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Cultura Pop

Punk por um dia: quando Bob Dylan e The Plugz fizeram uma versão garageira de “Jokerman”

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Punk por um dia: tudo sobre a vez em que Bob Dylan e The Plugz meteram distorção e barulho em "Jokerman"

Tem quem diga – e eu concordo – que se trata da aparição televisiva mais poderosa e mais inusitada da carreira de Bob Dylan. Em 22 de março de 1984, Quando o programa do apresentador David Letterman era uma novidade, ele apareceu por lá para fazer uma versão punk-garage de Jokerman, acompanhado da banda punk latina The Plugz. Olha aí.

O cantor de Like a rolling stone, recém-saído de sua trip cristã, tinha novidades: entre 28 de maio e 8 de junho de 1984 faria uma turne europeia de 27 datas ao lado de Santana, recebendo uma gama de convidados que ia de Joan Baez e Eric Clapton a Bono (U2). A junção de Dylan com o The Plugz era publicamente uma novidade, mas diz esse texto aqui que o cantor já era chapa havia algum tempo do grupo de Los Angeles, formado por mexicanos e descendentes. Tanto que a banda já vinha ensaiando há meses secretamente na casa de Dylan em Malibu.

Naquele momento, só dois integrantes originais do grupo estavam na formação: Charlie Quintana (bateria, depois tocaria no Social Distortion) e Tony Marsico (baixo), ao lado de JJ Holiday (guitarra). Antes, quem havia liderado a banda por um tempo foi o cantor mexicano Tito Larriva, aquele mesmo que depois montaria a banda Tito & Tarantula. Larriva é autor de quase todas as faixas dos dois álbuns do grupo, Electrify me (1979) e Better luck (1981). No mesmo ano de 1984 em que apareceriam no show de Letterman, o grupo teria três faixas incluídas na trilha do filme Repo man, de Alex Cox.

A aproximação do grupo com Dylan se deu por conta de Quintana, que de contato em contato, acabou participando (com uma turma de outros músicos) de um clipe do cantor, o da música Sweetheart like you.

Dylan, conhecido por ficar por aí procurando músicos jovens para tocar sem compromisso (mesmo que as demos e gravações com eles não sejam aproveitadas), convidou Quintana para tocar com ele, e depois Marsico foi parar na banda. E ainda havia JJ Holiday. A história dos Plugz com Dylan durou mais de um ano, Quintana e Marsico iam para lá para tocar músicas que duravam 15, 20 minutos (com Dylan murmurando no microfone!) e estavam recebendo dinheiro do cantor para fazer isso, num ambiente 100% profissional – o que era melhor ainda. “Estávamos acostumados a tocar nas piores salas de ensaio do mundo, e de repente estávamos tocando numa sala linda, com vista pro mar”, espanta-se Marsico aqui.

A coisa foi seguindo, Dylan batia papo com os rapazes perguntando sobre assuntos como MTV (novidade na época), até que um dia o cantor perguntou: “Já ouviram falar do programa de David Letterman? Querem ir para Nova York fazer?”. O grupo chegou lá, ensaiou pouco e a crueza do som da galera ficou garantida por isso: Quintana, Marsico e Holiday mal sabiam o que iam tocar e em que tom tudo rolaria. E além de Jokerman, ainda teve mais: o grupo tocou com Dylan Don’t start me talkin’ (Sonny Boy Williamson) e outra do cantor, License to kill. “O que estava passando pela nossa cabeça era: ‘que porra é essa?'”, conta Marsico.

Tem um vídeo de imagens de ensaio do programa, com o trio ao lado de Dylan. Como costumava acontecer na atração, Dylan & The Plugz não foram os únicos convidados. Antes deles, o pianista Liberace apareceu cozinhando. Tony diz que pediu autógrafo a ele (sua mãe era fã), Liberace não tinha uma foto para autografar e enviou o mimo pelo correio.

A parceria dos Plugz com Dylan não duraria mais muito tempo. O fato de haver uma banda jovem e meio punk tocando com Dylan começava a chamar atenção e o grupo passou a receber ofertas de gravadoras. Seis meses depois disso, o grupo muda o nome para The Cruzados, assina com uma subsidiária da EMI, grava um disco que nunca sai, mas… convidado, Dylan toca gaita numa faixa chamada Rising sun. Em 1985, os Cruzados assinam com a Arista e regravam todo o disco que estava engavetado. Sem a gaita de Dylan, dessa vez: como o cantor estava distante da banda, Paul Butterfield soprou o realejo.

Para quem gosta de caçar raridades, o Discogs diz que há um EP pirata com as três músicas da junção Dylan + The Plugz, gravadas no programa de Letterman. O mais surpreendente é a existência de uma regravação do disco Infidels, de Dylan, feita em 2020 por uma banda canadense chamada Daniel Romano’s Outfit, como se fosse o “álbum perdido” de Dylan + The Plugz.

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Relembrando: Veruca Salt, “Eight arms to hold you” (1997)

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Eight Arms To Hold You, do Veruca Salt, fez 25 anos!

Nina Gordon, cantora e guitarrista da banda americana Veruca Salt, relembrou certa vez que nem mesmo a gravadora da banda (a Geffen, que havia contratado a banda de Chicago para o selinho alternativo DGC) entendeu nada quando ela, Louise Post (guitarra e voz), Jim Shapiro (bateria, guitarra) e Steve Lack (baixo), decidiram que Bob Rock seria o cara ideal para produzir o disco novo do grupo.

Eight arms to hold you (11 de fevereiro de 1997) era o segundo disco da banda. Compositoras de canções que podem ser colocadas na gaveta do grunge, ou na da união de punk e power pop, as duas vocalistas talvez tivessem pouco a ver com o trabalho de um cara que cuidou de discos de Metallica e Mötley Crue. “Mas era o som que a gente procurava para o disco”, esclarece Nina, que com a ajuda de Bob, fez canções como o hit Volcano girls ganharem peso e ambiência de hit de rádio. E escolheram para o título do álbum o nome provisório (e descartado) do filme Help, dos Beatles.

O disco do Veruca Salt chegava um pouco atrasado ao mercado – 1997 era um ano importante para o brit pop, para grupos como Spice Girls, mas não era definitivamente um ano de guitar bands ou coisa parecida. Nina e Louise, que apresentavam suas canções no álbum em sequência (uma compunha uma, outra compunha a próxima), traziam de volta uma musicalidade tradicional de sua região, Chicago, com melodias pop associadas a guitarras altas.

O Cheap Trick, mestres nisso, eram de Rockford, cidade do mesmo estado (Illinois), distante poucas horas da capital. Os Smashing Pumpkins, igualmente de Chicago, tinham a mesma mão boa, mas seguiam um estilo diferente – e dois anos antes de Eight arms to hold you, preferiram vender milhões de cópias explorando o que restava da angústia dos anos 1990 no disco Mellon Collie and The Infinite Sadness.

Bob Rock não deu ao Veruca Salt o mesmo peso e exuberância que deu ao Metallica – mas antes de tudo, ajudou o quarteto a se tornar uma banda mais simpática do que já era, e muito bem direcionada. O produtor teve um material de primeira para trabalhar, em canções com heranças simultâneas do punk e do hard rock, como Awesome (essa, com um lado Pixies de barulho-e-silêncio bem acentuado), Volcano girls, With David Bowie (que narra uma paixão e um dating com o camaleão do rock), Stoneface, além de pelo menos um momento em que o Veruca Salt soava como a versão feminina do Nirvana de Nevermind, que era Venus man trap.

Eight arms to hold you significou sucesso moderado para a banda. E também aumentou o nível de estresse. Nina e Louise embarcaram numa briga que muita gente compara às disputas de território entre Bob Mould e Grant Hart no Hüsker Dü. A primeira saiu e preferiu ficar em carreira solo. Jim e Steve também debandaram. Sobrou Louise, sozinha com o nome Veruca Salt, e já sem contrato com a Geffen.

Resolver, o excelente disco seguinte (2000), trazia Louise acompanhada por outros músicos, e contratada pelo selo independente Beyond Records. Mas o Veruca Salt depois enterrou diferenças e disputas musicais (além de questões pessoais), e retornou com a formação de Eight arms no disco Ghost notes (2015). O grupo ainda existe e lançou recentemente um álbum com as demos feitas entre o segundo e o terceiro álbuns, But I love you without mascara (Demos ’97-’98). E permanece uma ilha de guitarras e melodias grudentas em meio às mudanças no universo pop-rock.

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Relembrando: Yoko Ono, “Season of glass” (1981)

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Relembrando: Yoko Ono, "Season of glass" (1981)

Complicado falar de um disco que, pelo menos até a publicação deste texto, não está nas plataformas digitais – pelo menos pode ser escutado no YouTube. Mas vale (e muito) relembrar Season of glass, quinto disco de ninguém menos que Yoko Ono, lançado no dia 3 de junho de 1981 no Reino Unido, e dia 12 nos EUA.

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Season of glass, por sinal, causou foi polêmica. Para começar, foi o primeiro disco da cantora e artista plástica japonesa lançado após o assassinato de seu marido John Lennon, em dezembro de 1980. A capa do disco trazia justamente os óculos que John usava no momento de sua morte, e que (por conta dos tiros que ele levou) havia ficado com as lentes manchadas de sangue. Ao lado dele, um copo d’água pela metade.

Yoko foi bastante cobrada por fãs e por jornalistas por ter feito isso. “O que eu deveria fazer, evitar o assunto?”, disse ao New York Times numa matéria publicada dois meses depois do lançamento do álbum. “Muitas pessoas me disseram que eu não deveria colocar aquela foto. Mas eu realmente queria que o mundo inteiro visse aqueles óculos com sangue neles e percebesse o fato de que John tinha sido morto. Não era como se ele tivesse morrido de velhice ou drogas, ou algo assim”.

“As pessoas me disseram que eu não deveria colocar os tiros no disco, e a parte em que começo a xingar: ‘Me odeie, nos odeie, nós tínhamos tudo’, foi apenas deixar esses sentimentos saírem. Eu sei que se John estivesse lá, ele teria sido muito mais franco do que eu. Ele era assim”. Aliás, a gravadora de Yoko na época, a Geffen, chegou a dizer a ela que as lojas evitariam ter o disco em estoque – porque a imagem era “de mau gosto”. Seja como for, Yoko alegou que a única coisa que ela conseguiu salvar de John após levarem seu cadáver tinham sido justamente os óculos dele. “Isso é o que ele é agora”, disse.

A tal música cheia de xingamentos é I don’t know why. E ela foi feita justamente quando Yoko viu que não iria conseguir dormir por causa de uma romaria de fãs à porta do edifício Dakota, onde morava com John, logo após a morte dele. Durante dez dias, Yoko escutou os admiradores do ex-beatle tocando na rua o disco Imagine, ininterruptamente.

“Uma noite eu comecei a me perguntar por que, por que era assim, e de repente aquela pergunta se tornou uma música. Eu não tive forças para me levantar e ir ao piano. Então apenas cantei em um gravador que tinha ao lado da cama. Quando estava cantando eu sabia exatamente qual seria o arranjo, até mesmo a parte em que eu estaria xingando”, contou ao New York Times.

A sombria No no no ganhou clipe, que abria com o som de quatro tiros e Yoko gritando. A versão que foi para o álbum excluiu os tiros. No fim da música, o então pequeno Sean, filho do casal, aparecia contando uma história que seu pai contara para ele. “Sean estava comigo durante toda a produção do álbum. E sua voz, aqueles tiros… Essas são as coisas que ouvi. Tudo o que fiz sempre foi diretamente autobiográfico, e esses sons eram a minha realidade”, contou.

Aliás, em 2020, Yoko deu entrevista para o site American Songwriter e o papo descambou para Season of glass. A cantora considerava o estado de espírito do disco ainda atual. O repórter notou que na contracapa, o copo da capa aparecia cheio, em vez de meio vazio. Eram outros tempos, meses após a morte de Lennon. “Você notou? Muito poucas pessoas notaram isso”, afirmou.

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Relembrando: Tad, “8-way santa” (1991)

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Relembrando: Tad, "8-way santa" (1991)

Banda liderada por uma personagem-testemunha do grunge, Tad Doyle, o Tad costuma ser esquecido quando o assunto é a onda de Seattle nos anos 1990. Injustiça: o grupo foi, ao lado do Nirvana, o responsável pela passagem de bastão do rock alternativo dos anos 1980 para os 1990 – mais ou menos como bandas como Joy Division, Killing Joke e o U2 do começo também foram em relação ao fim dos anos 1970. Se o Mudhoney mexia no baú dos lados Z sessentistas e o Nirvana era power pop destrutivo, Tad era um Black Sabbath pós-punk, cruzando riffs e batidas localizadas entre os anos 1970/1980.

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Cantor, guitarrista e, durante uns tempos, multi-instrumentista de sua banda, Tad Doyle é daquelas figuras que observam o tabuleiro do mercado musical por vários lados diferentes – na adolescência, chegou a tocar em bandas de jazz e depois estudou música formalmente, na faculdade. O Tad acabou virando um dos primeiros nomes assinados com a Sub Pop, pouco depois da empresa pular da condição de zine para a de selo. Ficou claro desde o começo que as especialidades de Tad Doyle (voz, guitarra), Gary Thorstensen (guitarra), Kurt Danielson (baixo) e Steve Wied (bateria), formação original, eram som pesado e provocação. E isso logo a partir do primeiro disco, God’s balls (1989), produzido por Jack Endino.

Salt lick, EP de 1990 – reeditado depois como álbum cheio – já foi concebido pelo grupo ao lado de um agente provocador daqueles: o recém-ido Steve Albini. Já 8 way santa (1991), terceiro álbum do grupo, foi o melhor momento da fórmula musical do Tad, abrindo com a pesada Jinx, e prosseguindo com encontros entre Black Sabbath e Killing Joke na fase anos 1980, em Giant killer e Wired god.

O álbum foi produzido por Butch Vig três meses antes dele pegar firme em Nevermind, do Nirvana – o que torna Tad um exemplo de banda que trabalhou com todos os integrantes da santíssima trindade dos produtores do rock alternativo norte-americano. O material não apenas de 8 way santa quanto dos outros discos de Tad poderiam ser colocados tranquilamente na gavetinha do stoner rock – embora haja certo domínio de linguagens não muito comuns ao estilo, como da criação de melodias mais próximas do som de bandas como Joy Division e Hüsker Dü (como acontece em algumas passagens de Delinquent e Flame tavern) e uma abordagem mais próxima do punk em certas faixas (como em Trash truck).

Uma sonoridade mais próxima de discos do Sabbath como Master of reality (1971) surge em Stumblin’ man e Candi. Já 3-D witch hunt, com violões quase hispânicos (e discretos) poderia estar no repertório do New Model Army ou do The Cure. No final, o punk de Crane’s cafe e o pós-punk Plague years, quase uma Plebe Rude/Gang Of Four grunge, combinando guitarras e violões suaves, riffs marcantes e vocais quase totalmente livres de drive (exceção no álbum).

8 way santa teve seu lançamento prejudicado pela capa original. A foto “do bigodudo agarrando uma garota” (como a própria banda definiu), e que havia sido encontrada pela banda num álbum de fotos comprado num sebo, teve que ser trocada assim que os personagens da imagem, que não haviam sido consultados, viram o disco nas lojas. Não só isso: a faixa Jack, o relato de um passeio bêbado – e perigoso – da banda numa pick-up em cima de um lado congelado, chamava-se originalmente Jack Pepsi, numa referência à mistura de uísque e refrigerante que embalou a aventura. Só que a faixa desagradou à Pepsi, e o grupo precisou mudar o título em edições seguintes.

A busca de “novos Nirvanas” chegou até o Tad depois de 8-way santa e o grupo foi contratado pela Giant, novo selo lançado pela Warner. Inhaler (1993), comparado com os outros discos, não trazia nada de tão novo – mas soava como primeiro álbum para quem desconhecia o grupo. O grupo bandeou-se para outro selo da Warner, o EastWest, e lançou Infrared Riding Hood (literalmente, “Chapeuzinho Infravermelho”), seu último disco, em 1995.

Nessa época, estava mais claro para o mercado que Tad era uma banda de “metal alternativo”, um rótulo que, dependendo da banda, servia mais como camisa de força do que como definição. Mas o Tad encerrou atividades por esse período, de qualquer modo. Hoje em dia, Tad Doyle lança trabalhos solo, é produtor, dono de estúdio e tem até Linkedin.

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