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Crítica

Ouvimos: Billy Tibbals, “Nightlife stories” (EP)

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Ouvimos: Billy Tibbals, "Nightlife stories" (EP)
  • Nightlife stories é o segundo EP de Billy Tibbals, cantor e compositor de 21 anos, nascido em Londres, mas que migrou com a família para Los Angeles em 2014.
  • Uma vez em LA, diz o cantor, “encontrei um grupo de amigos que já gostava muito de música e de colecionar discos, então peguei o vírus e comecei a gravar em casa”. Billy, ainda no ensino médio, usava o programa Garageband e um gravador multitracking para registrar suas composições, tocando todos os instrumentos.

Billy Tibbals tem lá seu lado indie anos 2000 – volta e meia dá pra lembrar de Strokes e The Hives ouvindo o som dele. Mas na prática, ele só existe porque um dia, nos anos 1970, o glam rock foi criado e ganhou milhares de fãs graças a aparições de David Bowie e Marc Bolan no Top of the pops, da BBC. Seu EP do ano passado, Stay teenage, exibia cara de pau nas letras, vocais lembrando David Bowie e Marc Bolan, cordas que poderiam ter sido arranjadas e regidas por Mick Ronson, e um conjunto de canções que operava entre o glam e o power pop, como no quase hit Hollywood baby e na balada sixties Foreverland. Já em All for you e Best day I ever had, Billy fazia revisionismo punk à moda dos Replacements.

Nightlife stories, o novo EP, traz Billy (espécie de cópia pós-teen de Marc Bolan) voltado para uma mescla de T. Rex, Dead Boys, Soft Boys (a guitarra que abre a faixa inicial, Burn out!, ameaça iniciar I wanna destroy you, clássico dessa banda que operava entre o pós-punk e a pós-psicodelia), Stooges, Spiders From Mars e até Be Bop DeLuxe. Sim, porque várias guitarras do EP lembram bastante o estilo pré-punk e “espacial” do gênio Bill Nelson, que liderou essa banda pouco reconhecida dos rock dos anos 1970.

O lado quase pop-punk do primeiro EP e dos primeiros singles ganhou mais elaboração, em faixas como The world revolves e o power pop Out of touch, que lembram um Badfinger acelerado. Ou em duas faixas que soam como punk de cabelo grande e visual rocker clássico, Nobody knows e I’ll die. Num disco desses, não poderia deixar de haver uma balada, e Dream away traz mais um toque de anos 1970 para o EP.

Nota: 8,5
Gravadora: Silver Arrow Records

Crítica

Ouvimos: Sophie Jamieson, “I still want to share”

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Ouvimos: Sophie Jamieson, "I still want to share"
  • I still want to share é o segundo álbum da cantora e compositora londrina Sophie Jamieson. A produção foi dividida entre Guy Massey (Spiritualised, The Divine Comedy, Kylie) e Sophie.
  • Quer ter uma ideia da vibe do álbum antes de ouvir? “É um álbum que explora a natureza de empurrar e puxar. Fala do carrossel do apego ansioso e como ele tece, corta e rouba relacionamentos familiares e românticos. Ao longo do disco há um desejo perpétuo de pertencer, um anseio de aprender a amar e deixar ir, e um erro contínuo do alvo. Cada música se apega firmemente à possibilidade de um lar, mas nunca chega lá” (fonte: Bandcamp de Sophie).
  • Vista, a segunda faixa, por exemplo, foi composta “no meio de uma paixão. Acho que senti o perigo em minhas próprias emoções. Foi intenso e rápido, e embora eu não tenha percebido na época, essa música parece revelar minha consciência de me perder muito rapidamente”, diz Sophie aqui.

O afeto e o amor, às vezes, são carregados de sentimentos ruins. E, por causa dessa natureza complexa, costumam ganhar explicações melhores quando se usa outros assuntos para falar deles. Como numa crônica em que um fio de cabelo, uma pessoa passando na rua, um antigo brinquedo etc, servem para falar de alguma situação medonha, alguma pessoa que se foi, alguma pessoa que ameaça ir. Em I still want to share, Sophie Jamieson constrói um mosaico sonoro delicado, entrelaçando folk e pop de câmara, para falar de amores que se dissolvem no tempo. Suas letras são feitas de fragmentos que capturam a lenta erosão das relações, como fotos antigas desbotando sob a luz.

Não é por acaso que o disco inicia com a celestial Camera, em clima introvertido, montanhês, com cordas que dão um design musical melancólico e vertiginoso para a faixa – cuja letra fala sobre a tentativa de colar os cacos de um amor despedaçado. Vista, canção de piano, violão e cordas, usa o ato de dirigir numa estrada para falar de uma relação problemática. I don’t know what to save abre a caixa de dúvidas e dilemas para falar de uma paixão que se perder na distância. É uma canção que revela sua intensidade a cada acorde, especialmente quando as cordas entram em cena. Welcome é uma balada de aspecto quase mágico, com efeitos sonoros que vão aparecendo aos poucos. How do you want to be loved soa às vezes como um synth folk, repleto de nuances e detalhes minuciosos de estúdio.

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O amor de I still want to share não parece se restringir a uma única pessoa, ou a um momento específico, . Canções sobre a vida materna surgem no acalanto blues Baby, que a cantora disse ter sido composta, inicialmente, para falar sobre canções nascendo dentro dela. O mesmo tema reaparece na faixa-título – uma balada que ganha uma atmosfera quase cinematográfica graças aos vocais de Sophie, que, em um tom sussurrado, exigem que você se esforce para mergulhar na letra da canção. Já o lado sufocante da maternidade é evocado para falar de um relacionamento-problema em Your love is a mirror, uma quase canção de ninar, com versos como: “quando é que eu vou partir o seu coração?/posso sentir isso chegando/(…) você me dá aquele olhar/dizendo que você não é apenas o fruto da sua mãe”.

Time pulls you over backwards encerra o álbum inserindo outros climas na história. É uma balada romântica meio anos 1950, que tem algo de Can’t help falling in love (sucesso de Elvis Presley), com uma letra em que uma pessoa deseja nunca ter amado outra, encerrando com imagens de sangue e destruição. Uma das melodias mais tranquilas e um dos arranjos mais minimalistas do álbum.

Nota: 8
Gravadora: Bella Union
Lançamento: 17 de janeiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Edvard Graham Lewis, “Alreet?”

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Ouvimos: Edvard Graham Lewis, "Alreet?"

O Wire é uma das bandas mais influentes da história do rock britânico. Ecos da sonoridade de discos como Pink flag (1977) podem ser encontrados em inúmeras bandas, desde contemporâneas (Robert Smith queria que o The Cure se parecesse com eles, no começo da carreira) até gente bem mais recente (Connection, hit dos anos 1990 do Elastica, parecia demais com Three girl rhumba, não-hit do Wire de 1977, a ponto de ter rolado um acordo extrajudicial).

Nos últimos tempos, após algumas mudanças de formação, o Wire vinha alternando ruído e melodia em discos como Noturnal koreans (2016) e Silver/lead (2017). Em carreira solo, o baixista e co-fundador do grupo, Graham Lewis, adotou seu nome completo (Edward Graham Lewis, com um “v” no lugar do “w”). E no álbum Alreet?, chega mais perto do lado experimental e perturbador da música de sua banda.

Sendo o Wire tão influente assim, nem espere que o disco de Edvard não se pareça com sua banda. Alreet? é um disco fincado num ponto de união entre o pós-punk e o rock progressivo, chega perto de rótulos como krautrock e ambient music em vários momentos, e suas oito faixas são mobilizadas a ponto de tudo parecer com a trilha de um documentário de guerras ou guerrilhas, com o baixista ora declamando as letras, ora soando como um countryman de péssimo humor.

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Kids of whether, na abertura, traz tudo o que bandas como o Ministry e KMFDM roubaram do Wire. É um jungle leve, com distorções, alternando som eletrônico e orgânico, com uma letra que ordena: “você não irá passar por aqui novamente/nunca terei o prazer/você não irá passar por aqui novamente/em busca de tesouros sonoros”. Diamond shell lembra coisas da dupla David Byrne e Brian Eno, ou lançamentos solo de Jah Wobble (Public Image Ltd),. A faixa promove a união de guitarras e instrumentos de orquestra a batidões eletrônicos – e os beats ganham tons orientais, na sequência.

A sombria Switch tem batidão arábico, e lembra um eletro-folk. E um clima parecido surge no jungle estradeiro e selvagem de Last scene, que soa como uma eletrônica de faroeste, com guitarras unidas a sons que vêm de longe, e que lembram sanfonas e violinos. Bang parece um trailer de filme, ou um audiodocumentário de guerra, com batidas selvagens, além de ruídos que lembram um bater de asas de helicópteros sampleado e ritmado. São três faixas em que as coisas começam a ficar cada vez mais tensas no álbum.

O lado B do vinil de Alreet? tem três longas faixas e amplia mais ainda o conceito musical do disco. Soa até quase progressivista em I still remember, que parece o Wire produzido por Brian Eno ou Robert Fripp. Key weapon inicia com algumas batidas afro, até se tornar uma peça industrial, numa faixa que, musicalmente, comta uma história de caos. Who the hell encerra o disco parecendo uma oração distorcida e caótica, ou cântico de fim de mundo, que encerra com Graham perguntando várias vezes: “sem humanidade/que porra somos nós?”. Alreet? encerra em clima de TV sendo desligada, de fio desligado da tomada, de falta repentina de luz – como já acontecia com os discos do Wire, vale dizer.

Nota: 9
Gravadora: UPP Records
Lançamento: 21 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Vanarin, “Hazy days”

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Ouvimos: Vanarin, "Hazy days"
  • Hazy days é o terceiro álbum da banda britânica-italiana Vanarin. Eles apresentam o disco como “um álbum conceitual onde cada faixa representa um instantâneo da atual evolução humana, continuamente dividida entre momentos de lucidez e desorientação, esperança e desilusão, em uma era cada vez mais nebulosa e desafiadora, dominada como é – para o bem ou para o mal – pela tecnologia”.
  • O Vanarin tem na formação: David Paysden (voz, synth), Marco Sciacqua (guitarra, backing vocals), Massimo Mantovani (baixo, backing vocals) e Marco Brena (bateria, percussão).

Apesar de apontarem Public Image Ltd como referência, os italianos do Vanarin estão mais para seguidores do Radiohead, do TV On The Radio, do Nine Inch Nails e de discos recentes e inovadores, como The collective, de Kim Gordon. Toda essa musicalidade parece ter sido comida com farinha na hora de conceber Hazy days, um álbum cyberpunk, eletrônico e conceitual sobre a evolução humana.

Como disco conceitual, vale dizer que Hazy days deixa para a/o ouvinte completar boa parte da história: as letras são curtas, e às vezes têm frases quase ríspidas. Não existe muita esperança nas letras do Vanarin, que começa depositando uma fé irônica no futuro em Hey listen (“ouça as crianças lá fora/elas não sabem muito, mas sabem como tentar se esconder”). Só que em A fly on the wall o grupo constrói um cenário com “babuínos de cabelo laranja/falando como seres humanos” (referência a Donald Trump, claro) e frases como “mordendo a mão que alimenta/você sabia que você é o que você come?”. My circle é misantrópica (“não pise no meu círculo/não somos amigos”) e Falling under prega que “só quero acreditar/mas posso ver minha fé diminuindo”. Alguns momentos de calma são encontrados em Lost.

Musicalmente, o grupo é movido pela vontade de desafiar o formato “canção” – e o formato comum de rock. Parecem com um King Gizzard & the Lizard Wizard neo-soul em Hey listen, inventam uma espécie de soulgaze (!) em What we said, fazem trip hop ruidoso em My circle e começam a ser mais reconhecíveis como grupo de pós punk na dançante I don’t know. Já Lost é um lounge esquisito, com voz modificada eletronicamente, enquanto Falling under é basicamente um r&b lisérgico, com violões que parecem sampleados de algum folk das antigas. A fly on the wall soa como o balanço dos Kinks numa canção de house music dos anos 1990. Hazy days é o tipo de disco que roqueiros tradicionais vão rejeitar ou vão demorar para se acostumar, e isso já é ótimo.

Nota: 8
Gravadora: Dischi Sotterranei
Lançamento: 17 de janeiro de 2025.

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