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Cultura Pop

Edgard Scandurra em papo com o POP FANTASMA sobre novo disco do Ira!

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Edgard Scandurra em papo com o POP FANTASMA sobre novo disco do Ira!

A volta do Ira! não estaria completa sem um disco de inéditas. O grupo havia se separado em 2007 logo após o conturbado disco Invisível DJ, retornou alguns anos depois em nova formação (os únicos “originais” eram Edgard Scandurra na guitarra e Nasi no vocal) e só havia lançado um DVD da faceta mais acústica da banda, o Ira! Folk. Agora, o quarteto retorna com Johnny Boy (baixo) e Evaristo Padua (bateria) e um novo disco, Ira (sem a exclamação).

A ausência da pontuação final serve para indicar que, pela primeira vez na vida, o Ira! lança um disco sem a ajuda de uma gravadora. A independência se reflete também nas escolhas artísticas da banda, que voltou à ousadia de discos como Psicoacústica (1988) e Você não sabe quem eu sou (1998) e concentrou-se em músicas longas. Algumas delas, como Mulheres à frente da tropa, delicadas e acústicas, longe do paradigma de “rock” comum ao mercado fonográfico. Virginie Boutaud, ex-vocalista do Metrô (e que está trabalhando com Edgard num projeto em dupla), canta em algumas faixas.

O POP FANTASMA bateu um papo com Edgard Scandurra e descobriu como está sendo para a banda lançar um disco numa época tão complicada (o álbum chegou às plataformas em plena pandemia). Entre outros assuntos.

POP FANTASMA: Edgard, parabéns pela coragem de estar voltando ao mercado com o Ira! com um disco autoral.
EDGARD SCANDURRA: Obrigado. E coragem em todos os sentidos, né? É um disco independente e está sendo lançado numa época dessas… (rindo)

Ia chegar nisso. Como tá sendo lançar um disco nessa época de pandemia? Esse disco foi terminado pouco antes da pandemia chegar aqui. Íamos aguardando o melhor momento para lançar, mas vimos que se esperássemos a quarentena passar, ele não sairia nunca. Porque o Brasil não se cuidou, não teve lockdown aqui. A gente acabou ficando  com uma expectativa duvidosa de quando as coisas vão voltar ao normal. E esse normal não sei quando vai ser. Em respeito ao nosso público, às pessoas dentro de suas casas, achamos legal que o disco fosse lançado. Existe uma certa urgência da nossa parte, até porque nossa carreira teve um rompimento em 2007. E quando voltamos, demoramos mais ou menos uns cinco anos para surgirem as novidades. É importante que a gente mostre esse registro para quem gosta da gente, para quem está curioso. Não daria para esperar 30, 50 anos para lançar um novo disco. Tem até uma música que eu fiz com a Bárbara Eugênia que está nesse disco novo, que tem dois versos que falam em “vai que o mundo acaba, vai que a gente some?” (Chuto pedras e assobio). Vamos ter o registro, então!

Tem esse lado que música serve de alento, como tem acontecido nas lives… Sim, eu até fiz umas coisas no Instagram, e postei, e as mensagens são sempre essas: “Muito obrigado, alegrou meu dia”. É um conforto que a gente dá para o nosso público. O ser humano tá fazendo tanta coisa errada, né, cara? Não dá pra entender como o cara que era em tanta coisa consegue fazer música, filmes, livros, coisas de amor e compaixão… E ter ao mesmo tempo essa falta de diálogo, essa preocupação só com o capital, ter reações machistas, racistas…

Como você vê essa discussão dos tempos de hoje, de separar o artista da obra, por causa das suas opiniões? Tem pessoas que ficam meio na miúda, né? Que ficam mais isentos, evitam exposição pessoal… Tem os que têm uma visão pessoal das coisas. E tem os malucos, né? O Morrissey eu acho que faz parte dessa loucura, esse lado mais conservador dele dá mais uma excentricidade. Agora tem essa turma da minha geração que tomou um lado mais governamental, vamos dizer assim.

Roger, Lobão durante um tempo… O Lobão agora ficou contra o Bolsonaro, né? É, ficou mas é um pouco tarde, demorou, até. Eu acho que tem um grau de excentricidade nisso. O Roger indo visitar o Bolsonaro no hospital, pondo a roupa nova de lixeiro do Dória. Tem um problema nessas posições. Não posso respeitar isso, embora não haja obrigação de todo mundo pensar do mesmo jeito. Acho que no fundo as pessoas querem o bem dos outros. Mas não consigo imaginar um artista de rock apoiando a tortura, gente que tortura os outros. Ou apoiando o preconceito tanto racial quanto identitário, ou apoiando um governo homofóbico.

Você tocou no Ultraje A Rigor no começo da banda, por sinal. Você e o Roger ainda se falam? Não, a gente não se fala. A última coisa que eu soube dele foi que ele estava desse outro lado. Eu não só toquei no Ultraje como dei o nome para a banda! Lembro de falar para ele: “Pô, Roger, toca as suas músicas! Não fica tocando Beatles e Stones para sempre. Você é talentoso, tem músicas legais”. Isso lá em 1982, 1983, a banda era de covers. Nessa época ninguém discutia opção política de ninguém. Essa coisa de polarização política rola de uns oito anos para cá. Nos anos 1980, acho que nunca parei e perguntei para ninguém: “Em quem você votou?”. Hoje é que pequenas diferenças são gritantes.

IRA! E ULTRAJE A RIGOR NO PROGRAMA LIVRE

Sim, e apoiar tortura ou não, nem é algo pequeno. Exato, não é democrático. As pessoas estão entendendo errado o que é democracia. O choque tá aí, mas que sejam felizes, espero que um dia abram os olhos. Bem vindo, Lobão! (risos). Antes tarde do que nunca.

Como você viu a repercussão do clipe de Mulheres à frente da tropa? Foi um trabalho da Luciana Sérvulo, que dirigiu. Eu fiz o roteiro. Fizemos na ocupação 9 De Julho, aqui em São Paulo. Tem rostos anônimos mas tem pessoas ali que são conhecidas, importantes, como a Carmen Silva, líder da ocupação. Tem também a Lucinha Turnbull (cantora e guitarrista) que aparece no clipe. Tem crianças, adolescentes, todo um significado. Graças a Deus a gente terminou poucos dias antes de começar a pandemia, porque se desse um atraso seria impossível, não teríamos segurança. O clipe acaba valendo como um curta-metragem. Eu até falei com a diretora que não sabia como apresentar o vídeo, se era um clipe, um curta.

“MULHERES À FRENTE DA TROPA”

Eu desconfio de mim, do novo disco, é uma homenagem ao Andy Gill, da Gang of Four. Como a música dele bateu em você e no Ira!? Uma influência enorme não só na gente como no rock de São paulo, do Brasil. Fui no show do Gang Of Four no Brasil (em 2018) e era a terceira vez que eu tinha visto a banda. Mas dessa vez fui cara de pau e fui lá falar com o Andy, perguntei para ele se ele tinha noção do quanto o som dele foi influente no rock brasileiro. Ele ficou meio tímido, era um cara meio reservado. Mas pegou em cheio, pegou Ira!, Mercenárias, Voluntários da Pátria, Fellini, Legião… Era uma influência de bandas que iam para um lado mais estranho, menos pop. Influenciou Paralamas do Sucesso, também.

“EU DESCONFIO DE MIM”

GANG OF FOUR AO VIVO EM SÃO PAULO

O nome do novo disco é Ira, sem a exclamação. É uma volta ao passado, quando vocês não tinham exclamação no nome? Seria um recomeço? É como uma comparação, porque o Ira! sem a exclamação era o Ira! independente, e o disco novo também é independente. Essa fase foi antes da gente assinar contrato com gravadora. Quando a gente gravou o primeiro LP, Mudança de comportamento, o Pena Schmidt (produtor) disse: “Por que é que vocês não poem uma exclamação no nome, para dar uma diferenciada?”. E estamos de volta à independência. É justo até que o disco novo tenha músicas de seis minutos, tem uma que tem quase oito minutos (Efeito dominó, que ganhou recentemente uma versão editada para single)… É essa liberdade que a gente tem de não se prender a formatos mais pop. O conceito do trabalho é o de um álbum, foi pensado como vinil.

Vai sair em vinil? Sim, sim, o trabalho todo da capa, o conceito… Estamos pensando muito nisso. Pode ter capa dupla, encartes. As músicas têm muitos detalhes, muitas sutilezas, muita coisa para ouvir com fone de ouvido, que é uma coisa meio de álbum. Quero que as pessoas tenham o prazer de colocar o disco na vitrola e ouvir lado A, lado B. Aquela coisa de “porque aquela música está no lado B”, “porque ela é a última do lado A”. Não há muitas bandas com esse tipo de preocupação.

Foto: Karina Zaratin/Divulgação

Algumas entrevistas que você já leu no POP FANTASMA:
Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá
– Naomo Yamano (Shonen Knife)
– Marco Polo (Ave Sangria)
– Andy Cairns (Therapy?)

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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