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Livros

Barrett Martin lança “trilha sonora” de seu livro, com gravações raras

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Barrett Martin lança "trilha sonora" de seu livro, com gravações raras

Mais conhecido no Brasil por ser o baterista de Nando Reis, Barrett Martin, nomão do rock de Seattle (tocou com Screaming Treas, Mad Season, Tuatara, Skin Yard etc etc etc) está lançando seu primeiro livro, The singing Eartth. No volume, junta “minhas aventuras musicais ao redor do mundo nos últimos 30 anos”. E além do livro, tem trilha sonora- ele avisa pelo Instagram que quem comprar a primeira edição de The singing Earth, ganha junto um CD especial com músicas inéditas das bandas pelas quais passou. Olha aí:

“O livro vem com uma trilha sonora de 26 canções, contendo gravações raras de todas as minhas bandas, incluindo: Thin Men, Skin Yard, Screaming Trees, um instrumental nunca lançado do Mad Season, Tuatara, The Barrett Martin Group, CeDell Davis, Coleman Barks, Rahim Alhaj, Joy Harjo, e gravações feitas na Austrália, África, Cuba, América Central, Brasil, Floresta Amazônica, Delta do Missisipi, Sudoeste da Ásia, e em todos os lugares”.

Tem mais: “Estamos fazendo uma oferta especial limitada: se você pré-encomendar The singing Earth, livro e trilha, você receberá uma cópia da 1ª edição autografada do livro, além de todos os 5 CDs do Barrett Martin Group enviados diretamente para sua casa. O seu livro assinado, a trilha sonora de CD e todos os 5 CDs do grupo serão enviados no início de agosto e você receberá tudo antes da data de lançamento oficial, 25 de agosto de 2017. Esta oferta especial é apenas da 1ª edição do livro. Então veja o link na minha biografia e você encontrará o link de pré-encomenda lá” (é esse aqui  😉 )

https://www.instagram.com/p/BV36KiSFmLu/

Entrevista

Entrevista: José Emilio Rondeau detalha a produção do primeiro LP da Legião Urbana no livro “Será!”

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Lembra daquele sininho que aparecia no refrão (e no final) da música Será, da Legião Urbana? Na verdade, não é um sininho – é um instrumento musical alemão chamado glockenspiel, formado por barras de metal, que dava aquele som cristalino. E o bendito glockenspiel gerou uma crise durante as gravações de Legião Urbana, a estreia epônima do grupo, no meio de 1984.

“Eles detestaram o instrumento!”, conta o jornalista José Emilio Rondeau, que produziu o álbum e teve a ideia de usar as chapinhas de metal porque elas apareciam com destaque em Born to run, sucesso de um de seus heróis, Bruce Springsteen – e o produtor, claro, acabou convencendo a banda. Essa e outras histórias sobre o debute de uma das maiores bandas da história do rock brasileiro, estão no livro Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor (Ed. Máquina de Livros, 112 páginas, R$ 65 impresso e R$ 39 e-book).

No Rio, cidade que a banda brasiliense escolheu para morar, o livro ganha lançamento nesta quarta (4), às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572), com uma esticada no dia 13 na Bienal do Livro. Rondeau falou ao Pop Fantasma sobre os bastidores do livro e também conversou com a gente sobre seu mais novo veículo de mídia – a newsletter Farol, que sai toda sexta-feira com um apanhado de notícias e descobertas do mundo pop e do cinema, sempre com um texto envolvente.

Texto e entrevista: Ricardo Schott – Foto destaque Mauricio Valladares/Divulgação

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Como foi voltar a essa época do primeiro disco da Legião Urbana e finalmente escrever um livro sobre? Na verdade é o seguinte: durante décadas desde a feitura do disco, eu falei com uma porrada de gente. Dei entrevistas, participei de documentários, programas de TV. Já vinha falando sobre esse período há muito tempo. Agora é diferente: marcou-se uma data redondíssima – os 40 anos do disco – e a ideia foi reunir uma história oral daquela gravação, daquele período de gestação, realização e lançamento do disco. É um período que representa uma transformação muito profunda na Legião. Eles deixam de ser uma banda punk raiz e viram um fenômeno pop – mesmo que não estivessem necessariamente buscando isso. E que o Renato fosse refratário à ideia de ser um sucesso pop.

Reuni um grupo de pessoas que estiveram ali durante a feitura do disco: os músicos, o técnico de som, o Mayrton Bahia (diretor de produção)… Fomos conversando separadamente com cada um e tentando buscar a lembrança que todos tinham daquele momento. Havia muitos pontos em que as memórias eram conflitantes. As pessoas não se lembravam exatamente do que tinha acontecido. Foi uma experiência de aprofundar a memória do período – e, para mim também, muita coisa já tinha se apagado.

Legião Urbana ganha novo livro

A capa do livro (esq.) e o autor, José Emilio Rondeau

E foi bem legal ter trazido o Amaro Moço (técnico de som do disco) para as entrevistas do livro, até porque técnicos de som nem sempre são lembrados nessas horas… O Amaro Moço foi importantíssimo. O Bonfá fala no livro que o disco é resultado do trabalho de muita gente, e o Amaro é uma dessas pessoas. Ele aceitou o desafio de fazer esse disco sem ter experiência prévia com rock. Vinha de uma formação em samba, tinha feito discos pop – fez Rosana com Lincoln Olivetti, por exemplo. E ele mesmo dizia: “Grave é grave e agudo é agudo. Consigo gravar tudo que pintar na minha frente”. Ele teve muito cuidado técnico. Tinha sido recentemente promovido a técnico de som – antes era assistente. Eu, como fissuradinho pelo lado técnico de um disco, fico pensando nos outros fissuradinhos que têm no mundo, e que vão ler o livro.

A Legião tinha vindo de duas tentativas de gravar com produtores feras de estúdio, mas que não deram certo. Você acredita que era preciso de verdade um jornalista musical que entendesse a banda? Alguém que conhecesse as referências deles? Na verdade, tenho certeza de que havia um punhado de outros produtores que poderiam ter feito o disco. Dei a sorte de, na cara de pau, dizer: “Quero fazer isso”. Eu não saberia dizer se havia alguém além do Liminha, na época, que poderia entender a banda. Havia um rol de outros nomes que poderiam ter sido escolhidos. Pegaram dois craques de produção, que eram o Marcelo Sussekind e o Rick Ferreira. Mas não havia um encontro de sensibilidades. Não havia harmonia, não havia concordância, aquela coisa do “ah, entendi o que você falou desse disco, desse músico, sei pra onde sua cabeça tá indo”.

Acho que minha sorte foi ter sido o cara que bateu na porta naquela época. Certamente, poderia ter vindo outro nome. Tinha a minha falta de perícia como produtor em termos técnicos, de saber tocar um instrumento… Mas eu fui mais na intuição, no gosto musical, na experiência de tudo que eu já tinha ouvido ao longo daqueles anos. Eu era muito próximo deles. A gente tinha ouvido muita coisa em comum, embora eu tivesse ouvido um pouco mais — era um pouquinho mais velho, já tinha dado algumas voltas a mais. A gente teve uma proximidade muito grande, apesar de haver, em alguns momentos, uma discordância de caminhos: vai por aqui, vai por ali. No final, ficou uma coisa extremamente coesa. Forte pra caramba. Até hoje me emociona ouvir o disco, especialmente Será.

Será tinha o diferencial do glockenspiel, que chamava muita atenção para a faixa. E a banda não gostou inicialmente da ideia de usá-lo, certo? Foi a coisa mais maluca do mundo, porque enfiei na música uma obsessão minha, que era Bruce Springsteen. Sempre fui muito fã dele. E eu só consegui verbalizar isso agora: eu via Será como Born to run, que tinha o glockenspiel. As duas representavam uma coisa dramática, heroica, desafiadora. Algo como: vamos à luta, vamos conseguir vencer (risos).

O glockenspiel foi uma coisa que, inicialmente, eles detestaram. Lembrei disso reouvindo a música 50 mil vezes pra lembrar (risos). Mas no fim das contas, o Renato, sem que fosse pedido, fez muito mais com o glockenspiel do que o planejado. Inicialmente eram 3 ou 4 notas no refrão, mas no final da música ele sai improvisando. E ficou do cacete. Ele entrou naquela onda e entendeu.

Legião Urbana em novo livro: Renato Russo ao piano no estúdio da EMI-Odeon durante a gravação (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)

Renato Russo ao piano no estúdio da EMI-Odeon durante a gravação (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)

Você falou que reouviu o disco 50 mil vezes e eu ia realmente te perguntar quantas vezes você escutou o disco para fazer o livro… Desde o ano passado, quando comecei a escrever o livro até agora, ouvi toda hora. Descobri coisas que já tinha esquecido. Coisas que me agradavam menos passaram a me agradar mais, e vice-versa. Mas tem sempre aquela faixa à qual eu volto, que é Será. Eu me surpreendi muito com a capacidade do Renato na segunda voz. Aquilo me arrepiou. Não foi discutido antes, não foi planejado. Ele gravou de primeira, de surpresa. Foi uma interpretação espetacular.

Você falou que deu sorte por ter tido cara de pau de se oferecer para produzir a Legião. Por acaso, a Legião deu uma baita sorte do Mayrton Bahia ter resolvido conversar com a banda, quando ela estava querendo sair da gravadora. Como você vê esses golpes de sorte na vida da banda? Aliás, você acha que sorte é importante na vida de um artista? A sorte acaba sendo um elemento na vida de qualquer pessoa. A gente planeja uma coisa, mas sempre acontece algo que muda a trajetória, que oferece uma possibilidade inesperada. Se não tivesse visto aquela conversa, o Mayrton nunca iria saber o que houve. O Renato Russo poderia não ter cortado os pulsos e o Renato Rocha (baixista) não teria entrado (ele só entrou para a banda por causa desse incidente com Russo, como está no livro). Eles poderiam ter continuado gravando com o Marcelo Sussekind ou o Rick Ferreira na produção, e teria saído outra coisa.

Mas cada um deles, o Mayrton também, estava com a vida girando em torno da feitura desse disco. Todo mundo se empenhou pra que ele ficasse pronto e fosse o melhor disco possível. O primeiro álbum da Legião não é um disco punk. Não é só de rock, ou de pop. É tudo isso ao mesmo tempo. Pra mim, representa justamente o início da transformação da Legião. O que ela ia ser no disco seguinte já começa a se esboçar aqui. A faixa que abre o Legião Urbana Dois (que é Daniel na cova dos leões) é uma sequência natural do segundo lado do primeiro disco. Uma música originalmente instrumental, que nasceu da feitura do primeiro disco e dá continuidade ao processo inicial.

O processo de gravação do primeiro disco da Legião, pelo que dá para ver no livro, mudou a maneira como a EMI via a banda. Você acredita que o primeiro disco mudou a maneira como se gravava rock no Brasil, e a maneira como se via o rock no Brasil? Bom, certamente houve uma mudança de visão muito forte ali, em relação a tudo que viria a acontecer na produção de discos de rock no Brasil, aliás no ecossistema do rock e do pop do Brasil.

Mas não foi a única coisa: esse disco saiu logo depois do Rock in Rio, que foi uma bomba transformadora no habitat do rock e do pop no Brasil. Uma coisa foi se encadeando à outra, tudo foi se somando. Se o disco da Legião tivesse saído sozinho, talvez não causasse a mesma pressão, o mesmo impacto. E o disco custou a pegar. Ele sai depois do Rock In Rio. Quando pegou, foi bem à beça, pegou de alto a baixo o país todo, todo mundo foi tomando conhecimento… Mas tem esse espaço de tempo em que ele demorou.

Aliás, o primeiro disco da Legião não saiu só depois do Rock In Rio, ele saiu depois do Carnaval! Houve uma ressaca do Rock in Rio e do carnaval. Demorou até que acontecesse alguma coisa. Fiquei preocupado: será que não rolou? Mas chegou uma hora que… rolou.

O João Barone me disse que a impressão que os Paralamas do Sucesso tinham dos estúdios da EMI-Odeon é que aquilo parecia uma repartição pública da Alemanha Oriental. Como era lidar com o Zoltan Merky (diretor técnico dos tempos da Odeon, que aparece creditado em discos como o Clube da esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges, como Z.J. Merky), extremamente rigoroso com todos os processos? Ah, o Zoltan não ia muito ao estúdio… O Amaro e o Nivaldo (Duarte, técnico de som experiente da gravadora) iam checar com ele pra ver se tava tudo certo. E eu acredito que a gente já tenha fugido bastante dos padrões. A faixa Petróleo do futuro teria sido vetada se tivesse sido ouvida por aquele padrão técnico da época, o Zoltan iria ter sipitucas se tivesse ouvido aquilo (risos).

Havia uma sonoridade muito específica nos discos da EMI-Odeon naquele momento – Dalto, Vinicius Cantuária, 14 Bis. Uma sonoridade bem mais linear, tudo muito limpo e bem produzido. O disco da Legião, comparado a isso, é mais solto. Os Paralamas também sempre tiveram uma sonoridade super enxuta, mesmo que a partir de determinado momento fosse outra coisa. Era pop, mas era um pop bem amarrado.

E justamente Petróleo é bem definidora, por causa daquela abertura que parece que não vai começar nada na música… e aí começa. Um troço meio Ramones. Isso. Foi muito gratificante. Ter esse arco bem claro, bem forte, bem marcante. A Legião vem daí. Isso é Legião, aliás isso e todas essas outras coisas. É tanto Petróleo do futuro, essa ferocidade, essa orgia de microfonia, quanto o romantismo de Por enquanto, no final.

Legião Urbana ganha novo livro: na foto, Legão, Rondeau e Marcelo Nová

Marcelo Nova (de óculos escuros) visita as gravações do primeiro da Legião, em 1984. Rondeau está entre ele e Bonfá (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)

Antes de produzir a Legião você produziu o primeiro disco do Camisa de Vênus. Como foi essa produção? Quando eu era do Jornal do Brasil, o Marcelo Nova era radialista em Salvador, na rádio Aratu. A gente se conheceu indo pra São Paulo em 1981, no ônibus da EMI, pra ver o show do Queen no Morumbi. Ele contou que tava montando uma banda chamada Camisa de Vênus, e houve uma continuidade depois disso, ficamos amigos. Um dia ele falou: “Rolou o Camisa. Tá a fim de produzir?” Eu falei “vamos nessa!”, mas minha experiência era zero. Aliás minha experiência era assistir a gravações de outros artistas, mas sem interesse em saber o que estava sendo feito ali. Fomos na cara e na coragem.

Fomos pro estúdio da RCA em São Paulo, e ficamos lá alguns dias. Foi uma farra. Eles tinham aquele som, que já era o som deles, era ultra punk, amador mesmo. Mas tinha muita verdade, muito senso de humor. Foram dias ótimos. Eu tava no Fantástico, acho, e pedi umas férias pra fazer esse disco. Era pra me divertir, até porque nem ganhei nada fazendo o disco! Foi tudo de graça.

Eu achei bem inesperado o Marcelo Nova ir ao estúdio visitar a Legião na gravação do disco – ele, que é um eterno crítico de tudo que é feito no rock nacional… Você se lembra como foi essa visita? Aliás como se davam as visitas dos artistas ao estúdio? Olha, só me lembro da visita por causa da foto. Não sei como se deu isso. Mas era uma época em que a gente era muito amigo, o Marcelo Nova estava no Rio, o convidei e ele foi. O Guilherme Isnard (Zero), que foi lá, conhecia eles de São Paulo. O Herbert Vianna foi lá com Paula Toller, e ele tinha indicado a Legião para a EMI. A Fernanda, esposa do Dado, conhecia todo mundo, facilitava. O rock em São Paulo já tinha uma conexão com a Legião. O Lulu Santos também passou pelo estúdio, mas ele tinha ido na verdade à gravadora, não sei por que cargas d’água ele foi lá. Ele pegou o baixo (do Renato Rocha) e saiu fazendo uns solos alucinantes, deixou todo mundo de boca aberta…

Até hoje há quem critique o jeito do Marcelo Bonfá tocar. Você acredita que o tempo vai fazer justiça a ele? Bom, o Bonfá, como está no disco, compõe o som da Legião. Ele é o som da Legião. Assim como os outros integrantes, o Renato Russo. Tem erros, tem momentos melhores e piores, tem erros inclusive meus ali. Mas o que tá no disco é exatamente a cara da Legião.

E como está sendo fazer a newsletter Farol? Tem sido muito gratificante, é um exercício diário de jornalismo. Eu trabalho nela todos os dias. É ótimo ver a reação das pessoas, voltar às minhas raízes, contar pra todo mundo o que eu ouvi, minhas histórias. É um público fiel, que tá crescendo cada vez mais – não é nada gigantesco, mas pra mim é perfeito. É um grupo muito bacana. A ideia original na verdade era fazer uma plataforma maior com outros predicados, porque eu queria fazer uma espécie de agregador de notícias.

Renato Russo e Dado Villa-Lobos no estúdio

Gravando! Renato e Dado no estúdio (Foto: Mauricio Valladares/Divulgação)

A Catherine Valentine, chefe de política da Substack (plataforma de newsletters), acredita que as que as eleições de 2026 e 2028 vão ser decididas justamente por causa do Substack. Políticos já têm newsletters lá, empresas de mídia como a BBC e a Billboard também têm. Como você vê isso? Bom, quem trabalha para um político vai sempre tentar usar qualquer ferramenta existente a favor de seu candidato – e contra o candidato oponente. Então não é uma surpresa. Eu não gostaria que isso acontecesse, mas sempre que existir um pedacinho de papel, se alguém puder colocar nele uma mensagem de um político… vai acontecer exatamente isso. Por outro lado, sempre vai haver pessoas excelentes fazendo newsletters excelentes, que vale a pena você assinar. O uso safado das plataformas sempre vai existir.

Você permaneceu tendo contato com a Legião depois do disco? Sim, eu fiz o clipe da música Tempo perdido. Foi a última vez em que trabalhamos juntos, porque logo depois do primeiro álbum eu já estava super enterrado na (revista) Bizz, que era um trabalho que me tomava muito tempo. Eu já estava fazendo toda a movimentação para ir para os Estados Unidos. Também produzi o primeiro álbum dos Picassos Falsos (1987). Quando fiz o clipe de Tempo perdido reencontrei os quatro depois de muito tempo. Lembro que o Negrete (apelido pelo qual Renato Rocha era conhecido na época), na gravação, até me disse “Rondeau, olha eu aqui! Não sou mais aquele punk rasgado não, tô bem vestido!”.

Eu parei de seguir os discos da Legião depois de um determinado ponto. O Que país é esse (1987) foi o último que ouvi com muita atenção. O fato de ficar longe do país me distanciou um pouco, não tinha internet, você ficava recebendo as coisas aos poucos. Mas a Legião virou outra coisa, outro tipo de som, bem diferente do que eu ouvia antes.

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Crítica

Ouvimos: Tears For Fears, “Songs for a nervous planet”

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Ouvimos: Tears For Fears, "Songs for a nervous planet"
  • Songs for a nervous planet é um disco ao vivo dos Tears For Fears, gravado no Graystone Quarry em Franklin, TN, durante a parte 2 da turnê The tipping point. Além do álbum ao vivo, e que você deve saber, o conteúdo de Songs… virou filme.
  • Tá meio complicado achar a ficha técnica de Songs por aí, mas diz o site The afterworld que a turma é: Doug Petty (teclados), Charlton Pettus (guitarra), Jamie Wollam (bateria), Lauren Evans, Janae Sims e Jasmine Mullen (vocais), além dos chefes Roland Orzabal (voz, guitarra) e Curt Smith (voz, baixo).
  • O título do disco foi inspirado no livro Notes on a nervous planet, de Matt Haig. Já a capa, feita pelo designer Vitalie Burcovschi, “é uma colagem digital de mídia mista, com a IA sendo apenas uma das muitas ferramentas usadas no processo criativo (…). Os girassóis são um aceno alegre às imagens clássicas do Tears For Fears, enquanto a justaposição do astronauta é um link para nossa música, Astronaut, e uma sensação de alienação e não pertencimento”, diz a banda.

The tipping point, último disco de inéditas dos Tears For Fears, foi um disco lamentavelmente pouco discutido, pelo menos aqui no Brasil – foi um dos primeiros grandes lançamentos de 2022, mas acabou ofuscado por outros discos importantes e pelas mudanças do mercado fonográfico no pós-pandemia. No disco, Roland Orzabal e Curt Smith voltaram ligados à musicalidade que construíram a partir do segundo LP, Songs from the big chair (1985), com uniões entre soul, jazz, rock, psicodelia, um ou outro progressivismo de FM e coisas do tipo.

O maior alívio para muitos fãs foi que ver, ao retornar, o Tears For Fears não caiu na bobeira de querer parecer um Coldplay (leia-se: fazer música pop de apelo fácil e sem substância, que é o que a banda de Chris Martin tem feito nos últimos 15 anos). Talvez fosse até tentador, mas não é o caso deles, que repassam o repertório do álbum, além de vários hits de fases anteriores, no ao vivo Songs for a nervous planet – que, apesar de estar sendo chamado de “primeiro ao vivo dos Tears For Fears” por aí, já é o terceiro (no máximo é o primeiro que a banda lança em larga escala e em tempo real, já que saíram Secret world – Live in Paris, exclusivo para o público francês, em 2006, e Live at Massey Hall Toronto, Canada / 1985, em 2021).

O grupo-dupla de Roland Orzabal e Curt Smith começou no pós-punk eletrônico e sombrio (na estreia The hurting, de 1983) e partiu em seguida para um pop que requer tempo e disposição para ouvir, ainda mais num mundo que vive apressado e confuso – o título “canções para um planeta nervoso” não é brincadeira. A noção de pop do TFF sempre foi perturbadora: canções extremamente radiofônicas do grupo falavam em depressão, abuso infantil, pais que sufocam os filhos (Suffer the children, que ganhou versão de voz e piano no álbum), bullying, protestos políticos (este é o verdadeiro tema do hit Shout), chefes abusivos (o próprio Orzabal falando de sua fama nos bastidores do TFF em The badman’s song, que ganhou versão de dez minutos no álbum).

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Songs for a nervous planet mergulha no repertório meio esperançoso, meio depressivo do disco anterior dos TFF, cujo repertório era centrado basicamente nas tristezas e nos arrependimentos de Roland após a morte da primeira esposa. Os seis singles de The tipping point estão no ao vivo, o que é uma ótima maneira de descobrir (ou redescobrir) o disco.

Com raras exceções, é um show de hits: a boa I love you but I’m lost, inédita da coletânea Rule the world (2017), nem entrou na seleção. Da fase em que o TFF foi só Orzabal, puto com Smith e atirando uma ou outra pedra no então ex-amigo, só entrou Break it down again. Curiosamente, do excelente Everybody loves a happy ending (2004), disco “da volta” da dupla Orzabal-Smith, entrou Secret world, e não Closest thing to heaven, maior hit do álbum.

O material novo, gravado em estúdio, que Orzabal e Smith apresentam no disco difere bastante da época de The tipping point. O grupo voltou aos comentários políticos em Say goodbye to mum and dad, e de modo geral, Orzabal volta bem mais positivo que no álbum anterior, em Astronaut, e em duas músicas dedicadas à atual esposa, The girl I call home e Emily said – nesta, cuja introdução lembra incrivelmente os acordes de Dancin’ days, hit das Frenéticas (!), ele se insere como personagem em versos como “Emily disse: ‘saia da sua cabeça/e vá fazer um chá para nós dois/eu sei que você está triste e a vida é uma chatice'”. A curiosidade é Change, pós-punk dançante e lascado de The hurting, ganhando uma cara meio rock, meio house no bis do show. Que, claro, termina com o poder de comunicação infalível de Shout – aberta pela segunda estrofe e não pelo refrão.

Nota: 8
Gravadora: Concord Music

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Cultura Pop

Os discos do poeta John Sinclair

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Os discos do poeta John Sinclair

O nome de John Sinclair, morto nesta terça (2) aos 82 anos. não é tão estranho assim para o fã de rock clássico. Afinal, ele foi empresário do MC5 na época do disco Kick out the jams (1969), foi homenageado por John Lennon numa música justamente chamada John Sinclair (de 1972) e até mesmo aquele discurso que o ativista Abbie Hoffman tentou fazer durante o show do Who no Festival de Woodstock (1969) aconteceria para conscientizar as pessoas em relação à situação de John. Que estava encarcerado por tráfico após vender maconha a um policial disfarçado.

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John havia sido condenado a dez anos de prisão, uma arbitrariedade. Mas foi solto em 1971 quatro deias depois de Lennon organizar um comício por sua liberdade, ao lado de Bob Seger, Stevie Wonder, Bobby Seale (do Partido dos Panteras Negras) e outros. Assim que saiu da prisão, Sinclair mergulhou de cabeça no ativismo pró-maconha e na produção de livros e escritos de poesia. Só que como seu estilo de texto tem tudo a ver com a cadência do jazz, pela maneira como é escrito e declamado, normal que ele não tenha ficado restrito aos livros, jornais e revistas. Tanto que dos anos 1990 para cá, ele vinha acumulando uma discografia bem grande.

Em 1994, por exemplo, saiu Full moon night, primeiro disco no qual Sinclair aparecia acompanhado pela agremiação variável de músicos que ganhou o nome de The Blues Scholars. O disco trazia textos como Homage to John Coltrane, Spiritual e Like Sonny, e saiu direto em CD por um selo chamado Total Energy, responsável por lançamentos retrospectivos de pré-punk – álbuns escarafunchando os baús de grupos como The Deviants, The New Race e o próprio MC5 saíram por esta etiqueta. Em 1996 saiu Full circle, mais um CD de Sinclair e sua banda, com participação de ninguém menos que o ex-MC5 Wayke Kramer, morto recentemente.

Um outro álbum bastante significativo de Sinclair saiu em 2008, com o nome de sua banda modificado para His Motor City Blues Scholars. É o ao vivo Detroit life, trazendo 15 faixas entre o jazz e o blues, com John declamando (às vezes bem alto, com voz gutural) textos de inspiração beat como The screamers, April in Paris, Let’s call this e Walking on a tightrope. As músicas são grandes, e boa parte dos números é quase instrumental, cabendo intervenções de John lá pelos dois minutos de faixa, em alguns casos.

A discografia de Sinclair inclui também vários discos apenas com seu nome (o mais recente é Beatnik youth, de 2017) além de álbuns impressionante feitos com a banda de jazz experimental e ruidoso Hollow Bones – como Honoring the local gods, de 2011. Já o percussivo PeyoteMind, de 2002, foi gravado ao lado da banda de psicojazzfolk Monster Island, e traz recordações de uma viagem feita em 1963 sob o efeito do psicoativo peiote.

Esse material vem encontrando relativamente poucos ouvintes nas plataformas – no Spotify, John tem apenas 207 (207!) ouvintes mensais. Não são discos muito divulgados –  enfim, poesia e jazz não formam exatamente uma combinação de sucesso. E saíram por selos independentes de alcance restrito. Mas boa parte do que Sinclair gravou está lá, e está ao alcance de futuros fãs – mesmo com a barreira da língua, tem a declamação de John e a maneira como ele faz tudo parecer uma espécie de jazz maldito e tribal. Além do seu ativismo anti-capitalismo, pró-maconha e pró-liberdade de expressão, perceptível em vários versos.

E só pra complementar, um material multimídia recente e importantíssimo saiu justamente da última aparição ao vivo de Sinclair. Em Paris, no dia 16 de fevereiro, ele leu o longo poema 21 days in jail, gravado por uma pessoa da plateia. A letra já havia sido musicada e gravada por ele com os Blues Scholars, mas aqui aparece sendo lida pelo autor.

Foto: Wikipedia.

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