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Cultura Pop

Scream & Yell: site que virou gravadora

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Scream & Yell: site que virou gravadora

Artistas costumam crescer em público. O selo Scream & Yell, que é uma ideia de Marcelo Costa, jornalista e criador do site Scream & Yell (foco de resistência em cultura pop há invejáveis 19 anos), também vem crescendo na frente de sua plateia.

O selo S&Y começou por acaso, como uma ideia do próprio Marcelo, para dar visibilidade a projetos que ele achava bacanas. Foi ganhando forma quando passou a valorizar cada vez mais o mesmo aspecto jornalístico do site. Passou a lançar tributos a artistas, lado a lado com lançamentos exclusivos, sempre em formato digital.

No catálogo do S&Y encontram-se homenagens a Belchior, Engenheiros do Hawaii e Milton Nascimento, entre outros – todos relidos por vários artistas recentes. Os Paralamas do Sucesso ganharam um audacioso tributo com bandas ibero-americanas relendo seu repertório. É Somos todos latinos, com curadoria do brasileiro Leonardo Vinhas e do colombiano Andrés Corrêa. Além, disso, há o especial Temperança – Um manifesto contra o ódio, com canções de artistas/bandas como Marcelo Perdido, Dario Julio & Os Franciscanos e Laranja Label. E um disco ao vivo e exclusivo da banda gaúcha Walverdes. Mais recentemente, a gravadora apostou na “música eletrônica instrumental ruidosa” do Borealis, projeto do jornalista fluminense Marco Barbosa. O terceiro LP do projeto, Omnia, já está disponível.

Marcelo vai tocando o selo tendo sonhos, muitos projetos e buscando parcerias. Por sinal, da mesma forma que tornou o Scream & Yell uma referência importantíssima em cultura pop no Brasil. Como o POP FANTASMA volta e meia vai lá ver o que é que certos cavaleiros (as) solitários (as) da cultura pop e do “faça você mesmo” estão aprontando, aproveitamos para bater um papo com Marcelo sobre a gravadora Scream & Yell e sobre os próximos projetos. E podem vir lançamentos em formato físico aí.

POP FANTASMA: Você diria que o disco novo do Borealis traz mudanças para o selo? No que ele amplia os limites do que vocês estão fazendo?
MARCELO COSTA: Admiro tanto o trabalho jornalístico do Marco Antonio Barbosa quanto seu projeto musical, o Borealis. Quando ele sinalizou que queria lançar o disco pelo selo, para mim foi uma boa oportunidade exatamente de mostrar que nós não seguimos apenas uma linha de pop rock MPB indie, sabe. O Omnia chuta esse limite para longe porque é nosso primeiro lançamento totalmente instrumental e com referencias de drone, ambient e eletrônica que ainda não tínhamos trabalhado. O campo de alcance do selo ampliou.

Marco Barbosa (E) e Marcelo Costa

Como surgiu a ideia de transformar o S&Y também num selo de gravação? É a ideia que surgiu por acaso e que, aos poucos, estamos formatando. A gente já tinha lançado alguns discos no site, um ao vivo da Walverdes que só existe no Scream & Yell e um EP com o Giancarlo Rufatto. Mas a coisa começa a ficar séria quando o Jorge Wagner (jornalista fluminense) produz o tributo ao Belchior. Ele já tinha a experiência de sucesso com o tributo ao Raça Negra, e na hora que fez a proposta de lançar o do Belchior pelo Scream, topei na hora. E esse tributo abriu portas para que outros produtores se animassem a criar conteúdo semelhante para o Scream & Yell. Quando dei por mim já tinha quase 10 discos lançados, ou seja, a gente tinha um selo de música dentro do site e não tinha se ligado nisso. Denominá-lo como tal foi um passo natural.

https://soundcloud.com/aindasomososmesmos/

Onde começa o trabalho do selo Scream & Yell quando começa a trabalhar determinado lançamento ou artista? Vocês participam de alguma forma do processo de produção? Ou do lançamento digital no Spotify? O trabalho do selo ainda é algo bastante primário. Com artistas, a gente lida muito mais com divulgação e com a estrutura do site, que acaba trazendo certa publicidade a mais. Então o envolvimento do site ainda é pequeno. O que eu posso oferecer é esse suporte de divulgação e de perenidade, afinal o Scream & Yell é um dos raros sites da internet brasileira que tem todo o seu arquivo disponível online, ou seja, os 19 anos do Scream & Yell estão todos no ar. Muitos sites, mesmo portais, mudam de plataforma e acabam perdendo conexão com material antigo – isso no meio independente é praxe. No Scream não. Esse disco do Walverdes que lançamos em 2011 está no ar, com link funcionando e MP3 disponível. Muitos dos tributos independentes legais que saíram nos últimos anos não estão mais disponíveis. Tudo que lançamos pelo Scream está.

Quais são as formalizações para lançar um disco pelo selo? Em termos de direitos como tudo fica dividido? Ou é algo mais informal? Totalmente informal, mas são dois caminhos. Os tributos criados exclusivamente para o site são geridos pelos produtores, e dai cada um faz o acerto que lhe convém tanto com o artista quanto com participantes e os portais de streaming. Neste contexto, os tributos organizados pelo Leonardo Vinhas estão a maioria em streaming, ele agilizou isso. A função do selo é dar o start para esse lançamento existir e divulgá-lo, uma maneira de utilizar o nome do portal para validar e ampliar uma ação de cultura. Já para artistas lançarem discos pelo selo é uma conversa mais delicada, porque precisa existir uma conexão de ideias com o site, e a vontade de que aquele disco ajude a formatar uma ideia de padrão para o selo. Não dá para sair lançando tudo, e curadoria é essencial para saber o que cabe, o que vale a pena. Mas tudo isso começa com um bate papo. Já teve artista que queria lançar o disco pelo selo e orientei: “Seria melhor você lançar por tal selo, conversa com esse cara, porque o som de vocês cabe melhor ali e o resultado da divulgação será muito melhor ali”.

Qual você diria que é a cara do site e do selo nos dias de hoje? O que um artista precisa ter para ser lançado pelo S&Y? Adoro a definição que a Agencia Pública fez do site: “Um site jornalístico sobre cultura pop, com entrevistas, reviews e coberturas de festivais de música, cinema, cerveja. Também produzem e lançam álbuns, fazem podcast e mixtapes e jornalismo musical aprofundado independentemente do apelo do entrevistado: tratando Caetano Veloso, Romulo Fróes e Loomer como iguais, porque todos fazem boa música”. Ou seja, permanecemos com a mesma ideia que fez o site nascer, que é a de não ter amarras e falar do que a gente tem vontade de falar sem precisar ficar limitando. Então, para mim, a cara do site é a de um site pop que pode tanto publicar uma entrevista com uma banda de death metal sueca quanto com Almir Sater. As ideias que eles podem reverberam em entrevistas me interessam mais do que o som que eles fazem.

Marcelo Costa

Há algum investimento financeiro no selo, ou planos para isso? Assim como no site, não há investimento financeiro. Mas já estou trabalhando a ideia de entrar em editais para transformar alguns dos álbuns lançados pelo site em material físico, CDs, quem sabe um livreto contando a história do artista e da produção. Porque tirando os discos que o Leo Vinhas conseguiu disponibilizar em streaming, muita coisa só existe online no Scream & Yell, e eu tenho medo dessa história se perder, de um tributo ao Belchior, por exemplo, deixar de existir daqui 10 anos. Mantendo-o em formato físico, a perenidade aumenta, alguém vai guardar e, quando outra pessoa precisar, ela poderá achar e dar sobrevida. Tenho pensado muito em como tornar esses discos… eternos, sabe. Sei que é papo de velho que tem coleção de discos físicos, mas isso me interessa.

Vocês lançaram também tributos a artistas como Engenheiros do Hawaii, Skank, etc. No que esses tributos ajudaram outras gerações a conhecer melhor tais artistas? Os homenageados deram algum retorno? É uma porta de entrada para um novo público, isso é inegável e é um dos fatores que movimenta esses lançamentos. O pessoal do Skank acompanhou toda a produção do tributo Dois Lados, e o Pedro Ferreira, responsável pela produção, tem um olhar aguçado para a divulgação – acho que o Skank nunca tinha saído em tanto caderno de cultura do país como saiu com esse tributo. Eles estavam meio céticos, e fizemos o lançamento (que era duplo) em duas semanas. Após o lançamento do primeiro volume eles ficaram impressionados com a repercussão, e quiseram até se envolver na promoção do segundo volume, mas a coisa já estava toda adiantada da nossa parte. Foi bacana ver que surpreendemos eles. No caso do Engenheiros, que é nosso recorde com 26 mil downloads, o produtor Anderson Fonseca mostrava as músicas para o Humberto, e ele ficou muito feliz o resultado. Chegou a adotar um dos arranjos para tocar ao vivo! O tributo ao Paralamas também foi acompanhado de perto pelo trio numa relação que começou muito antes, quando lançamos um tributo com artistas brasileiros cantando músicas de artistas latinos, e o Herbert nos mandou um vídeo elogiando a iniciativa e dizendo o quanto era importante nos aproximar dos países vizinhos.

Como foi produzir esses discos, que com certeza envolveram um trabalho executivo mais detalhado? Alguma história a respeito disso que você se recorde? Como editor e criador do Scream & Yell, tento não envolver tanto na produção porque minha palavra acaba tendo um peso muito forte. Se eu digo “pô, seria legal ter esse artista” parece soar uma obrigação para o produtor tê-lo, então tento deixa-los o mais livre possível para fazer o trabalho que eles querem fazer, e não para atender a minha expectativa. Confio neles e sei que a partir do momento que decidimos dar start em algo, alguma coisa muita boa vai nascer dali.

O que vocês aprenderam com as grandes ou pequenas gravadoras, no que diz respeito a fazer um lançamento? Estamos aprendendo ainda. E mais do que aprender com outros selos, aprendemos com nós mesmos. O trabalho de planejamento que o Pedro Ferreira (que produziu para o Scream os tributos ao Milton Nascimento e ao Skank e, ainda, fora do site, o do Los Hermanos) faz é sublime. Ele começa a me mandar os prints de cadernos de cultura do país e eu fico de queixo caído! É um padrão que eu queria para todos os lançamentos, mas que nem sempre consigo. Queria, por exemplo, que o disco que lançamos com exclusividade da banda portuguesa Os Lacraus tivesse mais repercussão do que teve, mas fazemos o que a gente consegue fazer.

Já pensaram em fazer um lançamento em LP ou CD? Aliás, como vê a presença (ou ausência) do CD no mercado? O lance de participar em editais é exatamente atender a essa demanda. Eu quero! E quero fazer tanto CD quanto vinil. Há público, principalmente para tiragens pequenas, que se transformam em itens de colecionador. Eu sou colecionador. Tenho aqui meus quase 1000 vinis, uns 10 mil CDs, um punhado de edições em boxes. E gostaria de adquirir mais do que tenho adquirido, mas a situação financeira do país não está permitindo extravagancias. Mas que existe público, existe.

Qual a receita para o site Scream & Yell durar tanto, em meio a todas essas mudanças na internet? A receita é ao menos tempo boa e má: ele se concentrar em apenas uma pessoa, no caso, eu. Muitos sites independentes bacanas acabaram por serem projetos de amigos, e quando a coisa desanda, ninguém acaba assumindo. Sites como o Scream & Yell, o Trabalho Sujo e o Senhor F resistem porque são centradas em uma pessoa cada um deles, e ao redor dessas pessoas gira um número enorme de colaboradores que fazem o site respirar. Eu não seria nada se não tivesse um grupo sensacional de pessoas compartilhando paixão por cultura comigo. O site existe por causa delas também. E isso é bom. O ruim é que pesa demais pruma pessoa só tocar isso. Ou seja, não há muita saída: é difícil manter um site em sociedade por muito tempo e é difícil tocar um site sozinho por muito tempo. A segunda funcionou para mim, mas já perdi a conta de quantas vezes pensei “vou acabar com o Scream & Yell”. Durar 19 anos (e contando) é inacreditável e quase um milagre. Porém, vez em quando chega um elogio, um email querido, ou olho algo que fizemos e que me dá orgulho, e um sopro de energia surge. E assim seguimos sabe-se lá até quando.

Fotos: Divulgação

Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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O que foi deixado de lado em discos anteriores é…Bom, é quase tão difícil de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público convergiu – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2036.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

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4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

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  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

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Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

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Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

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