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Cultura Pop

Jimmy Page, o mago do sintetizador

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Jimmy Page, o mago do sintetizador

O assunto passa batido por várias biografias de Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin. Tido como um dos maiores nomes da guitarra desde os anos 1960, Page também se deixou levar pela onda tecnológica propiciada pelo rock progressivo, na década seguinte. Tanto que no começo dos anos 1970 resolveu comprar um brinquedinho recém-lançado no mercado: o sintetizador ARP Odyssey, da ARP Instruments. Gostou tanto da nova aquisição que apareceu até em anúncios do teclado.

Jimmy Page, o mago do sintetizador

Jimmy Page, o mago do sintetizador

Jimmy Page, o mago do sintetizador

Para Page, o ARP Odyssey era a “mais nova viagem musical” e um aparelho “fácil de ser utilizado”, que promovia a “maior variedade de sons em performances ao vivo”. Enfim, nada daqueles sintetizadores monstruosos que requeriam vários módulos novos e pareciam aparelhos de filmes de ficção científica.

TECLADINHO

O ARP Odyssey era um sintetizador analógico que foi colocado no mercado em 1972 e logo virou mania entre novos músicos, não apenas por funcionar bem ao vivo, mas também por caber com folga em estúdios caseiros. O ARP Odyssey também começou a ser usado largamente na produção de jingles e trilhas sonoras. Foi tirado do mercado em 1981, suplantado por vários modelos novos e com sons mais modernos – e em 2015 foi colocado de novo no mercado pela Korg.

David Friend, cofundador da empresa ARP Instruments, lembrou nesse papo aqui que criou o ARP Odyssey com a finalidade de ser um sintetizador simples, que não precisaria de cabos e outras instalações.

“Foi o primeiro sintetizador projetado exclusivamente para o palco. Então, nós realmente o projetamos para o músico. Portanto, era fácil de aprender, era fácil de configurar e você podia fazer muitos sons com ele muito rapidamente, sem ter que fazer muitas alterações nos controles”, disse, lembrando que Jimmy Page foi um dos primeiros usuários, e logo depois o Steely Dan e Herbie Hancock também compraram o teclado.

LUCIFER RISING

O ARP Odyssey de Jimmy foi imediatamente acrescentado ao estúdio caseiro do músico em Plumpton, Sussex. Mas, pelo menos de acordo com as fichas técnicas dos discos do Led Zeppelin, não chegou a ser usado em nenhuma música da banda – até porque os teclados costumavam ficar mesmo na mão do baixista John Paul Jones. Page usou o ARP Odyssey numa obra que demorou vários anos para ser lançada em edição não-pirata: a trilha de Lucifer rising, filme experimental de Kenneth Anger, feito em 1972 e só lançado comercialmente em 1980.

A trilha oficial de Lucifer, na real, foi feita por Bobby Beausoleil, em 1966, quando a produção foi iniciada. Só que em 1967, Anger brigou com Bobby ao descobrir que o músico, que estava morando com ele, escondia enormes quantidades de maconha em sua casa.

O livro Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra, de Mick Wall, diz que Beausoleil levou parte do material do filme com ele e o enterrou no Vale da Morte, deserto no Leste da Califórnia, para onde a “família” de malucos liderada por Charles Manson se mudaria. Kenneth, em “retribuição”, teria jogado uma maldição no músico. Dois anos depois, Bobby, que tinha se tornado justamente um integrante da trupe abilolada de Manson, foi preso pelo assassinato do músico Gary Hinman. E Page, um praticante dos rituais do ocultista inglês Aleister Crowley (que serviram de inspiração para o filme) entrou na história em 1972, convidado por Anger para fazer a trilha.

ARP NA TRILHA

O guitarrista não é muito claro a respeito do material que Anger lhe deu para trabalhar. Inicialmente disse que não recebeu nada para criar em cima. Depois disse que teve acesso a 25 minutos do filme, o que o inspirou a criar uma trilha mórbida, em que nenhum instrumento fosse facilmente reconhecível. Filtrou a guitarra pelo ARP e criou um efeito de sintetizador que forneceu o barulho “dos chifres de Jericó”, como afirmou o guitarrista no texto de apresentação do único lançamento oficial do disco, em 2012.

Só que… Jimmy e Kenneth brigaram, pra variar, e o trabalho foi interrompido. A trilha só foi completada no fim dos anos 1970, quando Beausoleil, da prisão, voltou a contactar Anger e sugeriu que ele voltasse ao trabalho. O músico montou uma banda com outros detentos, conseguiu patrocínio da administração do presídio para comprar equipamentos (além de uma merreca fornecida pelo cineasta) e gravou as músicas, que foram usadas no filme e até saíram na “trilha oficial” de Lucifer rising, em 1981, em LP.

Dizem que é melhor que a trilha de Page. Ouve aí.

Mais Led Zeppelin no POP FANTASMA aqui.
Conheça o livro Jimmy Page no Brasil, de Leandro Souto Maior, aqui.

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Relembrando: Public Image Ltd, “The flowers of romance” (1981)

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Relembrando: Public Image Ltd, "The flowers of romance" (1981)

Keith Levene, guitarrista que se dividiu em vários instrumentos nesse The flowers of romance, chegou a afirmar que o terceiro álbum de estúdio do Public Image Ltd é “provavelmente o disco mais anti-comercial já entregue a uma gravadora”. Faz sentido: The flowers mal pode ser chamado de punk ou pós-punk. Está mais para uma aventura experimental e percussiva, com músicas compostas apenas de voz e bateria (a claustrofóbica Four enclosed walls), voz, percussão, sinos e ruídos (Phenagen), voz, bateria e sons orquestrais tirados com virulência punk (a faixa-título), voz, bateria brutal e ruídos (Under the house).

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O som vai do mais assustador e climático ao mais documental, com sons ciganos e flamencos unidos a uma espécie de “música de selva”, dada pelo som da bateria e pelos vocais de John Lydon. Hymie’s him, com sintetizadores, percussões e batidas de latão, soa “industrial” anos antes de tal termo ficar famoso. Banging the door é um quase reggae que destaca o uso de sintetizadores Moog. Francis Massacre é literalmente um massacre sonoro, trazendo vocais lamentosos, batidas tribais e sons de guerra. A associação com a música e o imaginário hispânico surgem já na capa, que traz Jeannette Lee, empresária, gerente e melhor amiga da banda (e hoje sócia da gravadora Rough Trade), com uma flor na boca, e ameaçando o fotógrafo (e o/a ouvinte do disco) com um pilão.

Curiosamente, mesmo sendo um disco tão anti-pop, The flowers of romance (o nome é o mesmo de uma banda cata-corno punk que surgiu antes dos Pistols, e da qual Keith Levene e Sid Vicious fizeram parte) acabou tendo lá suas dimensões pop. O som da bateria já foi elogiado por Phil Collins (que trabalhou depois com o produtor do disco, Nick Launay), e soa quase como se tivesse sido produzido para cinema, e não para um álbum.

Esse som cinematográfico não rolou por acaso. A turma do PiL (na época, os inimigos íntimos Lydon e Levene, mais o baterista Martin Atkins) aproveitou todos os recursos de um novo brinquedo do empresário Richard Branson: o estúdio The Manor, literalmente um estúdio de ponta construído numa mansão histórica. Antes de começar, foram sete dias (de um total de dez dias agendados) “curtindo” um bloqueio de compositor que travou toda a banda. Jah Wobble, baixista do PiL e sujeito cheio de ideias, saiu pouco antes da gravação, o que piorou um pouco as coisas – por acaso, só duas faixas de Flowers (Track 8 e Banging the door têm o instrumento.

The flowers of romance marcou um período de bons investimentos na banda ainda que não vendessem tanto – 1983 foi inclusive o ano do duplo Live in Tokyo, gravado no Japão, e que rendeu até um homevideo, mania da época. Daí para a frente, era o PiL virando algo mais próximo daquele som que pode até tocar no rádio, mas assusta. E muito.

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Relembrando: Vários, “O espigão – trilha sonora nacional” (1974)

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Relembrando: Vários, "O espigão - trilha sonora nacional" (1974)

Até os dez primeiros capítulos (que foi até onde assisti), O Espigão, novela das 22h exibida pela Rede Globo em 1974, e escrita por Dias Gomes, tem ritmo de série bem construída e passagens que lembram Os Simpsons. Por sinal, com a chance de cada personagem ali conseguir ser o Homer por alguns minutos, ou por alguns capítulos. Os três primeiros capítulos são tomados por um cavernoso engarrafamento no Túnel Novo – que divide Botafogo e Copacabana, na Zona Sul carioca – no último dia de 1972. Hoje dá para ver tudo no Globoplay, que resgatou a trama.

No túnel, os personagens vão aparecendo para, mais do que construir a história, dar uma baita sensação de caos. Isso porque parece que quase ninguém ali costuma ser ouvido ou enxergado de verdade. No caso do trio de bandidos interpretado por Betty Faria, Ruy Resende e Milton Gonçalves, nem eles conseguem enxergar sua própria falta de talento para roubar os outros, mas isso é apenas um detalhe.

Para quem passou a vida ouvindo as trilhas sonoras de O Espigão, a nacional e a internacional, lançadas pela Som Livre naquele mesmo ano, o mais legal é ver a utilização nos capítulos das faixas da trilha nacional (um perfeito disco pop-rock-MPB). Pela cidade, tema instrumental e quase progressivo do Azymuth, surge na primeira cena, com o assombrado Léo (Claudio Marzo) chegando de navio de Sergipe, passando pela Baía de Guanabara. Nessa hora, destaque para o estranho cromaqui marítimo e para as imagens das barcas Rio-Niterói em alto-mar.

Retrato 3×4, primeiro quase-hit de Alceu Valença, e segunda ou terceira tentativa de sucesso do cantor, antes da fama, surge nas cenas do assalto frustrado do trio de bandidos. Versos como “rasgue meu retrato 3×4/porque eles vão pintar o sete com você” dão a sensação de que a turma formada por Lazinha (Betty), Nonô (Milton) e Dico (Ruy) é bem mais robin hoodiana do que pode parecer. Na sombra da amendoeira, de Sá & Guarabyra, na voz do grupo niteroiense Os Lobos, dá vontade de visitar o tal casarão antigo que é, de fato, o tema da novela.

Alfazema, tema folk do hoje astrólogo Carlos Walker, surge inicialmente numa cena de total lesação e abandono na cidade grande (por sinal no fim da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio, bem antes do excesso de bares e carros). Já o tema de abertura, o hard rock orquestral O espigão, de Zé Rodrix, vem da transição entre os álbuns I acto (1973) e Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber (1974), os dois primeiros do cantor – que geraram um show apresentado no Rio em março de 1974, ao lado da banda Agência de Mágicos.

O repertório da trilha de O espigão ainda inclui um excelente e hoje cancelável samba-rock (Malandragem dela, de Tom & Dito, que tocou muito no rádio na época), uma música que surge como protesto à gentrificação no Rio, mas que tem mais a ver com a poluição em São Paulo (Botaram tanta fumaça, de Tom Zé), um tema clássico composto por Tuca (Berceuse), um samba antirracista com letra de Nei Lopes (Você vai ter que me aturar, com Sônia Santos) e um sambão triste composto e cantado por Benito di Paula (Último andar).

O espigão fez tanto sucesso que a trilha nacional voltou às lojas várias vezes. Volta e meia dá para achar um vinil a preço barato em loja de usados, mas o álbum foi relançado em CD na série Som Livre Masters, com remasterização comandada por Charles Gavin. Hoje é um caso raro de trilha de novela nacional dos anos 1970 que pode ser vista e ouvida.

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No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

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No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

O Soft Cell tá vindo aí pela primeira vez. A dupla de Marc Almond e Dave Ball se apresenta no Brasil em maio, e vai trazer – claro – seu principal hit, Tainted love. Uma música que marcou os anos 1980 e vem marcando todas as décadas desde então, e que deu ao Soft Cell um conceito todo próprio – mesmo não sendo (você deve saber) uma canção autoral. Era um dos destaques de seu álbum de estreia, Non stop erotic cabaret (1981), um dos grandes discos da história do synth pop.

No nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, voltamos lá no comecinho do Soft Cell, mostramos a relação da dupla com uma das cidades mais fervilhantes da Inglaterra (Leeds) e damos uma olhada no que é que está impresso no DNA musical dos dois – uma receita que une David Bowie, T Rex, filmes de terror, Kenneth Anger, sadomasoquismo e vários outros elementos.

Século 21 no podcast: Red Cell e Noporn.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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