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Cultura Pop

Scream & Yell: site que virou gravadora

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Scream & Yell: site que virou gravadora

Artistas costumam crescer em público. O selo Scream & Yell, que é uma ideia de Marcelo Costa, jornalista e criador do site Scream & Yell (foco de resistência em cultura pop há invejáveis 19 anos), também vem crescendo na frente de sua plateia.

O selo S&Y começou por acaso, como uma ideia do próprio Marcelo, para dar visibilidade a projetos que ele achava bacanas. Foi ganhando forma quando passou a valorizar cada vez mais o mesmo aspecto jornalístico do site. Passou a lançar tributos a artistas, lado a lado com lançamentos exclusivos, sempre em formato digital.

No catálogo do S&Y encontram-se homenagens a Belchior, Engenheiros do Hawaii e Milton Nascimento, entre outros – todos relidos por vários artistas recentes. Os Paralamas do Sucesso ganharam um audacioso tributo com bandas ibero-americanas relendo seu repertório. É Somos todos latinos, com curadoria do brasileiro Leonardo Vinhas e do colombiano Andrés Corrêa. Além, disso, há o especial Temperança – Um manifesto contra o ódio, com canções de artistas/bandas como Marcelo Perdido, Dario Julio & Os Franciscanos e Laranja Label. E um disco ao vivo e exclusivo da banda gaúcha Walverdes. Mais recentemente, a gravadora apostou na “música eletrônica instrumental ruidosa” do Borealis, projeto do jornalista fluminense Marco Barbosa. O terceiro LP do projeto, Omnia, já está disponível.

Marcelo vai tocando o selo tendo sonhos, muitos projetos e buscando parcerias. Por sinal, da mesma forma que tornou o Scream & Yell uma referência importantíssima em cultura pop no Brasil. Como o POP FANTASMA volta e meia vai lá ver o que é que certos cavaleiros (as) solitários (as) da cultura pop e do “faça você mesmo” estão aprontando, aproveitamos para bater um papo com Marcelo sobre a gravadora Scream & Yell e sobre os próximos projetos. E podem vir lançamentos em formato físico aí.

POP FANTASMA: Você diria que o disco novo do Borealis traz mudanças para o selo? No que ele amplia os limites do que vocês estão fazendo?
MARCELO COSTA: Admiro tanto o trabalho jornalístico do Marco Antonio Barbosa quanto seu projeto musical, o Borealis. Quando ele sinalizou que queria lançar o disco pelo selo, para mim foi uma boa oportunidade exatamente de mostrar que nós não seguimos apenas uma linha de pop rock MPB indie, sabe. O Omnia chuta esse limite para longe porque é nosso primeiro lançamento totalmente instrumental e com referencias de drone, ambient e eletrônica que ainda não tínhamos trabalhado. O campo de alcance do selo ampliou.

Marco Barbosa (E) e Marcelo Costa

Como surgiu a ideia de transformar o S&Y também num selo de gravação? É a ideia que surgiu por acaso e que, aos poucos, estamos formatando. A gente já tinha lançado alguns discos no site, um ao vivo da Walverdes que só existe no Scream & Yell e um EP com o Giancarlo Rufatto. Mas a coisa começa a ficar séria quando o Jorge Wagner (jornalista fluminense) produz o tributo ao Belchior. Ele já tinha a experiência de sucesso com o tributo ao Raça Negra, e na hora que fez a proposta de lançar o do Belchior pelo Scream, topei na hora. E esse tributo abriu portas para que outros produtores se animassem a criar conteúdo semelhante para o Scream & Yell. Quando dei por mim já tinha quase 10 discos lançados, ou seja, a gente tinha um selo de música dentro do site e não tinha se ligado nisso. Denominá-lo como tal foi um passo natural.

https://soundcloud.com/aindasomososmesmos/

Onde começa o trabalho do selo Scream & Yell quando começa a trabalhar determinado lançamento ou artista? Vocês participam de alguma forma do processo de produção? Ou do lançamento digital no Spotify? O trabalho do selo ainda é algo bastante primário. Com artistas, a gente lida muito mais com divulgação e com a estrutura do site, que acaba trazendo certa publicidade a mais. Então o envolvimento do site ainda é pequeno. O que eu posso oferecer é esse suporte de divulgação e de perenidade, afinal o Scream & Yell é um dos raros sites da internet brasileira que tem todo o seu arquivo disponível online, ou seja, os 19 anos do Scream & Yell estão todos no ar. Muitos sites, mesmo portais, mudam de plataforma e acabam perdendo conexão com material antigo – isso no meio independente é praxe. No Scream não. Esse disco do Walverdes que lançamos em 2011 está no ar, com link funcionando e MP3 disponível. Muitos dos tributos independentes legais que saíram nos últimos anos não estão mais disponíveis. Tudo que lançamos pelo Scream está.

Quais são as formalizações para lançar um disco pelo selo? Em termos de direitos como tudo fica dividido? Ou é algo mais informal? Totalmente informal, mas são dois caminhos. Os tributos criados exclusivamente para o site são geridos pelos produtores, e dai cada um faz o acerto que lhe convém tanto com o artista quanto com participantes e os portais de streaming. Neste contexto, os tributos organizados pelo Leonardo Vinhas estão a maioria em streaming, ele agilizou isso. A função do selo é dar o start para esse lançamento existir e divulgá-lo, uma maneira de utilizar o nome do portal para validar e ampliar uma ação de cultura. Já para artistas lançarem discos pelo selo é uma conversa mais delicada, porque precisa existir uma conexão de ideias com o site, e a vontade de que aquele disco ajude a formatar uma ideia de padrão para o selo. Não dá para sair lançando tudo, e curadoria é essencial para saber o que cabe, o que vale a pena. Mas tudo isso começa com um bate papo. Já teve artista que queria lançar o disco pelo selo e orientei: “Seria melhor você lançar por tal selo, conversa com esse cara, porque o som de vocês cabe melhor ali e o resultado da divulgação será muito melhor ali”.

Qual você diria que é a cara do site e do selo nos dias de hoje? O que um artista precisa ter para ser lançado pelo S&Y? Adoro a definição que a Agencia Pública fez do site: “Um site jornalístico sobre cultura pop, com entrevistas, reviews e coberturas de festivais de música, cinema, cerveja. Também produzem e lançam álbuns, fazem podcast e mixtapes e jornalismo musical aprofundado independentemente do apelo do entrevistado: tratando Caetano Veloso, Romulo Fróes e Loomer como iguais, porque todos fazem boa música”. Ou seja, permanecemos com a mesma ideia que fez o site nascer, que é a de não ter amarras e falar do que a gente tem vontade de falar sem precisar ficar limitando. Então, para mim, a cara do site é a de um site pop que pode tanto publicar uma entrevista com uma banda de death metal sueca quanto com Almir Sater. As ideias que eles podem reverberam em entrevistas me interessam mais do que o som que eles fazem.

Marcelo Costa

Há algum investimento financeiro no selo, ou planos para isso? Assim como no site, não há investimento financeiro. Mas já estou trabalhando a ideia de entrar em editais para transformar alguns dos álbuns lançados pelo site em material físico, CDs, quem sabe um livreto contando a história do artista e da produção. Porque tirando os discos que o Leo Vinhas conseguiu disponibilizar em streaming, muita coisa só existe online no Scream & Yell, e eu tenho medo dessa história se perder, de um tributo ao Belchior, por exemplo, deixar de existir daqui 10 anos. Mantendo-o em formato físico, a perenidade aumenta, alguém vai guardar e, quando outra pessoa precisar, ela poderá achar e dar sobrevida. Tenho pensado muito em como tornar esses discos… eternos, sabe. Sei que é papo de velho que tem coleção de discos físicos, mas isso me interessa.

Vocês lançaram também tributos a artistas como Engenheiros do Hawaii, Skank, etc. No que esses tributos ajudaram outras gerações a conhecer melhor tais artistas? Os homenageados deram algum retorno? É uma porta de entrada para um novo público, isso é inegável e é um dos fatores que movimenta esses lançamentos. O pessoal do Skank acompanhou toda a produção do tributo Dois Lados, e o Pedro Ferreira, responsável pela produção, tem um olhar aguçado para a divulgação – acho que o Skank nunca tinha saído em tanto caderno de cultura do país como saiu com esse tributo. Eles estavam meio céticos, e fizemos o lançamento (que era duplo) em duas semanas. Após o lançamento do primeiro volume eles ficaram impressionados com a repercussão, e quiseram até se envolver na promoção do segundo volume, mas a coisa já estava toda adiantada da nossa parte. Foi bacana ver que surpreendemos eles. No caso do Engenheiros, que é nosso recorde com 26 mil downloads, o produtor Anderson Fonseca mostrava as músicas para o Humberto, e ele ficou muito feliz o resultado. Chegou a adotar um dos arranjos para tocar ao vivo! O tributo ao Paralamas também foi acompanhado de perto pelo trio numa relação que começou muito antes, quando lançamos um tributo com artistas brasileiros cantando músicas de artistas latinos, e o Herbert nos mandou um vídeo elogiando a iniciativa e dizendo o quanto era importante nos aproximar dos países vizinhos.

Como foi produzir esses discos, que com certeza envolveram um trabalho executivo mais detalhado? Alguma história a respeito disso que você se recorde? Como editor e criador do Scream & Yell, tento não envolver tanto na produção porque minha palavra acaba tendo um peso muito forte. Se eu digo “pô, seria legal ter esse artista” parece soar uma obrigação para o produtor tê-lo, então tento deixa-los o mais livre possível para fazer o trabalho que eles querem fazer, e não para atender a minha expectativa. Confio neles e sei que a partir do momento que decidimos dar start em algo, alguma coisa muita boa vai nascer dali.

O que vocês aprenderam com as grandes ou pequenas gravadoras, no que diz respeito a fazer um lançamento? Estamos aprendendo ainda. E mais do que aprender com outros selos, aprendemos com nós mesmos. O trabalho de planejamento que o Pedro Ferreira (que produziu para o Scream os tributos ao Milton Nascimento e ao Skank e, ainda, fora do site, o do Los Hermanos) faz é sublime. Ele começa a me mandar os prints de cadernos de cultura do país e eu fico de queixo caído! É um padrão que eu queria para todos os lançamentos, mas que nem sempre consigo. Queria, por exemplo, que o disco que lançamos com exclusividade da banda portuguesa Os Lacraus tivesse mais repercussão do que teve, mas fazemos o que a gente consegue fazer.

Já pensaram em fazer um lançamento em LP ou CD? Aliás, como vê a presença (ou ausência) do CD no mercado? O lance de participar em editais é exatamente atender a essa demanda. Eu quero! E quero fazer tanto CD quanto vinil. Há público, principalmente para tiragens pequenas, que se transformam em itens de colecionador. Eu sou colecionador. Tenho aqui meus quase 1000 vinis, uns 10 mil CDs, um punhado de edições em boxes. E gostaria de adquirir mais do que tenho adquirido, mas a situação financeira do país não está permitindo extravagancias. Mas que existe público, existe.

Qual a receita para o site Scream & Yell durar tanto, em meio a todas essas mudanças na internet? A receita é ao menos tempo boa e má: ele se concentrar em apenas uma pessoa, no caso, eu. Muitos sites independentes bacanas acabaram por serem projetos de amigos, e quando a coisa desanda, ninguém acaba assumindo. Sites como o Scream & Yell, o Trabalho Sujo e o Senhor F resistem porque são centradas em uma pessoa cada um deles, e ao redor dessas pessoas gira um número enorme de colaboradores que fazem o site respirar. Eu não seria nada se não tivesse um grupo sensacional de pessoas compartilhando paixão por cultura comigo. O site existe por causa delas também. E isso é bom. O ruim é que pesa demais pruma pessoa só tocar isso. Ou seja, não há muita saída: é difícil manter um site em sociedade por muito tempo e é difícil tocar um site sozinho por muito tempo. A segunda funcionou para mim, mas já perdi a conta de quantas vezes pensei “vou acabar com o Scream & Yell”. Durar 19 anos (e contando) é inacreditável e quase um milagre. Porém, vez em quando chega um elogio, um email querido, ou olho algo que fizemos e que me dá orgulho, e um sopro de energia surge. E assim seguimos sabe-se lá até quando.

Fotos: Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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Cultura Pop

Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

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Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação

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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.

No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.

Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.

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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.

O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.

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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.

“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela

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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.

“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.

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