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Cultura Pop

Scarlet, dos Rolling Stones: “Ué, conheço essa música…”

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Keith Richards não é lá muito fã do Led Zeppelin, não

Quando Dadi, baixista da Cor do Som, ouviu Scarlet – música “nova” dos Rolling Stones, gravada em 1974, com Jimmy Page, do Led Zeppelin, na guitarra – achou tudo muito parecido com algo que já tinha ouvido antes. Aliás, achou que lembrava bastante algo que ele já havia tocado. Isso porque no dia em 10 de janeiro de 1976, Mick Jagger, que estava no Brasil, havia gravado a mesma canção com um timaço de músicos brasileiros, incluindo o baixista.

O livro Os Rolling Stones no Brasil, de Nélio Rodrigues, conta que nesse dia, Jagger foi levado ao estúdio de 16 canais da Philips, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Chegando lá, iniciou uma uma seção de gravação com Dadi (baixo, recém-saido dos Novos Baianos e fazendo parte da banda de Jorge Ben), Antonio Adolfo (piano), Paulo Braga (bateria), Luiz Cláudio (guitarra), Neném (cuíca), Marçal (tamborim), Lula (surdo), Risadinha (pandeiro) e Canegal (ganzá). Foram várias jams que duraram até 22h daquele dia.

A música se chamava Scarlet e, garante o baixista, é a mesma canção que os Stones soltaram agora como parte do box comemorativo do disco Goats head soup (1973, falamos disso aqui). E que tem Jimmy Page, do Led Zeppelin, na guitarra.

Só que a versão gravada com a galera do Brasil continua trancada a sete chaves e nunca recebeu lançamento oficial. Dadi, Paulo Braga e Antonio Adolfo ouviram (ou reouviram) a música recém-lançada a pedido do POP FANTASMA e dividiram algumas lembranças (boas e bizarras) com a gente.

‘SCARLET’ É A MESMA MÚSICA?

DADI. “Essa Scarlet é a mesma música que a gente gravou. O Mick Jagger ficou com a fita e a mantém no estúdio na casa dele. O Mick tem o costume de fazer isso: onde vai, ele reúne músicos do lugar para gravar um som. A nossa gravação foi no estúdio da Polygram, no Rio de Janeiro. O Keith Richards tinha gravado essa versão com o Jimmy Page em 1974, e a gente gravou em janeiro, em pleno verão”.

ANTONIO ADOLFO. “Quando o POP FANTASMA me contactou e falou sobre o assunto fui então procurar ouvir Scarlet, e achei boa a música. Curiosamente a gravação deles parece não ter piano. Pode ter sido essa a mesma canção que gravamos. Eu nunca mais ouvi desde quando gravamos. Me lembro que foi uma sessão à tarde, em um sábado”.

PAULO BRAGA. “Não sabia desse lançamento dos Rolling Stones agora. Fui ouvir e realmente não lembro se foi a mesma música que gravamos com o Mick Jagger”.

‘A GENTE ENGOLE ELES’

PAULO BRAGA. “Nessa época eu gravava o dia inteiro, uma sessão após a outra. Quando a PolyGram me contactou dizendo que tinha uma gravação com o Mick Jagger… Olha, eu nessa época gostava de Genesis, Yes, Jethro Tull. Tocava com Wagner Tiso, Nivaldo Ornellas e Milton Nascimento. Ouvia também Miles Davis e John Coltrane. Então Rolling Stones era o que a gente chamava de estilo ‘rococó’. A gente dizia desses caras que ‘a gente engolia eles’, isso é, tocava muito melhor. Aquele baterista dos Rolling Stones, então, não tocava porra nenhuma!”.

ANTONIO ADOLFO. “O Mick Jagger estava no Brasil e contactou a Polygram, gravadora que representava os Rolling Stones aqui (na verdade tinha representado até 1973). E marcaram uma gravação, chamaram um pessoal que consideravam que poderia dar conta do recado”.

MICK JAGGER, UM CARA LEGAL

DADI. “A gravação era o Mick na guitarra e cantando, na minha frente. Um cara super astral, gente finíssima, nenhum estrelismo. Me ajudou a carregar o equipamento, pediu para eu fazer umas frases musicais durante a gravação, eu fazia e ele só dizia: ‘Great, man’. E para mim, como fã dos Stones desde os 13 anos de idade foi um momento inesquecível”.

ANTONIO ADOLFO. “Depois da gravação ficamos conversando com o Jagger por cerca de uma hora. A gente saiu do estúdio e foi para o hall da PolyGram onde tinha uma escadaria que subia para o outro andar. Foi aí que me surpreendi com o Mick Jagger, que eu pensava ser um cara estrelão. Mas ele foi super doce, de uma suavidade incrível, um queridão”.

PAULO BRAGA. “Me lembro que o Mick Jagger foi um cara super educado. Estava até tentando se comunicar comigo. Eu que não deixei muito, não dei muita bola para ele, na verdade eu não me ligava muito nos Rolling Stones. A gente, quando é mais jovem, é mais preconceituoso. Ele pediu para eu tocar de uma certa determinada maneira, mas eu meio que não estava respeitando muito aquele magrelo. Ele falou que o Charlie Watts era o maior baterista do mundo e eu lembro de ter dado uma risada na cara dele nessa hora. Perguntei se ele conhecia Jack DeJohnette, Elvin Jones… Mas ele respondeu que aí era outro mundo, e que para os Stones o Charlie Watts era o melhor.  Depois lembro que ele pegou uma guitarra e começou a tocar, e era uma guitarra boa pra caramba, com um suingue muito legal”.

ANTONIO ADOLFO. “Aquela época eu ouvia muito rock, morei um tempo na Europa e nos Estados Unidos, entre 1972 e 1974, e ouvia muito os Stones, ia aos concertos deles. Tenho uma imensa curiosidade de reescutar a versão de Scarlet com os músicos brasileiros, seria legal se ela fosse disponibilizada também”.

CHEGA, MICK!

PAULO BRAGA. “Eu só queria acabar logo aquela gravação, só pensava que tinha que gravar com Agnaldo Timóteo na sequência. Eu fico torcendo que eles lancem a nossa versão também, quem sabe até ainda entra mais um din-din dessa gravação, né?”

Jornalista, músico (das bandas Os Trutas e Fuzzcas) e sócio da Casa Beatles, bar especializado em Beatles, em Visconde de Mauá (RJ)

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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