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Crítica

Ouvimos: Borealis, “No god up here”

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Borealis é o projeto musical do jornalista Marco Antonio Barbosa, ex-colaborador de publicações como Cliquemusic, Jornal do Brasil e volta e meia, autor de textos do próprio Pop Fantasma. No god up here é o sexto disco do projeto, totalmente produzido e gravado por ele em casa.
  • Borealis é o projeto musical do jornalista Marco Antonio Barbosa, ex-colaborador de publicações como Cliquemusic, Jornal do Brasil e volta e meia, autor de textos do próprio Pop Fantasma. No god up here é o sexto disco do projeto, totalmente produzido e gravado por ele em casa.
  • A faixa Moon patrol é dedicada por Marco a Neil Armstrong (o primeiro ser humano a pisar na Lua em 1969) e Takashi Nishiyama (designer de videogames que criou, entre outros jogos, a série Street fighter).

Com uma produção relativamente numerosa, o projeto carioca Borealis volta-se agora para a era dos pioneiros cosmonautas – os soviéticos que colocaram as naves Sputnik no ar, seus erros, acertos, loucuras e histórias, transformadas aqui em música eletrônica, ruído e, especialmente, em design musical que se utiliza do imaginário das primeiras viagens espaciais.

Responsável por todos os sons do disco, Bart (como Marco é mais conhecido) cruza as fronteiras entre o indie rock oitentista e os sons eletrônicos e dançantes. Mas não da mesma maneira que bandas como o New Order. Faz isso da mesma forma que o Kraftwerk mexia em células rítmicas de estilos musicais – nos riffs e beats de Sea of tranquility, que vão da new wave a batidas funkeadas. Também cria algo próximo, simultaneamente, de Joy Division e Depeche Mode, em Moon patrol. E invade a área do shoegaze, só que de maneira bem experimental, no mar de ruídos de Heat shield e Mare vaporum – essa com um belo riff de piano em meio a distorções.

O álbum tem também o tom gélido e contemplativo de Sputnik (Laika stage 1) e de Laika, homenagens à cadela que viajou pelo espaço, em 1957. No final do disco, a faixa-título surge com dois lados em sequência: o alerta vermelho do começo, com ruídos e vozes, e um clima contemplativo, ambient, em seguida.

Nota: 8
Gravadora: Scream & Yell

Foto: Reprodução da capa do álbum.

Crítica

Ouvimos: Japanese Breakfast, “For melancholy brunettes (& sad women)”

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Ouvimos: Japanese Breakfast, “For melancholy brunettes (& sad women)”

Michelle Zauner, a cabeça por trás do Japanese Breakfast, declarou que o novo disco da banda, inicialmente, seria “mais assustador e guiado pela guitarra”. Não é bem assim: For melancholy brunettes (& sad women) não mete medo, e é guiado: 1) pela ambientação acústica das faixas; 2) pelo excelente uso de violões e bandolins; 3) pelo aproveitamento de teclados e (enfim) guitarras, quando isso tudo serve à sonoridade quase barroca do grupo.

For melancholy brunettes tem bem mais a ver com os dois primeiros álbuns do grupo do que com Jubilee, disco de 2021 que arrebanhou fãs para o Japanese Breakfast. A “melancolia” do nome do disco não é apenas figurada: é um lugar que Michelle habita e que serve como uma espécie de viagem no tempo. Inclusive porque entre as inspirações do ábum estão textos do poeta renascentista Matteo Maria Boiardo e o quilométrico romance A montanha mágica, de Thomas Mann – que Zauner encarou e que serviu de inspiração para Magic mountain, um folk introspectivo que soa como tentar olhar além das paisagens. Ou como ficar “brincando de rei, desacelerando o tempo” (trecho da letra).

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Justamente por essa opção pela introversão ampla, total e irrestrita, o novo disco do Japanese Breakfast, mesmo durando pouco mais de meia hora, é uma experiência lenta – beeem leeenta às vezes, necessitando certo fôlego. Here is someone abre o disco levando o ouvinte para longe e inserido o clima contemplativo de Orlando in love, a segunda faixa. Entre os poucos momentos de explosão do disco está o single Mega circuit, uma canção dos Beach Boys em que a tempestade substitui a praia – e cuja letra zoa homens mimados, misóginos e dependentes.

Uma outra nessa mesma base, é o pós-punk analógico e country Picture window, lembrando o clima sexy de bandas como The Cardigans, e a vibe misteriosa do Psychedelic Furs. Mas o disco é verdadeiramente representado por canções bem mais delicadas, como o pós-punk de câmara Honey water, o folk pastoril e grego de Leda (inspirada justamente no conto mitológico de Leda e o cisne) e o bittersweet celestial de Winter in LA, que faz lembrar o tom brilhoso dos High Llamas.

Por outro lado, um futuro cada vez mais próximo do country surge também em For melancholy brunettes, com Men in bars, canção com slide guitar, piano e a participação vocal de ninguém menos que o ator e cantor Jeff Bridges. Mas… seja lá o que vier por aí depois disso, Michelle Zauner não parece querer deixar pistas 100% claras.

Nota: 8,5
Gravadora: Dead Oceans
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Swave, “Foi o que deu pra fazer”

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Ouvimos: Swave, “Foi o que deu pra fazer”

O Swave é um supergrupo do rock brasileiro atual, reunindo músicos de bandas como Far From Alaska, Violet Soda, Supercombo e Sugar Kane – além da vocalista Aline Mendes, cantora solo com o codinome Alinbloom. Foi o que deu pra fazer, estreia da banda, não faz jus ao título: é um disco de rock despojado e repleto de uniões sonoras que, no fim das contas, apontam para o punk rock, em seu formato mais cantarolável e grudento.

Esse é o som que o Swave apresenta em faixas como Te assustar, Sirene, Já foi (com cara de anos 1990) e a ágil Despertador, com vibração mais pós-punk. Mesmo investindo em um punk mais acessível, eles também chegam perto dos Pixies em músicas como Mais uma vez (aberta com riff sombrio de guitarra, depois ganhando clima próximo do grunge), Vai cair (com abertura imediata e guitarras explosivas alternadas) e Longe do fim. Nada de extremamente inovador, mas o básico que gruda na mente e rende canções legais.

As letras de Foi o que deu pra fazer alternam temas como ansiedades, cobranças e autodescobertas – além do “estado constante de alerta” de Como eu vou?, lembrando discretamente bandas como Concrete Blonde. Na parte final do disco, faixas como DGE e Egotrip promovem uniões bem claras entre punk, grunge e até rap.

Nota: 8
Gravadora: Deck
Lançamento: 20 de março de 2025

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Ouvimos: Jethro Tull, “Curious ruminant”

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Ouvimos: Jethro Tull, “Curious ruminant”

Tem certas bandas que, se resolverem modernizar seu som nem que seja um pouquinho, podem acabar fazendo besteira. Até que não é o caso do Jethro Tull, que quando se meteu a chegar perto até do synthpop, fez um disco bem interessante – Under wraps, de 1984, mas acho que sou um dos raros fãs do JT que realmente gostam desse álbum.

Dito isso, Curious ruminant, 24º álbum do Jethro, traz certo alívio para fãs antigos da banda: mesmo estando distante de obras como Aqualung (1971), traz Ian Anderson e seus chapas mergulhando em sua musicalidade clássica sem nem pensar duas vezes. Dos álbuns que o grupo lançou depois que o nome “Jethro Tull” foi retomado, é o mais progressivo, e o que faz o melhor retorno a um velho hábito do grupo: criar parábolas na hora de falar sobre a passagem do tempo, a loucura nossa de cada dia, e até mesmo fatos políticos e atuais – quase sempre enxergando tudo como um imenso jogo de xadrez.

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É o que a banda faz, dando voz às dúvidas existenciais da faixa-título, comentando as guerras no Oriente Médio em Over Jerusalem. Ou metendo o pau na irracionalidade do mundo em Puppet and puppet maaster e na quilométrica Drink from the same well (nesta faixa, são dezessete minutos de viagem musical, sendo que a voz de Ian só surge lá pela metade). Ou inserindo um pouco de espiritualidade na história, na relaxante e quase declamada Interim sleep, que encerra o álbum.

Musicalmente, o Jethro Tull volta combinando o fôlego eterno de Ian como cantor e flautista, a instrumentos como bandolim, piano, violão tenor, acordeon e cajón – dando uma impressão, quase sempre, de música construída na madeira e no vento. Puppet and puppet master e a faixa-título são abertas por solos de piano (no caso da segunda, ameaça rolar algo na linha do Supertramp, impressão esta que se desfaz quanto entra a flauta de Ian). O estranhamento disso tudo é que Drink from the same well, com seus quase vinte minutos, acaba meio de repente – como uma história boa que tem um final meio decepcionante.

O disco vai seguindo com temas quase gregos (Stygian hand, uma história cotada com percussões, violão e flauta) e com um blues-folk sombrio (Savannah of Paddingon Green). Já The tipu house faz lembrar um pouco a parte mais agitada do hit Aqualung, Stugian hand tem clima grego, enquanto Dunsinane Hill, aberta com flauta e acordeon, é perfeita para observar planícies e montanhas em volta – ou imaginar tudo isso, como muitas vezes pede o som do Jethro Tull.

Nota: 8,5
Gravadora: InsideOutMusic
Lançamento: 7 de março de 2025.

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