Cultura Pop
Cadê o Howard Scott Warshaw?

A pergunta na verdade deveria ser “quem é Howard Scott Warshaw?”, já que fora do universo dos games, muita gente nem ouviu falar desse nome.
Bom, Howard Scott Warshaw, nascido em 30 de junho de 1957 no Colorado, era um matemático que trabalhou na Hewlett-Packard. E que depois foi contratado pela Atari. E que acabou se responsabilizando por aquele que é tido como o maior fracasso da história da empresa: a versão game do filme ET, o extra-terrestre, de Steven Spielberg.
Warshaw, como designer, estava com moral dentro da Atari, por causa de sucessos como Yars’ revenge e Os caçadores da arca perdida – a versão jogável do filme, também dirigido por Spielberg. A empresa ganhara um buraco enorme em seu caixa por causa de uma versão fracassada do jogo Pac-Man (tida como bem mais sem graça do que o game popularizado pela japonesa Namco). Até que os caciques da Atari cresceram o olho quando viram as filas nas portas dos cinemas para assistir a ET. Os chefões da empresa encasquetaram que precisavam de um jogo aproveitando a história. E, ah, ele deveria ser feito em seis semanas (e não em seis meses, como era comum), para aproveitar o sucesso repentino do filme.
Ao que consta (quem contou essa história foi o jornalista Pablo Miyazawa no livro 52 mitos pop – Mentiras e verdades nos boatos do mundo do entretenimento), Spielberg, quando liberou a história para a Atari, pensou num game de jogabilidade simples. Warshaw optou por um universo em que o ET precisava construir um telefone para ligar para a casa, e encontrava uma série de obstáculos. Da mesma forma que acontecia em jogos como Pitfall, ele perdia força quando caía em buracos ou demais armadilhas. Para conseguir recuperar força, se alimentava de Reese’s Pieces (espécie de M&M’s de paçoca e chocolate, feito pela mesma fábrica do Reese’s Cups).
Ao contrário do aspecto viciante do Pac-Man e do próprio Pitfall, ainda tinha mais: o jogador precisava levar o ET para uma área onde ele pudesse telefonar em paz, e ainda passava por outras etapas. Não era nada muito simples e parecia um jogo bem trabalhoso, mas a Atari depositou tanta confiança que nem sequer fez testes de audiência e mandou que fabricassem os cartuchos imediatamente.
Muita gente sabe o que aconteceu, então vamos contar rápido: só 1,5 milhões de cópias foram vendidas (das 5 milhões fabricadas). Os jogadores chiaram, muita gente considerou a experiência de ET – O extra-terrestre péssima, a Atari chegou a 1983 com um baita preju (e por vias tortas, viu que tinha potencial de público no Brasil, onde virou mania nacional naquele ano). E tem a lenda urbana (que de lenda não tinha nada) de que a Atari mandou enterrar mais de um milhão de cartuchos do ET e do Pac-Man no aterro sanitário de Alamogordo, no Novo México.
Em 2014, uma equipe de exploradores foi lá fazer escavações e descobriu que, sim, havia cerca de 700 mil peças (bom, não era um milhão) enterradas no aterro. No pacote, havia cartuchos, joysticks, consoles, etc. Warshaw acompanhou toda a história, e naquele mesmo ano, acabou aparecendo num filme independente, Angry video game nerd: The movie, que falava da operação desenterra-ET em Alamogordo.
O designer topou aparecer, desde que não fizesse papel nenhum: queria aparecer como ele mesmo na história. E ainda deu entrevistas explicando sua versão da elaboração do game. Olha aí um papo no canal Cinemassacre com Warshaw e o diretor de Angry video game nerd: The movie, James Wolfe.
Warshaw, que não se incomodou em falar no filme que sua criação era “o pior jogo de todos os tempos”, procurou outros caminhos após a Atari cair em desgraça. Escreveu livros e passou a dirigir documentários. Um deles, Vice & consent, sobre a comunidade BDSM de San Francisco. Fez também Once upon Atari, doc com entrevistas com criativos e notáveis dos áureos tempos da empresa. Esse vídeo está no YouTube, dividido em algumas partes.
Na tal entrevista lá de cima, Warshaw é defendido pelo diretor de Angry video game nerd, que diz ter optado por rir da história, porque ela tem características dramáticas inigualáveis. Mas o cineasta reconhece que já jogou games bem piores que ET. Warshaw afirma que se sente tranquilo com a história porque, ora bolas, tem no currículo hits como Yars’ revenge. Mas admite que na época de ET, o deadline absurdo da Atari fez com que jogasse o boné longe de onde poderia alcançar. “Eu peço desculpas, sério”, conta. “Se tivesse tido uns dias a mais para resolver alguns dos problemas básicos do jogo, talvez tivesse dado certo e não estaríamos aqui falando disso. Mas honestamente, depois desse tempo todo, eu já estava de saco cheio do jogo e nem conseguia mais olhar para ele”.
Tem mais. Parece até roteiro ruim, mas a história é exatamente essa: além de escrever e dirigir, Warshaw ainda diversificou suas atividades e tornou-se psicoterapeuta especializado em aconselhamento de casais e de (olha!) funcionários de empresas de alta tecnologia. Se você acompanhou as legendas do tal papo do Cinemassacre, viu que hoje o designer é mais conhecido como “psicoterapeuta do Vale do Silício”. “E o mais engraçado é que com o game, eu criei um monte de depressões, angústias e traumas. Não sou qualificado para cuidar do transtorno de estresse pós-traumático que eu mesmo iniciei, mas o que fiz realmente com o ET foi criar uma base de clientes para mim”, revela.
A tal equipe de escavadores de Alamogordo também estava acompanhada por outro time de cineastas, liderados por um cara chamado Zak Penn. Que estava lá para produzir Atari: Game over, documentário que foca justamente nas explorações para achar os cartuchos enterrados no Novo México. Warshaw também dá as caras no filme, que tá no YouTube legendado em português. Olha aí.
Tá com tempo? Pega aí um podcast de mais de uma hora com Warshaw em que ele fala de Atari, filmes, psicologia, etc. Para ele, nada de game over.
Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
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