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Maurício Barros (Barão Vermelho): solo, finalmente

Isolamento, para Maurício Barros, é palavra de ordem. O tecladista do Barão Vermelho respeitou todos os protocolos da pandemia, ficou em casa e só saiu para o estritamente necessário. Concluiu seu primeiro disco solo, o recém lançado Não tá fácil pra ninguém, à distância, mandando arquivos para o técnico de som mexer.
O músico bateu um papo por telefone com o POP FANTASMA – de máscara, inclusive, já que tinha precisado dar uma saída rápida. Entre protocolos e alguns encontros com os colegas do Barão para acertar a turnê comemorativa de 40 anos do primeiro disco (que começa em 2022), fechou o álbum, repleto de parcerias com nomes como Bruno Levinson, Arnaldo Antunes, Otto (Abra essa porta, uma das melhores), Mauro Santa Cecilia e Bruna Beber.
Maurício também sobe ao palco do Circo Voador no próximo dia 18, mas como integrante do Barão Vermelho, que faz show – tendo na abertura Marcelo Gross (Cachorro Grande). Turnê do disco solo não deve rolar por enquanto. O resto ele mesmo te conta.
Como você resolveu lançar um disco solo? Acho que dos Barões só você e o Peninha (percussionista do grupo, morto em 2016) não tinham disco solo…
Pois é, o Peninha acho que até tinha um, não sei se foi comercializado… Tinha o Gungala, a banda dele. O disco começou, na verdade, a ser rascunhado há bastante tempo. Aos poucos comecei a fazer repertório, a gravar, mas algumas coisas que gravei há bastante tempo. Eu não me concentrei direito quando começou a pandemia, fui deixando de lado. A gravação foi nos últimos anos, estava encaminhado, mas parei para me concentrar no Barão Vermelho (o retorno da banda, com Rodrigo Suricato nos vocais). Fiz aulas de canto, mas isso veio de um desejo de cantar que eu tinha desde o Buana 4 (banda que Maurício teve após sair do Barão no fim dos anos 1980) e da Midnight Blues Band.
Eu cheguei a lançar um single solo, Horizonte perdido (em 2007), fiz até alguns shows nessa época, justamente para ter essa preparação. Fiz fono, tive preocupações, procedimentos para melhorar a voz. Uma coisa que eu posso dizer é que minha carreira solo foi iniciada tardiamente, mas é ativa. Posso a qualquer momento botar música no streaming, vai ficar paralelo com o Barão.
O disco está cheio de parcerias. Como surgiram?
Eu tenho mais facilidade para fazer músicas, embora eu faça letras também, tanto que o disco tem duas letras minhas. No repertório todo eu participei das letras de alguma forma, algumas de forma mais direta. Convidei essas pessoas em primeiro lugar por admirar o trabalho delas. Algumas são mais próximas, só foi o caso de propor “vamos fazer uma música juntos”. O Bruno Levinson e o Mauro Santa Cecília, eu já tenho músicas com eles. A Patricia Polayne é uma cantora sergipana e a gente se encontrou uma vez. Algumas precisei mexer um pouco na letra, a do Arnaldo e a do Fausto Fawcett foram as que eu menos mexi. Acrescentei só o refrão que não tinha na do Arnaldo, o “não vou ficar” eu acrescentei “não vou ficar esperando nem açúcar nem afeto”.
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O nome do disco tem bastante a ver com o que a gente está vivendo, já que de fato não está fácil pra ninguém. Como é lançar um disco com esse nome num tempo desses?
Basicamente é isso que você falou (rindo). Essa música é uma parceria com o Rogério Batalha, e ele é parceiro do Moacyr Luz. Não sei se fui influenciado por essa informação, de que eu sabia que ele era parceiro do Moacyr, mas pensei nela e falei: “Isso é um samba”. Sentei no piano e fiz um samba, que nem é minha zona de conforto, mas ficou legal. Fiz essa composição até antes da pandemia, tinha uma coisa ou outra que eu queria mudar na letra. Botei uma percussão para dar uma onda de samba.
Ela nem estava no repertório, mas estava no meio do ano fechando a ideia do disco e vi que esse seria o nome perfeito. Quando mostrei pro Rogério até disse a ele: “Nessas partes aqui eu quero dar uma cutucada no negacionismo”. Esse negacionismo absurdo e patético que a gente está vivendo hoje. Tem na letra a frase “cansou de ver gente surtar por não confiar no que diz o doutor”. É uma cutucada, mas eu queria que a música não ficasse datada, nem fosse uma música ranzinza ou rabugenta. Queria que fosse uma coisa irônica, bem humorada. E continua esse governo aí fazendo esses absurdos todos, afetando a gente de forma feroz… Vamos ver ano que vem, né?
Falamos do Buana 4, que aliás foi uma banda que chegou a ter música em novela. Como foi essa época?
Eu tinha acho que 24, 25 anos em 1989, por aí. Eu tinha feito essa música que eu lancei como single em 2007, Horizonte perdido, que era uma parceria minha com o Humberto Effe (Picassos Falsos). Ela era para ter entrado no Rock’n geral (disco do Barão de 1987), disco que foi produzido pelo Liminha. Deixou de entrar para entrar uma versão dos Rolling Stones, na verdade de uma música do Bobby Womack (Agora tudo acabou, versão de It’s all over now, gravada pelos Stones em 1964). Não tenho nada contra, mas isso me deixou – não vou esconder – meio triste, desmotivado. Depois da turnê desse disco, saí justamente para tentar alguma coisa minha, um espaço para as minhas músicas, que eu cantasse. Não estava contente com meu espaço no grupo.
Montei o Buana 4, a gente passou um tempo tocando em barzinho, em tudo quanto era lugar. Até que o produtor da novela Top Model, que iria estrear, perguntou se a gente não queria dar uma olhada na sinopse. “De repente vocês fazem alguma coisa para algum personagem…”, ele disse. Daí vimos o personagem do Taumaturgo Ferreira, que gostava de Jim Jarmusch, era grafiteiro, fazia desenhos pelas ruas. Usamos isso na letra, “deixo os meus recados
por onde você possa passar”. Mas o Mariozinho Rocha, que fazia as trilhas sonoras, adorou a música e escolheu como tema de abertura, mesmo ela tendo a ver com o personagem. O disco saiu pela EMI e não aconteceu muita coisa com ele. Tempos depois o Barão me chamou para comemorar dez anos de banda e eu voltei como músico convidado.
O Barão, por sinal, volta aos palcos em breve no Rio. E você, quando faz show solo do disco?
Bom, aí é que está: esse disco é mais a realização de botá-lo no mundo, mais do que qualquer coisa. Nesse momento específico a gente está comemorando 40 anos do primeiro disco do Barão (a estreia do grupo carioca saiu em 1982). O planejado é a gente fazer uma turnê celebrando esses momentos, vai ser um ano de celebrações. Pretendemos brindar nossos fãs com um pouco de coisas acústicas, lados B, coisas que fizemos. Pensamos em algum momento fazer algo no formato audiovisual. Isso vai ocupar a gente – e especialmente me ocupar – no começo do ano. Daí não pretendo fazer nenhum show da minha turnê. Pode ser que depois que acabar a turnê do Barão eu pare para fazer algo…
Mas eu tenho a intenção de fazer um show aqui, outro ali, do meu trabalho. Para mostrar isso tudo, além de canções minhas com outras pessoas. Quero fazer em algum momento, mas não estou preparando uma banda, nem mesmo a logística dá para isso nesse momento
2021 por sinal seria a comemoração de 40 anos do Barão Vermelho. Foi uma frustração não ter podido aproveitar o ano para comemorar nos palcos?
De certa forma foi muito frustrante pelo momento, que agora está voltando a ter alguma normalidade. Nossos companheiros atrizes, atores, músicos, compositores voltando a trabalhar… Mas o Barão sempre comemorou a data do primeiro disco. A turnê de dez anos foi em 1992, como fizemos também há dez anos para comemorar os 30 anos.
Aliás, seu pai, o jornalista Péricles de Barros, foi uma pessoa bem presente no começo da história do Barão Vermelho, e os primeiros ensaios da banda eram na sua casa. Como era isso?
Sim, ele foi bastante presente na minha vida, pra começar. Todos da banda tínhamos muito carinho por ele. A gente ensaiava na minha casa, ele era jornalista do O Globo, ia trabalhar e a gente ficava lá tocando (rindo). Depois ele conseguiu um show que veio a ser o primeiro do Barão Vermelho, na Feira da Providência. Lembro que nem tinha PA pra tocar. Meu pai era diretor de eventos como o Projeto Aquarius, a Chegada do Papai Noel. O Projeto Aquarius, ele criou com o Isaac Karabtschevsky e o Roberto Marinho. Eu e Guto, que éramos amigos de colégio, viajávamos para Brasília com o Coral da Gama Filho, para vermos concertos de música. Conheço o Guto há mais de 40 anos, meus pais tinham muito carinho por ele.
A gente fez alguns eventos com meu pai, como o Rock Concerto, com Barão Vermelho e Blitz na Praça da Apoteose (em 1984, com regência de Isaac Karabtchevsky e orquestra e coro do Teatro Municipal), chegada do Papai Noel… Ele não botava a gente porque eu era filho dele, mas o grupo estando num ponto daquele de sucessos, ele colocaria se pudesse.
Por sinal você tem uma trajetória bem diferente dentro do Barão Vermelho: fundou a banda, depois saiu, voltou como músico convidado e refundou a banda junto com o Guto Goffi. Qual o balanço que você faz disso aí?
É uma trajetória muito diferente da trajetória do universo (rindo). É uma situação meio enrolada, bizarra. Fui que fundei o Barão, a banda começou comigo e com Guto na minha casa. A gente era do mesmo colégio, depois entrou o Dé, depois o Frejat e finalmente o Cazuza. Eu e o Guto somos os membros originais, a gente sempre brinca: “Quem é o membro 000?”, porque a gente começou junto. Quando fui para o Buana 4, eu deixei de ser integrante, mas pouco antes da turnê dos dez anos, eles me chamaram como convidado especial e voltei a tocar com eles. Teve um momento em que o Guto quis voltar oficialmente mesmo, daí eu apareceria nas entrevistas, teria parte executiva na banda.
Eu tinha esse desejo de ter meu trabalho solo, não precisava sair da banda. Estava ali de novo, à vontade, até porque a gente era amigo. Participava da parte criativa da banda, mas era uma situação meio desconfortável que eu criei pra mim mesmo. Imagina, saí da banda, depois voltei como convidado da banda que eu mesmo formei… Realmente é uma parada meio esquisita. Mas ao longo dos anos comecei a compor. Eu já compunha desde o primeiro disco e recomecei a contribuir. Por você é parceria minha com Frejat e Mauro Santa Cecilia. Puro êxtase fiz com Guto Goffi. Meus bons amigos fiz com Guto e Fernando Magalhães. Teve também Cuidado, Nosso mundo, Enquanto ela não chegar.
Eu produzia com eles cada vez mais. Eu dizia que estava bem assim mas no fundo era esquisito. Minhas filhas iam ver o show e eu não estava no cartaz da porta do teatro. Ou eles iam tocar na TV uma música que eu tinha composto. As pessoas começaram a não saber quem eu era. Depois o Frejat me chamou para coproduzir o disco dele, Amor pra recomeçar (2001). Compus a música-título com ele e Mauro. Fiquei tocando 15 anos com ele, e quando o Guto veio falar que queria voltar, e o Frejat disse que não voltaria, porque queria priorizar a carreira solo, decidi que voltaria com o Barão.
O disco termina com Não desista, que também é uma mensagem bem apropriada…
É aquilo que eu costumo dizer: quem canta seus males espanta. E a gente canta para os outros o que a gente quer dizer para a gente mesmo. Tem um pouco isso de perseverança, de “não chegou a hora, continua batalhando”. Isso serviu até para mim em relação ao próprio disco, para continuar trabalhando. E serve para as pessoas que não estão satisfeitas com o que estamos vendo, com as escolhas que estão sendo feitas pelo governo federal. É preciso resistir.
Foto: Marcos Hermes/Divulgação
Lançamentos
Radar: Vivendo do Ócio, Anacrônicos, Julieta Social, Saturno Express, Duo Repicado, Fenícia, Insubordinados

Mais uma semana começa e, com ela, nossa seleção do Radar – dessa vez dando atenção aos lançamentos nacionais, unindo veteranos (Vivendo do Ócio) e gente que está lançando o primeiro clipe, ou está perto de lançar o primeiro EP ou o primeiro álbum. Ouça tudo no volume máximo!
Texto: Ricardo Schott – Foto Vivendo do Ócio e Paulo Miklos: Vic Zacconi, Juliana Von Ammon, Lucas Seixas/Divulgação
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VIVENDO DO ÓCIO feat PAULO MIKLOS, “BAILA COMIGO”. O grupo baiano volta com sua nova música, e com um convidado tão especial que, mais do que tudo, a música parece ter sido composta especialmente para ele soltar a voz. Baila comigo tem os vocais de Paulo Miklos e é uma música que, talvez não por acaso, tem uma baita cara de Titãs (ex-banda do Paulo, você deve saber).
Além da banda paulistana, o Vivendo diz que nomes como Chaka Khan e Tim Maia também influenciaram a faixa – um balanço meio indie-rock, meio pós-disco, de altas energias e linhas vocais quase faladas. A letra da canção, por sua vez, avisa que é pra seguir em frente, confiar e respeitar o processo.
ANACRÔNICOS, “FEBRE AMARELA”. Banda formada por amigos de infância é outra coisa: Mauricio Hildebrandt (voz e guitarra), Bernardo Palmeiro (guitarra e voz), José Sepúlveda (baixo e voz) e Pedro Serra (bateria) têm histórias que se cruzam desde que eram crianças e brincavam de Beatles, ou de tocar bateria usando panelas e caixas (no caso de Pedro).
Todos mantiveram a amizade e duas décadas depois de se conhecerem, formaram o Anacrônicos, banda que já tem um EP lançado em 2023 e retorna agora com o single gozador Febre amarela, uma mistura de Kinks, grunge, glam rock, funk (graças ao grito “febre amarela!” e ao verso “sai, mosquitinho, sa-sa-sai, mosquitinho!”) e zoeira psicodélica. Em setembro sai mais um EP.
JULIETA SOCIAL, “CASOS DE COLÔMBIA”. Com influência assumida de Radiohead e Chico Buarque, a faixa Casos de Colômbia mistura também emanações de Arctic Monkeys e guitarras em clima de blues pós-punk. A faixa dá o pontapé inicial numa série de lançamentos novos da Julieta Social, uma banda que aposta na criação colaborativa e no encontro entre trajetórias diversas.
Com produção de Rubens Adati e participação vocal de Mariana Estol, a música mete o dedo na ferida das expectativas que, muitas vezes, não representam nada (“nunca que você vai encontrar dentro do armário / algo lendário, é tudo vestuário / sabe aquela luz que a gente vê de madrugada / é quase nada, mas satisfaz a alma”, diz a letra). O clipe, dirigido por Ignácio Fariña, é puro mistério noturno e urbano.
SATURNO EXPRESS, “CONTATOS IMEDIATOS”. Prestes a lançar o álbum Tenho sonhos elétricos, o duo Saturno Express — formado na pandemia por Mariah Rodrigues e Breno Ferrari — aposta em um synthpop “espacial” e cintilante, cheio de ecos de jazz e Clube da Esquina. Um som que te leve direto para uma praia no espaço sideral (mesmo que isso, tecnicamente, não exista). Como cantam em Contatos imediatos, “não custa sonhar”.
DUO REPICADO, “SOL DA CASTANHA”. Primeira faixa do EP de estreia do Duo Repicado, Sol da castanha é um passeio vibrante e delicado por paisagens sonoras brasileiras. Nos quatro minutos da música, Carol Panesi (violino) e Fábio Leal (guitarra) – só os dois, sem mais nenhum outro instrumento – costuram forró, blues, rock e células de reggae com improviso e leveza. A faixa mostra o espírito da parceria: liberdade criativa, diálogo musical e paixão pelos ritmos do Brasil. Tudo com aquele tempero universal herdado da escola de Hermeto Pascoal, de quem os dois são discípulos.
FENÍCIA, “SÃO 2:03 (NEM TÃO COLORIDA)”/”MEU BEM”. Vindo da cidade de Descalvado (SP), o Fenícia investe num som que lembra bastante o romantismo do indie rock nacional dos anos 2000, com riffs melódicos de guitarra e variações rítmicas. O grupo prepara um EP novo para breve e une violões, guitarras, variações rítmicas, emoções e lembranças em São 2:03 e Meu bem, os singles mais recentes.
INSUBORDINADOS, “TRINTA E UM DIAS”. Pior que às vezes são só 30 dias, ou menos: nem sempre o salário dura um mês inteiro. Esse é o ponto de partida do novo single da banda punk Insubordinados, que transforma a quebra do orçamento – mercado, ônibus, cinema, boteco e por aí vai – em hardcore direto e sem rodeios. Vindos de Curitiba, os Insubordinados misturam punk com folk, ska e outros temperos. Trinta e um dias é o primeiro lançamento do grupo desde 2022 e chega pela gravadora Balbúrdia Records.
Lançamentos
Radar: Lemonheads, Jordan Maye, Leisure, Tenise Marie, Nastyjoe, Jehnny Beth, Billy Ray Norris

Totalmente à vontade no Brasil, Evan Dando volta com os Lemonheads, lança mais um single e anuncia álbum novo para breve – e ele abre o último Radar da semana, com lançamentos internacionais. Evan também puxa uma lista de músicas repleta de questionamentos existenciais e vivências, para ouvir e pensar na vida. Sempre no último volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto Lemonheads: Divulgação.
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THE LEMONHEADS, “IN THE MARGIN”. O Brasil teve grande responsabilidade nas mudanças recentes da vida de Evan Dando, líder dos Lemonheads (ele está radicado por aqui agora, como é público e notório). Love chant, próximo disco do grupo – o primeiro em quase duas décadas – está programado para sair pela Fire Records em 24 de outubro, e foi gravado em parte no Brasil, com produção do multi-instrumentista brasileiro Apollo Nove.
In the margin, o novo single, é uma faixa repleta de riffs, do começo ao fim – uma preferência do próprio Evan, que teve como parceira a compositora e cantora Marciana Jones. “É tipo uma canção de vingança de uma garota da oitava série: ‘Estupidamente deixei os planos de fuga de fora para que pudessem encontrar meu caminho'”, conta. Aliás, o disco novo vai surgir quase ao lado de Rumours of my demise, seu livro de memórias, previsto para sair dia 6 de novembro.
JORDAN MAYE, “TEAR IT DOWN”. Musicista trans de Los Angeles, Jordan é uma artista do punk que começou inspirada pelo rock clássico (“era o que meu pai ouvia”, lembra) e que hoje une guitarras pesadas, climas musicais herdados de Bob Dylan e angústia existencial evocando Buzzcocks e Social Distortion em seu novo single, Tear it down. Uma canção confessional sobre como o “deixar ir” pode ser terapêutico, às vezes. O som é dividido em partes: abre com violão e voz, parte para a ação punk propriamente dita, e lá pelas tantas ganha um segmento entre o punk e o power pop, com palmas e clima levemente beatle.
LEISURE, “MISSING YOU”. Coletivo musical da Nova Zelândia que cruza soul, rock e pop com leveza e sofisticação, o Leisure prepara o lançamento do disco Welcome to the mood para 12 de setembro. O novo single, Missing you, ganhou um clipe gravado ao vivo no Taliesin West, no Arizona — marco arquitetônico criado por Frank Lloyd Wright (1867-1959). A escolha do local tem tudo a ver com o conceito do grupo: dialogar com a ideia de futurismo nostálgico, que Wright já ensaiava nos anos 1930 ao projetar construções que ainda hoje parecem modernas.
TENISE MARIE, “OFF THE RECORD”. Nascida no Iraque e criada na comunidade de Argenta, na Colúmbia Britânica, Tenise lança o álbum Off the record em 11 de julho – e o disco veio de uma viagem à sua terra natal, e do encontro com suas raízes. Tenise se animou para falar de temas como vulnerabilidades, dualidades, aceitação dos problemas da vida, belezas que encontra pelo caminho e outras coisas.
A cândida faixa-título do disco aborda esse reencontro de Tenise, em versos como “foi difícil respirar / minhas cicatrizes são profundas”, e na certeza de que o melhor nem sempre é documentado, mas fica na memória. “Por ter uma herança mista, muitas vezes me senti à margem, puxada em quatro direções diferentes, querendo pertencer a algum lugar. Minha mãe foi adotada e, enquanto ela corajosamente buscava sua família biológica, crescemos desconectadas da nossa cultura materna. Foi ela quem me ensinou o valor da identidade”, conta.
NASTYJOE, “STRANGE PLACE”. Pós-punk ao extremo, e voltado para a mesma cena musical que rendeu bandas como Shame e Fontaines DC, esse grupo francês já tem um EP de estreia e está agora preparando material para o primeiro álbum. Enquanto o disco cheio não sai, tem o clipe de Strange place, uma música confessional sobre um caso amoroso tóxico e destrutivo que vai causando esgotamento – e do qual, mesmo assim, parece impossível escapar (o fim do clipe, aliás, é triste). Além dos grupos mais novos, dá para perceber que o Nastyjoe ama bandas veteranas como The Cure e Buzzcocks, que são a cara do som deles.
JEHNNY BETH, “OBSESSION”. “Imagine Tricky e Jonathan Davis fazendo uma música com Adam Jones, do Tool! Pelo menos na minha cabeça!”. É dessa forma que Jehnny Beth, vocalista da banda Savages, anuncia seu novo single, Obsession – faixa que, por sinal, anuncia seu próximo álbum solo You heartbreaker, you, previsto para 29 de agosto. A música, uma parceria dela com o produtor Johnny Hostile, é brabeira de verdade, explorando obsessões amorosa em clima sombrio e industrial (“estou só desesperada para saber quando ficaremos juntos / não diga nunca! / ei, você / eu te amo, seu heartbreaker!”, diz a letra). “O verso ‘you heartbreaker, you’ deu o título ao álbum, mas, mais do que isso, a música deu o tom ao álbum”, conta ela.
BILLY RAY NORRIS, “I BELIEVE”. Compositor norte-americano ligado ao country, Billy une estruturas de jazz e temas como superação e buscas pessoais em I believe. A letra foi escrita a partir de suas experiências pessoais, que incluíram situações em que ele esteve no limite e precisou tomar decisões bem rápidas. A faixa mistura elementos de pop suave, espiritualidade e uma pegada introspectiva.
Lançamentos
Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)
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DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.
FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.
“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.
JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.
SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…
PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.
Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.
FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.
MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.
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