Destaque
POP FANTASMA apresenta Feito Café, “Compactando o agora”

Dupla de Angra dos Reis (RJ), o Feito Café começou a compor em 2014. Lê Pacheco e Hugo Oliveira tinham dois anos de casados quando um vizinho músico encontrou os dois e disse que havia escutado alguém cantando na casa deles. “Eu cantava sempre no chuveiro, e ele elogiou minha afinação. Como o Hugo havia parado de trabalhar com música porque teve um problema na voz, teve ali, naquele momento, o estalo de continuar compondo para que eu fosse a voz de suas músicas”, conta Lê, que com o marido, lança o single Compactando o agora, com duas faixas, Um jeito humano de nunca morrer e Armarinho solidão.
O título do single e os das duas faixas foram inspirados pelo isolamento na pandemia. Lê conta que o Compactando o agora vem da ideia de colocar todos os sentimentos em apenas duas faixas – e que ainda era fazer um compacto simples físico mesmo, com lado A e lado B, já que as duas músicas são bem complementares. “Como ainda não foi possível fazer o compacto, fizemos um lyric vídeo de sete minutos unindo as duas canções”, afirma a cantora.
“Um jeito humano versa sobre a necessidade de dizer que a vida é maior do que a morte, que vamos continuar por aqui por meio das lembranças de nossos amigos, familiares e conhecidos. Não sou religioso, mas acho que é a canção mais cheia de espiritualidade do Feito Café”, conta Hugo. Já Armarinho veio da saudade do contato físico. “Veio a ideia de criar algo bem anos 1960, quase orquestral, uma trilha sonora bonita e estranha, como se fosse um sonho que começa com algum sentido e vai entortando. É o lindo sonho delirante destes tempos: o LSD é a pandemia, e todas as viagens terminam em bad trip”, completa Hugo.
ACÚSTICO
O som de Hugo e Lê em Compactando o agora está mais acústico e folk, já que a dupla optou por uma gravação simplificada, sem bateria e com guitarras discretas, e dar destaque a violão, cordas e sopro. Mas vem aí, em 2021, o primeiro disco “cheio” do Feito Café, Stand up drama, financiado por meio de um projeto selecionado municipalmente pela Lei Aldir Blanc.
“Ele será uma mistura de todos os trabalhos e influências do Feito Café, contando com bateria, baixo, guitarra, teclados, violões, vozes, cordas, sopros e o que mais der na telha”, comenta Hugo, cujo grupo tem influências de bandas como o escocês Camera Obscura. “É a banda que a gente gostaria de ser… Se não fosse o Feito Café! Mas têm outros nomes: Simon & Garfunkel, Marcelo Jeneci, Belle & Sebastian, Nando Reis, Jens Lekman, Joni Mitchell, Legião Urbana, Manoel Magalhães, Joan Baez, Travis, algumas coisas do Kid Abelha, mais ou menos isso”.
A dupla nasceu em Angra e ficou fora somente durante os cinco anos de faculdade. “Fazer música aqui na cidade não é uma tarefa fácil. Angra sempre teve uma cena musical desde os anos 70, mas mesmo assim estamos longe dos grandes centros, onde tudo acontece e a locomoção é bem cara. Nós usamos muito a internet para conhecer e nos aproximar de artistas do nosso nicho já que aqui na cidade outros estilos são mais populares”, conta Lê, que em 2018 e 2019 rodou por festivais e feiras de música com Hugo para divulgar o trabalho.
GRANA
Quando resolveram montar o Feito Café, Hugo e Lê decidiram que uma missão seria tornar o projeto autossustentável – ainda que o dividissem com outros trabalhos de carteira assinada. Só que aí veio a pandemia e a falta de shows e tudo teve que ser rapidamente reorganizado, como Lê conta.
“Na verdade nós sempre investimos mais do que tivemos retorno. Entendemos o longo percurso e mantivemos outros empregos em paralelo ao Feito Café. No verão de 2019 vimos crescer a necessidade de levantar grana para lançarmos mais trabalhos nas plataformas durante o ano e começamos a fazer música ao vivo em barzinhos. Estava sendo ótima a experiência de palco e de público, além de começarmos a ver uma grana na música. Mas aí veio a pandemia. O fim dos palcos e a minha demissão do trabalho de carteira assinada”, recorda.
“Travamos no primeiro mês. Muita tristeza, família afastada, grana reduzida e notícias desanimadoras. Mas tínhamos que continuar trabalhando o Feito Café. Hoje o mercado está muito cruel. Muita rotatividade e a porta do esquecimento está logo ali. Fizemos muitas lives gratuitas, lives com convidados – autores de livros que lemos no isolamento e cursos de direitos autorais, marketing e produção musical. Com isso aprendemos a trabalhar melhor as redes e divulgar nosso trabalho”, lembra.
“Seis meses depois desse aquecimento criamos coragem e colocamos nosso primeiro produto no mercado: camisetas com as capas dos singles e EP. Até hoje optamos por usar arte dos amigos quadrinistas nas capas, enxergando na camisa uma peça bacana. Tivemos mesmo uma boa aceitação, mas não o suficiente ainda. Então, todos os dias fazemos escolhas financeiras em casa priorizando sempre a música, e inscrevemos nosso primeiro projeto no edital Aldir Blanc aqui de Angra. Já temos música garantida para o ano de 2021”, lembra.
Foto: Santiago Guimarães/Divulgação
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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