Connect with us

Notícias

Pessoa: dos dramas da pandemia às alegrias do verão

Published

on

Se você piscar o olho, o músico e compositor baiano Leandro Pessoa surge com uma música nova, ou até um EP novo. Durante a pandemia, ele produziu bastante: quando batemos o papo abaixo, ele estava lançando um clipe, Azoada, sobre os problemas enfrentados por músicos que gravam em casa e enfrentam vizinhos que fazem obras. Dessa vez, o clima já mudou um pouco e ele lançou até uma canção mais alegre, O verão chegou, feita para festejar o começo de 2022. De 2020 para cá rolaram também dois EPs, Surreal e Não fique jururu. Pessoa (como é mais conhecido) andou privilegiando bastante a composição de músicas curtas, do tipo que prendem rapidinho a atenção do ouvinte.

Batemos um papo com ele e Pessoa falou um pouco sobre como ficou a produção dele durante a pandemia, além das novidades (foto: David Lingerfelt/Divulgação)

Primeiro, me parece que você fez muita coisa durante a pandemia: EP, clipes, alguns singles, um EP em 2020 que foi um experimento (só canções bem curtas)… Isso de lançar e criar várias coisas é comum para você ou foi algo que veio no momento do isolamento?

O contexto de isolamento pandêmico me levou a olhar para o baú de canções, dedicar tempo e atenção a elas; percebi uma oportunidade de me reconectar com inquietações artísticas que estavam adormecidas. Aos poucos foi caindo a ficha de que produzir música pra distribuir na rede seria uma maneira de seguir o fluxo de criação em que me encontrava no fim de 2019. Meses antes da pandemia tinha acabado de lançar o show do Esse é pra tocar no streaming e em pouco tempo aquilo foi se tornando a memória de um outro mundo.

Hoje sinto que essa decisão me aproximou da dimensão terapêutica que há na criação, essa possibilidade de suspensão de uma lógica da produtividade, de me permitir sair do uso constante das telas e somente respirar na Arte. Eu acho que desde a adolescência cultivo um ritmo de criação, na ideia de que uma música puxa outra, mas acho que esse movimento de lançar as criações veio mesmo com a Pandemia, quando saquei a possibilidade da produção à distância através do homestudio. Foi nesse sentido que decidi arregaçar as mangas e sentei pra escrever canções com os sentimentos que me inquietavam naquele início de quarentena, como A lei, Big data, e Surreal – que acabaram se juntando a outras que estavam no baú – O bom filho a casa torna e Bufo Alvarius.

A pandemia e questões ligadas a ela serviram de inspiração para algumas canções, como Mania de zap, Rock dá saudade e Azoada. Você sentiu que diante dessa novidade, não teria como não ser influenciado por este tema? Como foi?

Cara, quando o contexto pandêmico se apresentou busquei olhar para o mundo com novos olhos: foram tantas mudanças, adaptações, novas experiências… que só mesmo a Arte pra tentar dar conta, eu disse pra tentar. Foi um período em que me aproximei de pessoas que também buscaram digerir esse novo momento através da Arte. E na minha expressão isso teve início com o movimento do EP Surreal, que tem um aspecto mais introspectivo, e veio desembocar no EP Não fique jururu, que busca diálogo com o que foi possível aprender na vivência da quarentena.

Pra mim foi mesmo inevitável buscar uma conexão com as situações cotidianas, levá-las às músicas e tentar assim assim nutrir o elo com as pessoas, porque o convívio social se tornou algo muito restrito. Em alguns momentos eu me sentia numa mesa de bar, feito quando a gente conta para desconhecidos uma resenha de alguma experiência fantástica da vida, sabe? E foi nessa que acabei escrevendo sobre o novo normal, sobre a saudade de shows, o uso abusivo das redes, sobre a obra do vizinho…

Aliás como foi quando você soube que rolaria o isolamento? Estava com shows marcados ou algo assim? Como tava sua vida profissional na época?

Cara, no primeiro momento foi bem difícil: tinha planos de gravar um compacto ao vivo com a banda e parte dos recursos para essa gravação viriam de circular com o show que a gente tinha montado. E de repente o mais seguro e saudável pra todos nós seria suspender os shows, não ter mais os ensaios. Foi dureza. Essas músicas, inclusive, continuam inéditas, agora é que estou começando a movimentá-las de novo para gravar. Nessa eu tive de vender equipamentos, investir no homestudio, trocar de computador. Comecei então a produzir as músicas à distância e começaram a pintar alguns trabalhos com jingles, spots, vinhetas.

Azoada veio de uma história real?

Sim, é uma história real com pitadas de ficção. Durante o período pandêmico convivi com três obras grandes aqui na residência. A primeira foi uma geral no térreo do prédio, daí quando começou a segunda, no apartamento do vizinho de cima, pintou a ideia de escrever a música. Eu tinha de gravar um vocal para um jingle, mas não conseguia porque a zoada da obra estava sendo captada pelo microfone. Comecei a cantarolar o refrão – “azoada não deixa, azoada não deixa”- e criei um desabafo no meio daquela barulheira, registrando a situação. A parte do vizinho ter viajado e largado a obra nos ouvidos da vizinhança é que foi a pitada de ficção.

Quem são os personagens do clipe de Azoada e de onde vieram aquelas imagens de obra?

O personagem do vizinho eu prefiro manter sob sigilo. O clipe conta com duas participações especiais de produtores musicais que também vivem esse dilema de trabalhar em casa com obras na vizinhança: Marcela Bellas e Carlos Vilas Bôas, vale muito conhecer o trabalho deles. Já as imagens das obras foram retiradas da internet: existe um universo de influencers que ensinam como você mesmo pode resolver as coisas estruturais da sua casa, como por aqui eu não estava em obra, meu exercício foi selecionar de imagens que melhor interagissem com as que tinha produzido de cá.

Você costuma contar várias histórias nas letras. As músicas surgem das histórias? Ou você começa a escrever e aí vai vendo?

Comigo acontece das duas maneiras, mas o mais recorrente é encontrar a letra uma melodia. Essa melodia geralmente surge cantarolando em um idioma inventado, de onde irei tentar pescar palavras. Fico um bom tempo nessa prosa com a melodia, que é também uma escuta interna até chegar nas palavras. Assim as histórias surgem à medida que as palavras vão sendo escolhidas, o que vai ser contado na letra tem como ponto de partida essa descoberta melódica.

Como estão seus planos para novos discos em 2022 e como tá sendo essa volta aos shows?

Para 2022 vou começar trabalhando no lançamento de dois singles pelo selo Aquahertz Corporation, em um novo encontro musical com o produtor Marcelo Santana (com quem gravei Acorda, irmão). São faixas com sabor de verão e que buscam oferecer para o ouvinte momentos de contemplação e prazer. Estou trabalhando também um EP inédito que reúne canções de reggae e que deve ser lançado no segundo semestre.

Ainda não tenho previsão para shows, mas já retomei os ensaios e estou mergulhado na construção de um repertório que contemple as músicas já lançadas até aqui, a vontade de tocá-las ao vivo e de reencontrar o público só aumenta, mas sinto que ainda temos de ser prudentes com o controle do contágio.

O que você tem feito aí no seu homestudio? Têm rolado coisas para outras pessoas?

Aqui no homestudio faço pré-produções de músicas do trabalho autoral e envio elas em faixas separadas para o produtor com quem estou trabalhando no momento. Daí, a partir de videochamadas, vamos desenvolvendo em cima desse material. Tenho me arriscado também na mixagem com drops musicais que divulgo nas redes sociais. De cá trabalho também para outras pessoas, em geral a partir de quem já conhece o meu trabalho na música e convida ou indica. Algumas coisas inusitadas pintaram na pandemia: um jingle para um coletor de cobras, outro para um vendedor de coco e um repente para uma campanha de cuidados com a diabetes. Vamos que vamos!

Lançamentos

Radar: Cali, Alessandra Leão e Liniker, Atalhos, Lua Dultra, ABQNE, SANJ

Published

on

Cali (foto: Luiza Meneghetti / Divulgação)

Semana encerrada e hoje ainda por cima tem podcast – e fim de semana distante do trabalho pra gente (finalmente!). O Radar nacional de hoje começa com a criatividade do clipe da paulista Cali, que ainda por cima foi um clipe surgido de várias demandas dos fãs. Mas tem bem mais na nossa lista de hoje, do rock progressivo à MPB safadinha, passando pelo folk. Ouça e repasse!

Texto: Ricardo Schott – Foto (Cali): Luiza Meneghetti / Divulgação

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
  • Mais Radar aqui.

CALI, “FOME” (CLIPE). Cantora vinda de Porto Ferreira (SP) e radicada em Campinas, Cali viu que os fãs estavam pedindo bastante um clipe para Fome, música sua lançada em agosto. Postou um vídeo falando a respeito disso, e no mesmo dia, foi procurada por duas diretoras, que mostraram seu trabalho para ela. Foi assim que Giovana Padovani (co-direção e direção de fotografia) e Calu Zete (co-direção e produção) acabaram fazendo o clipe do single, divulgado nesta semana no YouTube, e traz Cali assumindo três personas que representam fases emocionais de um artista. As personas passam pela ansiedade e exaustão iniciais, pelo confronto com o próprio lado sombrio e, por fim, pela conquista de uma versão confiante e madura.

Detalhe: a concepção do clipe também foi sugerida por um fã, que sugeriu o filme Cisne negro, de Darren Aronofsky, como referência. “Agora, eu me vejo madura o suficiente para trazer também o meu próprio lado sombrio… Desde nova adoro suspense psicológico e drama. Pensei, por que não me inspirar nisso para construir essa parte da minha estética também?”, comenta Cali, que tem referências em Rita Lee e Rosalía – e fez de Fome um baita batidão pop.

ALESSANDRA LEÃO feat LINIKER, “TATUZINHO”. Tatuzinho é uma música que tem (bastante) história: surgiu como instrumental no álbum Brinquedo de tambor, estreia de Alessandra lançada em 2006. E foi uma música feita enquanto Alessandra colocava o filho para dormir. Depois, ela foi regravada por Alessandra no EP Pedra de sal, só que com uma letra bem sacana feita por Kiko Dinucci. E dando início às comemorações de duas décadas de seu primeiro disco, Alessandra refez a música, mas com alguns diferenciais: ela ganhou produção musical de ChicoCorrea e a voz da convidada Liniker, além de uma proximidade maior com os universos do arrocha e do brega.

Detalhe da coincidência: Liniker havia compartilhado a música nas redes, e foi a partir daí que o encontro das duas rolou.  “Era ela que eu estava procurando para cantar junto”, conta Alessandra. “É uma delícia abrir as comemorações dos 20 anos do meu primeiro disco revisitando essa música ao lado de parceiros de longa data como ChicoCorrea e Kiko Dinucci – e com a presença luminosa de Liniker. É lindo vê-la voar”.

ATALHOS, “A FORÇA DAS COISAS” (SESSION). Banda de art rock com origens no interior paulista (vieram de Birigui), o Atalhos une som, literatura e profecias em seu novo disco, A força das coisas (resenhado pela gente aqui). O álbum de Gabriel Soares e Conrado Passarelli demonstra orgulho por soar próximo do dream pop, do indie rock mais recente e do pós-punk dos anos 1980 – numa nuvem de referências que inclui de The Smiths a Arctic Monkeys. E agora saiu uma session com o repertório do disco, tudo ao vivo, em preto e branco.

A session aparece quando a banda anuncia turnê pela Europa – entre os meses de fevereiro e março, passando por países como Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca e Suíça. Também anunciam e o lançamento de A força das coisas em vinil, que vai rolar assim que os dois voltarem do giro.

LUA DULTRA, “MENINA”. Pop alternativo e folk alternativo cruzam-se na nova música da Lua, Menina – um som tranquilo e viajante que também carrega as referências da união entre folk e MPB (Sá & Guarabyra, Nando Reis, Lô Borges). E cujo clipe, com direção e roteiro dela e de Sofia Rojas, mexe com o imaginário do sertanejo, trazendo a cantora, compositora e instrumentista tocando violão na porta de uma igreja, andando a cavalo e sossegada numa casa no campo, tocando com sua turma.

ABQNE (A BANDA QUE NUNCA EXISTIU), “O OUTRO NOVO EU”. HL (Humberto Lyra) e LP (Luiz Pissutto) são os integrantes da A Banda Que Nunca Existiu – na verdade uma dupla com alguns colaboradores, que vão de Alexandre Fontanetti (produção e violão), Paulo Zinner (bateria), Edu Gomes (guitarra), Adriano Magoo (piano) e até Zeca Baleiro, que solta um assovio numa faixa. O maxi-single O outro novo eu na sala de estar, com quatro faixas – uma delas é um radio edit da primeira música, O outro novo eu – é definido pelos dois como uma “ópera rock psicodélica”, cheia de sinais escondidos.

A faixa original, que dura oito minutos, soa bastante inspirada em Mutantes (especialmente no disco da banda creditado a Rita Lee, Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, lançado em 1972). A radio edit da faixa traz a música num releitura mais pinkfloydiana do que propriamente psicodélica. O conceito da faixa é citado nas outras duas músicas, Antes do outro eu e Sala de estar do outro eu. Uma viagem sonora.

SANJ, “MÁQUINA DE SOL”. SANJ, assim mesmo, com maiúsculas, é o novo projeto do músico Leonardo Sandi, de Caxias do Sul (RS), que integra a banda Catavento. Em Máquina de sol, o primeiro single, estilos como hip hop, drum’n bass e trip hop (pelo menos no clima enevoado do arranjo) unem-se na criação de uma canção que, diz Leonardo, “fala muito sobre tentar criar um mundo melhor também para um amor, uma paixão”, conta. “Sempre imaginei essa imagem de um cientista solitário em um porão, tentando criar uma máquina de sol. E um dia, quando ele finalmente consegue, tudo explode em luz”.

Outra ideia passada pela música é a de sempre seguir em frente. “Essa música é o meu recomeço, mas também é um lembrete para todo mundo que já sentiu o tempo escapar, que ainda dá para correr atrás dos sonhos”, conta ele, que para fazer Máquina de sol, se juntou a Murilo Vitorazzi, o mrl (beat, pianos, produção e co-autoria), e Francisco Maffei, o Chigo (mixagem e masterização).

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Continue Reading

Lançamentos

Radar: Flea, Water From Your Eyes, Malammore, Atomic Fruit, Wheobe, Wuzy Bambussy

Published

on

Cara do single A Plea, de Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers

Flea, baixista dos Red Hot Chili Peppers, está para lançar um disco solo – em clima de jazz psicodélico, pelo que dá pra perceber pelo primeiro single, A plea, lançado ontem. Ele abre o Radar internacional de hoje e puxa uma seleção que tem sons experimentais, rap, psicodelia e muitas novidades. Ouça e repasse.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Flea): Divulgação

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
  • Mais Radar aqui.

FLEA, “A PLEA”. Você provavelmente se perguntava porque é que o talentoso baixista dos Red Hot Chili Peppers não lançava logo um disco solo. Pois bem, ano que vem, finalmente, sai a estreia solo de Flea, pelo selo Nonesuch – e o que vem por aí, aparentemente, é um disco arraigado nas experimentações jazz-psicodélicas. A plea, o primeiro single, tem quase oito minutos de duração, e ganhou um clipe dirigido pela filha do músico, a fotógrafa Clara Balzary. No vídeo, Flea surge trajando uma camiseta onde se lê “dub” na mesma grafia do logotipo da banda Public Image Ltd, e fazendo passos que unem dança e ginástica. Lá pelas tantas, ele aparece correndo pelas ruas.

O tal disco solo é definido por ele como “uma banda dos sonhos de visionários do jazz moderno” – Flea, aliás, volta ao trompete, instrumento que marcou seu início na música (em A plea, quem toca o instrumento é a contrabaixista Anna Butterss). A letra é um exercício de spoken word, em que Flea diz coisas como “viva pela paz, viva pelo amor” e “quem é seu vizinho, quem é seu amigo?/ ah, há ódio por toda parte/ eu não me importo com a sua maldita política/ eu não quero ouvir falar da sua política”.

No comunicado de lançamento do single, ele foi além: disse que há um lugar transcendental acima da política, “onde há um diálogo que pode realmente ajudar a humanidade e nos ajudar a viver de forma harmoniosa e produtiva, de uma maneira saudável para o mundo. Existe um lugar onde nos encontramos, e esse lugar é o amor”. Psicodélico, digamos.

WATER FROM YOUR EYES, “DRIVING CLASSICS, PLAYING CARS”. O WFYE já havia lançado o álbum It’s a beautiful place neste ano (resenhamos aqui) e volta com o EP It’s beautiful, contendo três faixas do disco reimaginadas. Born 2, Nights in Armor e Playing classics foram remexidas pelo músico e produtor Nate Amos para enfatizar de forma diferente os vocais da cantora Rachel Brown. Playing classics, das três escolhidas, foi a que mais teve modificações: retorna com o nome de Driving classics, playing cars, com dez minutos de duração e efeitos sonoros de carros – daí o nome.

“As novas versões de Born 2 e Nights in Armor são, na verdade, mais próximas de como as músicas eram originalmente”, explica Amos. “As pessoas me perguntavam sobre a versão original de mais de dez minutos de Playing classics, e eu não conseguia mais encontrá-la, então fiz uma nova. Achei que seria engraçado se fosse mais rápida também. Adicionei efeitos sonoros de carros porque carros são rápidos”.

MALAMMORE, “TUDO PASSA”. “Dou conselhos a quem ouve, mas também olho para dentro e me englobo também nos conselhos que dou”, conta o poeta, ator e músico português Sandro Feliciano, que usa o codinome de Malammore e em Tudo passa, seu novo single, protesta contra a falta de sensibilidade do mundo – e contra a apatia patrocinada pelos donos do poder. A faixa, um hip hop alternativo narrado com agilidade, mas com melodia voadora e relaxante, puxa Aurora, disco de Malammore que está pra sair, e tem clipe dirigido por ele e por Miguel Zêgo Cebola.

Tudo passa foi inspirada na famosa foto de William Klein em que há duas crianças – uma delas aponta uma arma para a câmera, enquanto a outra está surpreendentemente calma. O rapper Mick Jenkins e seu single-clipe Brown recluse foram inspirações para o clipe.

ATOMIC FRUIT, “MEDICINE”. Esse trio psicodélico mezzo italiano, mezzo alemão (e radicado em Berlim) tem bem mais do que lisergia para oferecer: o som deles lembra um encontro ácido entre Joy Division, Killing Joke e Mudhoney, todo mundo com o cérebro lotado de alguma substância estranha. A música é tão psicodélica quanto pós-punk, graças ao clima hipnótico da melodia e do arranjo, e à voz de baritono de Martin Lundfall, que também toca synths e guitarra. Nomes como Massive Attack e SUUNS são citados no release, só para você ter uma ideia básica do peso e da intensidade dessa turma.

Medicine, de acordo com a banda, trata de um tema muito especial para músicos e artistas em geral: “Ela começou como uma música sobre bloqueio criativo, mas se transformou na consciência de como é difícil sentir aquela primeira faísca novamente”. Além do lyric video da faixa, o grupo soltou também uma session ao vivo pelo Platte:X, uma espécie de Tiny Desk arrumadinho de Berlim.

WHEOBE, “SORE”. Preparando um álbum de estreia, A strained ocean, para abril de 2026, esse grupo francês puxa o álbum com Sore, quase um progressivo dream pop, de seis minutos – e uma música que chega a ganhar ares mais pesados depois. O clipe, dirigido por Kim Fino e Camilia Penagos, mostra um verdadeiro balé urbano, de pessoas sendo basicamente elas mesmas pelas ruas. As cenas surgem como se fossem imaginadas pelos integrantes do grupo.

WUZY BAMBUSSY, “LITTLE LION”. Uma surpresa musical entre a house music e os climas herdados do jazz: o grupo britânico Wuzy Bambussy fala do reencontro com um amor perdido em Little lion e acaba conseguindo fazer uma das faixas mais deliciosamente nostálgicas do ano. Destaque para os vocais da cantora Kat Harrison e para a vibe de filme antigo do clipe, todo gravado em pret e branco. The ghost & the rhythm, o primeiro álbum, sai em abril de 2026.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Continue Reading

Lançamentos

Radar: Baque!, Jota 3 e BNegão, Siso, Fitti, Mat, Look Into The Abyss

Published

on

BAQUE!, “OZYMANDIAS” / “NOITES NO OCIDENTE”. Essas duas novas músicas, segundo a banda paulistana Baque!, formam “um convite para um rolê,

O experimentalismo da banda Baque! volta ao Radar – eles já estiveram por aqui – com um single duplo que é pura poesia proto-punk. Mas a seleção do Radar nacional de hoje tem também som pesado, hyperpop, reggae-rap e MPB para ouvir no último volume. Ouça e repasse.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Baque): Divulgação

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
  • Mais Radar aqui.

BAQUE!, “OZYMANDIAS” / “NOITES NO OCIDENTE”. Essas duas novas músicas, segundo a banda paulistana Baque!, formam “um convite para um rolê, um cartão-postal sonoro na forma de single duplo”. Normalmente voltado para uma mescla inusitada de psicodelia e punk (ou protopunk, como a própria banda define seu próprio trabalho), o grupo retorna agora influenciado por estilos como krautrock, post-rock e synthwave.

Ozymandias e Noites no Ocidente, contam eles, foram músicas que nasceram ao vivo e vêm sendo desenvolvidas há um ano nos shows, com direito ao coral dos fãs. A primeira soa como uma imagem da sessão de gravação, com vários efeitos sonoros e percussões, além da declamação da letra – que na verdade, é um poema do britânico P. B. Shelley (1792-1822) traduzido pelo grupo.

A segunda une canto gritado a la Iggy Pop, declamações com vibe Jim Morrison, e clima meio protopunk, meio groovy, direto dos anos 1960 para 2025. “Todas as canções desse lado foram gravadas em fita no correr de 7 dias de imersão em Campinas (SP)”, conta a banda, avisando também que a dupla de faixas encabeça o lado B do álbum que está sendo produzido.

JOTA 3 feat BNEGÃO, “FLORES E ERVAS” (REMIX VIBRONICS). Vinda direto da cultura soundsystem, Flores e ervas acaba de ganhar um remix assinado pelo produtor britânico Steve Vibronics, nome conhecido do UK dub. E o remix também ganhou um clipe, com imagens da apresentação do artista no festival Delírio Tropical, que rolou em Vila Velha (ES) em janeiro. BNegão, que participou do show, contribui com sua voz na nova versão.

“Ter um remix do Vibronics é surreal! Me faz voltar no tempo em que morei na Inglaterra há mais de 10 anos. Lá, tive contato com a cena através do próprio Vibronics e de muitos outros artistas e pude me aprofundar e viver realmente a cultura dos sound systems britânicos / jamaicanos, muito representativos”, conta Jota 3.

SISO, “QUEBRA-MUNDO”. “Se o mundo não se quebrasse, quem quebrava era eu”, canta Siso em Quebra-mundo, música em clima de alt-jazz e alt-pop feita em parceria com Luiza Brina, e que fala de sua reconstrução pessoal, num momento em que tudo parecia estar em ruínas. “Quando as expectativas e as premissas prévias se quebram, o que é realmente importante se revela de maneira muito límpida, permitindo que tudo o que é falso e acessório seja descartado em prol de uma energia nova, ainda que com alguma trepidação”, detalha Siso, que é de Belo Horizonte (MG), como Luiza.

Quebra-mundo ganhou um clipe em preto e branco dirigido por Tatyana Schardong, e filmado nas ruas do Centro do Rio. “A ideia era explorar visualmente o simbolismo de instabilidade e transitoriedade que a canção evoca, com cortes rápidos e cenas muito contrastantes. Acabamos mostrando um lado quase ‘Gotham City’ da cidade maravilhosa, de uma maneira bem diferente de como ela geralmente é retratada, tangenciando também muitas camadas de história dos lugares pelos quais passamos”, conta.

FITTI, “POSTAL DE AMOR”. Não é comum que intérpretes sejam homenageados em tributos – mas o cantor pernambucano Fitti, ao preparar o álbum Fitti canta Ney, em homenagem a Ney Matogrosso, evoca a época em que o próprio Ney homenageou Angela Maria com o disco Estava escrito (1994).

Fitti procurou escolher apenas músicas que ninguém conseguiria ouvir sem lembrar de Ney – daí a escolha por Postal de amor, balada introspectiva composta por Raimundo Fagner, Ricardo Silva e Fausto Nilo, gravada por Ney num compacto em 1975 (ao lado de Fagner) e depois no disco Pecado (1977). Fitti canta Ney vai virar turnê no ano que vem, com shows dirigido por Marcus Preto (que dividiu a produção do álbum com Pupillo).

MAT, “YEAH I LIKE U”. Cofundador do selo indie paulista Lazy Friendzzz e músico das bandas Dramma e Babyycult, Matt já havia lançado o EP I think I love you neste ano – e retorna agora com Yeah I like U, uma mescla de indie rock, synth-pop e hyperpop, com teclados tomando conta, ritmo dançante e vocais processados. Mat conta que a ideia da letra é falar “da atração imediata, da euforia e da ansiedade que acompanham os relacionamentos”.

LOOK INTO THE ABYSS, “WORDS”. Essa banda de Curitiba tem referências de estilos como emo e grunge, e no novo single, o peso surge à toda: Words tem vocais guturais, guitarras sombrias e pesadas, e uma letra sobre autoconhecimento e autossabotagem, sobre promessas quebradas e seguir adiante – bem na temática comum do grupo, que costuma abordar temas psicológicos e vibes bem trevosas nas letras. Words serve de batedor para o álbum que sai no começo de 2026.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Continue Reading
Advertisement

Trending