Connect with us

Notícias

Faixa a faixa: Década Explosiva, “A distância entre as cidades”

Published

on

Década Explosiva é originalmente o nome de um grupo “pirata”, formado por músicos de estúdio, que gravou coletâneas de covers de sucessos internacionais nos anos 1970, pela antiga Odeon. É também o nome do projeto musical do artista alagoano Marcos Cajueiro, nascido em Arapiraca, com mais de quine anos de carreira independente, passando por bandas como Capona e My Midi Valentine.

“Cresci ouvindo esses discos, em casas de parentes”, explica ele, que lança agora o EP A distância entre as cidades, um disco marcado pela influência da música easy listening (tons de Beatles e Beach Boys podem ser ouvidos aqui e ali). “Na época que fiz essas canções eu estava num relacionamento a distância, então é uma coisa concreta”, recorda Marcos. “Mas também tem uma obra do artista cearense José Leonilson, um bordado que tem as frases ‘se você sonha com nuvens’ e ‘a distância entre as cidades’, que gosto bastante. E ele junta o nome do álbum com o nome da terceira faixa”.

Marcos, que compôs sozinho todas as músicas do disco, mandou um faixa a faixa para o Pop Fantasma. Ouça lendo (foto: Jamille Queiroz/Divulgação).

1 + 1 = 1. A harmonia e a melodia dessa faixa são os elementos mais antigos no disco. Lembro que a fiz no violão, quando ainda morava com minha mãe, há uns 15 anos. Ela estava muito estressada naquela época e odiava o som insistente de qualquer instrumento perto dela. Por isso, comecei a tocar no violão da forma mais suave e minimalista possível. Afinei em D para conseguir acordes abertos mais graves e então foram acontecendo algumas inversões.

Tentei muito formatar essa composição em alguns de meus projetos anteriores, mas nunca rolou. Quando eu já tinha três faixas definidas para o disco de agora, veio-me a ideia de trazer aquele velho tema como introdução. Experimentei colocar letra na primeira parte do riff de guitarra, mas acabei percebendo que as palavras não eram necessárias ali. Aquilo que queria “dizer” já estava naqueles acordes. Foi quando descartei todo o vocal que havia antes de “rua aberta em mim”.

Resolvi deixar a primeira parte do tema só com a guitarra, por cinco vezes (há algo com os números ímpares em música). Nos encontros com a banda que gravou comigo (Arnon Câmara, bateria; Matheus Miranda, teclados; Reuel Willys, baixo) ainda tentamos acrescentar ambiências na primeira parte (antes da entrada do vocal). Criamos ruídos, colagens aleatórias, sons invertidos de sintetizadores… As ideias eram até legais, mas, após tantas tentativas, senti que a primeira parte deveria conter apenas guitarra e silêncio.

Em O ouvido pensante, Schafer diz que as canções também nos ouvem. É justamente esse minimalismo de 1 + 1 = 1 que cria espaço suficiente de escuta para deixar a música ouvir. E à medida que os acordes vão decaindo em silêncio, os sons ao nosso redor começam a se tornar mais perceptíveis. O vocal entra exatamente quando ocorre uma modulação tonal. Suspeito que aqui haja algo de Tom Jobim no vocal, algo presente nas canções mais introspectivas na linha piano e voz, tipo “canção em modo menor”.

Uma das coisas mais surpreendentes e maravilhosas dessa canção é a percussão que o Gilú Amaral criou para ela. A música já estava “pronta”, em fase de mixagem, quando tocou aleatoriamente no meu streaming Dança do pajé, do Hermeto Pascoal. Naquela hora, soou um estalo: “é isso!”. Talvez faltasse um elemento místico, algo que evocasse uma natureza encantada. Foi quando pedi ao Matheus algumas frases de piano elétrico meio “arpeggiadas”.

Disse ao Thiago (do estúdio Toca do Lobo, onde o disco foi masterizado) que precisava de uma percussão como aquela. Ele disse que tinha gravado no dia anterior com um percussionista muito bom (e ele tava certo). Isso levou a música exatamente (e mais um pouco) para a atmosfera que eu queria. Inclusive, ela ainda apresentava uma parte final só de guitarra que acabei cortando nos últimos momentos da mixagem, já que não me parecia fazer mais sentido qualquer coisa depois do clímax.

Os versos são frases que se referem a uma paisagem emocional que não pode ser nomeada. Alguns desses versos foram coletados, como “rua aberta em mim”, de Walter Benjamin, referindo-se a uma paixão. “Summer, hummingbird” é de um lindo poema de Raymond Carver. O título da canção aparece escrito na parede num cenário do filme Nostalgia, de Tarkovsky.

Lembro que pesquisei a respeito da equação 1 + 1 = 1. Encontrei um texto que, de acordo com a tradução do google, afirmava que a sequência tinha algo relacionado ao monismo, à unidade das coisas, à imagem de uma gota de água que se junta à outra gota de água formando não duas gotas diferentes, mas uma única gota. Essa ideia é retomada em Década explosiva romântica, com o verso “eu sou você”.

ARIZONA SONHO. O riff principal de Arizona sonho me perseguia há um tempo. Tinha tentado desenvolver esse rascunho algumas vezes, mas não encontrava uma forma. Faltava refrão. Foi quando assisti, em 2020, ao filme Arizona dream (1993), do Kusturica. Já gostava muito do realizador e achei especialmente bonito um monólogo do personagem interpretado por Johnny Depp. Fui pesquisar no script do filme e não sei explicar bem como isso ocorreu, mas percebi que as frases encaixavam perfeitamente com a métrica daquele velho riff e que elas poderiam ser os versos da canção. Obrigado, Kusturica, meu parceiro, pelos versos!

Àquela altura, precisava como sempre de um refrão (malditos refrões, estão cada dia mais difíceis de se pescar). Ouvindo um antigo rascunho, meio jam, do riff, percebi que havia tentativas de improviso para uma linha de baixo e que, em determinado momento, surgia a frase melódica de she is the dream that I have as I wake, então ajustei o final da frase pensando no flow do vocal do Mos Def, na canção Creole do Carlie Hunter. Que música!

Nessa época, ainda não havia o projeto Década explosiva. Eu estava super perdido no hiato pós Capona, sem saber se ainda era indie, se queria ser guitarrista de jazz, cantar em inglês ou português etc. Um pouco depois, quando percebi que tinha material para um EP e que queria mesmo cantar em português, pensei em alterar a letra. Mas gostava tanto da minha parceria transtemporal com Kusturica que também não podia abrir mão da letra em inglês.

Ao perceber que ainda havia espaço para dois blocos de versos, resolvi fazê-los em português. Quando já tinha verso, refrão e letra, parti à procura de uma linha de baixo. Precisava de algo como aquela linha de baixo absurda de Tart do Elvis Costello, mas como não manjo dos grooves de baixo, simplesmente não me saia.

Ainda sem banda, mas já começando a produção do que viria a ser o disco com Thiago, joguei pra ele a ideia do baixo. Falei da referência e sugeri que ele desenrolasse. Dias depois, ele me alegrou imensamente com a linha de baixo incrível que hoje tá na música. Thiago, além de ser um grande produtor, engenheiro de mixagem etc., é um músico excelente, grande amigo e adorador de gatos.

Em algum momento do final da mixagem, ainda pensei em tirar essa música do disco, numa tentativa de manter certa unidade estética entre todas as outras faixas, que notoriamente possuem elementos MPB 70/80. Mas me dei conta de que a unidade já tava lá. Essa ideia de unidade me vinha por achar que o Pink Floyd não deveria ter gravado Welcome to the machine e Have a cigar no disco Wish you were here. Pensei que simplesmente seria muito foda um disco composto “apenas” por Shine on you crazy diamond (parts I-IV) + Wish your were here + Shine on you crazy diamond (parts VI-IX) – não que as outras duas canções do álbum não sejam legais, mas elas emanam outra atmosfera.

SE VOCÊ SONHA COM NUVENS. Com exceção da letra, Se você sonha com nuvens é uma música antiga. Numa longínqua noite arapiraquense, soube que um grande ex-amor da época da faculdade estava em outro relacionamento, e que eles iriam ter um filho. Isso me deixou meio atordoado e fiquei ali, ruminando a notícia com o violão em mãos. Assim me vieram os acordes e a melodia, quase que de uma vez. Com o tempo, fui alterando alguns acordes e ela acabou ficando mais complexa nesse sentido.

Interessante pensar que, naquela época, meu conhecimento de harmonia era muito básico. Só sabia os campos harmônicos maiores e menores e suas respectivas escalas. Então, não podia justificar nem nomear os acordes subV7 e as modulações, mas sabia que funcionavam bem. Com a banda que tinha naquele período (Super Amarelo, que tem o disco For your babies, 2015), ainda tentamos tocar essa canção com letra em inglês, mas não me parecia dar certo.

Depois tentei levá-la para a Capona, mas nosso querido baterista era muito grunge cheirador de benzina em flanela (metaforicamente falando, é claro), tanto que se negava a tocar uma música tão “fofa”. Quando ele finalmente cedeu, gravamos no disco Atom heart auto (2017) – que eu odeio muito e queria que ninguém ouvisse, diferentemente do Adults are the young who failed (2015), do qual eu gosto muito e queria que todo mundo ouvisse -, com o nome de She’s open seas (nome inspirado naquele título She’s thunderstorms, do Arctic Monkeys).

Contudo, o fantasma dessa canção, mesmo depois de gravada com a Capona, nunca me abandonou. Era como se eu não tivesse lhe dado a forma devida. Segui mexendo nela, alterando acordes, acrescentando cromatismos. Ela começava com E/G# (nossas casas…) e depois seguia para C#7b9. Acabei substituindo esse E/G# por um C#b7#9 (lembro, numa aula de harmonia, um professor ter falado algo como “esse acorde com a nona aumentada não é nem maior nem menor, é ambíguo, tenso.. Há uma música do Toninho Horta que já começa com esse acorde…”).

Aquela foi a primeira vez em que ouvi falar no Toninho e pensei “também quero ter uma música que comece assim”. Depois ainda lembrei do velho caminho darksideano do b7#9 para o b7b9. O último acorde dela era um D7/A, com a melodia finalizando na nota A. Mas, durante as aulas de guitarra jazz, descobri que a galera curtia terminar as músicas numa modulação de acorde com sexta.

Substituí o D7/A por um C6, mantendo a última nota do vocal no A, que é o 6º grau do C – Matheus ainda sobrepõe um acorde diferente (que não lembro qual) no piano e que ficou muito legal. Nessa música, começam os arranjos de metais do disco. Nunca tinha gravado com músicos profissionais, contratados. Fazia bandas com meus melhores amigos, independentemente de suas aptidões musicais.

Lembro que, certa vez, precisava de um guitarrista e meu amigo Rodolfo me disse: “Tem o João Paulo! Agora, assim, ele literalmente não sabe tocar guitarra, mas tem ideias muito boas porque conhece muita coisa foda”.

Minha ideia pro disco, no sentido dos arranjos, era que soasse como algo clássico e velho, no caminho da MPB dos anos 70/80. Então eu tinha essa ideia de arranjo de metais. Além de influências mais diretas como o disco do Verocai (1972), esses arranjos de metais também se remetem a uma vibe easy listening, tipo Burt Bacharach. Esse vocal do refrão tem uma passagem relativamente aguda pra minha voz (F#). Fiz questão de treinar muito pra conseguir alcançar essa nota da maneira mais suave possível. Queria algo com aquele lance melódico suave do Clube da Esquina.

Por fim, o título é de uma obra em bordado do artista Leonilson. Lembro que um amigo comentou sobre essa obra lá por 2007 e aquelas frases – se você sonha com nuvens/ a distância entre as cidades – nunca mais saíram da minha cabeça.

DÉCADA EXPLOSIVA ROMÂNTICA. É curioso pensar que a canção de abertura da maior coletânea de músicas internacionais românticas de todos os tempos (Década explosiva romântica) não é uma canção de amor romântico no sentido conjugal da coisa, mas uma música sobre amizade, a velha ponte sobre as águas “troublulentas”. Preciso ressaltar que Bridge over the troubled water, talvez pelo arranjo e aquele clímax foda do final, seja a melhor canção popular de todos os tempos. Apesar das várias esquinas temáticas ao longo de seus sete minutos de duração, Década Explosiva Romântica é uma canção sobre amizade.

Eu costumava sair de casa para trabalhar com meu computador em algum café de Maceió. Também levava o violão. Ia tocando no caminho de ida, nos intervalos do trabalho e na volta, sempre procurando resolver alguma melodia incompleta. Certa vez, voltando pela avenida Amélia Rosa, acabei recordando uma velha progressão que por algum motivo me soava interessante: | Ab Gm7 | F |. Não sei se essa progressão tem um nome específico, mas o Gm7 funciona como um acorde pivô e a modulação para o F fica quase que naturalmente imperceptível.

Pensei logo que aquela progressão funcionaria muito bem com uma letra em português, pois na época estava perdido na tentativa de compor na minha língua após anos criando quase que exclusivamente letras em inglês. Achei que o caminho seria modular esse F para Fm, daí naturalmente puxei o Bb7/9.

Certo dia, mexendo na progressão que viria a ser o refrão, cheguei na melodia e simultaneamente me veio a frase cantar canções de amor, o que coube perfeitamente. Então tive o insight de me referir à Década Explosiva Romântica. Sou muito fã, desde pequeno, daquelas músicas internacionais super apaixonadas. Tem algo de universal nelas, de catártico, mesmo quando as pessoas não entendem as letras, ainda é possível sentir a força, em qualquer lugar do mundo, inclusive, em Arapiraca, Alagoas.

Então eu costumava fazer umas noites de cantoria com meu querido amigo Tales Maia (ainda tentei o broder, broder… como tales, tales…), da My midi. Ficávamos bebendo, ele tocando piano e eu cantando só as pedras românticas. A gente morava junto nessa época e ele estava numa fase um tanto autodestrutiva, o que me deixava preocupado. Então pensei que a música seria sobre a gente, sobre amizade, depressão e de como poderíamos enfrentar tudo isso cantando em voz alta nossas velhas canções de amor, até o fim.

Em princípio, ela já começava com eu sou você. Lembro que um dia mandei o rascunho a um amigo, que achou a frase muito boa pra ser entregue assim de cara. Foi genial a observação dele. Fiquei sem saber o que fazer, porque é bem mais difícil criar um novo começo do que acrescentar possibilidades ao final. Se eu sou você é uma espécie de conclusão, então eu precisaria primeiramente entender todas as coisas que eu não sou, até restar apenas aquilo que eu sou.

Como numa investigação negativa não dualista, quando você percebe tudo aquilo que você não é, logo encontra a unidade. Então descartei qualquer ideia de introdução. Tinha que começar cantando para que a música não ficasse cansativa. Lembrei de Falso inglês do Toninho Horta e comecei. Mantendo apenas os dois acordes IIm7 – V7, num movimento de tensão sem resolução. Fiz quatro versos e percebi que precisava, sem aliviar a tensão, de um clímax. Consegui compor a linha de baixo groovada no estilo Colin Greenwood. Criei uma vocalização em falsete e fiz um solo de guitarra groovado jazz fusion. Instaurei o mini clímax inicial.

Depois retornei ao bloco de conclusões negativas em tensão IIm7 – V7 até que finalmente cheguei no eu sou você, resolvendo a progressão em C7M. Essa resolução da harmonia com a afirmação da letra talvez seja meu momento preferido de todo o disco. Analisando a harmonia, pensei que poderia ser uma resolução deceptiva modulante, mas depois entendi que a música poderia estar implicitamente em C maior desde o início e que a progressão Fm6 – Bb7/9 poderia funcionar como backdoor progression da tonalidade maior (IVm7 – bVII7 – I). Tais ambiguidades harmônicas são maravilhosas.

Essa é a música mais jazz fusion setentista MPB do disco. Fiquei feliz por ela ter ainda dois solos de guitarra. Tem algo do Jacarandá (1973) do Bonfá. Já havíamos gravado os metais, sem o sax soprano. Foi tudo muito rápido num único dia, sem qualquer conversa prévia com os músicos dos metais. Depois pensei que deveria ter colocado o sax soprano, da forma mais romântica possível ali pelo refrão. Então retornei ao estúdio para gravar algo mais e joguei a ideia de marcar novamente com o Wellington, para ele acrescentar o sax soprano. Por coincidência, ele havia esquecido o carregador do celular no estúdio e voltou para buscá-lo naquela mesma noite. Gravamos o sax soprano e ficou incrível, principalmente quando vem o bloco modal F – Ab – Bb – C e ele solta um improviso que ainda toca meu coração.

No refrão, eu tinha o verso cantar canções de amor, cantar canções de amor, mas sentia que faltava um clímax, uma puxada modulante que pudesse fechar o refrão. Fui pelo caminho que o Herbert usou em Quase um segundo, quando ele faz será que você/ ainda pensa em mim/ será que você / ainda (aqui acontece a quebrada harmônica) pensa em mim / da ra ra ra…. Então saiu o cantar canções que ainda vão nos ouvir, e aqui usei o ensinamento do Schafer.

Lembro com muita alegria da noite em que Reuel e eu harmonizamos as vozes dessa parte (e isso me remete a I’ll remember Frank Lloyd Wright / All of the nights we’d harmonize ‘til dawn). Sou muito fã do Paul Simon e foi um prazer colocar Simon e Garfunkel com sotaque brasileiro na letra. Inclusive, as letras talvez sejam o elemento menos relevante pra mim nas composições, o que eu realmente quero dizer está sempre nos sons, nunca nos seus significados. São os fonemas que me importam. Alma ao mar – soou bem, coube ali e pronto.

RAISA. Fiz as letras do disco em 2020, quando estava deprimido, sem vontade sequer de sair da cama, morrendo de ansiedade, achando que tinha falhado em tudo na vida. Estava apaixonado, mas na época Raisa e eu morávamos em cidades diferentes. Durante as fases mais duras da pandemia, não podíamos nos encontrar. Então fomos nos desencontrando.

Conheci Raisa em 2012, durante uma turnê da My Midi pelo nordeste. Ficamos juntos uma noite. Ela me desenhou algumas vezes depois disso e eu sempre dizia que queria lhe retribuir com uma canção. Nos reencontramos em 2019. Eu tinha passado os últimos anos me prometendo que nunca mais faria uma canção de amor. Dos nossos últimos encontros, ficou a frase “eu sou doidinho por ti”, que ela dizia adorar no meu sotaque alagoano.

É engraçado pensar que há lugares no nordeste brasileiro onde não se fala ti e di, mas “tchi” e “dji”. Então pensei que precisava fazer uma música com essa frase, o que em princípio me incomodava, pois meus ouvidos indies anglosaxões insistiam em taxar a frase como “brega”. Venci isso com a ajuda do Torquato, que, em defesa de um “pop genuinamente brasileiro”, declarou que deveríamos “assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra”.

Comecei a mexer na frase em GM7, fui pra Gm6, F#m7 e fluiu o II – V – I menor. Quando percebi, tinha uma bossa nova. Apesar de estar decidido a percorrer estéticas “clássicas” brasileiras no disco, não queria uma bossa nova propriamente dita, por causa da quase inevitável estrutura harmônica AABA. Queria o bom e velho “verso – refrão – verso – refrão…”.

Com uma violência de jardineiro de bonsai, tentei atrofiar a canção para que ela atendesse a meu desejo, mas ela se mostrou uma árvore indomável e surgiu o segundo galho A, o fruto B e o terceiro galho A. Tava lá, a bossa nova. Daí me lembrei da estreitíssima linha entre shoegazer e bossa nova: melodias melancólicas sussurradas sobre uma base de ritmo lento e levemente dançante. Ela tinha que começar ruidosa, com camadas de guitarras distorcidas, o tremolo deixando o pitch da guitarra flutuando, durante toda a parte A(1).

Em seguida, na parte A(2), percebi que era a hora da transmutação: as guitarras shoegazers dão espaço para o arranjo bossa nova propriamente dito, entram o piano elétrico e as frases suaves de metais. Essa saída da parte A(1)-ruidosa para a parte A(2)-bossa-nova-elegante também é uma das minhas partes preferidas do disco. Fiquei muito orgulhoso quando meu pai ouviu essa canção e me disse que primeiramente achou que tinha algo errado no começo, até que meu irmão explicou a ele que era intencional.

Passei vários anos evitando compor canções de amor (apesar de ouvi-las cotidianamente). Pensava que era algo como ser ateu e adorar a música do Arvo Pärt, mas quando me vi dizendo a Raisa que queria morar com ela, não era mais uma questão de escrever ou não canções de amor. Eu estava, afinal, escrevendo sobre mim.

Continue Reading

Lançamentos

Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

Published

on

Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuzaka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Mais Radar aqui.

DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.

FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.

“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.

JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.

SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…

PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.

Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.

FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.

MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.

Continue Reading

Lançamentos

Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

Published

on

Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

Ouça no último volume: em comum, as músicas do Radar internacional de hoje têm a inquietação – seja a inquietação existencial, a inquietação criativa, ou aquele estado que tira a gente da letargia e obriga a fazer alguma coisa urgentemente. A lista começa com Stina Marie Claire dando um trato no arranjo de sua própria música, e prossegue até a psicodelia dançante do Mantra Of The Cosmos.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Bandcamp (Stina Marie Claire)

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Mais Radar aqui.

STINA MARIE CLARIE, “THE HUMAN CONDITION (MEMENTO VERSION)”. Stina Tweeddale é mais conhecida por liderar a banda Honeyblood, que gravou álbuns excelentes unindo emo, power pop (com mais ênfase no “power”), sons misteriosos e um certo clima grunge. O Honeyblood tá meio sumido desde o single You’re standing on my neck (2019) e após a pandemia, Stina tem se dedicado a seu projeto solo, assinado com seu nome quase completo (que é Christina Marie Claire Tweeddale).

Na real, o Honeyblood já vinha funcionando como um projeto de uma mulher só. A diferença é que Stina Marie Claire dedica-se a uma sonoridade mais próxima do dream pop e do som-de-quarto. O EP A souvenir of a terrible year, repleto de lembranças do isolamento pandêmico, saiu em 2021, e agora sai a versão “memento” das faixas, reimaginadas com arranjos de cordas. A de The human condition humaniza tudo aquilo que era eletrônico e quase chiptune no original. Ficou bonito.

KING PRINCESS, “RIP KP”. No dia 12 de setembro sai Girl violence, novo álbum de Mikaela Strauss, ou King Princess, produzido por ela ao lado de Jake Portrait (Alex G, Unknown Mortal Orchestra) e Aire Atlantica (SZA). O disco marca a volta da artista a Nova Iorque e a um som mais cru e direto, após rompimentos pessoais e profissionais. O single RIP KP, que anuncia o álbum, mistura desejo feminino, melancolia e autossabotagem com batidas pulsantes e guitarras viscerais.

“É é sobre o lado sexy da violência feminina – quando o amor toma conta do seu cérebro e, de repente, você está sendo fodida pela casa toda, agindo como uma idiota. É a maneira perfeita de abrir o disco: dramática, desequilibrada e um pouco irônica”, conta ela, que no clipe, encara um clube de strip tease bem estranho. “É um hino safado para as lésbicas. Precisamos de devassidão neste verão”.

MÈR, “LET’S FIGHT”. A dupla formada pelas cantoras e compositoras francesas Cindy Doire e Sarah Burton uniu-se ao Chorus of Courage – um coletivo que amplifica as vozes de sobreviventes da violência. Do trabalho em conjunto saiu a delicada e etérea Let’s fight, uma canção em inglês e francês, que põe em versos a convivência com pessoas narcisistas e tóxicas. Aliás, a faixa é a estreia da dupla: Sarah e Cindy conhecem-se há duas décadas e mantém carreiras solo, mas só agora gravam juntas.

“Você já teve um amigo ou amante que sempre queria começar uma briga? É um ciclo exaustivo de manipulação e mágoa”, diz Sarah, localizando o sentido da letra. “A música é interpretada com ironia e calma, como se a pessoa dissesse: ‘Não vou mais brigar'”. A gravação foi feita durante uma nevasca na casa de Cindy, e o Mèr misturou sons acústicos e eletrônicos, lançando mão de sintetizadores vintage.

ESTEVES SEM METAFÍSICA, “SÓBRIA”. Com nome inspirado num verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo do poeta Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é uma banda de uma mulher só – a escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, que acaba de lançar com seu projeto o álbum de.bu.te. Não é um pop fácil: é um dream pop com referências de folk, música clássica, sons de Portugal e a fase mais elaborada dos Beatles. Nas letras, há espaço para crônicas pessoais e comentários existenciais: a bela e contemplativa Sóbria, single que antecedeu o álbum, é definido por Teresa como “um hino à juventude inconsequente”.

SUEDE, “TRANCE STATE”. No dia 5 de setembro, os reis do glam rock dos anos 1990 voltam às plataformas e prateleiras: o Suede lança o novo álbum Antidepressants (BMG). Produzido por Ed Buller, parceiro de longa data da banda, o disco promete um mergulho no pós-punk, segundo o vocalista Brett Anderson. Depois do ótimo primeiro single, Disintegrate, agora é a vez de Trance state, um rock dramático e elegante sobre perder o controle (entrar em estado de transe, enfim) ao ver alguém. Nada de trance eletrônico, como o nome da canção sugere, mas o clima hipnótico está garantido: é Suede puro, com clima de arena e direção de vídeo feita por Chris Turner.

(e falamos de Disintegrate aqui).

MANTRA OF THE COSMOS feat NOEL GALLAGHER, “DOMINO BONES (GETS DANGEROUS)”. O tira-casaco-bota-casaco envolvendo Zak Starkey na formação do The Who manteve o nome do baterista na mídia. Aliás, no caso, pior para a veterana banda britânica, que agiu de maneira bem estranha na demissão do músico.

Zak permanece aparecendo: seu supergrupo Mantra Of The Cosmos – que também tem na formação Shaun Ryder e Bez, do Happy Mondays, e o guitarrista do Ride, Andy Bell – volta com o terceiro single, um dance-rock lisérgico que lembra os próprios Mondays e o Black Grape (a “outra banda” de Shaun e Bez), e que tem participação de Noel Gallagher, do Oasis. Starkey, provavelmente o único filho de beatle que dispensa tal aposto ao lado no nome, usou os brinquedos do filho no clipe da faixa.

ROSETTA WEST, “DORA LEE”. Lembra do Rosetta West, banda que chegou até nós pelo nosso perfil no Groover e da qual já falamos diversas vezes? Eles estão de volta com o ótimo EP Gravity sessions, com músicas antigas do grupo gravadas numa sessão no estúdio Gravity, de Chicago. Dora Lee, uma das mais legais do álbum Night’s cross (resenhado aqui), era um blues acústico no original, e virou punk-blues com herança de Jimi Hendrix e Tad.

“A música conta a história de um homem assombrado por uma visita breve e apaixonada de uma figura feminina aparentemente sobrenatural. No clipe, o narrador assume o papel de um endurecido comandante de tanque, ainda perturbado por essa aparição mesmo em meio aos combates”, avisa o grupo, chegadíssimo nos climas sombrios.

Continue Reading

Lançamentos

Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus – e mais

Published

on

Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus - e mais

Tem um restinho da farra de junho abrindo essa edição nacional do Radar – com o som nordestino e psicodélico de Julião e O Forró do Suco Elétrico (foto). Entre sons herdados do punk, como Swave e Lupino, também tem muita brasilidade aqui hoje, inclusive com a presença de um dos maiores e mais longevos nomes da MPB entre os novos lançamentos. Ouça tudo no volume máximo.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Mais Radar aqui.

JULIÃO E O FORRÓ DO SUCO ELÉTRICO, “A MURIÇOÇA”. Criado pelo músico pernambucano Feiticeiro Julião, o Forró do Suco Elétrico (que estreia agora em EP epônimo) é uma brincadeira séria com a tradição zoeira e alegre do forró, só que turbinada pelas guitarras e pela psicodelia – como também é tradicional na MPB nordestina dos anos 1970 para cá, via Alceu Valença, Robertinho de Recife e vários outros nomes. Julião une-se a Ju Menezes, Alexandre Baros, Drica Ayub, Juvenil Silva e Tomé, e liga forró, frevo e sons afins na tomada, sem esquecer das raízes. A muriçoca, de Julião, une forró, folk, reggae, sofrência e picardia em doses quase iguais. Pra tocar na sua festa!

SWAVE, “VAI CAIR”. Esse supergrupo indie paulistano lançou recentemente o disco Foi o que deu pra fazer (resenhado pela gente aqui) e une sua estética musical grunge a um clima de gravação de vídeo antiga no novo clipe, Vai cair. Parece um VHS guardado por décadas, uma videoarte antiga, ou um vídeo dos primórdios das câmeras digitais – você escolhe – mas tudo cheio de estilo e som alto. Detalhe: com esse vídeo, a banda fechou a rodada, porque agora todas as onze faixas do álbum (!) têm clipes. Música para ver e ouvir.

LUPINO, “MUROS”. Unindo rock, variações rítmicas e música eletrônica, o Lupino, de Florianópolis (SC), fecha seu primeiro ciclo de gravações com Muros – que vem após outros quatro single lançados. Uma música especial para a banda, por ter sido a primeira vez em que a banda compôs em conjunto, “unindo elementos de rock e música eletrônica para criar uma experiência dançante e introspectiva”.

Na faixa, os vocais de Taissa Bordalo cantam uma relação bem complicada, em que uma pessoa entra sem pedir licença e as coisas fica beeem bagunçadas – tanto que em algum momento, a outra parte do relacionamento tem que construir muros em volta de si. Lá pela metade, a canção muda de ares e ganha um clima mais tecnológico, com teclados e programações.

JOÃO MERIN, YAAN, LAIÔ, “FILHOS DE ÁFRICA”. Esse trio vem da Bahia, une afrobeats, pagotrap e r&b, e mescla talentos – João é cantor e rapper, Yaan é músico e produtor, Laiô tem 20 anos de carreira como cantora, compositora e gestora cultural. O EP Olhos de sol tem música pra dançar, mas tem protesto e vitória, como no balanço de Filhos de África. Uma música em que Laiô canta que “tá ficando preto, tá ficando bom / cês tão vendo só o começo, vamo dominar”, e João entra citando o jogador Vinicius Jr e o rei do afrobeat Fela Kuti. “Cantando o amor até mesmo no fim /precioso na lama feito rubi”, diz, unindo amor e resistência.

CAMALEÔNICA, “GERAL”. Banda formada em Barcelona por dois amigos de infância do Brasil (Felipe Dantas e Fernando Reis), o Camaleônica encontra na mistura musical a sua razão de existir – samba, bossa nova, rock, rap, eletrônicos, tudo isso encontra lugar no som deles. Geral, um dos singles que puxam o disco Eletrotropical, une guitarras ligadas ao blues e ao rock, e batuque vindo do axé. Seria um axé-blues, então? Talvez. Felipe explica que o principal da faixa é que apesar das diversidades, o personagem da música tem orgulho de sua história – e é esse amor próprio que “pulsa forte nos batuques e conduz sua trajetória”, completa o músico.

VI DRUMUS, “O SONHO ANESTESIA”. “Quero que quem ouça esse som se sinta visto, mesmo nas suas sombras”, diz Vi Drumus, que acaba de lançar o álbum Medor. O sonho anestesia é uma música que une metais, beats e referências que vão do hip hop ao soul brasileiro, para falar de “uma realidade em que o corpo é explorado e a mente busca refúgio na poesia e na fuga onírica”. Som pra dançar e encarar a luta do dia a dia com outra mentalidade, já que um dos grandes temas dos quais Vi fala em seu álbum, é como um monte de coisas que a gente faz e pensa são mediadas pela dor.

NEY MATOGROSSO, “PÁSSARO BRANCO”. Canção meditativa composta por Paula Raia, Pássaro branco é a faixa-título do novo EP de Ney – que traz quatro faixas feitas para a trilha do balé Entre a pele e a alma, espetáculo encenado pela Focus Cia de Dança sob direção de Alex Neoral. O disco é um dos projetos que envolvem o nome de Ney perto de seu aniversário de 84 anos – ele chega à nova idade em 1º de agosto. Tivemos também o filme Homem com H – que fez sucesso nos cinemas e está agora na Netflix – e o ótimo disco Canções para um novo mundo, um dos destaques do começo do ano, gravado com a banda Hecto (e resenhado pela gente aqui). Algo nos diz que vem mais aí.

Continue Reading
Advertisement

Trending