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Crítica

Ouvimos: Jamie xx, “In waves”

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Ouvimos: Jamie XX, “In waves”
  • In waves é o segundo álbum do produtor britânico Jamie xx, integrante da banda The xx. O disco tem participações de Honey Dijon, Kelsey Lu, John Glacier, Panda Bear, Robyn, The Avalanches e Oona Doherty, além dos companheiros de banda de Jamie, Oliver Sim e Romy.
  • O disco foi concebido durante quatro anos. James comparou suas experiências desde o lançamento de seu álbum anterior a “ondas que todos nós experimentamos juntos e sozinhos”, e disse que queria, no novo disco, “fazer algo divertido, alegre e introspectivo ao mesmo tempo”, já que “os melhores momentos em uma pista de dança geralmente são isso”.
  • Dentre os samples e interpolações do disco, o mais curioso é o uso de trechos de Nights in white satin, da banda proto-progressiva Moody Blues, na faixa Still summer.

Tem gente bastante interessada, alias sempre teve, em usar a música eletrônica para criar atmosferas e fazer as pessoas viajarem, na pista de dança ou fora dela. É o caso de gente como Justice, Daft Punk (especialmente no começo da dupla), Chemical Brothers, The Boards Of Canada e… Jamie xx, integrante do grupo The xx, e músico solo de produção bissexta. In colour, seu álbum anterior, completa uma década de lançado no ano que vem. O novo In waves, repleto de participações, alinha-se mais a uma visão quase psicodélica da dance music, do que a recordações da música eletrônica dos anos 1980 ou 1990.

Tudo que surge no álbum é montado como se contasse uma história para ser vivida em grupo, como numa pista de dança – o que já é mostrado pelos títulos das músicas e pela progressão das faixas (abrindo com a vinheta Wanna, que aparece discretamente como os beats de uma festa ouvida a distância). E também pelas diversas partes das músicas, transformando a audição de In waves numa surpresa repleta de interlúdios e vinhetas.

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De “retrato de uma época”, tem o módulo dançante repleto de vocais gospel de Treat each other right (soando como os remixes dos anos 1990) e o ataque sonoro de Baddy on the floor, com riff de piano – além dos efeitos acid (e literalmente em ondas, com direito a sample da banda sessentista Moody Blues) de Still summer, e da participação de Robyn na hipnotizante Life. O soul house tristonho de Waited all night lembra uma balada disco que foi remixada e ganhou um refrão dançante. Dafodil (com Kelsey Lu, John Glacier e Panda Bear) vem numa onda mais minimalista e mais próxima do indie pop.

Indo para o fim do disco novo de Jamie xx, destaque para All you children, com participação do grupo australiano The Avalanches, sample de coral infantil e design musical de colagem sonora e até visual (imagina um clipe disso!). No final, Falling together, declamada por Oona Doherty, coloca em palavras a magia e a integração que rola entre DJ, música e pista (“nada a fazer/além de tratar/e ser tratado com gentileza/para preservar um ao outro e cuidar”).

Nota: 9
Gravadora: Young

Crítica

Ouvimos: Chloe Qisha – “Modern romance” (EP)

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Ouvimos: Chloe Qisha - "Modern romance" (EP)

RESENHA: Chloe Qisha encara o caos moderno em Modern romance, EP que mistura synthpop, emo e letras afiadas sobre amor, crise e existencialismo pop.

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Não precisa nem ler uma dúzia de livros para entender que um dos assuntos preferidos dos dias de hoje é a confusão – para muita gente, os tempos de hoje sáo distópicos, e observar todo esse caos de fora, com perspectiva, é para poucos. E essa bagunça entre ficção e realidade, entre idealização e (hum) verdade, é um dos combustíveis de Modern romance, EP novo da nova sensação pop Chloe Qisha.

Musicalmente – e vá lá, até nas letras – Chloe soa bastante comparável a muita coisa pop-rock atual, especialmente Olivia Rodrigo. Há diferenciais: um pé maior no synthpop do que no rock-de-guitarras, além de uma vivência mais apurada, até nos vocais. Nas músicas, Chloe lida com as distopias particulares da vida dela, como as lembranças das ilusões amorosas da adolescência (The boys, 21st century cool girl), o amor por pessoas que parecem feitas de areia (Modern romance) e a vontade de nem sequer sair da cama, porque o mundo lá fora parece medonho demais para quem não nem tem nem 30 anos e ainda está descobrindo a miséria dos boletos (Sex, drugs and existential dread).

Existencialmente e sexualmente, a coisa só parece resolvida mesmo em A-Game, a última faixa, na qual ela decide fazer amor com uma pessoa fanática por esportes “como se estivéssemos na WrestleMania” (evento fodaralhástico de luta-livre). Os sons no EP variam entre o emo teatral lembrando Queen (21st century), tecnorock que usa guitarras como um ambiente sonoro (Modern romance, The boys, A-Game) e um ligeiro pós-disco (Sex, drugs, com um pé no Paramore). Uma confusão que gruda.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: VLF Records / Are You Serious? Records
Lançamento: 15 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Julia Mestre – “Maravilhosamente bem”

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Ouvimos: Julia Mestre - "Maravilhosamente bem"

RESENHA: Julia Mestre retorna com um som mais elaborado em Maravilhosamente bem, disco que mistura MPB vintage, boogie 80s e pop atual com beleza e sutileza.

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O som de Julia Mestre voltou com uma cara diferente, mais elaborada, no terceiro disco, Maravilhosamente bem. Um disco que por sinal é um dos melhores trabalhos recentes da MPB a equilibrar referências do pop transante do começo dos anos 1980. O boogie vaporoso da faixa-título, o pop adulto de Sou fera e o clima Rita-e-Roberto de Pra lua e Veneno da serpente devolvem todo mundo a uma época em que patins era moda, a série Amizade colorida escandalizava geral na Globo e a abertura da novela Sol de verão ajudava a vender biquíni e bronzeador.

Maravilhosamente bem é um disco que, aparentemente, passou por uma elaboração complexa – a própria Julia afirmou num texto de seu Instagram que passava por um processo pessoal de cura, do qual saiu o single Sou fera. Mesmo com o olhar voltado para uma MPB jovem e vintage, o disco se conecta com o pop atual – como no boogie latino de Vampira. Ambientações musicais entre a disco music e o dream pop tomam conta de boa parte do álbum, combinando os vocais sussurrados e as cordas patinantes lembrando Boney M e The Trammps.

Entre referências e emanações que incluem pop latino (a não autoral Vampira foi feita pelo ex-menudo Ray Reyes) e os arranjos de Lincoln Olivetti, Maravilhosamente bem também é repleto de canções que parecem ter saído dos estúdios da PolyGram no anos 1980 – incluindo a homenagem a Marina Lima Marinou, limou (com participação da homenageada) e a vibe Angela Ro Ro de Sentimento blues. Ou o dream pop realmente pop de Cariño, no final.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 8 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Bryony Lloyd – “Aerial” (EP)

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Ouvimos: Bryony Lloyd - "Aerial" (EP)

RESENHA: Bryony Lloyd estreia com o EP Aerial, um folk barroco e melancólico sobre solidão urbana, gravado com beleza e minimalismo.

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Vinda de Manchester, com alguns singles na discografia (lançados desde o ano passado), Bryony Lloyd segue o mesmo clima quase barroco do folk britânico dos anos 1960 – 1970, de bandas como Steeleye Span e Fairport Convention. O primeiro EP, Aerial, fala de uma cidade gelada e distante na faixa de abertura, Never never never, com violão e cordas nostálgicas, e versos como “eu nunca tive uma mão / dada a mim / como eles dão um ao outro”.

Bryony permanece falando de solidão em 4am, folk com piano tocado lá de longe, com cordas discretas e delicadas. Moon in Libra é pop barroco introspectivo, It’s OK é outro retrato da solidão – com fantasmagoria acentuada no som e clima esparso, meditativo. Em When you looked away, por sua vez, sons parecem ranger em meio à delicadeza da voz e do violão, gravados como se viessem de uma fita, em meio a uma letra cheia de palavras nunca ditas. Em muitos casos do EP, por sinal, só o violão e a voz não parecem estar sendo usados para funções diferentes do normal.

O final tem Phantasmagoria in two, com melodia lembrando discretamente Blowin in the wind (Bob Dylan), violão e voz soando como se viessem de uma fita K7 gravada casalmente numa cozinha, ou num lugar qualquer com bastante reverberação. Um disco cheio de tristeza, e uma espécie de EP conceitual sobre solidão e frieza na cidade grande.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de março de 2025.

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