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Cultura Pop

Relembrando: Meco, “Music inspired by Star Wars and other galactic funk” (1977)

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Relembrando: Meco, "Music inspired by Star Wars and other galactic funk" (1977)

Em 25 de maio de 1977, o músico e produtor ítalo-americano Meco resolveu assistir ao filme Star wars logo em seu primeiro dia de exibição. Gostou tanto, que viu o filme de novo mais outras vezes no dia seguinte, uma sexta-feira. Ainda completou com mais exibições durante o fim semana. E teve uma ideia: por que não transformar aquilo em disco music? Foi aí que nasceu Music inspired by Star Wars and other galactic funk, de 1977. A música – um redesenho disco em cima da trilha composta por John Williams para o filme – você já ouviu de trilha sonora em vários programas de TV no Brasil (Silvio Santos vivia usando).

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A paixão por Star Wars e pela trilha do longa não surgiu à toa. Domenico Monardo, o popular Meco, era fã de ficção científica quando criança, e iniciou-se na música tocando metais em grupos de jazz e bandas marciais. Seu interesse por música pop começou só nos anos 1960, quando ouviu Downtown, na gravação de Petula Clark, e passou a colaborar em arranjos de orquestra.

Em 1973, de olho no mercado da música para dançar, juntou-se aos amigos Tony Bongiovi, Jay Ellis e Harold Wheeler e montou com eles a Disco Corporation Of America, para lançar novos artistas. Uma das primeiras produções da turma foi uma cantora relativamente iniciante, Gloria Gaynor, e sua releitura para Never can say goodbye, do repertório do Jackson 5. Deram sorte: a gravação ajudou a inaugurar a disco music.

Por incrível que pareça, Meco Monardo precisou suar para convencer todo mundo de que sua ideia, de botar o tema de Star wars para dançar, era legal. Foi vender a ideia para Neil Bogart, da Casablanca Records, gravadora que lançou vários hits da era disco, e que era também a descobridora do Kiss. Não conseguiu animá-lo de início. Só que, não deu uma semana, Star wars começou a bater recordes de bilheteria e a vender vários produtos licenciados. Bogart imaginou a grana que estava deixando de ganhar, foi atrás de Monardo e o projeto acabou saindo num selo da Casablanca, Millennium.

Meco, que levou os parças Bongiovi e Wheeler para trabalhar com ele no disco, completou o lado A do LP original com os tais temas de Star wars em ritmo de discoteca. Mas não havia material algum para colocar no lado B. Até que, andando pelo Central Park, viu um grupo de garotos treinando bateria ao ar livre. Gravou o ritmo marcial dos moleques e usou a composição como base para o lado de “funk galático” que ocupa o restante do disco.

Star Wars and other galactic funk não vendeu tanto quanto a trilha de Embalos de sábado à noite, lançada naquele mesmo ano. Mas fez sucesso a ponto de concorrer ao Grammy de melhor disco instrumental com… a própria trilha de Star wars. Perdeu, claro. Quem se deu muito bem com a trilha foi ninguém menos que Tony Bongiovi, que usou a grana dos royalties (cerca de cem mil dólares) para montar seu estúdio Power Station, onde gravou mais da metade dos artistas pop-rock do mundo. E onde deu o primeiro emprego (como faz-tudo) a seu primo Jon Bon Jovi.

A mania de Meco com cinema continuou. Em 1978, soltou – igualmente ao lado de Wheeler e de Bongiovi, que àquelas alturas, já era produtor dos Ramones – um golpe certo no bolso dos cinéfilos. O LP Encounters of every kind, apesar da referência no título a Contatos imediatos de terceiro grau, de Steven Spielberg (Close encounters of the third kind, no original), unia composições de Wheeler a músicas tiradas das trilhas de vários filmes. Tudo com batida funk das galáxias. Logo na sequência, viriam os inacreditáveis (e excelentes) Meco plays The Wizard of Oz (1978) e Superman & other galactic heroes (1979).

Meco foi ficando de saco cheio do trabalho em estúdios e do mainstream da música. Em 1985, estava trabalhando como consultor de commodities e levando uma vida comum. Mas depois voltou à música e em 1998, aproveitando o iminente lançamento de Star wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma, procurou a Sony com a ideia de fazer um disco dance em cima da trilha do novo filme.

Problema: John Williams, que tinha lançado a nova trilha sonora pela mesma gravadora, proibiu lançamentos de remixagens e afins em cima de suas músicas. Só em 2000 Meco conseguiu lançar Dance Your Asteroids Off to the Complete Star Wars Collection, com retrabalhos das trilhas de filmes da série, como O retorno de Jedi e O Império contra-ataca.

Meco foi se retirando do mundo da música, alegando que tudo tinha se tornado padronizado. Deu raras entrevistas nos últimos tempos – vale conferir esse histórico com entrevistas, bem completo. O artista morreu em sua casa na Flórida, no dia 26 de maio de 2023, aos 83 anos, e ao que parece até o momento ninguém fez um documentário sobre ele, que continua sendo um gênio bem pouco lembrado.

Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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