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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

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Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

Butch Vig, que produziu dois discos dos Smashing Pumkins (Gish, de 1991, e Siamese dream, de 1993), costumava dizer que Billy Corgan, vocalista, guitarrista e compositor dos Smashing Pumpkins, era “um pentelho no estúdio”. E isso porque o produtor de Nevermind, clássico do Nirvana (1991), nem trabalhou com a banda no CD duplo (e LP triplo) Mellon Collie and the infinite sadness (1995).

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

Nesse disco, chegou no auge a obsessão de Corgan por experimentações de estúdio, por gravar e regravar diversas partes, e por investir numa sonoridade “bolo de noiva”, incomum a bandas indies. Todavia, Mellon Collie costuma ser definido pelos outros integrantes da banda (D’Arcy Wretzky no baixo, James Iha na guitarra e Jimmy Chamberlin na bateria) como tendo sido um álbum de elaboração mais tranquila que os antecessores. Afinal, no novo disco, pelo menos Corgan não resolvera morar no estúdio. Ou pressionar seus companheiros até causar estresses graves (e problemas de relacionamento mais graves ainda). Principalmente, não resolveu regravar todas as partes de guitarra e baixo porque não gostou das colaborações dos coleguinhas (isso aconteceu em Gish).

SEMIACÚSTICO

Diz a lenda que Corgan não curtiu o som de seus pedais quando Siamese dream foi levado para os palcos. Daí o objetivo principal do cantor, compositor e déspota dos Smashing Pumpkins era fazer com que o disco tivesse o poder da banda ao vivo. Sobretudo, com tons alternando momentos acústicos e elétricos, na mesma dualidade calma-e-pesada dos shows da banda.

Outra vontade do compositor era, finalmente, pôr no disco uma série de pensamentos que rondavam sua cabeça desde que era bem novinho – Mellon Collie era basicamente um tratado sobre amadurecimento, autoestima e raiva adolescente. Da mesma forma, era igualmente importante continuar na dianteira do “rock alternativo” (muito entre aspas, porque entre 1995 e 1998 houve pouca coisa tão mainstream no estilo do que os Pumpkins). E permanecer sendo o porta-voz de uma juventude oprimida e indefesa. Conseguiu: Mellon Collie and the infinite sadness vendeu a rodo, estourou hits como 1979 e Tonight, tonight. E, enfim, se tornou “aquela obra” que resume todo o trabalho de um artista.

FESTA DA MELANCOLIA

O clássico Mellon Collie completou 25 anos agora mesmo, dia 24 de outubro. A ideia da banda era comemorar o niver com shows, mas a pandemia do coronavírus impediu, e tudo ficou adiado para 2021. Por fim, vem mais aí: a banda vai lançar uma continuação do disco, no segundo semestre do ano que vem, com mais 33 (!) canções.

Entramos na comemoração e segue aí nosso relatório sobre o disco. Leia ouvindo. Ouça lendo.

DILEMA. Sujeitinho problemático por natureza, Corgan dava voltinhas na sala na época de Mellon Collie and The Infinite Sadness. O sucesso de Siamese dream tinha feito com que tanto a crítica, quanto a própria gravadora (Virgin), não deixassem de achar que havia algo meio estranho naquela banda de aparência e musicalidade incomuns. Isso mexia com demônios (muito) internos do cantor.

COMO ASSIM? O próprio Corgan te explica. “Fui criado em uma casa onde nada nunca era bom o suficiente e, quando cheguei ao topo, esperava que finalmente fosse tipo, ‘OK, Billy, você está no clube’. Mas não funciona assim. Uma crítica muito comum para Mellon Collie era: ‘O astro do rock mais improvável. Como esse cara chegou aqui?’. Era como estar em um livro de Kafka. Eu ficava pensando: ‘Quando vai ficar bom o suficiente?’ Psicologicamente, foi devastador”, desabafou.

TINHA CONCEITO EM ‘MELLON COLLIE’? Bom, tinha e não tinha. Corgan pessoalmente não gostava do termo “disco conceitual” e dizia que o novo álbum era bem mais “vago” que os anteriores. Mas dividiu os dois CDs de Mellon Collie em “dia” (ou “dawn to dusk”) e “noite” (ou “twilight to starlight”). Em entrevistas, dizia que basicamente pensava em expressar tudo o que se passa na cabeça de um garoto de 14 anos. “Estou dando tchau para mim no espelho retrovisor, dando um nó na minha juventude e colocando-a debaixo da cama”, afirmou. Além disso, afirmou que Mellon Collie é um disco baseado na “condição humana da tristeza mortal”.

ALIÁS E A PROPÓSITO, nas primeiras entrevistas que Billy deu para explicar qual era a do disco, ele costumava chamar Mellon Colllie de “The wall da geração X”, numa referência à ópera-rock do Pink Floyd (1979).

IDADE DE OURO. Em entrevistas, Billy Corgan revelava que sua adolescência tinha sido mais próxima possível do que se entende como “normal”. Mas que não se identificava com grupo nenhum. Ele chegou a fazer esportes, mas não andava com os esportistas. Ouvia rock e tocava guitarra, mas não era amigo dos doidões da turma. “Não conseguia me adaptar de forma alguma. Se você é jovem e é assim, vira o oponente. Então eu era o anti-qualquer coisa, foda-se”, revelou.

ZERO. Se você era fã de rock nos anos 1990 e consumia revistas de música, deve ter visto milhares de vezes a icônica foto de Billy Corgan com uma camisa preta onde se lia a palavra “zero” em letras prateadas. Era o nome da primeira música a ser gravada para o disco, que também ganhou single e clipe. A camisa era um modelo fora de linha de uma empresa de skate chamada Zero Skateboards. E virou o uniforme de Corgan, usada por ele em shows, em clipes (o de Bullet with butterfly wings) e numa foto do encarte de Mellon Collie.

O POVO QUER SABER. Entrevistado para a Spin em junho de 1996 – quando Mellon Collie já era um best seller – Corgan ouviu do repórter Craig Marks a pergunta que não queria calar: quantas camisas “zero” ele tinha? “Bom, mais de uma, obviamente. O super-herói precisa de um uniforme”, disse.

“ZERÓIS” DO ROCK. A mesma Spin revelava que os fãs tinham se identificado bastante com o “zero”. Tanto que num show que os Pumpkins haviam feito no Japão, em fevereiro de 1996, camisas com a palavra eram vendidas por 3.500 yens. Aliás, vale dizer que o fato de a camisa estar fora de linha fez uma turma enorme começar a piratear a peça.

PRODUTORES QUERIDOS. Para “sair da zona de conforto”, Corgan decidira em Mellon Collie não repetir a dobradinha com Butch Vig – que, de todo jeito, já estava ocupado demais tramando o lançamento de sua banda, Garbage. Mark “Flood” Ellis, que trabalhara com U2, Depeche Mode e PJ Harvey, e Alan Moulder (que mixou Siamese dream) foram os escolhidos para orientar a banda numa jornada de trabalho que durou dez meses, com 12 a 16 horas de trabalho por dia (!). Corgan dividiu os trabalhos com a dupla.

ALIÁS E A PRÓPÓSITO, nos últimos dias de Mellon Collie, dizem testemunhas, a banda mal dormia, ocupando o estúdio por vinte horas (!).

MUDOU TUDO. Lá para abril de 1995, a banda começou a gravar Mellon Collie, só que num método de trabalho completamente diferente. Em vez de um estúdio convencional, ocuparam seu espaço de ensaio em Chicago, a Pumpkinland. A ideia inicial – soprada no ouvido da banda por Flood – era que os músicos produzissem demos, mas o material acabou servindo de base para tudo que se ouve no disco. Flood também incentivou a banda a dedicar tempo a jams e composições novas.

VOZ DA EXPERIÊNCIA. O rodado Flood também foi fundamental numa séria mudança de paradigma dos Smashing Pumpkins. A banda se sentiu compelida a perder os próprios preconceitos em relação a certos estilos musicais.

ROLOU MARLEY. “Ele te ensinaria a enfrentar seus próprios medos, que te impedem de entrar em algo”, contou Corgan. A dada altura, Flood sugeriu à banda tentar até uma levada de reggae (estilo que, de fato, nada tem a ver com os SP) numa faixa. “Flood faria você enfrentar esses preconceitos internos, do que é legal e do que não é”.

DUPLA. O fato de terem dois produtores para gravar o disco fez com que a banda mudasse algumas técnicas comuns de gravação. Antes, ainda que Billy Corgan adorasse gravar 200 partes de guitarra e vocais, a banda usava apenas uma sala para tudo, deixando músicos ociosos e estressando o processo. Quem precisasse gravar, que ficasse esperando. Dessa vez, a banda usou duas salas de gravação: Flood ia para a sala A com Corgan, e Moulder para a sala B com Iha e D’Arcy. Isso foi fundamental para que o clima melhorasse e as tendências tirânicas de Corgan fossem reduzidas. Em seguida, a turma se mudou para o Chicago Recording Company.

DIGITAL E ANALÓGICO. A mistura dos dois processos deu samba. Ou melhor: deu grunge progressivo com músicas de dez minutos. Flood gravava Corgan numa placa MCI e Moulder cuidava do ex-casal D’Arcy e Iha à base de gravadores de fita digital Tascam e Pro-Tools.

CORTA E COLA. Por causa disso, alguns milagres foram conseguidos com rapidez, como a combinação das setenta (!) partes de guitarra de Thru the eyes of Ruby. E a união das seis partes diferentes (gravadas com instrumentos e microfones igualmente diferentes) da quilométrica Porcelina of the vast oceans.

DÁ PRA FALAR MAIS ALTO? Corgan recorda-se de que, para garantir que Mellon Collie soaria como nos palcos, as gravações transcorriam em volumes ensurdecedores no estúdio. “Era fisicamente desconfortável. Seus ouvidos, sua resistência emocional, se desgastariam”, admitiu o músico. Por outro lado, Flood (aproveitando-se da experiência adquirida com o U2) descobriu que Corgan se soltava como cantor quando não usava fone de ouvido. Pôs caixas na frente dele e um microfone em sua mão.

BATERA. Além disso, Jimmy Chamberlin, baterista com treinamento em big bands, entrou na neura de Corgan por microfonações diferentes, e passou a alternar microfones para gravar músicas. Isso, na medida em que queria que os tambores e pratos soassem com mais ataque ou “como uma seção rítmica”.

ALIAS E A PROPÓSITO, os drum rolls de Tonight tonight, a segunda faixa do disco, foram feitos numa caixa Ludwig Supra-Phonic de 5 1/2 x 14 polegadas, do próprio Jimmy. Que por sinal pode ser sua pela bagatela de R$ 1.654,59. Afinal, o músico pôs várias peças clássicas de sua coleção à venda há alguns anos.

GRANDE COMPOSITOR. Corgan compôs praticamente tudo em Mellon Collie, menos as quietas Take me down e Farewell and goodnight, de Iha. O guitarrista assinava alguns lados B da banda e era tido como uma arma secreta dentro do grupo, mas Corgan o deixava de fora de quase todo o processo criativo. “Eu gosto dele, mas muitas vezes as composições de Iha não se encaixam no conceito do disco. Em outras ocasiões, elas são ruins”, chegou a dizer Corgan à Rolling Stone.

CONFESSIONAL. O tom pessoal das letras de Mellon Collie acabou arrebanhando mais fãs para o grupo, sobretudo pelo aspecto impenetrável de algumas músicas. Num texto, o site Genius chama a atenção para o fato de que há várias especulações sobre o nome da acústica Stumbleine – Billy Corgan diz que é um nome de mulher, e vários fãs creem ser uma referência a Thumbelina, conto de Hans Christian Andersen. A pesada X.Y.U., definida por James Iha como “perturbadora”, teria este título porque para o narrador, tudo termina com o “você” (you, ou a letra U, substituindo Z, última letra do alfabeto). Enquanto a Porcelina de Porcelina of the vast oceans é uma “amante esquiva” que balança o sistema de crenças de seu amado, e o leva até onde ela quiser.

CAPA. O rico material que você vê no trabalho gráfico de Mellon Collie partiu de colagens feitas por um artista de Pittsburgh, John Craig. A banda chegou até ele por sugestão do diretor de arte do disco, Frank Olinski. Inicialmente, ele faria apenas as ilustrações internas, mas a banda curtiu seu trabalho e ele acabou fazendo tudo.

COMO FOI FEITO. Corgan mandava esboços e anotações por fax, e Craig tentava trazer aquilo à vida, seja por intermédio de colagens ou de ilustrações. Para unir tudo, Craig usou uma fotocopiadora colorida. “É o CSI das capas dos álbuns”, disse Craig. “Em qualquer colagem, estou sempre testando todas as possibilidades”.

GAROTA DA CAPA. Aquela moça sonhadora do invólucro de Mellon Collie também é uma das colagens de Craig, por sinal. O rosto dela veio de uma pintura intitulada The souvenir (Fidelity), do francês Jean-Baptiste Greuze (1725-1805). Já o corpo veio do retrato de Santa Catarina de Alexandria pintado pelo renascentista Rafael (1483-1520).

Várias coisas que você já sabia sobre Mellon Collie, dos Smashing Pumpkins

PERGUNTAS. O site Illustration Chronicles entrevistou Craig, fez um belo texto e encerrou com ideias interessantes sobre porque a capa de Mellon Collie é tão atraente. “As ilustrações são misteriosas. Eles sugerem histórias e narrativas e o convidam a encontrar suas próprias interpretações. Quem sabe para onde está indo a garota da capa? Quem pode dizer por que ela está triste? E quem pode dizer aonde essa melancolia a levará? Por essas razões, as ilustrações de Craig funcionam. E é por causa disso que a garota se tornou um ícone indelével na história da música e da ilustração”, escreveram lá.

SAIU! Mellon Collie and the infinite sadness chegou às lojas no dia 24 de outubro de 1995. Embora houvesse muita melancolia no disco, era hora de festa. A banda deu um show no Riviera Theatre e fez uma transmissão de rádio na noite anterior, para celebrar o lançamento. O álbum chegou ao número 1 da Billboard na semana seguinte. E por fim, juntou-se ao seleto grupo (The wall, Thriller, Rumours) de clássicos agraciados com um disco de diamante (mais de 10 milhões de cópias vendidas). Ou seja: aquele disco que dá a impressão que “todo mundo tem” em casa, e que quase todos os fãs de rock já viram a capa ou conhecem pelo menos uma música. E que, por fim, de vez em quando vira viral.

O VINIL QUE SUMIU. Como era comum nos anos 1990, Mellon Collie ganhou uma versão em vinil (triplo!), que não ficou muito tempo nas lojas e teve apenas três mil cópias prensadas. O disco já ganhou alguns relançamentos. Entre eles um box que está hoje nas plataformas digitais, com quase seis horas de duração (!) e boa parte do material que a banda gravou nas sessões.

CLIPES. Cada single de Mellon Collie ganhou um clipe: Bullet with butterfly wings, 1979, Tonight tonight, Zero e Thirty three. O de 1979 marcou época por trazer adolescentes vida loka se divertindo num Dodge Charger, zoando numa festa e arrumando encrenca na rua. Todos os integrantes fazem pontas (Corgan aparece o tempo todo no banco de trás de um automóvel). E a banda toca numa cena de festa. Aliás, o vocalista declarou que, na concepção original dele, o clipe seria bem mais destrutivo. “A loja de conveniência terminaria destruída, por exemplo”, conta.

MAS COMO VOCÊ DEVE SABER, o clipe de 1979 quase não sai porque a equipe esqueceu as fitas com as imagens em cima de um carro. O material sumiu quando o motorista arrancou com o automóvel. A banda já estava em Nova York para um show e precisou voltar para Chicago para refazer a cena da festa.

ALIÁS E A PROPÓSITO, no meio da turnê de Mellon Collie, Corgan tomaria uma decisão da qual se arrependeria amargamente. Continuou com o giro mesmo após o tecladista de turnê, Jonathan Melvoin, morrer de overdose em 11 de julho de 1996, enquanto tomava heroína com Jimmy Chamberlin.

MAS O QUE HOUVE? Desacordados, os dois tomaram injeção de adrenalina no coração (que nem na famosa cena de Pulp fiction, de Quentin Tarantino) mas o tecladista não resistiu. O batera foi preso por posse de heroína e expulso. Mas ficou na turnê até o fim, “senão quem fica na roubada somos nós”, decretou Corgan.

POR SINAL, Melvoin (34 anos em 1996) já era mais velho e bem mais experiente que os patrões. Iniciara a carreira como baterista de bandas punk, como The Dickies. Depois que se profissionalizou, integrou o The Family, um dos projetos de Prince, que fez a primeira versão de Nothing compares 2 U, aquela mesma que Sinéad O’Connor transformaria em hit em 1990. Suas irmãs, as gêmeas Susannah e Wendy Melvoin, integravam uma das bandas do cantor, The Revolution. E o próprio Prince homenageou Melvoin com a canção The love we make.

MAS Chamberlin acabou fazendo falta ao grupo, como o próprio Corgan admitiu. Lá por 1998, gravando Adore, a banda recorreu a um pequeno rodízio de bateras. Em seguida, os Smashing Pumpkins, já com Jimmy de volta, gravariam Machina/The machines of God em 2000, seguido de Machina II/The friends & enemies of modern music, do mesmo ano – este último, dado de graça para fãs baixarem na internet.

ADOLESCÊNCIA FELIZ. Aproveitando o hit 1979, a Spin perguntou a Corgan, Iha e D’Arcy… como era a vida deles em 1979. Iha morava no subúrbio de Chicago e passava o dia, principalmente, indo às casas de amigos e “rindo dos clipes de Prince e Bruce Springsteen na MTV, que nem Beavis & Butthead. Não era uma existência ruim, mas esteticamente falando, não era dos melhores lugares para se estar”. D’Arcy tocava oboé e violino, fazia atletismo e, certa vez, foi tirada da escola pelos pais para viajar pelo México, Texas e Arizona. Corgan, aos 12, era um garoto grandão (maior que seus colegas de classe) que jogava baseball. Aos 14, já estava tocando guitarra.

E já que você chegou até aqui, talvez curta relembrar que uma banda brasileira de Goiânia, Réu e Condenado, parodiou o trabalho gráfico de Mellon collie no disco Um compêndio lírico de escárnio e dor, de 2005.

ALIÁS pega também os Smashing Pumpkins lançando Mellon Collie… no palco do festival Hollywood Rock, no Rio, em janeiro de 1996. Pois é: para o público brasileiro, o duplão dos SP teve uma vantagem em relação a The wall, Rumours e outros best sellers de diamante. Os fãs puderam ver o material do disco ao vivo e a cores por aqui imediatamente (eu tava lá).

Com informações de Music Radar, Uncut, Stack e Spin.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince). E a Paranoid (Black Sabbath). E a Tango in the night (Fleetwood Mac).
– Além disso, demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Smashing Pumpkins no POP FANTASMA aqui.

Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world”

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world”
  • Songs of a lost world é o décimo-quarto álbum de estúdio do The Cure, e o primeiro disco de inéditas da banda desde 2008. O álbum foi adiado por bastante tempo – inicialmente, seria lançado em 2018, quando a banda completou 40 anos. Cinco canções do álbum foram tocadas ao vivo em 2022 e 2023 durante a turnê mundial Shows of a lost world.
  • Sobre o adiamento do disco, Smith chegou a afirmar numa entrevista em vídeo que isso “era um grande plano, mas grandes planos geralmente não funcionam muito bem, na minha experiência. O disco não estava realmente sendo feito pelas razões certas”.
  • “A demo da música mais antiga deste álbum foi feita em 2010. Elas se estendem ao longo de todo esse tempo. A maioria delas, provavelmente cinco, foi escrita desde 2017. Três delas: uma foi em 2010, outra em 2011 e outra entre 2013 ou 2014. Havia muitas músicas para escolher. Gravamos cerca de 25 ou 26 músicas em 2019. Gravamos três álbuns em 2019, esse sempre foi o problema”, disse também Smith, garantindo que há pelo menos mais dois discos vindo por aí.

Não deveria causar surpresa o fato de um disco do The Cure ser bastante desafiador, depressivo, quase anti-pop em vários momentos – como rola com este Songs of a lost world. Robert Smith e seus colegas de banda nunca foram de fazer sempre a mesma coisa, passaram por vários estilos musicais e por vários estados de espírito, às vezes num mesmo disco.

E, desde a época do álbum Three imaginary boys (1979), o Cure está em busca de uma solução para um dilema que sempre vai fazer sentido: como colocar as tristezas da vida numa canção pop feita para tocar no rádio, rolar na pista de dança e ser cantada pelas pessoas a plenos pulmões? Outra dúvida: como uma banda que originalmente foi feita para falar de vulnerabilidades, estranhezas, corações partidos e climas pesados pode ousar fazer parte da decoração da cultura pop?

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  • Temos episódio do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, sobre The Cure.

Esse segundo dilema sempre foi respondido pelo Cure sem muitas dificuldades. Até porque vamos combinar que música pop é exatamente sobre tudo isso aí – Roberto Carlos que o diga, aliás. A sonoridade da banda conseguiu não envelhecer, influenciou até quem não se imagina influenciado por eles, e as músicas do Cure praticamente estabeleceram uma estética de sofrimento, iluminação, conforto e virtude – um ecumenismo que você acha, não necessariamente nessa ordem, em canções do grupo como Close to me, Boys don’t cry, Charlotte sometimes e até na felicidade momentânea de Friday I’m in love.

Já a primeira questão (a da tristeza virando pop de rádio e de pista) já foi algo para o qual o Cure deu de ombros em alguns momentos. Mas também já foi uma meta a ser alcançada a partir da metade dos anos 1980. Especialmente em discos como The head on the door (1985), Kiss me, kiss me, kiss me (1987), Disintegration (1989) e Wish (1992). Ou até mesmo no The Cure de 2004, o disco de “rock alternativo” (no sentido da formatação norte-americana) do grupo.

Songs of a lost world, por sua vez, está mais para esse “dar de ombros” sem culpa. Mas é justamente o lado pop do The Cure que alivia qualquer tipo de estranhamento, num disco povoado por canções enormes, climas tempestuosos e letras que soam como cartas de despedida, ou confissões de desespero total.

Alone, a faixa de abertura, que curiosamente lembra o Machina: The machines of god, dos Smashing Pumpkins (disco de 2000, que já lembrava o Cure), é auto-explicativa, e já abre com o verso “este é o fim de cada canção que cantamos”. Nothing is forever, capaz de dar um nó na garganta até do/da fã menos sensível, é uma súplica (“prometa que você estará comigo até o fim/diga que estaremos juntos e que você não vai esquecer”) cercada por discretas guitarras e por teclados que, rearranjados, poderiam estar num disco do Péricles ou do Belo.

O Cure ganha um certo aspecto de banda de terror na ligeiramente dançante A fragile thing, e na marcial, ruidosa e quase metálica Warsong. E faz dançar de verdade em Drone: nodrone, que lembra eles mesmos no começo dos anos 1980. Se há quem já esteja achando até traços de rock progressivo (ah cara, não fode!) em Songs, vale dizer que I can never say goodbye, outro hit de despedida, lembra o panorama eterno do Pink Floyd no chatinho Endless river (2014) – mas só lembra, de longe. All I ever am, uma das melhores do disco, une teclados emocionados e batidas gélidas.

Finalizando, a muito apropriada Endsong é um art rock que dura 10:23, e lembra o clima das produções de Brian Eno. Nesta música, Robert Smith só solta a voz aos quase sete minutos, em versos de teor quase destrutivo sobre um final em que nada resta (“tudo se foi, tudo se foi/eu vou me perder no tempo/não vai demorar”).

Ainda que Songs of a lost world seja um disco extremamente triste, e praticamente seja um álbum conceitual sobre finitude, soa como aqueles momentos em que alguém vai embora, olha para trás e dá um tchauzinho. No novo lançamento, o Cure já realizou uma apresentação especial de três horas exibida no YouTube, fez as paradas de sucesso tremerem com Songs, anunciaram que já tem até dois discos novos vindo por aí, e mesmo mirando o próprio fim, Robert Smith confessou que a banda não sumirá dos palcos, pelo menos, até 2028 (por sinal, um ano antes de Smith completar 70 anos). Despedidas extensas vêm fazendo sucesso no mundo do rock – o Sepultura que o diga – e The Cure talvez não faça muito diferente disso.

Nota: 8,5
Gravadora: Fiction/Universal

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Crítica

Ouvimos: Charli XCX, “Brat and it’s completely different but also still brat”

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Ouvimos: Charli XCX, “Brat and it’s completely different but also still brat”

Vai chegar o momento em que as pessoas vão fazer como acontece depois de qualquer tipo de onda, e vão recordar a era de Brat, disco de 2024 de Charli XCX, com carinho, com afeição ou até como um barômetro de seu tempo. Assim como (e isso aconteceu até com os imitadores de Sgt Pepper’s em 1967/1968) muita gente vai se perguntar: “Como é que a gente foi achar legal esse negócio de um disco ter uma capa que até meu sobrinho de 7 anos poderia fazer no canva? Ou essas reedições com títulos engraçadinhos? E como tanta gente gostou disso?”

Enquanto isso não acontece – e vale citar que o dicionário Collins já escolheu “brat” como palavra do ano de 2024 – Charli XCX já aproveita para recauchutar seu sexto disco, lançado originalmente em 7 de junho, pela terceira vez. Já havia saído uma edição com três faixas a mais. E dessa vez, Brat and it’s completely different but also still brat transforma as dezoito faixas associadas ao disco numa verdadeira maratona. E numa festa.

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  • Resenhamos Brat aqui.

O álbum duplo traz o material regravado, mudado e remixado por vários convidados, entre nomes novos e veteranos. Robyn e Yung Lean acrescentam seus versos e nomes a 360. Ariana Grande elenca as cascas de banana da fama em Sympathy is a knife, ao lado de Charli – com direito a frases ótimas como “é uma facada quando seu amigo começa de repente a pisar em você”, ou “é uma facada quando alguém diz que gosta mais da minha velha versão do que da nova/e eu penso: quem é ela, porra?”. Billie Eilish responde a Charli em Guess e marca presença no pop sáfico. Essas duas últimas são as únicas versões que valem como “grande e indispensável complemento ao original”.

Algumas coisas foram feitas propositalmente para desconstruir as noções de hit do original: I might say something stupid virou ambient nas mãos de Jon Hopkins e The 1975, e Bon Iver deu uma cara melancólica a I think about it all the time. O rapper sueco Bladee aumenta a lista de estresses da fama em Rewind, e Charli XCX confessa nos novos versos que acrescentou, que o dinheiro e a vida em Los Angeles (ela vive lá e em Londres) fizeram com que ela se tornasse “mais competitiva”.

Muita coisa no Brat reimaginado não influi nem contribui, mas não chega a ser ruim. Só que tem o lado chato, aliás chatíssimo: Julian Casablancas pegou Mean girls, uma das melhores músicas do disco, e transformou num indie-pop cagado com vocal de autotune, e a rapper espanhola BB Trickz diminuiu a velocidade de Club classics e só dá mais vontade de ouvir o original, mesmo. Por sinal, Brat and it’s completely different but also still brat vem com o Brat deluxe no disco 2, e reouvindo, dá para perceber o quanto o álbum de Charli é um hype dos mais justificados. Tem festa, sexo, doideira, vícios, saudade dos amigos, redes sociais, as nostalgias dos millennials, e um pop que vai do sombrio ao festeiro em pouco tempo – e de fato, é um barômetro comportamental de 2024, ou deveria ser.

Nota: 7
Gravadora: Atlantic.

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Cultura Pop

No podcast, Sparks da pré-história à era de “Kimono my house”

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No nosso podcast, Sparks, da pré-história à era de "Kimono my house"

Sparks, a melhor banda que você nunca ouviu, mas da qual já ouviu falar. Uma banda que na verdade é uma dupla – e uma dupla de irmãos. Russell Mael (o vocalista extrovertido) e Ron Mael (o tecladista introvertido de bigode) já atravessaram mais de cinco décadas fiéis às suas concepções de música e de espetáculo. Em discos como o clássico Kimono my house (1974), os Sparks fizeram pós-punk, new wave e synth pop antes do punk surgir – e adiantaram até mesmo o som do indie rock dos anos 2000.

E hoje no Pop Fantasma Documento, nosso podcast, você vai conhecer tudo que você sabe, não sabe e deveria saber sobre uma das bandas mais instigantes do mundo do rock, da pré-história até o auge. Ouça no volume máximo.

Século 21 no podcast: Immoral Kids e Dani Bessa.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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