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Crítica

Ouvimos: Orchestral Manoeuvres In The Dark, “Bauhaus staircase”

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Ouvimos: Orchestral Manoeuvres In The Dark, "Bauhaus staircase"
  • Bauhaus staircase é o décimo-quarto disco de estúdio da banda britânica Orchestral Manoeuvres In The Dark. É o primeiro disco da dupla em seis anos e o quarto depois da volta em 2006. Boa parte do álbum tem temas políticos, com inspiração no período entre o fim da década de 2010 e o começo da de 2020.
  • O material foi composto na época da pandemia, com Andy McCluskey usando várias ideias acumuladas ao longo do tempo. Os próprios Andy e Paul Humphreys (os dois do OMD) produziram o disco. A arte da capa foi feita por um artista de Liveerpool, John Petch.

Desde os primeiros hits da Orchestral Manoeuvres In The Dark, ficou claro que o principal desse grupo da península de Wirral (na região do Merseyside, o que acaba inserindo a OMD na cena oitentista de Liverpool) é associar eletrônica, senso pop às vezes quase ligado ao rock e um tantinho de nostalgia. É ela que muitas vezes chama mais a atenção que qualquer futurismo associado ao som deles – músicas como Enola gay, So in love e Pandora’s box são bem mais melancólicas do que apenas dançantes. A dupla de Andy McCluskey e Paul Humphreys tem o mesmo apego à tecnologia, à arquitetura e à criação de ambientações musicais que vários de seus pares – mas tem a mesma recordação de tempos idos que volta e meia bate em canções de Erasure e Pet Shop Boys, por acaso duas duplas, como eles.

Bauhaus staircase por outro lado, é um disco político – que joga luz no fato de que a Orchestral Manoeuvres In The Dark era a banda que fez de Enola gay um hit anti-guerra e que deu ao segundo disco o nome de Architecture & morality (1981). A OMD minimalista e nostálgica ressurge em músicas como Healing e Veruschka, o lado mais grandiloquente da dupla (que inspiraria Massive Attack, Justice e vários outros) marca ponto na política e dançante Anthropocene. Uma faceta sombria aparece na faixa-título, sobre a arquitetura da Bauhaus e a Alemanha pré-nazista.

Costumeiramente chamados de Lennon & McCartney do synth pop, McCluskey e Humphreys tangenciam o rock à maneira da OMD, em meio aos teclados de G.E.M., Aphrodite’s favourite child e Slow train, e na balada lúgubre Where we started, uma mescla bem louca de Velvet Underground (& Nico) e Depeche Mode. Já Kleptocracy é discurso espalha-brasa à maneira de Won’t get fooled again, do Who: “Não importa em quem você votou/eles compraram o homem que você elegeu/vendendo a liberdade e a lei marcial/instalaram aquele que você rejeitou”.

Nota: 8,5
Gravadora: White Noise

Foto: Reprodução da capa do álbum

Crítica

Ouvimos: Spiderman Pterodactyl – “Shore leaves” (EP)

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Ouvimos: Spiderman Pterodactyl - "Shore leaves" (EP)

RESENHA: Spiderman Pterodactyl, no EP Shore leaves, mistura pós-punk e ambient com elegância dark e vocais à la Bryan Ferry.

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Vindo do Canadá, o Spiderman Pterodactyl já está quarto EP (dois deles são de remixes). E em Shore leaves, novo lançamento, faz pós-punk com tom dark e esparso – não chega a ser darkwave, por habitar sombras bem menos intensas que as visitadas pelas bandas desse estilo.

Na primeira parte do EP, Drive safe tem certo balanço na bateria, além de uma mistura de elegância e tristeza que mistura Joy Division e Roxy Music. Go away, na sequência, tem clima de psicodelia fúnebre, com ruídos e batida seca. Já The item soa como um dia que vai levantando devagar, entre efeitos, programações e guitarras – ganhando clima urbano e contemplativo depois.

Na segunda metade do disco, o eletro-rock leve e marítimo de Les marées grises – com vocais quase falados, em francês – seguido pelo ambient desértico de Acjhab e pelo clima belo, gelado e imagético, com guitarra slide e teclados, de The whale. Destaque para os vocais de Antoine Cathala, repletos de ambiência, e com uma vibe que lembra discretamente a de Bryan Ferry.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Hyldon e Adrian Younge – “JID023”

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Ouvimos: Hyldon e Adrian Younge - "JID023"

RESENHA: Hyldon celebra 50 anos de seu primeiro álbum com o psicodélico JID023, feito com Adrian Younge e com as últimas gravações de Mamão, do Azymuth.

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É um momento ótimo para Hyldon, que acaba de ter sua história lembrada num documentário (As dores do mundo, de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues, em cartaz no festival In-Edit), comemora 50 anos de seu primeiro álbum, Na rua, na chuva, na fazenda e vem lançando coisas: já saíram dois singles – um deles é uma versão ao vivo da gozadora Três éguas, um jumento e uma vaca – e este álbum JID023, dividido com o produtor norte-americano Adrian Younge.

Adrian, um cara que sonhava com a música brasileira lá de longe e conseguiu trabalhar com vários de seus ídolos, tem uma perspectiva bem diversificada de música. Seus discos costumam descascar a música até sobrar nelas o que há de mais psicodélico, despojado, experimental e viajante. Foi assim quando ele trabalhou com Marcos Valle, Azymuth, João Donato – e também quando, recentemente, ele reuniu uma galera animada para gravar o ótimo disco solo Something about April III (que resenhamos aqui).

Trabalhando com Hyldon, não foi diferente – aliás o Hyldon de JID023 é o artista que observava os sons por um viés absolutamente pessoal em Deus, a natureza e a música (o segundo disco, de 1976) e que cantava as paixões possíveis e impossíveis a plenos pulmões em Nossa história de amor (1977). Músicas como Viajante do Planeta Azul e O caçador de estrelas alinham-se a uma perspectiva quase pinkfloydiana do soul, com psicodelia, climas viajantes e certa sensação de desnorteio – além de uma ambiência que lembra o Khruangbin.

Músicas como Um lugar legal e Olhos castanhos continuam na mesma vibe espacial, combinando jazz e soul. Jenipapo robô abre com sons distorcidos e, ao engatar, chega a lembrar um tema de série. Favela do Rio de Janeiro vai para a área do samba-soul e Verão na Califórnia (Summertime in California) é o lado hippie do álbum, com guitarra wah-wah e balanço latino. No final, o afrobeat panteísta de Nhandervuçu (The creator god) impressiona mais ainda.

E se mesmo depois disso ainda falta motivos para você ouvir JID023, vai aí mais um: ele tem as últimas gravações de Ivan Conti (Mamão), baterista do Azymuth morto em 2023. Ouça tudo no volume máximo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Jazz Is Dead
Lançamento: 4 de abril de 2025.

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Ouvimos: Azymuth – “Marca passo”

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Ouvimos: Azymuth - "Marca passo"

RESENHA: O Azymuth volta com Marca passo, disco que homenageia o saudoso baterista Mamão e reafirma seu samba-jazz elegante, nostálgico, vivo e (bastante) resistente.

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O trio carioca Azymuth tem mostrado com o passar dos anos uma resistência digna das bandas de rock mais duradouras: foram-se o tecladista José Roberto Bertrami e o baterista Ivan Conti (Mamão), e o baixista Alex Malheiros manda bala no “o show tem que continuar”. Kiko Continentino já assumira os teclados após a partida de Bertrami (em 2012) e o experiente Renato Massa hoje ocupa as baquetas. Marca passo, novo álbum do grupo, foi anunciado pela gravadora britânica Far Out justamente quando completávamos dois anos sem Mamão (17 de abril).

O Azymuth não ressurge com nenhum hit de assimilação rápida, como aconteceu com as quase gêmeas Na linha do horizonte e Voo sobre o horizonte, e com a misteriosa Melô da cuíca – por sinal, as três impulsionadas por trilhas de novela, Cuca legal (1974), Locomotivas (1977) e Pecado capital (1975). Mas a banda ressurge afiada, com sua mistura vintage de samba, jazz, soul e pop que sempre definiu sua música. Tem o clima retrô de Fantasy 82, o balanço elegante de Marca tempo e O mergulhador (com vocoder nos vocais), e a beleza percussiva e quase etérea de Crianças valentes – faixa que parece pedir uma letra e um vocal feminino.

  • Ouvimos: Marcos Valle – Túnel acústico
  • Marcos Valle: “Por causa de Estrelar, em 1983, eu virei o Xuxo” (entrevista)

O trio também homenageia Mamão com a melódica Samba pro Mamão, que parece evocar trechos de O Guarani, de Carlos Gomes. Ainda revisita Last summer in Rio, do álbum Telecommunication (1983), agora com a guitarra de Jean Paul “Bluey” Maunick, do Incognito. E mostra que o samba-jazz ainda pode ganhar as rádios com Andaraí, samba-jazz simples ágil e rimado, com letra curta que combina “Andaraí” e “Icaraí”, entre outros lugares. Pra ouvir logo cedo e sair bem no dia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Far Out Recordings
Lançamento: 6 de junho de 2025

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