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Crítica

Ouvimos: Harmada – “Os fugitivos”

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Harmada retorna após 14 anos com Os fugitivos, um disco maduro, noventista e denso, explorando fugas existenciais em faixas que vão do pós-punk ao rock britânico.

RESENHA: Harmada retorna após 14 anos com Os fugitivos, um disco maduro, noventista e denso, explorando fugas existenciais em faixas que vão do pós-punk ao rock britânico.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: 8-bics
Lançamento: 21 de outubro de 2025

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O Harmada, uma banda carioca, marcou época quando lançou o primeiro álbum, Música vulgar para corações surdos (2011), um disco bastante ouvido pela crítica, e que acabou dando também um público fiel para o grupo. De lá para cá, rolou um jejum de novos álbuns, embora a banda nunca houvesse acabado de verdade – chegaram a rolar alguns shows e participações em tributos. Mas como fazer música no Brasil nunca foi moleza, cada integrante precisou tratar da própria vida profissional.

  • Ouvimos: Canacut – À mercê do tempo (EP)

Com Manoel Magalhães (guitarra e voz), Brynner Buçard (guitarra), Bernardo Corrêa (baixo), Rodrigo Garcia (bateria) e Pedro Henrique Lacerda (guitarra) na formação, o grupo retorna 14 anos depois com Os fugitivos, um disco – prometido já há alguns anos – mais tranquilo que a estreia, e com uma cara bem mais anos 1990 do que a vibe indie-rock anos 2000 de Música vulgar. Evocações do rock britânico de há 30/20 anos surgem em faixas como a balada blues Quando você chegar, a densa Destino, a balada ruidosa Iluminar e o guitar rock Piscina de crianças universais.

Nas letras de Os fugitivos, o grupo se inspira no livro Os prisioneiros, de Rubem Fonseca, para falar de fugas existenciais modernas. Por acaso, o Harmada volta investindo numa sonoridade bem mais moderna e eterna do que no primeiro álbum – tangenciando também um clima de balada MPBística em Em fuga e chegando perto da desolação pós-punk na explosiva Prisioneiro e na introspectiva A estrada, além do ambient ruidoso de Sonhar.

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Crítica

Ouvimos: Julian Lennon – “Because…” (EP)

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Julian Lennon revisita fitas antigas, ecoa o pai John em clima de reclusão e entrega um EP que soa como uma epifania para beatlemaníacos.

RESENHA: Julian Lennon revisita fitas antigas, ecoa o pai John em clima de reclusão e entrega um EP que soa como uma epifania para beatlemaníacos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Music From Another Room
Lançamento: 22 de agosto de 2025

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“Quanto mais velho fico, mais me inspiro no meu pai”, disse recentemente à Rolling Stone ninguém menos que Julian Lennon, filho do beatle John, morto há 45 anos. Um pai que ele conheceu mais pela distância do que pela proximidade – quando Lennon casou-se com Yoko Ono, a vida do cantor passou ser outra, e aos 62 anos, Julian “conviveu” mais com seu pai morto do que vivo (ele tinha 17 anos naquele dezembro de 1980). Mas que, de qualquer jeito, é uma fonte de inspiração sólida pelos valores preconizados nas letras e entrevistas, pelo humor ácido, e pela musicalidade igualmente ácida.

Daí que este EP Because… pegou Julian num momento de reclusão, quase como os que seu pai costumava viver em Nova York na segunda metade dos anos 1970. Julian viu seu disco Jude (2022) ganhar uma recepção bem fria, e tinha decidido focar em trabalhos como fotógrafo e escritor. O EP surgiu de várias fitas antigas (algumas dos anos 1980) encontradas no porão do escritório de seu ex-empresário. Julian decidiu mexer em três delas, optou por deixar os vocais como estavam e gravou apenas algumas novas trilhas de instrumentos. I won’t give up, a quarta faixa, foi feita há dez anos com a colaboração do então iniciante Andrew Watt.

  • Ouvimos: Paul McCartney e Wings – One hand clapping

Because… é praticamente uma epifania: se John Lennon estivesse vivo e decidisse gravar apenas EPs, como Ringo fez há poucos anos, talvez soasse dessa forma. Com uma voz idêntica à do pai, Julian une a vibe de John e guitarra-bateria a la The Police na faixa-título (que inclui até um “o karma vai te pegar!”), chupa detahes de I am the walrus em I hope, canta com vocais reverberando (como o pai) em Keep on searching, e faz lembrar tanto o piano de Imagine quanto o dedilhado de Dear Prudence em I won’t give up.

O EP de Julian vale uma nota para beatlemaníacos e do antigo trabalho do cantor (como o disco Valotte, de 1984). Vale dizer que, se John transformou letras enigmáticas como Strawberry Fields forever em “obras abertas”, você pode extrair de um tudo das letras de Because…: será que o rancor da faixa-título é dedicado a Yoko, com quem ele diz não se encontrar desde 2016? Ou às situações que viveu/não-viveu ao lado do pai? Já I won’t give up pode ser mesmo uma vontade de não desistir da música – embora ela tenha dito que a música é sobre não desistir do amor.

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Crítica

Ouvimos: 5 Seconds Of Summer – “Everyone’s a star”

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Em Everyone's a star, 5 Seconds Of Summer larga a indecisão e transforma o "em cima do muro" de discos passados em algo variado e interessante.

RESENHA: Em Everyone’s a star, 5 Seconds Of Summer larga a indecisão e transforma o “em cima do muro” de discos passados em algo variado e interessante.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Republic
Lançamento: 14 de novembro de 2025.

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Nunca fui um grande fã dessa banda australiana que passou voando como o vento em seus 14 anos de carreira – na verdade, como um vento daqueles que levam bolas de feno de um lugar pro outro, até porque o que o 5 Seconds Of Summer mais fez foi variar a posição. Do punk-pop noventista ao emo, passando pela música eletrônica, pelo metal alternativo e pela pose de boy band, os discos dessa turma atiravam para todos os lados. Só que tudo parecia acontecer mais por indecisão do que por variações estéticas.

E aí sai Everyone’s a star, disco em que essa tal indecisão começa a ser revertida em prol de algo realmente mais variado – e bom de ouvir, vale dizer. Mas olha… Até que o disco tome jeito, o/a ouvinte precisa encarar um insatisfatório nu-metal (a faixa-título, cuja letra traz comentários sobre essa era de influencers e seres instagramáveis que todo mundo parece conhecer, menos você) e algo que lembra um Maroon 5 emo (a bisonha Not OK).

  • Ouvimos: Yellowcard – Better days

Daí pra frente, o 5SOC se transforma num Big Special amigável em Telephone busy, tira uma onda do lado “boy band esquisitona” deles (em Boyband, que soa como um Information Society com peso) e une emo glam rock em No 1 obsession, com batida lembrando Rock’n roll (part 2), de Gary Glitter. A faceta do grupo que mais aparece no disco é o lado emo, que surge na contemplativa I’m scared I’ll never sleep again, na new wave oitentista Istillfeelthesame (a melhor do disco, dando a entender que bandas como Turnstile estão na playlist de trabalho deles) e até em duas tentativas de soar parecido com Strokes (a mais ou menos The rocks e a boa Sick of myself).

Everyone’s a star tem também um britpop brega (a chatinha Ghost, com virada de bateria copiada de Don’t look back in anger, do Oasis), uma espécie de shoegaze-emo (a legalzinha Jawbreaker, que fecha o álbum) e, que surpresa, uma ótima adesão à onda indie sleaze, do jeito deles (Evolve). Parece que se tinha alguém apertando os botões e manipulando a banda, ou mudou o manipulador, ou ele se mandou.

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Crítica

Ouvimos: Katy da Voz e As Abusadas – “A visita”

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Álbum novo de Katy da Voz e As Abusadas, A visita mistura funk, punk, metal e synthpop em faixas violentas, sexuais e empoderadas, homenageando Claudia Wonder com energia feroz.

RESENHA: Álbum novo de Katy da Voz e As Abusadas, A visita mistura funk, punk, metal e synthpop em faixas violentas, sexuais e empoderadas, homenageando Claudia Wonder com energia feroz.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de outubro de 2025

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Travesti ativista do underground paulistano oitentista, Claudia Wonder era chegada em doideiras como cantar banhada de sangue, ou numa banheira de groselha – numa ocasião, a groselha foi parar no olho de João Gordo, segundo o próprio contou em entrevistas. Também esteve à frente de bandas de rock como o Jardim Das Delícias, grupo com sonoridade pós-punk (a música-título Jardim das delícias, que está no YouTube, lembra o Teardrop Explodes) que contava com integrantes do grupo paulistano Kafka na formação.

  • Ouvimos: Mia Badgyal – Mucho sexy

Daí que Claudia é bastante lembrada como inspiração em A visita, novo álbum do trio Katy da Voz e as Abusadas – basicamente uma união azeitada de funk, house music, punk e metal, indo além de nomenclauras como electroclash e outras coisas. O disco começa com Santo, synthpop com bateria de escola de samba, spoken word, participação de Lynn da Quebrada, guitarra pós-punk e uma anti-oração na letra (“me traga saúde, saudade, dinheiro / você está me escutando, santo?”). Navalha une metal, funk e batidão dance, numa porrada existencial e musical. Na força do ódio mantém um clima unindo batida forte, sexo e zoeira.

Existencialmente, A visita não é putaria pura e simples – como rola no disco de Mia Badgyal, Mucho sexy, é afirmação, empoderamento, sexo e uma estranha vontade de devolver os maus-tratos do mundo numa moeda bem mais violenta e sexualizada. Daí tem a dance music derretida e pesada de Sufocunty e o metal dance de Salto (com MC Taya, que ajuda a música a quase se transformar em algo parecido com um Ministry Miami-bass).

Tem também a zoação de rolar de rir de QRcude – esta, um funk violento que lembra Cabaret Voltaire e Alien Sex Fiend, e que pede que você escaneie “seu cu na porra do Qrcude / cria um código / põe um foto / para ver sua nude (…) / e já podemos foder ele / a partir de hoje”. No final, Disco inferno, um synthpop vingativo e cheio de altas energias, que preconiza: “eu vou pro inferno / e quando eu achar essa vagabunda no inferno / eu vou matar ela de novo”.

Pode ser que não aconteça com Katy da Voz, Palladino Proibida e Degoncé Rabetão o que elas pedem no funk pesado Famosa (“famosa eu quero ser / acordar às 8h / e aparecer no Mais você”, gritado entre samples do “top de 5 segundos” da Rede Globo). Quem perde é a televisão matinal brasileira, por não programar essa afronta musical e underground.

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