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Um papo com Lucas Leão sobre vida pós-Beach Combers, estúdio novo e disco solo

Ex-baterista dos Beach Combers e do Fuzzcas, Lucas Leão muda-se em breve para a Serra das Araras, no planalto fluminense. Lá, vem montando devagar o Bambu, um estúdio “caseiro”, que criou ao lado do irmão, o também baterista Zozio Leão. A ideia é abrir o local para amigos que queiram fazer ensaios, gravar coisas, passar um tempo na bucólica região serrana do Rio. O músico já vem usando o local para fazer algumas gravações e vídeos, que estáo em suas redes sociais. Mas tem outro projeto vindo aí, e que já está sendo feito também há bastante tempo, que é o primeiro disco solo do músico, que vai aparecer tocando violão e convidando amigos e colegas guitarristas.
Batemos um papo com Lucas sobre a vida fora do Beach Combers (e sobre o pioneirismo da banda, que começou a fazer shows pelas ruas do Rio e defendeu até o fim a bandeira do “autoral”), disco solo, estúdio e outros assuntos. Lucas vem fazendo gigs como baterista da banda de Marcelo Gross, ex-Cachorro Grande (apresenta-se com ele neste na sexta no Café Muzik, em Juiz de Fora, e sábado no Circo Voador, abrindo para o Barão Vermelho) e também falamos disso.
Como tá sua vida de músico sem os Beach Combers e como ficou depois da pandemia? Você montou um estúdio, não foi?
No finalzinho do ano passado eu cheguei a fazer uma campanha, teve uma galera que fez doações, foi importante para aquela fase inicial, para eu conseguir levantar uma grana para comprar equipamentos… O estúdio está praticamente pronto pra funcionar O que falta agora é eu me mudar pra lá,. Vou pra roça agora! Tô prestes a me mudar e quando eu estiver lá aí sim eu vou conseguir usar o estúdio com toda a energia, fazer os projetos que eu quero. O meu disco mesmo, tô fazendo um disco solo… Comecei a fazer e foi algo que ficou esse ano todo parado.
Como é esse disco que você está fazendo?
É instrumental. Foi uma necessidade minha nesse período todo, juntando umas ideias, uns riffs que fiz no meu violãozinho. Vai ter participação do Edgard Scandurra, do Julico (Baggios). Para cada faixa eu pensei num guitarrista que eu gosto, que eu sou fã, e que eu ahava que se encaixava na vibe do tema. Eu não consegui ainda avançar nas graavações, na minha parte mesmo. Eu gravei todos os violões, mandei pros convidados, eles botaram guitarra em cima. Mas a parte da bateria mesmo, e olha que eu sou baterista (rindo), eu não consegui fazer nada ainda. Estou esperando me mudar para lá para conseguir organizar o estúdio e gravar da maneira que eu quero, naquela atmosfera ali.
Você começou fazendo o disco aqui na sua casa, no Rio?
Não, lá mesmo, junto com meu irmão. O nome é Bambu Estúdios e estou prestes a me mudar para lá, para começar a mexer nisso integralmente. E aí vou botar essas ideias pra fora e receber amigos e bandas amigas pra ensaiar, fazer uma pré-produção de disco, passar um fim de semana relax tocando no meio do mato. A ideia é essa. O estúdio é na Serra das Araras, um pouco ates de Piraí, a uma hora do Rio. Vou conseguir me deslocar facilmente para fazer show, o acesso também é fácil. Vou ficar mais escondido lá, mas sempre que tiver algo para fazer no Rio, eu venho. O estúdio é caseiro, não é nada super comercial, grandioso.
Com o fim dos Beach Combers, como você se reorganizou? Aquela coisa do: “Agora eu sou músico, vivo de música, não tenho mais a minha banda” e tal?
É um baque, né? Eu já vinha de algumas coisas pessoais complicadas e aí veio pandemia, e durante a pandemia minha banda acabou. Foi um turbilhão de coisas ao mesmo tempo. É uma cicatriz que vai ficar para sempre, os Beach Combers foram a minha banda do coração, posso chamar de “a banda de verdade” que eu tive. Porque gig é uma coisa, você faz uma gig ali, outra aqui, nunca deixei de fazer. Mas a banda principal, que eu me dediquei com mais intensidade, foram dez anos de banda… Foram os Beach Combers. A gente decidiu pelo fim das atividades da banda, foi consensual, não teve uma treta…
Melhor assim.
Foi natural, é que nem casamento, um dia a gente viu que não estava mais rolando e a gente decidiu acabar, não estava mais com aquele pique, não estava mais fazendo tanto sentido. Mas mesmo todo mundo tomando essa decisão em comum, eu sinto muito. Foi a banda que eu posso te dizer: “Tive uma banda de verdade”. A gente viajava, passava muito tempo junto…
Eu estava meio perdido, mesmo durante a pandemia o que fiz foi gravar em estúdio coisas por encomenda. Então nao tinha mais essa coisa de “a banda”. Eu não sabia como ia ser a minha retomada, estava inseguro nesse sentido: “Quando eu vou voltar a tocar de verdade, com quem?”. E acabei tendo algumas surpresas boas. Eu segurei o máximo também o que eu pude, o que considerei que dava pra fazer.
Sobre fazer show ao vivo: recebi convites e recusei quando via que a coisa não tinha cuidado (na pandemia). Meu primeiro show presencial foi um convite que pintou pra mim, de um artista novo, Laren. O produtor dele me convidou. Foi muito maneiro de se fazer. Mas eu ainda estou tomando todos os cuidados, estou chatão com essa parada (rindo). Fico de máscara o tempo todo, a maior parte da galera já tá lambendo corrimão. Eu estou nessa retomada mas estou bem devagar ainda e bem cuidadoso.
E em seguida veio o convite do Gross, que foi uma outra surpresa que me deixou muio feliz porque sou fã do cara há muito tempo. Lembro que conheci Cachorro Grande vendo clipe na MTV de Lunático (hit da banda). Me deu um choque, eu era bem moleque e nem sabia muito bem porque eu estava gostando tanto daquilo mas estava gostando. Você se identifica muitas vezes sem nem saber explicar o motivo. Aliás, vai aí um agradecimento especial para Stephanie F, que está produzindo a vinda do Gross para esses lados…
Tenho uma memória bem marcante do Família MTV, que mostrava eles na estrada, de um show para o outro, auela correria. Eu acho que nem tocava ainda na época, estava começando mesmo. Na época não tinha nem essa coisa de rede social, você via pela TV. A MTV era um canal muito maneiro… Lembro que eu via isso e meu olho brilhava: “Quero fazer isso aí também!”
O Gross tem feito os shows num esquema meio Chuck Berry, em cada lugar ele toca com uma banda local. A gente vai fazer Juiz de Fora e Rio, ele vem com um baixista e me convidou para fazer esses shows. Mesmo sendo uma coisa pontual fiquei bem feliz.
Voltando aos Beach Combers, a banda acabou abrindo caminho pra muita gente, para pensar em maneiras diferentes de mostrar o trabalho: “Vou tocar na rua, vou comercializar meu trabalho de outra maneira”. Como você vê isso, de ter aberto possibilidades para tanta gente?
Eu acho que nós, junto com outras bandas também, ajudamos outras. Uma vai vendo a outra e aquilo influencia de alguma forma. No nosso caso, foi isso. Você tem que ter um pouco de cara de pau e fazer acontecer. Não dá para ficar esperando muito não. Ainda mais no Rio de Janeiro. Se você pensar “Rio de Janeiro”, “rock” e “autoral”, é um pacote que dificilmente vai fechar. E eu falo isso até para bandas que estão num patamar maior de publico. O Rio é complicado das coisas acontecerem. Cada um tem um caminho e tem que ir tentando fazer.
Não dá para esperar muita coisa, não, tem que arranjar sua maneira de fazer. Para a gente funcionou bem, a gente conseguiu nesse formato compacto de banda tocar em tudo quanto era tipo de evento. A gente tocava um dia na rua, outro dia no Circo Voador, outro dia num evento privado… Foram muitos caminhos, mas isso veio a partir da rua mesmo.
Você falou do “autoral” e lembrei de quando você estava no Fuzzcas, e a banda participou do SuperStar (batalha de bandas da Rede Globo). O Fabio Jr era um dos jurados e ele sempre falava do “autoral”, que as bandas tinham que tocar material próprio…
Esse negócio do Fabio Jr é engraçado porque foi o que rolou com o Fuzzcas. A gente se destacou no programa por isso, porque a gente foi a única banda naquela edição a tocar material só autoral. Para a gente era o que fazia mais sentido, mas a gente acabou saindo depois de uma disputa com uma banda que tocou uma música do Bob Marley! Cada um escolhe um caminho. Um caminho pode ser mais digerível, mais fácil, e outro não. O Fuzzcas sempre foi uma banda de músicas autorais e a gente queria fazer aquilo mesmo.
Mas autoral sempre foi um pacote difícil de fechar aqui no Rio, ainda mais depois da pandemia. Aliás, depois não, ainda estamos nela… Muitas casas fecharam nesse período e o que já era escasso, complicou. Ou você tem uma casa de grande porte ou tem uma casa pequena, que é pra bandas cover. Basicamente isso.
Como músico, o que o SuperStar representou pra você?
Foi mais uma etapa, mais uma coisa que aconteceu ali no meu caminho, e que foi muito legal. Foi algo tão relevante quanto outras coisas que aconteceram. Eu encarei isso na época dessa forma, lembro que tinha gente que estava chorando pelos corredores quando era eliminado. Foi mais uma oportunidade que apareceu e que foi legal pra caramba: conhecer gente nova, ver como funciona as coisas de perto na televisão… Na época lembro de sair para ir na padaria e as pessoas me reconhecerem. E olha que se você for parar pra pensar, eu sou o baterista, o que menos aparecia. Mas aqueles segundos ali faziam com que as pessoas me reconhecessem na rua.
Teve aquela vez em que o Zak Starkey (filho de Ringo Starr, baterista do Who) viu os Beach Combers tocando na praia e tocou com vocês. Vocês continuaram amigos? Como ficou depois daquilo?
Não temos um contato de eu falar toda hora com ele, mas tivemos contato depois daquilo. Ele é muito maneiro, gentil, receptivo, muito verdadeiro. A gente se encontrou depois num evento dois anos depois daquilo. Fomos fazer um show com o BNegão, e aí eu e o Bernard (Gomma, ex-guitarrista do Beach Combers) descemos pela ladeira, saindo da casa de shows, na Glória. Teve um momento em que o Zak estava chegando para o show de carro, subindo a ladeira. Ele viu a gente descendo a ladeira a pé, deu ré no carro para falar com a gente, para perguntar se estava tudo bem, se a gente tinha conseguido entrar… A gente falou: “Não, tá tudo bem, a gente só vai ali comprar cigarro e já volta”.
Depois a gente trocou ideia no camarim, ele comentou do nosso disco – porque na ocasião em que ele tocou com a gente na praia, dei para ele o primeiro disco, Ninguém segura os Beach Combers. Não tínhamos lançado ainda o Beach attack (segundo disco). Ele disse que adorou, perguntou sobre pedal de guitarra para o Bernar. Foi um encontro… Bom, foi demais, ele realmente curtiu a gente. E foi uma parada recíproca. Ele comentou isso em entrevistas que ele deu para rádio e para TV.
Eu acho que vi tanto aquele vídeo dele tocando na minha bateria que eu até peguei algumas coisas ali dele. Inconscientemente, eu botei algumas coisas que ele faz na minha linguagem também. Foi algo bem improvável de acontecer e foi com um cara que a gente é muito fã também.
E esse disco seu já tem título, nomes das músicas?
Vai se chamar Fragmento. Diria que já está 50% pronto. Achei que ia lançar esse ano, mas o ano passou e não consegui. Eu nem estou mais botando uma previsão, mas pretendo finalizar e lançar até o meio do ano que vem.
E você está tocando violão? Vai tocar outros instrumentos além da bateria?
Só violão mesmo. E bateria. E o baixo eu chamei o Paulo, que foi dos Beach Combers, e guitarra, em cada faixa, tem alguém de quem eu sou fã e com quem eu não havia trabalhado ainda. Tem o Scandurra, o Julico, o Jack Rubens do Mustache E Os Apaches, o Johnny da banda Moondogs… Quero fazer uns arranjos de metais, trompete, trombone, Quero ver ainda quem vai fazer isso. É uma coisa bem despretensiosa, mesmo. Vou fazer por necessidade, para botar para fora. Nunca tinha pensado nisso, mas foi uma necessidade que veio na pandemia.
E essa coisa com o Gross, eu estava pensando aqui que ele mesmo tem muitos paralelos comigo. Às vezes a gente se identifica e nem sabe o motivo. Você vai pesquisando e vai encontrando mais coisas que você se identifica…
Fala mais disso.
Bom, ele também saiu da Cachorro Grande, a banda acabou, Beach Combers acabou… Cada um na sua proporção. Esse disco dele também veio num momento turbulento, pessoal. Eles foram abençoados pelos Rolling Stones, abriram para eles. E a gente foi abençoado pelo Zak Starkey do Who, tem muitos paralelos aí (rindo). O Beach Combers chegou a abrir um show da Cachorro Grande no Circo Voador, mas acho que nem falamos com eles.
Tem uma história engraçada desse show, que a gente abriu. Quando começou o show deles, fiquei vendo o show dos caras, em pé, na pista, quase embaixo daquela parte de cima em que a galera fica sentada de perna para fora. Teve uma hora no meio do show em que o Beto Bruno estava com um copo descartável, acho que de uísque, e jogou para cima, naquela empolgação do show. A visão que eu tenho é do copo em câmera lenta: fiquei olhando mas jamais pensei que fosse cair perto de mim. Só que caiu na minha cabeça e eu tomei um banho! Na hora deu aquela raivinha mas acho que foi um tipo de bênção (rindo).
Lançamentos
Radar: Feeble Little Horse varia o som em nova música – e muito mais!

Feeble Little Horse voltou com música nova, Manu Chao convidou Juliana Linhares para fazer o som do bode, Lady Gaga levou o hit Abracadabra para a TV… e outras novidades no Radar internacional de hoje. Aumenta o som e põe tudo na sua playlist.
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FEEBLE LITTLE HORSE, “THIS IS REAL”. Finalmente sai o primeiro single dessa ruidosa banda desde o álbum Girl with fish (2023), que foi prejudicado pela falta de uma turnê para divulgá-lo. This is real pode assustar os fãs do primeiro álbum, porque lá pelas tantas o Feeble Little Horse chega a lembrar uma mescla de shoegaze com o “rock alternativo” norte-americano. É só impressão, calma – e a banda diz que ainda é cedo para dizer que a faixa é bastante representativa do que será o próximo disco (“mas ela se tornou algo que nenhuma outra música jamais se comparará”, despista a cantora Lydia Stocum).
MANU CHAO feat JULIANA LINHARES, “MELÔ DO BODE”. A nova de Manu Chao é esse single vibrante que mistura guitarrada com sonoridades mexicanas, trazendo dois brasileiros para a festa: a cantora Juliana Linhares e o guitarrista Felipe Cordeiro. O trio entrega um perfeito tema de novela sertaneja, com versos irreverentes como “esse bode dá bode / eu não quero saber / esse bode dá bode / é por isso que eu quero vender”. O álbum mais recente de Manu, Viva tu, foi resenhado aqui.
SUNFLOWER BEAN, “NOTHING ROMANTIC”. Esse trio de Nova York caminhou do soft rock (com herança evidente do Fleetwood Mac) ao quase-metal, passando pelo indie-pop. Mortal primetime, disco deles que sai dia 25 de abril, parece que vai unir todas essas viagens sonoras – o grupo já declarou que nomes como Heart, Pat Benatar e Joan Jett estão entre as referências do álbum, e Nothing romantic, novo single, dá ótimas pistas desse caldeirão sonoro. Música e clipe refletem bem a onda atual da banda. “Ela é sobre rejeitar o mito do artista torturado — perceber que as alegrias da criatividade não precisam vir dos baixos da miséria. O vídeo espelha essa jornada, capturando nossas vidas como músicos em turnê entre performances de pesadelo”, contam.
ILLUMINATI HOTTIES, “777”. Parece que vem por aí um grande ano para o Illuminati Hotties, projeto da cantora, compositora e produtora Sarah Tudzin. Se você ouviu o álbum que o Hotties lançou em 2024, Power, e já curtiu a evolução no som do projeto, confira toda a potência shoegaze de 777, o single novo – é promessa de que tem algo bem legal vindo aí.
LADY GAGA, “ABRACADABRA”. Já falamos sobre Mayhem, o novo disco de Lady Gaga, e ela certamente não precisa de mais divulgação, mas vale destacar a performance avassaladora no Saturday Night Live, que transformou Abracadabra em um clipe ao vivo. Gaga voltou disposta a reconquistar antigos fãs, mas voltou com disposição para ser o que Ozzy Osbourne e Alice Cooper fariam se largassem o rock e abraçassem o pop dançante e vigoroso. É dance music com notas de misticismo, para perturbar os sentidos.
THE HARD QUARTET, “LIES (SOMETHING YOU CAN DO)”/”COREOPSIS TRAIL”. O novo supergrupo da cena alternativa – formado por Emmett Kelly, Stephen Malkmus, Matt Sweeney e Jim White – lançou um excelente álbum de estreia no ano passado e já retorna com um single duplo na base do “vale tudo”. Lies (Something you can do) traz aquele slacker rock típico do Pavement (banda de Malkmus), enquanto Coreopsis trail é uma jam de cinco minutos em que cada integrante parece estar solando para si próprio – e o resultado é pura diversão.
THE DRIVER ERA, “DON’T TAKE THE NIGHT”. O novo single do The Driver Era – duo formado pelos irmãos Ross e Rocky Lynch – tem algo que evoca o clássico Give me the night, de George Benson, mas filtrado por uma pegada indie-pop-dance moderna. Além da nova música, a dupla traz mais novidades: entre abril e maio, eles desembarcam no Brasil para shows no Rio e em São Paulo, e o álbum Obsession chega no dia 11 de abril.
NOVANGOGH, “YOU’RE RIGHT THERE”. Um prato cheio para fãs de rock dos anos 1990, seja o pessoal do britpop ou os grunges que sempre garimparam influências do passado sem culpa. O Novangogh, grupo de Los Angeles, mistura tudo isso em You’re right there, uma balada com ecos de folk, country-rock e psicodelia. Até a capa do single traz um Van Gogh “roqueiro”.
CAR SEAT HEADREST, “GETHSEMANE”. Se você gosta de Car Seat Headrest, já sabe que eles não economizam em material – e agora se preparam para lançar a ópera-rock The scholars no dia 2 de maio. O novo single, Gethsemane, que foi assunto nosso aqui, tem 11 (!) minutos e mergulha em temas como espiritualidade, vida e morte. Não há latim gasto à toa: a faixa, que soa às vezes como um The Who indie (com referência aos teclados de Won’t get fooled again em determinada altura), é boa de verdade, e ainda ganhou um clipe formidável.
AIMLESS, “WEIRDO”. A Itália vai bem, obrigado – uma série de bandas interessantes vem surgindo por lá. O Aimless, uma dupla de Milão, une sons entre Nine Inch Nails e Queens Of The Stone Age, e sai metendo a mão e guitarra e bateria no novo single, Weirdo. Um EP está a caminho, e o visualizer do single é minimalista ao extremo: os dois integrantes sentados num banco de parque, dividindo um fone de ouvido e ouvindo música.
Foto Feeble Little Horse: Luke Ivanovich/Divulgação
Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
Lançamentos
Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

Se a moda pegar, é provável que vejamos uma febre mística, religiosa e de healing music tomando conta do indie rock e do alt-pop. Para começar, um tema que já vem circulando há alguns dias é o novo single “espiritual” do Car Seat Headrest, uma de nossas bandas preferidas, que aborda nascimento, vida, morte e o contato com aqueles que já partiram.
Gethsemane, a música, é excelente, tem onze minutos, e a letra se passa no campus universitário fictício da Parnassus University (sim, o nome remete ao monte Parnaso, lar de Apolo e suas musas na mitologia grega). Inspirada pelas experiências do grupo na época da pandemia, a faixa segue o dia a dia de uma estudante de medicina, Rosa, que traz de volta à vida um paciente morto, e tem poderes de cura desde a infância.
“Toda noite, em vez de sonhos, ela encontra a dor crua e as histórias das almas que ela toca ao longo do dia. A realidade se confunde, e ela se vê levada para as profundezas de instalações secretas enterradas sob a faculdade de medicina, onde seres antigos que secretamente reinam sobre a faculdade trazem à tona seus planos sombrios”, diz a banda.
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Will Toledo, vocalista do Car Seat Headrest, já abordou temas religiosos com ironia em discos como Teens of denial (2016). No entanto, ele afirma que sua visão sobre espiritualidade mudou ao longo do tempo e que determinadas práticas influenciaram diretamente a concepção do novo trabalho. O próximo álbum da banda, The scholars, será uma ópera-rock de nove faixas e está previsto para 2 de maio pelo selo Matador. Segundo o grupo, o disco marca “uma nova era espiritual” para o projeto.
Outro exemplo de como essa vertente está ganhando espaço vem da cantora alemã Laura Carbone. Conhecida por sua trajetória que transita entre o pós-punk, o power pop e sonoridades mais próximas do post-rock e do progressivo (The cycle, seu disco mais recente, foi resenhado aqui), ela agora explora um caminho diferente em Strength • 5 (Sound Healing). O novo single, com trinta minutos de duração, traz vocalizes e o som etéreo de um sino tibetano – um instrumento de percussão em forma de tigela, tradicionalmente utilizado para meditação e equilíbrio energético.
A música foi gravada ao vivo e “em um take só” por ela – e Laura pretende que a música tenha um objetivo bem mais nobre que a pura fruição pop. “Meu chamado para criar esta canalização foi para nos apoiar a todos na conexão com nossa paixão e força sinceras — a coragem necessária para incorporar e seguir as verdades dentro de nossos corações em nome da justiça e da libertação. Também a paciência que saber que isso pode exigir”, escreve no release. “Sinto que, coletivamente, precisamos nos tornar mais fortes, mais presentes e persistentes em entrar no que defendemos e em defender leis universais para um mundo de cura”, continua ela.
Dois singles, enfim, não configuram uma “onda” – mas, no caos nosso de cada dia, é interessante ver que até a turma indie vem buscando algum tipo de conexão com forças menos terrenas.
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