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Crítica

Ouvimos: Black Crowes, “Happiness bastards”

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Ouvimos: Black Crowes, "Happiness bastards"
  • Happiness bastards é o nono álbum dos Black Crowes, banda que completa 40 anos neste ano (já?), mas que foi popularizada nos anos 1990 a partir de sucessos como Hard to handle, High head blues e Remedy. É também o primeiro disco desde o último retorno da banda em 2019.
  • Hoje o grupo é um trio formado por Chris Robinson (voz), Rich Robinson (guitarra) e Sven Pipien (baixo), além de músicos convidados.
  • A relação dos irmãos Robinson é explosiva: brigas já interditaram a banda em vários momentos, e os dois ficaram sem se falar de 2015 (ano em que uma tentativa de retorno gorou) a 2019. A ideia inicial era apenas comemorar os 30 anos da estreia do grupo, Shake your money maker, com uma turnê em 2020 – mas as datas foram adiadas por causa da pandemia.

Que interessante: os Black Crowes, uma banda de essência setentista, voltaram inserindo até um rapzinho bem sinuoso em Cross your fingers, uma das melhores faixas de seu disco novo, Happiness bastards – e por sinal uma das músicas que mais escancaram as influências do Led Zeppelin no som da banda.

Nessa faixa cabem também guitarras ao contrário, e toques de outra das maiores influências do grupo, Faces. Seja nos vocais rasgados a Rod Stewart, seja na competência para transformar tudo em blues-rock, mesmo quando uma certa sujeira punk entra aqui e ali no som deles. Entradas a la Deep Purple e ataques de slide guitar, por exemplo, dão toques especiais a, respectivamente, Bedside manners e Rats and clowns, as duas primeiras músicas.

Mas tudo isso ganha uma urgência bem grande. Aliás grande o suficiente para garantir que Chris Robinson (voz) e Rich Robinson (guitarra) soem como músicos experientes sem o menor cacoete de diluidores, e que estão indo bem além do receituário revivalista comum.

Hoje é até complicado lembrar que Black Crowes floresceu nos anos 1990 – soa como uma banda mais antiga atualizadíssima, com uma sonoridade que, mais do que lembrar uma banda ou outra, sempre parece ter existido. Deve ser a cultura musical dos irmãos Robinson, capazes de cruzar The Cult e Grand Funk Railroad no single Wanting and waiting, e capazes de ensinar às novas gerações que gospel não é aquele estilo musical sem graça feito por uma série de artistas nos dias hoje, mas sim uma forma de emocionar o ouvinte – como nos corais que coadjuvam algumas faixas.

Esse papo sobre “banda mais antiga atualizadíssima” não lembra um pouco os Rolling Stones? Sim, e tem uma coisa ou outra no som do Black Crowes que se relaciona com Mick Jagger e cia. No novo disco, isso rola na balada country poderosa Wilted rose, com vocais da countrywoman norte-americana Lainey Wilson, e no blues Bleed it dry. Tem também o existencialismo rueiro, herdado da escrita de Jagger, que volta e meia surge nas letras do grupo.

Vale citar que os BC são a banda que vai te fazer levantar da cadeira com um country-punk legítimo – cabendo até bases de guitarra lembrando Johnny Ramone – em Flesh wound. São a banda que vai te impressionar com uma balada tranquila no encerramento, Kindred friend. E são o grupo que, em vez de cair para dentro de alvos fáceis, volta e meia lembram formações hoje não tão lembradas, como West, Bruce and Laing, James Gang e Steve Miller Band. 

Nota: 9
Gravadora: Silver Arrow Records

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Ouvimos: Sophie, “Sophie”

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Ouvimos: Sophie, “Sophie”
  • Sophie é o segundo disco, e primeiro álbum póstumo, da DJ e produtora inglesa Sophie. Foi feito a partir de gravações que ela vinha finalizando, e teve produção do irmão dela, Benny Long, que tomou à frente na produção após a morte da artista.
  • Em 30 de janeiro de 2021, aos 34 anos, Sophie morreu ao cair acidentalmente do telhado de um prédio de três andares em Atenas, Grécia, enquanto tentava tirar uma foto da lua cheia. Artistas como Rihanna, Sam Smith, Vince Staples e Charli XCX deram declarações de condolências. Brat, disco novo de Charli, tem uma homenagem a ela na faixa So I (a letra: “quando eu faço músicas, lembro das coisas que você sugeria/’acelere mais’/será que você gostaria dessa música?”).

Há notícias de que a DJ e produtora Sophie estava preparando um álbum bem pop antes de morrer prematuramente. A artista britânica vinha trabalhando em casa na sequência do segundo álbum, Oil of every pearl’s un-insides (2018), e levando adiante uma carreira que se tornou conhecida pela criação de texturas e atmosferas sonoras, que influenciaram de Pet Shop Boys a Charli XCX.

Músicas mais antigas como It’s okay to cry, Vyzee, Ponyboy e Lemonade soam mais como pequenas mixtapes, miniexperimentos de estúdio, prontos para serem esticados por DJs e produtores como módulos dançantes – o tipo de som que funciona na pista de dança e vira viagem individual quando ouvido em casa. E que, como costuma acontecer em projetos de produtores, permite a entrada de obras em progresso lado a lado com canções prontas.

Essa noção de que o inacabado tem seu tempo e lugar é o que permeia Sophie, primeiro álbum póstumo da DJ e produtora – e um disco cuja conexão com o ouvinte é imensa, o que já era comum na obra dela (não se lança uma música chamada “é Ok chorar” à toa, enfim). O material abre com uma canção climática, monocórdica e fantasmagórica, Intro (The full horror), que se aproxima mais do rock alemão dos anos 1970 do que da dance music. Repletas de participações, as dezesseis faixas assemelham-se mais a beats e criações nas quais Sophie vinha trabalhando, embora, segundo a família, componham um disco que já estava quase completo em 30 de janeiro de 2021, quando a produtora morreu.

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Como costuma acontecer em discos póstumos, sempre parece que algo está faltando – no caso, Sophie entregou os vocais para convidados como Cecile Believe, Liz e a controversa Nina Kraviz, que dão um ar mais humano a músicas como o popzão de FM My forever, a atmosférica The dome’s protection e ao house irretocável de Why lies e Live in my truth. O techno mais frenético surge na experimental Berlin Nightmare e no gabber de Gallop – ambas com participações de Evita Manji – e na parte final de One more time. Não há nenhuma faixa mal diagramada no disco, mas em alguns momentos, fica a ligeira impressão de que muita coisa de Sophie ainda seria repensada, e que estava sendo gravada quase como um mostruário de trabalho – como se alguns beats pudessem ser reaproveitados aqui e ali.

Nos títulos e nas letras (ou frases usadas como letras simples), dá para perceber que Sophie acreditava de verdade em sua música como fator de transformação e de proximidade. E essas são as melhores características do disco. Não deve ser por acaso que o álbum termina com a bela e dançante Love me off Earth (“ame-me fora da Terra”), quase uma mensagem post mortem para seus fãs, num clima bem mais ameno do que o próprio começo do disco.

Always and forever, um house celestial e discreto (que pedia um remix ou uma segunda parte com beats mais fortes) gravado com a amiga Hannah Diamond, parece uma carta dos amigos para Sophie: “tudo está se afastando/para mais e mais longe/(…) para sempre e para sempre/estaremos brilhando juntos”. Esse clima de mensagens trocadas quase como numa tábua ouija é o que mais fica na mente no fim da audição.

Nota: 7
Gravadora: Transgressive Records/Future Classic

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Ouvimos: We Hate You Please Die, “Chamber songs”

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Ouvimos: We Hate You Please Die, “Chamber songs”
  • Chamber songs é o terceiro álbum da banda punk francesa We Hate You Please Die. O disco tem produção e mixagem de Guillaume Bordier. Na formação da banda, Mathilde Rivet (bateria), Chloe Barabé (vocais e baixo) e Joseph Levasseur (guitarra).
  • O grupo foi um quarteto até 2023, quando o ex-vocalista Raphaël Balzary saiu. Chloé assumiu os vocais desde então. “Tive que arriscar no início de 2023, quando tivemos que compor rapidamente para os shows. Coloquei muita pressão sobre mim mesma. E sinceramente, fiquei estressada com essa virada. Esforcei um pouco a voz, me perguntando o que eu poderia fazer, o que eu gostava de fazer também”, disse ao site Mowno.

Mal dá para imaginar que o We Hate You Please Die é uma banda francesa. O som desse trio é barulho que parece feito nos anos 1990 em alguma garagem dos Estados Unidos, com direito a muitas microfonias, vocais raivosos e refrãos explosivos, como os de Adrenaline e Stronger than ever. As partes iniciais das faixas são pura preparação para a ação – é aquele tipo de música que prepara o ouvinte para algo que vai acontecer nas caixas de som, no palco ou até mesmo na plateia (dá para imaginar as rodas ao som de faixas como Automatic mode e Control).

Em boa parte do repertório de seu novo álbum, o We Hate You Please Die traz influências bastante óbvias de bandas como Babes In Toyland, como nos vocais de quase todo o álbum, nas paradinhas de Lust e na parede de ruídos que introduz Vampirized – e toma quase 5 segundos da faixa. Asshole e Hero são punk vintage lembrando X Ray Spex. A cavernosa e quase falada Sorority prega, entre microfonias: “somos mais fortes se estivermos juntas/as mulheres não são suas inimigas”. No final, os cinco minutos e a torrente de ruídos de Surrender. Se não ouvir em alto volume, nem tem graça.

Nota: 8
Gravadora: Nouveau Monde Artistes Services/Incisive Records

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Ouvimos: The Waeve, “City lights”

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Ouvimos: The Waeve, “City lights”
  • City lights é o segundo disco do The Waeve, projeto dos músicos, vocalistas e compositores Graham Coxon (Blur) e Rose Elinor Dougall (artista solo e ex-The Pipettes). O disco tem produção de James Ford.
  • O single You saw é definido pela dupla como “uma música sobre reconhecer como decisões aparentemente minúsculas podem ter um impacto sísmico no curso da vida de alguém, como às vezes parece que a maneira como as coisas acontecem é predestinada”.
  • O nome The Waeve é “the wave” (a onda) na antiga grafia inglesa. A dupla foi batizada assim porque ambos os integrantes são piscianos e há muitas referências nas letras das canções do The Waeve à água e ao mar.

Sim, o mundo precisava de uma união perfeita entre pós-punk e pop sessentista. Sendo que “pop sessentista” aí aponta para uma mescla de Motown, girl groups, Velvet Underground, The Who, Kinks, Beatles, unidos com uma visão lúgubre do que é fazer um rock que vá além dos três acordes. E se não precisava, vai acabar achando que precisa logo após ouvir City lights, segundo disco do The Waeve.

É complicado apontar referências diretas no som de Graham Coxon (Blur) e Rose Elinor Dougall (ex-Pipettes), mas em músicas como Mouth to the flame, bate ponto uma sonoridade que junta Ultravox (o final lembra o metais-e-programação de Hiroshima mon amour), Roxy Music e até a fase solo de Pete Shelley (Buzzcocks). You saw é o mais próximo possível de uma união entre Todd Rundgren e ABBA. I belong to… transporta o clima sombrio de uma canção de Alice Cooper para a Inglaterra dos anos 1980. A balada mântrica Simple days, destacando os vocais de Rose, a parede de guitarra-e-efeitos de Broken boys e o folk agridoce e mágico de Song for Eliza May e Girl of the endless night levam o álbum para outros lugares, bem diferentes musicalmente.

Não existe nada de eminentemente “progressivo” em City lights. Se bem que a última faixa, a belíssima Sunrise, chega perto disso. É uma música de sete minutos, bastante associável a Pink Floyd, mas com uma filiação glam que a deixa próxima do David Bowie de músicas como Memory of a free festival. E é uma grande surpresa no fim do álbum.

Nota: 9
Gravadora: Trangressive

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