tipo “vamos fazer essa música pra acontecer isso”. Agora, com o disco novo, eu já vejo uma música ou outra sendo tema de personagem de novela. Ou vejo que uma música ou outra tocaria na rádio facilmente por tudo que está tocando… Depois de ver o disco pronto, vejo que tem um lance meio radiofônico e que poderia encaixar até em novelas. Acho que tem uma abertura grande pra isso, o disco ficou aberto para os mais variados tipos de coisas rolarem, mas a gente não fez nada pensando em tocar no rádio.
O que a turnê do Violeta e tudo o que aconteceu com o disco ensinou a vocês?
Ale Sater: Ensinou muita coisa e muita coisa técnica, até. A gente antes do Violeta não tinha técnico de som. E hoje não dá para fazer show sem nosso técnico, é muito arriscado, de sair uma bosta mesmo. Até essas coisas técnicas de ensaio… Era tudo muito no pelo, o que era legal também. Mas agora a gente subiu um degrau de profissionalismo, mesmo. A gente não dorme mais na casa do batera da banda de abertura (risos)… Isso aconteceu muito. A gente tenta não entrar tanto em fria também.
Luis Cardoso: A gente se preocupa hoje em contar uma história com todas as músicas do show, com as músicas interligadas. Ter um passeio de mood no show. Ou esses lances profissionais, de fazer contrato, de garantir que a gente tenha um lugar confortável para descansar. Às vezes é um trampo de dois dias pra um show de uma hora e meia. Muitas coisas influenciam nisso, do camarim não ter lugar pra sentar. Ou de você dormir na casa do batera e dormir só sete da manhã porque o cara quer ficar na farra. E são coisas que acabam deixando o show pior. Nem tamos falando de dinheiro, mas de pequenas coisas que acabam prejudicando. Você com o tempo vai aprendendo essas coisas, em qual show vale a pena ir, em qual não vale. Também não vale a gente ir aceitando tudo que tem pra fazer e os quatro estarem infelizes.
O que seria uma roubada?
Ale Sater: Um show com cinco bandas, que pode até ter muita gente, mas é tudo misturado, numa cidade muito longe e que a gente vai tocar às 2h3o da manhã. Tem tudo pra dar errado. E esse evento, vou falar pra você, aconteceu!
Luis Cardoso: E deu errado (risos).
Ale Sater: Não vou falar onde foi, mas rolou. Deu errado. Foi ruim pro cara que estava ouvindo e para mim, para nós. Além desses macetes de estrada, tem a parte musical. Desde o Violeta a gente tem uma convivência bem legal com o (Gustavo) Schirmer, o Amadeus (de Marchi) e o Janluska (os três, produtores), o que é bem legal. A gente aprendeu muito de produção com eles. E a gente acaba errando menos nas músicas, que é algo que vem com a idade.
Como foi trabalhar com o Samuel Rosa e o que aprenderam com ele?
Bruno Paschoal: Foi muito doido trabalhar com ele. Era uma coisa meio surreal, porque até um dia antes de chegar no estúdio, a gente tava de boa produzindo as músicas, fazendo o arranjo das músicas que a gente ia fazer. Mas chegar no estúdio, ouvir a voz dele cantando a música no seu fone. Parecia que você estava no Faustão (risos).
Luis Cardoso: É muito surreal e é mais legal ainda ver um cara que fez show para tanto estádio lotado, foi em todos os programas de TV e fez um puta sucesso… E ele estava se divertindo tanto quanto a gente. Ele estava com uma banda “desconhecida” mas estava se divertindo tanto quanto a gente ali. Só por estar fazendo um som e renovando as energias, estar fazendo alguma coisa diferente, ele estava amarradão. Para mim foi algo como: “Dá para chegar nos 50, 60 anos com o mesmo tesão e sem encher o saco de fazer música”. Acordar e falar: “Hoje eu tenho uma gravação com uma galera”, e se divertir.
Vocês têm outros projetos no momento? O Ale tem um disco solo.
Greg Maya: Estou começando um projeto solo meu, e a ideia é que seja algo que não encaixe para o Terno Rei. Mas estou fazendo bem devagar. Eu acho que esse ano, solto um single.
Bruno Paschoal: Eu também tinha um projeto solo, mas com essa loucura do disco novo tá impossível. Esse ano ainda deve sair.
Luis Cardoso: Estou produzindo uns lances em casa, mas é só de brincadeira mesmo, pra ir pegando a manha e brincando. Quem sabe eu solte alguma coisa aí. Mas é sem pressa, só pra se divertir mesmo.
Ale: E além disso, eu e o Greg trabalhamos em outra empresa. Mas aí tem a ver com moda, não é música.
Um coisa que sempre perguntavam para uma banda que se destacava mais há uns 10, 15, 20 anos, era se elas queriam dar um salto maior e assinar com uma multinacional. O que isso representa pra vocês?
Bruno Paschoal: Cara, eu confesso que eu tenho tipo zero vontade. Óbvio que se chega uma proposta, uma coisa super irrecusável, você vai escutar. Mas hoje em dia eu acho que a flexibilidade que a gente tem na Balaclava Records… A gente é super amigo deles, tem uma relação super transparente com eles, super livre, em termos de composição, de carreira. Vejo isso como algo mais interessante do que estar engessadão num label gigante.
Luis Cardoso: É f… Um label gigante faria o mesmo que os empresários do sertanejo fazem. Eles injetam dinheiro e depois esperam voltar. Com uma gravadora grande você não tá fazendo uma bolada, tá fazendo um empréstimo e depois vai ter que devolver essa grana de alguma maneira. Ou fazendo show barato pra c… e eles ganhando tudo, ou vendendo muita coisa, ou fazendo sete discos. De alguma maneira você vai ter que devolver esse dinheiro, e isso é uma coisa muito complicada. A gente tá num momento em que a gente pode escolher de tudo, se a música vai ter sax, violino, se vai ter só violão… Se vai ter só voz, foda-se. A gente tá fazendo pela música. E estamos num lugar muito confo0rtável. Não penso nesse lance de fechar com uma gravadora. Até porque a gente tem um time muito bom que trabalha com a gente. É o time que uma gravadora teria, só que várias pessoas diferentes trabalhando juntos, sem aquela pressão de devolver os três milhões que a gente pegou emprestado.
Greg Maya: A gente é muito alinhado com o pessoal da Balaclava. Além de ser parceiro de trabalho a gente é amigo fora do trabalho. A gente sai junto, bebe junto, escuta música junto. Isso da gravadora grande tá cada vez mais distante. O que acontece muito é das grandes gravadoras terem pequenos selos dentro delas. É uma realidade que a gente conhece mais. Mas mesmo assim estamos satisfeitos.
Luis Cardoso: A gente tem a mesma idade, os mesmos ideais, a galera toda luta pelo mesmo objetivo.
A foto da capa do disco novo tá muito bonita. O que é aquela imagem e como foi feita?
Bruno Paschoal: É uma foto analógica da gente na Praça do Pôr do Sol, aqui em Pinheiros (bairro de São Paulo). Mas o fotógrafo fez um movimento na câmera para deixar com um blur, um borradinho ali. E aí na pós a gente de uma estourada nos tons pastéis pra deixar um pouco mais vivo.
Greg Maya: Somos nós quatro ali e tem um tratamento de cor depois.
Por que o nome do disco é Gêmeos?
Ale Sater: O disco fala muito sobre nostalgia e amizade. Mas claro, tem variados temas nas letras. E aí a gente pensou muito nesse negócio da amizade. O primeiro clipe, do Dias da juventude, conta um pouco isso. É um garoto mudando de cidade e se despedindo dos amigos. E traz um pouco esse espírito, e tem o lance da gente como banda. A gente já está há doze anos juntos. Tem esse sentimento entre a gente, a palavra surgiu e já bateu em todo o mundo.
No comecinho, quando se falava do Terno Rei, muita gente confundia com O Terno. Rola essa confusão ainda?
Bruno Paschoal: Ainda rola! A gente vê muito a galera descobrindo: “Pô, agora que fiquei sabendo que O Terno e o Terno Rei não são a mesma banda”. Você só sabe quando a pessoa descobre.
Luis Cardoso: A pessoa vai no nosso show pensando que é O Terno… Bom, ela que vacilou, né? (risos). Tem que ler a descrição do show, que ajuda.
Ale Sater: E já aconteceu! Possivelmente a gente até já foi contratado por uma pessoa que se enganou, achando que nós éramos O Terno.
Bruno Paschoal: Com eles também rolou, já. O Tim Bernardes (cantor e guitarrista do Terno) veio me falar que foram dar parabéns para ele pela banda ter tocado no Primavera Sounds, onde a gente tocou em 2015. E ele: “Valeu, mas não foi a minha banda!”
Lançamentos
Radar: Real Estate, The Dirty Nil, Snõõper, Ministry, Paul Weller, 61 OHMS, tudo junto

Felicidade é quando todas as bandas e artistas que a gente escolhe pro Radar têm nomes pequenos – e cabe todo mundo no título. Hoje tem Radar internacional, unindo novos e veteranos em torno da música nova – e, no caso do Ministry e do Paul Weller, do novo olhar sobre velhas canções. Divirta-se. Em tempo: esse texto era para trazer o clipe novo do Ministry, mas aparentemente ele foi censurado pelo YouTube (Foto Real Estate: Bandcamp).
Texto: Ricardo Schott
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REAL ESTATE, “EXACTLY NOTHING”. O Real Estate foi atrás das sobras e achou coisa boa: a coletânea The Wee Small hours: B-sides and other detritus 2011–2025 reúne lados B, faixas perdidas e outtakes desde o início da banda até o disco Daniel (2024). O nome do disco vem de uma música inédita feita nas sessões do terceiro álbum, Atlas (2013), e também acena pra um álbum clássico de Frank Sinatra. Uma raridade pra quem acompanha a banda de Nova Jersey desde o comecinho — ou pra quem quer descobrir as entrelinhas do som deles. Destaque para Exactly nothing, um B-side de 2012 que consegue ser ensolarada e misteriosa simultaneamente.
THE DIRTY NIL, “SPIDER DREAM”. The lash, quinto disco dessa banda punk canadense, tá marcado para sair no dia 25 de julho. Enquanto o álbum não chega às lojas, dois singles, Gallop of the hounds e este Spider dream, servem de vislumbre. A canção é uma balada soft, tranquila, mas trevosa.
Aliás, o cantor e guitarrista Luke Bentham disse que a inspiração da música foi um pesadelo – o tal “sonho de aranha”, do qual ele fala na letra, que tem versos como “ontem à noite eu sonhei que meu corpo estava coberto de picadas de aranha” e “o passado me parece um cemitério que visito todos os dias, faça chuva ou faça sol”. Outra inspiração foi o documentário Get back, sobre as internas do disco-filme Let it be, dos Beatles. “Me inspirei a usar acordes mais vibrantes do que costumo usar”, diz.
SNÕÕPER, “INCOGNITO”. Em 2010 surgiu uma ramificação do punk que logo ganhou a alcunha de eggpunk – na verdade era uma espécie de synthpunk, com herança direta de bandas como Devo e Sigue Sigue Sputnik e uso de teclados baratos. Essa banda de Nashville se considera parte dessa onda, recriando o punk e o hardcore a partir de baterias eletrônicas, teclados e um aparato de gravação que parece sempre disposto a distorcer o som.
Depois de um excelente disco de estreia, Super Snõõper, de 2023 (resenhado pela gente aqui), o grupo retorna com um EP exclusivo para o Bandcamp, Unknown caller – disco gravado em casa, com quatro faixas curtas. A zumbizante Crash out, single do EP, é bem legal – por sinal até o momento é a única que você vai encontrar nas plataformas mais conhecidas. Mas destacamos o clima caótico e intermitente da acelerada Incognito.
MINISTRY, “I’LL DO ANYTHING FOR YOU (SQUIRRELY VERSION)”. O novo clipe do Ministry, uma provocação explícita que chegou a circular pelo YouTube, foi retirado do ar sem qualquer explicação oficial. Quem teve a chance de ver, encontrou o sempre sombrio Al Jourgensen em um modo inusitado — e quase fofo. De terno rosa, marias-chiquinhas no cabelo, óculos em forma de coração e uma camiseta com os dizeres “Eu não sou adorável?”, ele revisita I’ll do anything for you, música da fase tecnopop da banda, regravada no bizarríssimo The squirrely years revisited – álbum dedicado a desenterrar o repertório inicial do Ministry, que ele sempre disse odiar (e que foi resenhado pela gente aqui). No vídeo, que agora só circula em alguns trechos (tem shorts no YouTube e este pedaço no Instagram da banda), há até uma montagem de Vladimir Putin e Donald Trump dividindo um espaguete, ao estilo de A Dama e o Vagabundo. Segue pelo menos o áudio.
PAUL WELLER, “LAWDY ROLLA”/”PINBALL”. Você já deve ter visto, mas não custa falar que vem aí mais um capítulo da trajetória de Paul Weller: o músico britânico anunciou o álbum Find El Dorado, só com releituras de canções que marcaram sua vida, com convidados como Robert Plant, Noel Gallagher, Hannah Peel. Tá previsto para 25 de julho e Weller fez versões de artistas como Richie Havens, Bee Gees e Kinks.
De nomes pouco conhecidos, tem a releitura de Lawdy rolla, música do The Guerrillas – um grupo de músicos de estúdio formado por feras como Manu Dibango (sax) e Slim Pezin (guitarra), que gravou essa “canção de trabalho” em clima jazzy num single de 1969. Essa e Pinball (single de estreia do cantor, apresentador e ator britânico Brian Protheroe) ganharam versões e já saíram como singles.
61 OHMS, “SIGN OF THE TIMES”. Essa banda californiana considera seu single mais recente algo entre “Radiohead, Coldplay antigo ou Muse com um toque moderno” – e faz sentido, mas tudo filtrado por um toque musical que vem lá dos anos 1990 e da paixão pela música-de-guitarra-e-ruído que as bandas da década tinham (entre elas o próprio Radiohead do disco Pablo honey, de 1993). Sign of the times ganhou também um clipe tão imersivo quanto a própria faixa.
Lançamentos
Radar: Armada, Alma Djem, Exclusive Os Cabides, Pablo Lanzoni e outras novas

Sai da frente que hoje o Radar, na nossa edição nacional, abre dando espaço a dois estilos historicamente guerreiros: o punk e o reggae, representados pelo Armada e pela turma do Alma Djem, ambos com coisas novas nas plataformas. MPB, música instrumental e sons indie também surgem por aqui, nessa playlist que não é playlist – isso porque a gente quer que você faça a sua própria playlist na plataforma que você quiser. Ouça, escolha e passe adiante.
Foto Armada (Matheus Machado/Divulgação).
Texto: Ricardo Schott
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ARMADA, “LAST OF MY KIND”. Toda a beleza de um hino punk: a banda paulistana revisita Last of my kind, faixa do disco Tales of treason, lançado no ano passado em vinil pela gravadora americana Pirates Press Records, em parceria com a Comandante Records. O Armada aproveitou um show recente em São Paulo para levar a energia do palco (e da platéia!) para um novo videoclipe.
A música é uma homenagem a quem insiste em seguir em frente quando tudo ao redor sugere o contrário — com destaque para o refrão e sua frase emblemática: “eu nunca sei quando desistir”. “Acho que a maioria das pessoas que tem uma banda, ou qualquer tipo de projeto artístico, que consome todo seu tempo, dinheiro, vida pessoal e profissional a troco de praticamente nada, consegue se identificar com essa frase”, afirma o baixista Mauro Tracco, que divide a direção do vídeo com Rapha Erichsen e Rodrigo Braga.
ALMA DJEM feat TATO, “SOBRADINHO”. O grupo de reggae Alma Djem lança Harmonia, terceiro EP do projeto Acústico em São Paulo, iniciado com os EPs Luz e Liberdade. Gravado em julho de 2024, o novo volume traz cinco faixas que falam de amizade, fé, amor e diversidade.
A abertura do EP novo é uma atualizada versão de Sobradinho, clássico de Sá & Guarabyra cuja letra – feita ainda nos tempos da ditadura – é bastante assertiva a respeito dos impactos da ação humana na natureza. A regravação junta Marcelo Mira (Alma Djem) e Tato (Falamansa), retomando uma parceria que já completou duas décadas. O EP tem também participação da banda capixaba Macucos.
EXCLUSIVE OS CABIDES, “PILHA ELETRÔNICA”. Em turnê, e de volta ao repertório de seu álbum mais recente, Coisas estranhas (resenhado por nós aqui), a banda catarinense Exclusive os Cabides decidiu revisitar Pilha eletrônica, uma das melhores e mais instigantes faixas do disco, e transformá-la em clipe. Um clipe, por sinal, tão indie quanto o disco: foi criado a partir de vídeos dos bastidores da turnê, editado pelos integrantes Eduardo Possa (guitarra) e Carolina Werutski (bateria), e é repleto de distorções visuais, para imitar a estética daqueles karaokês de boteco que eram uma febre nos anos 1990 – lembra? E sábado (31) tem show deles no Popload Festival.
PABLO LANZONI, “AVISO DE NÃO LUGAR”. Os sonhos do dia a dia, as utopias que a gente vai construindo na mente, e os desejos de alçar voo e ir além da realidade – misture tudo isso e você vai descobrir o combustível do novo single do gaúcho Pablo Lanzoni. Aviso de não lugar foi feito em parceria músico e poeta Richard Serraria, e mergulha no universo do indie folk idealista, sonhador e contemplativo. O single anuncia o próximo álbum de Pablo, que também vai se chamar Aviso de não lugar, e sai ainda neste semestre, com produção dele e de Leo Bracht.
RENZO PERALES E RP PROJECT, “SONHO RUIM”. Uma música instrumental que “fala” por si própria. Peruano radicado em São Paulo, o guitarrista Renzo Perales mistura camadas de jazz, r&b e até pagodão baiano em Sonho ruim, sua nova faixa com o grupo RP Project, que conta com participações especiais do beatmaker Toperasound e de Bicho Solto (Afrocidade), ambos nas percussões.
Mesmo sem letra, Sonho ruim foi escolhida por Renzo para expressar, por meio da música, os sonhos e dilemas de um imigrante em busca de uma vida nova e próspera em outro país. “Você vive um sonho de oportunidades e abundância que em determinado momento joga contra, parecendo inalcançável”, afirma ele. Quando a música fala, todo mundo entende.
OS PECADOS TROPICAIS, “EU TE VI”. Depois do criativo e ousado single de estreia, Absinto, Luisa Dale (voz), Daniel Ferreira (baixo), Tomás Novaes (bateria) e Nina Goulios (guitarra) retornam com Eu te vi, nova faixa embalada por um indie pop cheio de balanço. Produzida por Paulo Novaes e com lançamento do mitológico selo Kuarup, a canção mistura o swing nacional dos anos 1980 com o lado mais dançante da MPB, em clima solar realçado pelos metais. O primeiro álbum da banda, epônimo, sai em breve. São nove faixas gravadas pelo trio original Luisa, Daniel e Tomás — Nina se juntou ao grupo após as gravações.
Lançamentos
Urgente!: Unknown Mortal Orchestra lança clipe e cria polêmica – e mais

RESUMO: Fãs ficam indignados com música e clipe da Unknown Mortal Orchestra. Pic-Nic lança primeiro disco de inéditas em 14 anos. Produtor do primeiro álbum da Legião Urbana, o jornalista José Emilio Rondeau lança livro sobre os bastidores das gravações.
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O Unknown Mortal Orchestra não consegue ficar parado por muito tempo. O grupo experimental liderado por Ruban Nielson lançou há poucos meses o álbum IC-02 Bogotá (que resenhamos aqui) e acaba de anunciar o EP Curse, inspirado nos giallos, filmes de terror italianos dos anos 1970 e 1980. O disco sai dia 18 de julho e tem seis faixas: Aura, Boys with the characteristics of wolves, One hundred bats, Sorcerers of silence e Curse.
Boys…, a segunda faixa, já saiu na frente como single, e é uma canção que pode ser tranquilamente colocada na gavetinha do stoner rock. O clipe da canção, feito pelo próprio Ruban – que é a ”orquestra” da música e toca todos os instrumentos – aumenta a duração em 1m20 com uma espécie de trailer assustador, cuja sonorização (seria a versão inteira dela ou um trecho de outra faixa?) deixa a impressão de que a faixa é bem mais sombria e experimental.
E enfim, muita polêmica envolvida, justamente por causa da música e do clipe: Nielson junta no vídeo vários trechos de antigos filmes, mas bota os personagens para mover os lábios e cantar a letra da faixa. No YouTube, tem uma porrada de gente indignada achando que a música foi feita inteirinha com inteligência artificial – e num canal do Reddit chamado /indieheads, tem uma turma putaça com o evidente uso de IA no clipe.
“Mesmo que a IA fosse usada apenas para economizar dinheiro… Mano, qual é? O vídeo faz referência ao cinema de terror italiano dos anos 70 e 80, essa porcaria foi literalmente feita com dinheiro, rs. Ruban poderia ter feito algo com um charme vintage de verdade, mas acabou apenas afirmando o quão longe ele está do seu auge criativo”, escreveu uma pessoa. Um outro reclamou que o recurso deixa qualquer clipe “cafona”.
Um outro fã da Unknown Mortal Orchestra desencavou uma entrevista de Ruban lembrando que quando estudava Belas Artes, sua faculdade gastou “perversamente” uma bolada de grana para comprar uma engenhoca chamada The Painting Machine (“a máquina de pintar”).
“O assunto passou a ser: essa máquina vai nos substituir? Um monte do meu trabalho passou a ser a resposta à ansiedade de estudar pintura num mundo em que uma máquina pode pintar qualquer coisa”, contou o músico, dizendo que passou a pintar as mesmas coisas repetidamente, até que tudo parecesse “a fria repetição de um autômato”.
Até o momento, Nielson parece disposto a confundir. Sobre o EP da UMO que vem aí, disse no release coisas como: “No coração dos homens, às vezes, há bondades escondidas, mas substanciais, que seriam a diferença, em tempos de infortúnio, entre se encontrar à mercê de um monstro ou de uma criatura mais heroica”, contou.
“Por uma questão de sanidade, podemos nos enganar acreditando que essas lascas prateadas de moralidade são visíveis de fora, mesmo quando sabemos que não são. E, de qualquer forma, muito do que acreditamos ver de fora é uma miragem, especialmente hoje em dia”, completou. Ah, bom.
***
Vai estar em breve nas nossas resenhas, mas vale citar que saiu hoje nas plataformas Volta, disco novíssimo da banda carioca Pic-Nic (Novevoltz/Bonde Music), o primeiro desde o retorno do grupo em 2021. O álbum tem sete faixas novas, participação do rapper Ramonzin, sonoridade com cara punk-disco-grunge no single Aniquilação – que já ganhou clipe – e muita vivência acumulada. O som é novo, mas com ecos dos anos 2000.
***
Por último mas não menos importante (e falaremos melhor disso depois), vale anunciar que na próxima quarta (4 de junho) o jornalista José Emilio Rondeau autografa na Livraria da Travessa de Ipanema o livro Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor (Editora Máquina de Livros). Pois é: além de ser um dos maiores mestres do jornalismo de rock no Brasil (você o encontra semanalmente na newsletter Farol), Rondeau produziu a estreia da Legião, e reúne neste livro os causos – há anos dispersos em entrevistas e artigos. É às 19h, Rua Visconde de Pirajá, 572, Ipanema. Com bis na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, dia 13 de junho, às 15h.
Texto: Ricardo Schott
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