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Crítica

Ouvimos: Olivia Rodrigo, “Guts”

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Ouvimos: Olivia Rodrigo, "Guts"
  • Guts é o segundo álbum de Olivia Rodrigo, com produção de Olivia, Daniel Nigro, Ryan Linvill, Alexander 23 e Ian Kirkpatrick. Já saíram quase 20 formatos diferentes do disco, alguns com artwork alternativo, outras em vinil vermelho, branco, roxo e azul, além de CD e K7.
  • Olivia diz que fez 150 canções pra Guts. 20 foram gravadas, mas o disco acabou ficando só com 12 faixas. O tom bastante confessional do disco, que tem um ou outro palavrão, fez com que sete das 12 músicas fossem marcadas como explícitas (e a capa tem o selinho histórico do PMRC).

Tá complicado fazer uma resenha do novo disco de Olivia Rodrigo sem partir para um papo totalmente saudosista. Não que o disco dela caiba numa milonga do tipo “ah, no meu tempo era melhor”. O contrário: Guts é o tipo de pop com que fãs de rock (essa turma que, por natureza, é voltada para os valores passados) estão acostumados. E Olivia entrega (essas expressões novas…) bem mais do que o prometido no segundo álbum. Os clipes de Bad idea right? e Vampire prometiam rock influenciado por uma salada de Queen, power pop e revivalismo da new wave, com um toque generoso de drama meio existencialista, meio perdeções de linha do dia a dia.

Não é uma tendência seguida no Brasil e com certeza vai demorar – talvez quase o tempo que a MPB demorou para descobrir os shows uberproduzidos como forma de comunicação. Até lá, Guts solta futuro hit atrás de futuro hit nos ouvidos dos fãs, com letras trafegando sempre na linha das cascas de banana sociais diárias. Como a pressão de ter que se comportar como uma norte-americana típica em All american bitch, a paixão platônica inesperada em Lacy (a melhor interpretação de Olivia no disco), o desastre social pós-pandêmico de Ballad of a homeschooled girl, o dilema pessoal de Making the bed (um rock em clima emo, com um uma letra dramática que tem pelo menos uns cinco versos que caberiam num disco das Shangri-Las).

A produção do disco, como já havia acontecido na estreia de Olivia, tratou de simplificar as coisas, alternando baladas grandiloquentes – a tristonha The grudge, com arranjo de cordas, é a melhor delas – com sons mais festeiros e pesados. Mensagem clara: Olivia pode usar o rock como meio de comunicação, mas o universo dela vai bem além disso, e muitas vezes aponta para um pop que não deixa de lado as letras do tipo “eu era uma menina e hoje sou uma mulher, mas continuo uma menina”, típicas do universo do country.

Guts tem até um rap-rock de excelente qualidade no álbum, Get him back!, e músicas como Love is embarassing e Bad idea right? podem ser até tocadas disfarçadamente numa festa cheia de pessoas cujo último grande momento no consumo de música foi pegar emprestado o CD de estreia do Elastica. Para ouvir mil vezes: Pretty isn’t pretty, com guitarra-e-baixo chupando amigavelmente The Cure e Pixies, e refrão quase dream pop. Faz todo sentido que o disco se chame Guts (“tripas”, termo usado para designar coragem, convicção). É um disco de gente grande, só que feito por uma mulher que saiu da adolescência faz pouco.

Gravadora: Geffen Records
Nota: 9

Foto: Reprodução da capa do álbum

Crítica

Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

Curto, tranquilo e girando em torno de variações do alt-country, Automatic, o novo disco do duo norte-americano The Lumineers (Jeremiah Fraites e Wesley Schultz são os integrantes), é um álbum carregado na ironia fina – e ela suplanta, muitas vezes, a própria nova seleção de melodias da dupla, que nem sempre acerta no alvo.

No álbum, dá para destacar a abertura com Same old song, country com referências de punk e até de emo, fala sobre insucessos, canções tristes e lança mão de versos como “ei, mamãe, você pagaria meu aluguel? / você me deixaria ficar no seu porão? / porque qualquer um de nós poderia fazer sucesso ou poderia acabar morto na calçada”. A auto-explicativa Asshole é marcada por um piano nostálgico e alguma grandiloquência, com letra falando de um desencontro bem estranho: “a primeira vez que nos encontramos / você me achou um babaca / provavelmente está certa”.

O lado melódico-ao-extremo do pós-britpop bate ponto na faixa-título e em You’re all I got, e também no piano “voador” de Sunflowers, cujo arranjo impressiona pela beleza. So long tem um clima mais classic rock e estradeiro que o resto do disco, com um arranjo que cresce e vai ganhando outros elementos. A doçura do grupo dá aquela enjoadinha básica no country-gospel de Plasticine e patina de vez nas acústicas e chatinhas Ativan e Keys on the table – para recuperar tudo na mistura de despojamento e rigor pianístico quase clássico de Better day, um anti-hino ao vazio que rege a vida de muitas pessoas (“sonhando com dias melhores / assistindo pornô e programa de imóveis na TV”).

Nota: 7
Gravadora: Dualtone
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

A estreia solo do mineiro Tátio, produzida por Chico Neves, é um disco curto, direto, que poderia ter sido lançado pela antiga CBS em 1979 ou 1980 – ou seja: quando revelações da MPB eram lançadas a todo momento e encontravam espaço no rádio e nas trilhas de novela. Contrabandeado é um disco de afirmação, que fala sobre progresso sem regalias, amores fluidos e liberdade (sexual, inclusive) nas grandes cidades.

O tom quase mangue-bit de Radar é emoldurado por versos que dizem “vai ser difícil de controlar/tudo o que vive debaixo do sol”. A democracia e a fartura aparecem no samba-reggae-forró Será que eu sou louco. A MPB mineira clássica é evocada em Seres distantes e na meditativa Anhangabaú. A psicodelia surge no tom mutante do blues Sonho antigo e no ambient brasileiro da faixa-título.

A voz impressionante de Tátio ganha destaque em faixas como a balada do ex bem resolvido Longe de mim (com Zeca Baleiro como convidado) e o forrock apocalíptico de Reza milagreira, que ganha uma excelente participação de Juliana Linhares, e um arranjo em que o uso de eco faz parte do cenário. Contrabandeado é uma renovação da MPB da era da abertura, e um disco que funciona como vingança do oprimido.

Nota: 9
Gravadora: Estúdio 304
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

Banda psicodélica de Novo Hamburgo (RS), o Pedra Lunar é um quarteto formado por Gabrieli Kruger (voz e percussão), Bruno A. Henneman (guitarra e backing vocal), Leonardo Winck (baixo e backing vocal) e Felipe Frodo (bateria, percussão e backing vocal). O caminho rumo ao infinito, primeiro álbum do grupo, revela uma sonoridade que quase sempre está mais para 1966 do que para 1968. Algo entre o mod e o psicodélico em faixas como Tudo está no lugar, a quase-faixa título Caminhando rumo ao infinito (esta, com vocais bastante criativos), Livres por aí e Eterna juventude – essa última, com piano lembrando Nicky Hopkins (Rolling Stones) e clima herdado não só de Kinks como do começo do glam rock (David Bowie, T Rex).

Aumentando a variedade do som, o Pedra Lunar ganha tons progressivos em Chuva passageira, clima estradeiro e rock-barroco em Toda essa confusão, vibe entre o power pop e o country rock em Dias de inverno e um som entre Bob Dylan e Raul Seixas em Eu também quero voar. O saldo do disco do Pedra Lunar é bem positivo e promissor, e pega direto na veia de quem curte rock brasileiro setentista, por causa das letras e da argamassa vintage.

Nota: 7,5
Gravadora: Áudio Garagem
Lançamento: 14 de dezembro de 2024.

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