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Cultura Pop

Xuxa: quando a MPB marcou um X

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Em 2013, alguns meses após o aniversário de 50 anos da Xuxa, eu e meu amigo Leandro Souto Maior decidimos dar uma aumentada na história dos compositores de MPB e pop nacional que compuseram para a Xuxa. Procuramos Roberto Frejat, do Barão Vermelho, Roberto de Carvalho (que não respondeu a tempo), Marcos Valle e Ronaldo Monteiro de Souza. Eles relembraram fatos bem legais da época em que a Xuxa gravou as canções deles – que saíram relançadas na caixa Coleção Xou da Xuxa (Som Livre), reunindo os discos da Rainha dos Baixinhos lançados entre 1986 e 1992.

Fizemos uma matéria que saiu no dia 1º de setembro no jornalO Dia. A entrevista com a Xuxa foi feita por e-mail. O curioso é que, vimos só depois, ela deixou de responder uma pergunta: “Xuxa, numa entrevista nos anos 90, você disse que não gostava do som da própria voz e que disco seu não tocava em sua casa, de jeito nenhum. Continua pensando assim?”.

(clique abaixo para ler a matéria como no jornal)

QUANDO A MPB MARCOU UM X
Caixa com discos oitentistas de Xuxa traz músicas de Frejat, Marcos Valle e Rita Lee
Publicado no jornal O Dia em 1º de setembro de 2013
por Leandro Souto Maior e Ricardo Schott

Xuxa conquistou (muito) dinheiro, amigos, amores, negócios, uma beleza física que resiste ao tempo e vários discos de ouro. Só não conseguiu reconhecimento da crítica como cantora. O curioso é que, nos créditos dos sete álbuns que lançou entre 1986 e 1992 — reunidos agora no boxe Coleção Xou da Xuxa — é possível achar vários nomes que ajudaram a fazer alguns dos mais preciosos clássicos da MPB ou do pop nacional.

“Sempre procurei me cercar dos melhores profissionais, mas normalmente os fãs não costumam ler os créditos de quem compõe as músicas”, admite Xuxa.

Ela gravou músicas de Roberto Frejat, Marcos Valle, Rita Lee e Roberto de Carvalho, Ronaldo Monteiro de Souza (parceiro de Ivan Lins em músicas como Madalena, gravada por Elis Regina). “Não sei quem escolhia o repertório. Lembro que chegavam muitas músicas para eu colocar voz. As que combinavam mais comigo entravam”, lembra a Rainha dos Baixinhos.

Frejat emplacou Garoto problema, parceria com um colega no Barão Vermelho, o baterista Guto Goffi, logo no primeiro Xou da Xuxa, em 1986. “Inclusive agradeço à Xuxa por ter gravado essa música, que foi encomenda do Guto Graça Mello (produtor)”, ressalta Frejat. “O Barão estava em baixa, com um disco cheio de problemas de prensagem (Declare guerra, de 1986). Essa música ajudou a gente e a Xuxa acabou tendo um papel importante na sobrevivência da banda”. No mesmo disco, Rita Lee e Roberto de Carvalho traziam o rock Peter Pan.

Responsável por Vila Sésamo, uma das trilhas sonoras infantis mais populares dos anos 70, Marcos Valle encerrou o Xou da Xuxa Sete, de 1992, com América geral, parceria com Max Pierre e Claudio Rabello pregando a união das Américas. “O tema foi ideia do Max, porque a Xuxa estava conquistando uma audiência de crianças fora do Brasil”, pontua Marcos.

O campeão de hits na voz da cantora é Ronaldo Monteiro de Souza — coautor de músicas como O circo, Cobra, chapéu e palito e o sucesso O abecedário da Xuxa com amigos como Prêntice e Cesar Costa Filho. “Eu estava sem compor com o Ivan há décadas e tinha me desiludido com um projeto. Liguei para o Prêntice e propus mandarmos uma música para a Xuxa. Decidimos arriscar, pior do que estava não poderia ficar”, diverte-se o letrista, que ainda emplaca músicas em trilhas de novelas.

Deu liga a ponto da própria Xuxa, ele conta, ligar para pedir músicas à dupla: “Ela queria canções didáticas, aí mandamos Abecedário e Conte comigo, sobre aritmética”. Em 1990, veio Boto rosa, que acabou até na voz de Milton Nascimento (o cantor participou de um especial dela). “Essa, pensei: ‘Ou a Xuxa se apaixona ou chuta longe’. Não era para a voz dela”.

Todas essas músicas estão no boxe, além de um CD-bônus, Seleção fãs, que traz curiosidades como sua gravação de Garota de Ipanema, de Tom Jobim. O disco deixou alguns fãs chateados pelo baixo número de faixas raras. “Não dá para agradar a todos. Mas o gosto, a vontade deles, está ali”, crê a apresentadora. Na capa, Xuxa meteu-se no mesmo figurino e repetiu a pose do primeiro disco: “A foto foi tirada nos Estados Unidos quando eu era modelo. O disco foi feito em uma semana e a capa já deveria estar pronta. Só reparei que era um ‘x’ depois”.

BÔNUS: Não foi aproveitado na matéria, mas Tavinho Paes, um dos grandes poetas do rock nacional oitentista, parceiro de nomes como Lobão, também falou para a gente. Ele é autor de She-Ra, hit de 1986 da Xuxa, escrito ao lado de Joe Euthanazia (roqueiro popular na época, morto em 1989). Seguem aí as lembranças dele a respeito da música.

She-Ra foi idealizada para ser uma bossa nova. Foi toda composta com aquela batida (é só ralentar o roquinho final, deixar cair o andamento uns quatro compassos, que sai a original). Esta música ainda há de ser regravada neste andamento, com a techno-bossa dando a pegada do charme-funk no fundo. E vai estourar! Até Luis Bonfá, uma vez, tocou e cantou essa música na batida original … é vero!

O mais impressionante foi o dia em que eu e o Joe fomos receber o trimestre do ECAD no caixa da UBC (era sempre tão pouca grana que a gente ia pegar o cheque e descontar no banco em frente). Quase levamos um susto. Saímos do banco griladaços com uma bolsa hippie (daquelas de couro com alça longa – couro cru) cheia de grana. Eram cruzados num valor de mais de cinco dígitos!!! E nem titubeamos. Ali mesmo, na Avenida Rio Branco (Centro do Rio), entramos numa loja e compramos duas passagens para Nova York para dali a duas semanas. Passamos duas semanas para tirar o visto e embarcamos. Torramos US$ 15 mil sem pena em dois meses e meio de loucuras em Manhattan. Depois voltamos para pegar o trimestre seguinte.

She-Ra não foi feita de encomenda. Foi uma música que fizemos para minha filha, como presente de aniversário pelos seus 3 anos. Aliás, minha filha se chama Dianna Rosa. O nome veio do fato de eu ter me encontrado com Dianna Ross perto do dia que ela nasceu. Meus outros filhos são Elvis (nasceu no aniversário do Elvis) e Pedro Gabriel (em homenagem ao Peter Gabriel, que eu conheci em Nova York justamente nesta viagem)”.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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