Lançamentos
Paul McCartney: versão sem overdubs de “Band on the run” sai em edição comemorativa do disco

Aparentemente, vai virar moda reimaginar álbuns relançando-os desprovidos de alguma coisa – o Daft Punk acaba de fazer isso com seu Random access memories, que recentemente saiu numa versão sem nenhum tipo de bateria ou percussão. No dia 2 de fevereiro, Paul McCartney lança a edição de 50º aniversário do disco clássico de sua banda setentista Wings, Band on the run, que chega às lojas com versões underdubbed das faixas – ou seja, as músicas teoricamente sem overdub algum, e sem nenhum acompanhamento orquestral.
A primeira das versões já saiu e é justamente a faixa-título. Na sequencia, pela ordem disponibilizada nas plataformas digitais, vêm Mamunia, No words, Jet, Bluebird, Mrs. Vanderbilt, Nineteen hundred and eighty five (que é lindíssima JUSTAMENTE por causa do acompanhamento orquestral, ou seja: tem que ver isso aí), Picasso’s last words (Drink to me) e Let me roll it. A faixa-título vem com leves alterações na mixagem, alguns vocais a menos e com o acompanhamento reduzido apenas ao núcleo duro Paul McCartney (voz, guitarra, baixo, teclados, bateria), Linda McCartney (voz, teclados) e Denny Laine (guitarra).
“Este é o Band on the run de uma forma que você nunca ouviu antes. Quando você está fazendo uma música e colocando partes adicionais, como uma guitarra extra, isso é um overdub. Bem, esta versão do álbum é o oposto, subdublada”, anunciou o didático Paul em comunicado. Hoje, por sinal, Paul é o único sobrevivente da formação que gravou Band on the run – Linda morreu em 1998, e Denny, há poucos dias.
Confira abaixo a versão underdubbed, o original e um comparativo entre as duas versões. Digamos que é um underdubbed diet: as gravações de guitarra, baixo e bateria (Paul se revezou nos três instrumentos e Denny, em baixo e guitarra) foram preservadas.
Crítica
Ouvimos: Vitoria Faria – “Vacas exaustas”

RESENHA: Vitoria Faria estreia solo com Vacas exaustas, disco que mistura forró, funk e jazz para falar de empoderamento, corpo, relações e dores do feminino.
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Acordeonista de São Paulo, Vitoria Faria estreia como cantora solo no álbum Vacas exaustas e aproveita para, em meio à farra de ritmos, mexer em feridas eternas do feminino. O forró experimental e eletrônico Elefante pelo cano tem letra cru e concreta sobre um relacionamento que não dá certo porque só uma das partes cede e tenta caber na vida da outra. Asas à cobra une funk, jazz e eletrônico pra falar de empoderamento. A faixa-título une jazz, tango e experimentação rítmica – ao lado de Flaira Ferro – em meio a versos como “sustentar na teta o peso do mundo de dose em dose”.
Já a percussiva Zap de família fala sobre piadas escrotas na mesa de casa e de escolhas fora do padrão que se transformam em assunto e fofoca nos Natais – ganhando certo clima de valsa quando a palavra “dança” surge na letra. No final, Sou mulher fala em “muito prazer / e esse prazer é só meu”, abrindo com vocais quase místicos, até que um acordeom e um piano elétrico transportam a melodia para a MPB de 1981. Em Dois centímetros, ela recebe Assucena para uma mescla de reggae, blues e forró, mantendo o clima experimental e rítmico do álbum. Gula, por sua vez, une experimentação de estúdio, empoderamento, sexo, tentação, dança, até que no final a própria gravação é “engolida”.
O som de Vitoria também chega perto do tecnobrega (unido com forró, funk e eletrônico) em Crise de amor, e margeia o som de Chico Science & Nação Zumbi e Planet Hemp em Gosto de fel, funk mangue com guitarras em wah wah e vocal-repente em clima de duelo dela consigo própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente / Tratore
Lançamento: 29 de maio de 2025
- Ouvimos: Marya Bravo – Eterno talvez
- Ouvimos: Josyara – Avia
- Ouvimos: Assucena – Lusco fusco
- Ouvimos: Flaira Ferro – Afeto radical
Crítica
Ouvimos: Samuel de Saboia – “As noites estão cada dia mais claras”

RESENHA: Disco de estreia de Samuel de Saboia mistura rock nordestino, MPB maldita, tropicalismo e pós-punk em um retrato intenso de desejo e identidade.
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As noites estão cada dia mais claras, primeiro álbum do pernambucano Samuel de Saboia, é um disco de rock brasileiro setentista lançado em 2025. Mas nada de Casa das Máquinas ou Made In Brazil. É uma estética de rock nordestino, influenciada por artistas malditos da MPB – a capa, com várias fotos, lembra o lay-out de Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio, e o de Sweet Edy, de Edy Star – e que se utiliza de vibes e batidas latinas e ciganas em vários momentos.
O repertório de Samuel é construído em torno da força dos versos e dos vocais, como no clima épico de Vingança colorida (que prega: “vou mostrar como cobra pode voar”, em meio a violas e percussões) e na psicodelia espacial de Gira, evocando Paulo Diniz. Surge até algo de pós-punk em Deusa dos prazeres bobos – um dos melhores arranjos do disco, com metais simples e guitarra limpa lembrando Smiths.
Mesmo assim, a cara de As noites… é dada mesmo pela vibe tropicalista de faixas como Meteoros de haxixe (com andamento herdado de Taxman, dos Beatles) e Eu preciso de distância, ambas com vocais lembrando Edy Star e Gilberto Gil – a segunda é retomada ao fim do disco com uma releitura ao vivo.
Dando uma variedade maior ao disco, tem o clima quase soul de Amigo (que tem lembranças do já citado Sergio Sampaio), e a balada blues Rei de nada, que abre num clima parecido com o de Êxtase, de Guilherme Arantes, e vai mudando de cara. A força da voz de Samuel surge especialmente nos ecos e silêncios de Sangue, cheia de escalas árabes, e no beat nordestino, cantado em falsete, de Mainha.
As noites estão cada dia mais claras (definido por Samuel como um álbum de “desejo físico”) é repleto de descobertas e auto-descobertas. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente.
Lançamento: 7 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Marcos Lamy – “Braço de mar”

RESENHA: Marcos Lamy mistura forró, samba, rap e jazz com bom humor e criatividade no disco Braço de mar.
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O meio do ano chegou e, com ele, vão surgindo os discos legais para ouvir justamente na época das festas juninas. O maranhense Marcos Lamy, em Braço de mar, une o bom humor do forró a toques de outros estilos. Lá vem, logo na abertura, abre como forró-reggae e vai ficando mais ágil. O som parte para o forró marítimo da faixa-título, para a sacanagem de Mulecagem (com Lucas Ló) e para a união com samba de Passarinho (com os vocais de Clara Madeira).
Marcos lembra o desdobre universitário das sanfonas, triângulos e zabumbas em Dois beijos e, com Hermes Castro, acresenta um pouco da prosódia do rap em O que não é de mim, enquanto Virá traz um pouco da MPB setentista e lembra Caetano Veloso. Um lado mais experimental, por sua vez, surge em Baião dividido – com ritmo que vai ganhando intervalos pouco usuais até virar baião de vez – e no final, com o instrumental Olha o fole, Vinicius!, oscilando entre baião e jazz.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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